“... e seria assim até o fim do mundo, rodando, rodando e rodando. Um
cara enorme, assim, o velho Deus em pessoa (por cortesia do Leite-Bar Korova)
girando e girando uma laranja cheirosa e estranha nas suas mãos gigantescas.
[...] E tudo que foi, foi que eu era jovem [...] mas pra onde estou indo agora,
é segredo, vocês não podem ir. Amanhã é tudo assim: meigas flores e terra
perfumada que roda e as estrelas e a velha lua lá em cima. O resto que se dane.
Mas vós, oh meus irmãos, lembrem-se de mim de vez em quando, como eu era. Amém
e essa coisa toda...”. (Anthony Burgess in Clockwork
Orange, A Laranja Mecânica)
O Baile dos Artistas de 99 também prestou sua homenagem, através do manguebit artista plástico Evêncio
Vasconcelos, velho parceiro do Science. A jornalista Fabiana Freire escreveu no
Jornal do Commercio de 29 de janeiro de 1999: “Na versão do escritor britânico Lewis Carroll, ao
entrar no espelho, Alice percebe o reverso do mundo. Ao utilizar o mote, para
conceber a decoração do XXI Baile dos Artistas do Recife, a prévia do Carnaval
pernambucano que será realizada hoje no Sport Club do Recife, o artista
plástico Evêncio Vasconcelos substitui o mundo ao avesso por Pernambuco. Ou
dito de outra forma: ao entrar no espelho, Alice aporta em Pernambuco e montada
num bumba-meu-boi. Numa imagem, a marca da modernidade ou da pós-modernidade,
defenderiam alguns”.
Foram alguns artesãos de Bezerros, a partir dos desenhos de Evêncio, que
construíram Alice e o boi, as máscaras (três gigantes e dezenas de médio porte) e as cartas de baralho. Todos os objetos foram
construídos com papel machê e estrutura metálica.
“As peças vão estar suspensas no teto ou dispostas em pontos
estratégicos”, disse Evêncio. Segundo
ele, o que se pretendia era criar um ambiente lúdico, em clima de conto de
fadas. Mesmo antes de Lewis Carroll e sua ficção entrarem nessa história, os
organizadores do Baile dos Artistas já eram fãs de carteirinha do duplo
sentido. Ali Se Maravilha No País Virtual
foi o nome do Baile. O avental de Alice a voar sugeria que ela estivesse
surfando. Em vez de prancha, um bumba-meu-boi mágico pernambucano a conduzia
até a Manguiceia inclemente e antenável a qualquer
onda.
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