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quarta-feira, 30 de setembro de 2020

LITERATURA PORTUGUESA DE TRAÇOS DA GERAÇÃO DA GERAÇÃO DO ORPHEU ATÉ LOBO ANTUNES

 

 


PROF. DR. MOISÉS MONTEIRO DE MELO NETO

 


 

 

 

O que nós vemos das coisas são as coisas.

Por que veríamos nós uma coisa se houvesse outra?

Por que é que ver e ouvir seriam iludirmo-nos

Se ver e ouvir são ver e ouvir?

O essencial é saber ver,

Saber ver sem estar a pensar,

Saber ver quando se vê,

E nem pensar quando se vê

Nem ver quando se pensa.

Mas isso (tristes de nós que trazemos a alma vestida!),

Isso exige um estudo profundo,

Uma aprendizagem de desaprender

E uma sequestração na liberdade daquele convento

De que os poetas dizem que as estrelas são as freiras eternas

E as flores as penitentes convictas de um só dia,

Mas onde afinal as estrelas não são senão estrelas

Nem as flores senão flores,

Sendo por isso que lhes chamamos estrelas e flores.

 (Alberto Caeiro, O guardador de rebanhos, em Fernando Pessoa, Obra poética. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 1983, p.151-152.)

 

 

HETERONÍMIA em Fernando PESSOA: é  um jogo de um poeta que pensa como ficcionista / dramaturgo? Esconde-se atrás das “personagens” para melhor se revelar (às avessas)? Ou revela-se para despistar os leitores?

Filósofo e ao mesmo tempo, poeta,  emoção penada  concepção  época do mundo e da existência a mais alta vocação poética do século XX.

Seria sua poesia ortônima (a que  assina com seu próprio  nome) outra heterônima? Seria Álvaro um heterônimo – pseudônimo?

Pessoa: extrema severidade indagadora e analítica, invulgar sensibilidade.

Submete a emoção ao exame da inteligência transformação emoção estética em emoção pensada.

Apreende a emoção e a transmite antes que ele desapareça (enriquecendo- as por meio do intelecto no jogo ser/ não ser, base da era poesia).

Ajuntamento depois do desmonte, em processo lírico-alquímico, sempre a recomeçar (demolir / reconstruir).

Fernando Pessoa:

Sol nulo dos dias vãos,

Sol nulo dos dias vãos,

Cheios de lida e de calma,

Aquece ao menos as mãos

A quem não entras na alma!

Que ao menos a mão, roçando

A mão que por ela passe

Com externo calor brando

O frio da alma disfarce!

Senhor, já que a dor é nossa

E a fraqueza que ela tem,

Dá-nos ao menos a força

De a não mostrar a ninguém!

Fernando Pessoa. Poesias. Lisboa: Ática, 1942 (15ª ed. 1995)

  

Pessoa reduz a nada as “verdades” mobilizantes, o comodismo intelectual. Ele é antidogmático. Também propõe a libertação do homem pelo despojamento da mente.

 

 

Fernando Pessoa, CANCIONEIRO

                                       Emissário de um rei desconhecido

XIII

Emissário de um rei desconhecido

Eu cumpro informes instruções de além,

E as bruscas frases que aos meus lábios vêm

Soam-me a um outro e anómalo sentido...

 

Inconscientemente me divido

Entre mim e a missão que o meu ser tem,

E a glória do meu Rei dá-me o desdém

Por este humano povo entre quem lido...

 

Não sei se existe o Rei que me mandou

Minha missão será eu a esquecer,

Meu orgulho o deserto em que em mim estou...

 

Mas há! Eu sinto-me altas tradições

De antes de tempo e espaço e vida e ser...

Já viram Deus as minhas sensações.

 

 

 

MÁRIO SÁ CARNEIRO

1890-1916 (25 ANOS)

 

            Em 1914 publica livro de contos (Princípio). Depois a novela A Confissão de Lúcio (1914, Prêmio Camilo Castelo Branco); em colaboração com um colega escreveu Amizade (1912, Teatro). Alisson André Avancini destaca: “quando se lê A confissão de Lúcio no curso de Graduação em Letras, ocorre reação típica das personagens das novelas de Mário de Sá-Carneiro (1890-1916): o estranhamento que gera atração e fascínio pelo objeto a ser estranhado e a ser, consequentemente, lido e analisado. Em A confissão de Lúcio, o estranhamento ocorre devido à pluralidade temática que essa obra apresenta, a qual ocorre também na lírica de Mário de Sá-Carneiro: o narcisismo, a influência da arte e dos artistas, o autodesprezo, a questão do duplo, suicídio, amor por Paris, homossexualidade, o mistério, erotismo e a presença da beleza. Temos aqui uma pluralidade temática”.

            Uniu Vida e Arte tragicamente. Sensação de ser alheio à vida.  Egocêntrico, vaidoso, num isolamento de animal ferido, vê inutilidade: “não sinto o espaço  que encerro/nem as linhas que projeto: /  Se me olho a um espelho,  erro - /  não me acho no que projeto”.

            Sonda os labirintos da alma em busca do eu profundo na inquietação sideral. É exemplo da sua caótica geração: “Perdi-me  dentro de mim / porque eu era labirinto / e hoje, quando  me sinto, / é com  saudades de mim”.

            Sua autoanálise trágica daí tira sua poesia: da autoflagelação: “dúbio  mascarado”,  “misterioso”,  “falso atônito”, “covarde perigoso”,  é como se vê.  Um “palhaço”, “rei de incoerência”. Na atmosfera de louco genial. Herdeiro do decadentismo baudelairiano, Charles Baudelaire, poeta francês do Simbolismo, deixou-se queimar no incêndio  dos sentidos,  que materializar corações. Suicidou-se com veneno.

           

ALMADA-NEGREIROS (1893-1970)

            Escritor e artista plástico (telas, painéis, vitrais de vanguarda (FUTURISMO, DADAÍSMO, CUBISMO , SURREALISMO).

 

A Cena do Ódio

José de Almada-Negreiros. poeta Sensacionista e Narciso do Egito

(A Álvaro de Campos a dedicação intensa de todos os meus avatares)

 

Sou Narciso do Meu Ódio!

— O Meu Ódio é Lanterna de Diógenes,

é cegueira de Diógenes,

é cegueira da Lanterna!

(O Meu Ódio tem tronos de Herodes, histerismos de Cleópatra, perversões de Catarina!)

O Meu Ódio é Dilúvio Universal sem Arcas de Noé: só Dilúvio Universal,

e mais Universal ainda:

Sempre a crescer, sempre a subir...,

até apagar o Sol!

[...}Eu creio na transmigração das almas por isto de Eu viver aqui em Portugal.

Mas, eu não me lembro o mal que fiz

durante o Meu avatar de burguês.

Oh! Se eu soubesse que o Inferno

não era como os padres mo diziam

— uma fornalha de nunca se morrer

—, mas sim um Jardim da Europa à beira-mar plantado...

Eu teria tido certamente mais juízo,

teria sido até o mártir São Sebastião!

E. ainda há quem faça propaganda disto:

a pátria onde Camões morreu de fome

e onde todos enchem a barriga de Camões!

Se ao menos isto tudo se passasse

numa Terra de mulheres bonitas!

Mas as mulheres portuguesas são a minha impotência!

 

Retrato de Fernando Pessoa – Wikipédia, a enciclopédia livre

Quadro que Almada pintou tendo como motivo o amigo Fernando Pessoa

                        Era um iconoclasta (a quebrar modelos) de espontaneidade polêmica, lúcida, contra o que é falso, ridículo. Seu romance Nome de Guerra tem traços do surrealismo.

 

 

INTERVALO

Neste meio tempo tempos alguns autores que ficam entre uma e outra. Destacamos aqui o nome da poesia FLORBELA ESPANCA. (1894-1930):


            Em 1919, estudante de Direito, livros com poema Livro de Mágoas e em 1923, Sóror Saudade, separa-se do marido, tenta nova experiência, mas em 30 uma dose excessiva de calmante, morre.  Publicam-se os seus contos. Sem sucesso em vida, com depois morte fica famosa.

            Seus textos demonstram muita sensibilidade e fortes impulsos eróticos, como num diário íntimo, cheios de sentimentos opostos, poesia – confissão de uma mulher conquistadora a desnudar-se por dentro sem preconceito  com suas emoções e paixões, lembram as “cartas de amor”,  de Soror Mariano Alcoforado, cheias de culto  literário de Dor.  Era fã de Antônio Nobre (simbolista que já estudamos aqui).

e cultua o soneto (duas quadras e dois tercetos),  expõe  seu drama íntimo de modo límpido, enérgico.  Eroticamente insatisfeito.

            É acusada de imoral, quando buscava apenas um amor mais forte, para além das convenções burguesas “- Um homem? – quando se sonha o amor dum Deus!”.

            A grande poetisa, na sua observa capacidade de amor, envolve-se com a natureza e se põe triste e pensa na morte.

            “Deixar entrar a morte, a iluminada, a que vem para me levar, /  abri todas as  portas par em par / como asas a bater em revoada”.

 

A NOVA GERAÇÃO SURGIRIA EM 1927: PRESENCISMO

            Mas com o fim da Revista Orpheu, outras revistas ocuparam-lhe o lugar, depois do movimento  de Fernando Pessoa e Sá-Carneiro.

 

 

Presencismo

A geração da Revista “Presença” (1927-1940)

 

            Destacamos José Régio, parte de um grupo que em Coimbra lançou “Presença”, dirigida por Branquinho de Fonseca, depois por Miguel Torga e Adolfo Casais Monteiro. Defendiam que cada um seguira seu caminho na arte e na crítica. A revista acaba-se no começo da 2ª Guerra Mundial, quando surge o neorrealismo.

            “Literatura viva é aquela em que o artista insuflou sua própria vida”, disse José Régio,  que tinha Pessoa e Sá-Carneiro como mestres.

             O grupo lançou um manifesto. Apreciam APOLLINAIRE, Paul Valéry, poetas e teóricos, e Pirandello (dramaturgo italiano famoso).

 

JOSÉ RÉGIO (1901-1969)

            Estudou Letras, em Coimbra.  Escreveu conto, romance, peças de teatro e crítica.

            Seu tema favorito:  diálogo entre o homem e Deus (fechado em si).

            Embora não tão declaratório, como Antero de Quental, sua poesia tem tom declamatório

            Suas peças teatrais são bem construídas (João e o Anjo – 1941),  El-Rei Sebastião (1949), A salvação do mundo (1954).

            Da poesia destacamos o livro Poemas de Deus e do Diabo (1925). Dos contos:  Davam  grandes passeios aos domingos (1941).  Nesta novela de José Régio, destcamos aspectos temáticos que organizam o universo da ficção presencista. Ênfase nos aspectos temáticos que organizam o universo do segundo movimento moderno, conhecido como "Presencismo" na ficção da literatura portuguesa.  Rosa Maria é uma personagem cativante que instintivamente gera empatia. Afligida pela desventura de ser órfã e pobre num tempo em que a emancipação feminina ainda era uma miragem distante, ousa sonhar com horizontes mais longínquos do que aqueles que a sociedade lhe reservou. Acolhida por familiares abastados, está fadada a permanecer nas sombras enquanto discreta e apagada professora de lavores e piano da jovem estouvada da família. Mas Rosa Maria é uma pessoa sensível, com necessidade de estímulos intelectuais e emocionais que superam a sua posição social. Na sua ingenuidade, é levada a acreditar que a sua realização é possível, que pode transpor as firmes e intransigentes barreiras de uma sociedade fortemente hierarquizada para se tornar na pessoa que sonha ser. O leitor acompanha o seu devaneio até ao inevitável desfecho, o único possível numa sociedade que não tolera desvios.

“E o que mais a desesperava nas noites de insónia, quando o soão quase súbito se levantava, sacudia a repelões portas e janelas, depois se engolfava nos becos vizinhos, de redor da cadeia, com uivos cavos morrendo ao longe, – era ver como tinha em si grandes forças vivas, uma rara capacidade de amar, de se dar, de viver, e estupidamente não lhe permitia a vida expandi-las”.

 

            Da Geração Presença (1904-1974) ainda destacamos Branquinho da Fonseca.

 

ADOLFO CASAIS MONTEIRO (1908-1972)

Foi bom ensaísta, formou-se em Ciências, Histórias e Filosofia, na Faculdade de Letras do Porto. Professor Universitário desde 1954. Conhecido por sua lírica moderna, canto libertário e com sutil tom anárquico melancólico, choque entre o poeta que pensa e o poeta que sente. Sua crítica foi tachada de impressionista.

Livros em destaque: Poemas do Tempo Incerto (1932).

 “Pelo caminhos incertos /  dum país de sonho e bruma /  vou desvairado à procura /  de qualquer coisa que sinto /  fugir-me por entre os dedos”.

O poeta e contista

Antônio  Boto (1897-1959)  foi amigo de Fernando Pessoa,  seus poemas tem clássico e erótico,  privilegiada sensibilidade. Seus contos Para crianças e adultos (1942)  lembram  La Fontaine e Esopo em  algumas partes (moralizantes).

Tomaz de Figueiredo (1902-1970) também se destacou como dramaturgo do absurdo e do insólito.

 

A pedagoga e escritora Irene Lisboa destacou-se com Voltar atrás para quê? (novela, 1956) e em  outras prosas de ficção, romance, contos.

Prefere o povo, a massa anônima, os humildes de Lisboa, nos seus escritos. Seu temperamento poético bebe nesta fonte,  om naturalidade. Calca-se nos princípios estéticos da sua geração (PRESENCISMO) tratando dos conflitos psicológicos em detrimento aos de ordem ideológicos.

 

 

O  NEORREALISMO PORTUGUÊS

ROMANCE SOCIAL

1940-1974

            Enquanto nos E.U.A com John Steinbeck e  Ernest Hemingway sacudiam o mundo  literário com suas visões literossociais, Portugal  apresentava suas armas, instigado pelos escritores do Brasil (Jorge Amado,  Graciliano Ramos, José Lima do Rego, Rachel de Queiroz,  que tratam  do viés socioeconômico, secas, senhores do cacau e do açúcar.

Alves Redol (1911-1969) publica, na linha neorrealista, tratando da vida dos camponeses, seu romance GAIBÉUS, iniciando oficialmente o movimento.

Cheio de lirismo realista, como Jorge Amado, em “documentário humano”, literatura  engajada  (preocupada com a situação do povo explorado, luta de classes).

De família humilde, de 1927  a 1930  trabalhou em  Angola e em 1939  lançou  o romance Gaibeús,  inspirado pelo romance social brasileiro e norte-americanos Gaibéus semelhantes aos retirantes do Nordeste  brasileiro e os miseráveis da grande depressão  Norte-americana.

Escreveu  para teatro: Maria Emília(1945),  Forja (1948). No romance continuou com a série Port-Wine (I, II e III), Vindina de Sangue (1953) sempre criticando a exploração do homem pelo homem (injustiça social) inclusive  entre produtores de vinho.

 

 

 

 

TENDÊNCIAS CONTEMPORÂNEAS

VERGÍLIO FERREIRA (1916-1996)

 

            Cursou letras na Universidade de Coimbra. Dentre outros romances é autor de Aparição (1959), A Face sanguenta (contos, 1953), Seus diários: Conta corrente, 5 volumes 1980 a 1987  e Conta Corrente  - Nova série, de 1993 a 1994, 4 vols.. Este tipo de produção literária original diferente dos neorrealistas,  na invenção romanesca:  ao tratar dos problemas de ordem  filosófica e existencial, mostra o homem não só como animal  gregário e injustiçado, mas com sérios conflitos, interiores, principalmente a partir  do romance Mudança (1949),  analisou os problemas morais do seu tempo,  as condições humanas, em inteira pesquisa  romanesca. Existencialismo e epifania.

             O romance Aparição, de Vergílio Ferreira, possui, além de uma complexidade estrutural e simbólica flagrantes, um enredo bastante simples: trata- se da história da ida do professor Alberto Soares a Évora, onde permanece por um ano, ministrando aulas no liceu local. Vergílio Ferreira pretendeu tornar o homem visível a si mesmo. Para o autor, o que se vê melhor é aquilo que não se vê, porque « o que está mais perto dos olhos, são os olhos e aos olhos ninguém os vê; publicado em 1959, começa com um prenúncio de tragédia: Alberto Soares, o personagem do romance, chega a Évora como novo professor do liceu.  Um homem de luto, sombrio e descrente ainda a refazer-se da morte do pai, acaba de entrar numa cidade católica, branca e luminosa, deixando adivinhar que a sua relação com a cidade não será fácil.

Pelo caminho, vai retratar a sociedade fechada e com várias classes sociais de uma pequena cidade provinciana em plena ditadura fascista. Mas, fundamentalmente, vai colocar em causa a relação do homem consigo mesmo.

O espectro desumano da II.ª Guerra Mundial ainda estava presente em 1959. O personagem estava completamente só, sem céu, nem inferno, nem eternidade após a morte, mas em busca de sentido para a vida assim mesmo. Alberto, o narrador, cedo se relaciona com o Doutor Moura, antigo colega do seu pai, e o seu círculo familiar, nomeadamente Ana, casada com Alfredo Cerqueira, Sofia, de quem se tornará explicador de Latim, e Cristina, a filha mais nova da família. Neste espaço familiar circulam também as figuras de Carolino, um dos seus alunos do Liceu, e o engenheiro Chico, um amigo da família, espécie de neorrealista militante.
O espaço urbano de Évora tem como contraponto o espaço rural da montanha onde Alberto viveu a sua infância, e ao qual temos acesso através de analepses que nos dão conta do crescimento dessa personagem, designadamente a descoberta do seu próprio «eu» em face de um espelho, o primeiro contato com o não-sentido da morte (a famosa «metáfora do cão») e a aquisição da consciência da “morte» de Deus”. Assim, o seu passado evolutivo vai iluminando o seu desenvolvimento no presente da ação principal: a interação da sua verdade com aquela das outras personagens, oscilando entre os polos da aparição e da desaparição, da revelação e da dissimulação, da integração e da desintegração.

 

A professora Camila Savegnago nos esclarece: a palavra aparição, presente inclusive no título, é usada de modo recorrente no texto, a fim de acentuar a importância desse constante processo de buscas e descobertas. Para o narrador-personagem Alberto, essa aparição está diretamente ligada ao instante presente:

 “[O] tempo não existe senão no instante em que estou. Que me é todo o passado senão o que posso ver nele do que me sinto, me sonho, me alegro ou me sucumbo? Que me é todo o futuro senão o agora que me projeto? O meu futuro é este instante desértico e apaziguado. Lembro-me da infância, do que me ofendeu ou sorriu: alguma coisa veio daí e sou eu ainda agora, ofendido ou risonho: a vida do homem é cada instante – eternidade onde tudo se reabsorve, que não cresce nem envelhece –, centro de irradiação para o sem-fim de outrora e de amanhã. O tempo não passa por mim: é de mim que ele parte, sou eu sendo, vibrando.”

 Nesse sentido, o instante presente constitui toda a realidade humana, a vida pulsante e intensa, nele o passado se reabsorve e é reinventado, numa constante necessidade de manter sempre vivos os momentos de aparição; enquanto o futuro só pode ser entendido no agora, apenas como projeção, uma vez que nele só existe a morte inevitável. Isso explica a insistência do narrador-protagonista em presentificar tanto o passado quanto o futuro. (CAPTURADO EM http://w3.ufsm.br/revistaideias/arquivos%20PDF%20revista%2026/o%20jogo%20dos%20tempos%20em%20apari%E7%E3o%20de%20verg%EDlio%20ferreira.pdf).

 

 

PARTE II

 

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                                        DO SURREALISMO A LOBO ANTUNES

SURREALISMO NA LITERATURA PORTUGUESA

1947-1974

               

Em 1917, Lisboa, cria-se o “Grupo Surrealista tendo  como líderes, dentre outros, Alexander O’Neill e Mário Cesariny de Vasconcelos, cujo primeira manifestação foi homenagem ao  Centenário de  Gomes Leal (1948).

                Cesariny (1948)  cria outro grupo (“Surrealistas dissidentes”),  ao lado de O’Neill produzem  escandalosa exposição e em 1951,  nova exposição 1952 vem à luz o “Manifesto dos Surrealistas dissidentes.           Nos anos 1960 trabalharam com a “poesia experimental” Cesariny  organiza Surreal / Abjeccionismo (1963),  uma coletânea com novos e antigos autores e “grifo”  (1970),  ação política e social do “UNDERGROUND”.  O abjeccionismo, mau grado a singularidade da sua situação no século XX português, visto não depender de qualquer importação, decalque ou tradução, ao menos directa, o que não aconteceu a nenhum outro ismo, salvo o primeiro deles, que é só excepção, o abjeccionismo parece estar hoje semi-esquecido, fora de qualquer foco público de atenção.

                Lembramos  do Manifesto Surrealista de André Breton (1924-1930)  arte deveria buscar expressão “além  da realidade”, acima dele (“Sur”) francês.  Repudiava  o neorrealismo, este grupo português.  Expressava o “caos cósmico”,  os mistérios da mente,  estranhos associações a partir da onipotência do sonho.

                O grupo surrealista e sua crítica marcou a cultura intelectual portuguesa,  abrindo novos caminhos estéticos.

 

Surrealismo na Literatura Portuguesa

 

MÁRIO CESARINY DE VASCONCELOS

(1923-2006)

                Do Grupo Surrealista de Lisboa (1917)  e chefiou os Surrealistas Dissidentes.

                Além de escritor de Prosa de Ficção, ensaio e poesia, ele foi artista plástico.

                Corpo Visível (Poesia, 1950), e Primavera autônoma das estradas (1980) são destaques, nestes textos o insólito, o disparo, o maravilhoso e a ironia (como influência do escritor francês André Breton) transparecem.

Suas ideias   e intuições são notáveis e não se pode falar de surrealismo em Portugal sem  conhecer, mencionar e vivenciar.

Dialética dinâmica entre o real e o imaginário, o mágico e o real cotidiano  uma fantasia próxima à alucinação.

A realidade se desfigura, se desmembra, quase caoticamente,  um lirismo comovido. Real reinventado, redescoberto.  Frases emblemática de superior efeito transfigurador, humor absurdo (nonsense) surreal.

Habilidade,  no manejo  da linguagem  (alto nível) tecnológica do mundo.  Como no

 

POEMA PODENDO SERVIR DE PREFÁCIO

ruas onde o perigo é evidente
braços verdes de práticas ocultas
cadáveres à tona de água
girassóis
e um corpo
um corpo para cortar as lâmpadas do dia
um corpo para descer uma paisagem de aves
para ir de manhã cedo e voltar muito tarde
rodeado de anões e de campos de lilases
um corpo para cobrir a tua ausência
como uma colcha
um talher
um perfume

isto ou o seu contrário, mas de certa maneira hiante
e com muita gente à volta a ver o que é
isto ou uma população de sessenta mil almas devorando almofadas escarlates a caminho do mar
e que chegam, ao crepúsculo,
encostadas aos submarinos

isto ou um torso desalojado de um verso
e cuja morte é o orgulho de todos
ó pálida cidade construída
como uma febre entre dois patamares!
vamos distribuir ao domicílio
terra para encher candelabros
leitos de fumo para amantes erectos
tabuinhas com palavras interditas
– uma mulher para este que está quase a perder o gosto à vida – tome lá –
dois netos para essa velha aí no fim da fila – não temos mais –
saquear o museu dar um diadema ao mundo e depois obrigar a repor no mesmo sítio
e para ti e para mim, assentes num espaço útil,
veneno para entornar nos olhos do gigante

isto ou um rosto um rosto solitário como barco em demanda de vento calmo para a noite
se nós somos areia que se filtre
a um vento débil entre arbustos pintados
se um propósito deve atingir a sua margem como as correntes da terra náufragos e tempestade
se o homem das pensões e das hospedarias levanta a sua fronte de cratera molhada
se na rua o sol brilha como nunca
se por um minuto
vale a pena
esperar
isto ou a alegria igual à simples forma de um pulso
aceso entre a folhagem das mais altas lâmpadas
isto ou a alegria dita o avião de cartas
entrada pela janela saída pelo telhado
ah mas então a pirâmide existe?
ah mas e então a pirâmide diz coisas?
então a pirâmide é o segredo de cada um com o mundo?

sim meu amor a pirâmide existe
a pirâmide diz muitíssimas coisas
a pirâmide é a arte de bailar em silêncio

e em todo o caso

há praças onde esculpir um lírio
zonas subtis de propagação do azul
gestos sem dono barcos sob as flores
uma canção para ouvir-te chegar


( Mário Cesariny)

 

 

 

ALEXANDRE O’NEILL

(1924-1986)

 

Foi participante da instalação de surrealismo em Portugal (1947). Em 48 publicou A ampola Miraculosa,  As horas já de números vestidas (1981) e em 2000 é lançado Poesias Completas e Anos 70 – Poemas Dispersos (2005).


 

Um “romance” em forma de “poema  gráfico” (12  páginas:  tom de almanaques, as imagens e colocou legendas narrando,  como fez Max Ernst foi um pintor alemão, naturalizado norte-americano e depois francês. Também praticou a poesia entre os surrealistas, movimento do qual fez parte. O  tom é de humor,  caráter,  totalmente experimental.  O’Neill também aderiu  ao Neorrealismo, mesmo sendo da estética  surrealista (!) que trabalha com linguagem  automática (por exemplo)  de extração psicanalítica.  O’ Neill tem traços que lembram  Cesário Verde,  realismo irônico,  satírico.Misturando o satírico ao sublime. Estilo conciso, epigramático (Epigrama é uma composição poética breve que expressa um único pensamento principal, festivo ou satírico, de forma engenhosa. O Epigrama foi criado na Grécia Clássica e, como o significado do termo indica, era uma inscrição que se punha sobre um objeto — uma estátua ou uma tumba, por exemplo)

Humor e ironia tem  a ver com o Surrealismo. Além disso, o poeta critica, ainda, a ideia de se criar um Portugal de heroísmos, como o que é descrito por outros poetas portugueses. Para o sujeito poético,o que há, na verdade, é um país cabisbaixo, visto com desgosto e remorso:

 

não há “papo-de-anjo” que seja o meu derriço,

galo que cante a cores na minha prateleira,

alvura arrendada para o meu devaneio,

bandarilha que possa enfeitar-me o cachaço.

Portugal: questão que eu tenho comigo mesmo,

golpe até ao osso, fome sem entretém,

perdigueiro marrado e sem narizes, sem perdizes,

rocim engraxado, feira cabisbaixa

(O’NEILL)

 Nesse poema, a imagem descrita é uma espécie de crítica à forma literária marcada pelo “versejar bonito”, ou seja, de idolatrar o país, uma memória cultural e coletiva construída na ficção literária, sem mostrar a realidade do cotidiano português.

 

 

Isabel Meyrelles (1929)

Seu primeiro livro é de 1951 (Voz baixa)  obra com viés surrealista,  obedecendo as regras de gramática  padrão (sinais,  pontuação e não o da “linguagem  automática”, à Breton):

O signo cisne

e um  cavalo a galope

montado por um minúsculo   cavaleiro em  chamas

nascido de sonho febril  de Fênix

 

 

 

Helder  Macedo

 Lança em 1957, Vesperal, poesia lírico-amorosa abordando  enigmas da intensidade Viagem  de inverno e outros poemas (2000).  Na ficção tratou de temas como a guerra colonial na África,  incesto,  fundo  histórico.

 

 

Destacamos ainda Luísa Neto Borges (1939-1989). Estreia  com  A noite Vertebrada (1960). “Poema é um duelo agudíssimo”,  ela diz, é uma visão de mundo, focada no mundo  fora de si,  para sua poesia, em  meio ao  hermético triunfo das paisagens”,  “palavras sem máscaras”,  tudo contra a usura e o convencionalismo  da linguagem, em tom de rebeldia,  a recusar eufemismos  de falsa moral, até no que diz respeito ao ato amoroso ou ao suicídio / morte.  Viés surrealista,  como em: “o rio secou. /  subi leve à nascente /  que falace./ descesse, e pra o mar”.

 

POESIA EXPERIMENTAL (1964)

             

                Destacamos  Ernesto Manuel de Melo e Castro (1932)  que estreou em 1962 com o livro Salmos.  Também publicou  textos teórico-analíticos (textos teóricos e documentos de  Literatura Portuguesa). Lançou  também seus poemas em prosa, além de poemas concretos e visuais, poemas-objeto,  infopoesia (poesia com recursos cibernéticos, ao computador, ou tipograficamente  trabalhada), videopoesia,  poesia erótica, sonetos maneiristas.  Mas nunca “abandonou” o verso. Sua poesia traz, às vezes, o jogo verbal de ressonância um tanto barroca.

 

A POESIA DE SOPHIA DE MELLO BREYNER ANDRESSEN

(1904-2004)

Em 1962, publicou Contos Exemplares (p/adultos e crianças), mas foi na poesia que ela  se destacou desde 1944, Mar Novo (1958) Musa (1994). Em todos eles temos a  sensibilidade feminina de fundo simbolista, como destaque num olhar para dentro das coisas Busca a uma mágica das coisas sendo a cosmos  e tem no mar sua inspiração mais lírica.

O encontro mítico com os seres naturais, a inspiração na natureza, motivos clássicos e históricos (cita).

Uma das mais queridas pelos  leitores da poesia portuguesa do século passado.

 

HERBERTO HELDER

            Primeiro livro com seus  poemas: “O amor em visita” (1958). Outros:  Poemalto (1961),  Poemas ameríndios (poemas moldados para português. Herberto mergulha a língua portuguesa na poesia ameríndia e o resultado é de uma riqueza extraordinária. Faz-nos reflectir sobre a condição humana, enquanto nos envolvemos na cultura ameríndia e nos seus antigos saberes.
A força da natureza apanha-nos desprevenidos. A sua beleza emerge no amor, na saudade, na dor ameríndias: “És dura comigo, dura, / és dura de coração, meu amor, dura. / És fria comigo, fria, / és fria de coração, meu amor, fria. / Porque espero por ti e não vens, espero, / não vens e espero por ti, e não vens nunca. / O grito com que hei-de chamar-te será diferente agora: / descerei ao mundo de baixo, meu amor, / e do mundo fundo e escuro gritarei o teu nome, / meu amor, gritarei do fundo do mundo o teu nome.”. Aqui tudo é puro. Voltamos a sentir os cheiros da natureza, a força da fé e a beleza dos cânticos ameríndios, num ritmo e musicalidade únicos. Como se por lá estivéssemos. Conhecemos a magia dos Astecas, dos Quíchuas, dos Araucanos, dos Guaranis, dos Guahibos, dos Yaquis, dos Nahuas, dos Miskitos, dos Kuoguis, dos Kiowas, dos Apaches e dos Navajos.

Poesia mágica, melancólica, evocativa, que, aos queridos alunos, recomendamos.

Contos: Os passos em volta (1963).

AUTOBIOGRAFIA ROMANCEIRA: “Apresentação do rosto” (1968).

            Sua  dicção poética é tal que seus versos parecem esculpir a animação íntima  da natureza.  Lirismo elíptico, pan-erotismo, ritmo  sinfônico, recorte surrealista,  sintaxe tradicional,  limpidez  (ver exemplo cita)  decifração  dos enigmas órficos,  metáforas inusitadas (ver, cito),  tensão poética, metapoesia:  “a poesia também pode ser isso: / a  dor com que não durmo lavrado completamente /  íngremes laborações [...]  pingo de ouro nos recessos /  do cérebro.  Que fosse aparição contínua”.

“Lirismo antropofágico, visão.  A poesia é  um batismo  atônito, sim uma palavra /  surpreendida para cada coisa:  nobreza, um supremo / etc. das vezes”.  Também nos contos  não deixa de ser poeta: tom  espontâneo, surrealismo  peculiar ao indagar o enigma  das coisas,  da magia cósmica nos labirintos do ocultismo.  Parece trazer  segredos antes nunca trazidos à luz.

 

            Depois da Revolução de 25 de  abril de 1974,  em Portugal  surgem  incertezas  e estímulo na literatura,  também:  uma relevante produção a encantar público e crítica.

            Uma nova corrente chamada ABJECIONISMO, uma antologia chamada Grifo,  ainda com traços surrealistas / iconoclastos. A serviço do povo, outros à animação cultural.  Joaquim  Manuel Magalhães,  José Miguel Fernandes Jorge,  Antônio Osório,  Armando Silva Carvalho, Nuno  Júdice,  Vasco Graça Moura,  José Agostinho Batista,  Antônio  Travaco  Alexandre, Manuel Antônio  Pina.

 Luiz Miguel Nava (destaque 1957-1995): traços  do Realismo  Mágico, especial visão da realidade (“O real é  um vidro pintado sob o sol berrante,  as coisas prendem-se ao espírito”). Ele não emprega malabarismos verbais com suas metáforas e situações imaginadas imprevistas das suas imagens sabe por  as coisas em cena. Fez poemas  em prosa (ver “as sombras”). Diante de beleza oculta invoca a epifania “O sol  declina-me no  espírito, do meu mundo, anterior  vêm-me as sombras ocupando  aos poucos o lugar da pele”.

É  a poesia-mistério, mística:  “entre os sabores que tocam ao meu espírito procuro então o que melhor na poesia devolver à transparência, não dos espelhos  ou dos vidros,  que a literalidade impregna, mas a abrupta transparência dos sentidos [...]  um dia, ao acordar,  deu por ter deixado  todos os seus ossos num dos sonhos, do qual, como  dum espelho, a carne e a roupa juntas “irrompiam”.

 “E mais  não sou então do que um embrulho de memória, atado por veias e lacrado pelo espírito [...] ainda por atingir a realidade”. Poesia cintilante  como um meteoro.

            Outro  destaque é  Ana Luísa Amaral (1956 -       ): Minha senhora de quê (poemas, 1990), Gênese do Anos (2005). “Só  eu aqui descentrada  do mundo /  neurótica e distópica”.

            “Sacerdotisa / de nada, / chegava-me fingir [...] nem de por força morrendo /  arranjo musa”. (seria musa de si própria,  nas suas disseminações ou imitações do nada?)

                       

 

ALMEIDA FARIA

            Licenciado em Filosofia, revelou-se com o romance. Rumor Branco” (1962),  influenciado por Vergílio Ferreira.

            Teatro: “Vozes da Paixão” (1998).

Destaque para os seus romances:  de “A paixão” (1965) e também  “A  reviravolta (1999).

            Fluente  linguagem  faz lembra James  Joyce. Tem algo de  dadaísta, picaresco, quase literatura calcada no gênero fantástico” (?).

 

AGUSTINA BESSA LUÍS

            Iniciou com o som. “Mundo fechado” (1948),  ganhou  impulso com o romance “A sibila  (1953),  contos “A Brusca” (1971).  No teatro “O Inseparável” (1958).  Livros de viagens. Escreveu a biografia de Florbela Espaço (1979).

CARACTERÍSTICAS:   traça uma identidade entre o  ideal e o real  onde a noção  de espaço e tempo – desaparece interligando pessoas, coisas e fatos fenomenologicamente, encadeamento psicológico, personagem  movimentam-se um espaço mítico,  imperceptível a olho dos não “iniciados”.  Nos mistérios  desta escritora que não aprecia  referência  à realidade convencional, preferindo a proustiana.  

 

Trecho abaixo:passagem do romance A Sibila, de Agustina Bessa-Luís.

 

A verdade é que entre o povo a noção de propriedade está por demais arreigada para que um ladrão, por mais heróico ou altruísta, não seja julgado como infame.Um assassino é tolerado, pode partilhar o pão dos vizinhos, pode fazer esquecer os seus crimes. Um ladrão lega a toda a sua descendência um ferrete indelével, porque, se o homicida as mais das vezes obedece a uma paixão, um impulso resgatável e quase nunca repetido, o ladrão traz no sangue, e assim o comunica, o fogo da tentação que as circunstâncias, mais ou menos, ou velam ou expandem.

 

 

Depois  de 1974,  “livre” das autocensura, a ficção portuguesa  moderniza-se.

José Saramago (1922-2010)

 

 

Começou  como poeta: “Os poemas  possíveis”  (1966). Foi cronista,  escreveu  para teatro (“A noite”, 1979).  Mas principalmente  foi a sua ficção depois de anos  que o  consagrou.  Ganhou  o Prêmio Nobel  de Literatura em 1998. Lembrar “Memória do Convento” (1982),  O ano de morte de  Ricardo Reis

            O  evangelho segundo Jesus Cristo (1991), “Ensaio sobre a Cegueira (1995). É o  realismo escrito em  narrativa com linguagem muito particular (sem  modo  de um mesmo parágrafo a o discurso direto  o indivíduo e o direto / indireto livre é bem  peculiar sem engajamento é explícito (à esq.). Vasculha o passado português, vai ao tempo de Cristo,  fala da clonagem  humana (onde?) uma cosmovisão estonteante:  lit. denunciante,  na fama lúdica, uso subjetivo dos sinais de pontuação. Vai às minúcias do drama finalizado.

 

valter hugo mãe

Com alguns  textos recheados de alegoria e fantasia, valter hugo mãe traz em suas palavras precisas a poesia e a filosofia sobre a vida, além do bom humor ao falar sobre si mesmo. Desde garoto quis ser poeta, mas foi surpreendido pelo dom para a prosa quando escreveu seu primeiro romance. “A gente tem que aprender a ser o que é”, diz o escritor, em tom sereno de quem compreendeu que suas histórias são como poemas, só que mais longos. Com seu segundo romance, o remorso de baltazar serapião, ganhou em 2007 o Prêmio José Saramago. Em 2012, A máquina de fazer espanhóis deu ao escritor português nascido em Angola o Prêmio Portugal Telecom. A morte, tema presente em sua literatura, já era onipresente desde que Valter nasceu, por causa da perda do irmão mais velho anos antes.

 

LOBO ANTUNES

Psiquiatra que sua estreia substrato histórico / cultural como romancista se dá em 1979,  com o romance “Memória de Elefante”,  num estilo que tem algo do “Ulysses” (de James Joyce:  tudo se passa em  um dia e temos  o monólogo interior),  a seguir “os cus de Judas (79) e ele  se consolida “O esplendor  de Portugal” (1997). Faz crítica à sociedade, cita a guerra colonial na África, busca o contemporâneo.  O hospício como metonímia comédia humana. O faz com tom  criativo com livros poéticos, polifônico,  vigoroso. (Trecho de “Memória de Elefante”).

Seu romance  “As naus”  mostra os portuguesa  retornando das colônias africanas que se libertaram deles, finalmente depois  de 1974. E como  ficou Portugal  depois da Revolução dos Cravos.   Antunes o faz de modo Antiépico.

A  estrutura em labirinto romancista Lídia Jorge também tratou  da guerra descolonizante na África portuguesa, apelou  para o fantástico, o psicológico  e o poético em “A Costa  dos Murmúrios (1988),  com influência  do “Novo Romance” francês.  Suas tramas bem feitas em tom experimental para examinar o ser humano em ação  e seus desdobramentos psicológicos do impenetrável do  desconhecido / escondido no humano (ressonância freudiana). É como se ela tentasse testemunhar o  “INTESTEMUNHÁVEL”. No teatro lançou a peça “A MAÇON”, de 1997.

Teatro moderno em Portugal: A dramaturgia portuguesa destacamos Bernardo Santareno (1924-1980) e da sua produção, a peça “Irmã Natividade” (1961),  tráfico-lírica a aborda  o problema da religião e as preocupações existenciais.

 

 

 

 

 

 

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