PROF.
DR. MOISÉS MONTEIRO DE MELO NETO
O
que nós vemos das coisas são as coisas.
Por
que veríamos nós uma coisa se houvesse outra?
Por
que é que ver e ouvir seriam iludirmo-nos
Se
ver e ouvir são ver e ouvir?
O
essencial é saber ver,
Saber
ver sem estar a pensar,
Saber
ver quando se vê,
E
nem pensar quando se vê
Nem
ver quando se pensa.
Mas
isso (tristes de nós que trazemos a alma vestida!),
Isso
exige um estudo profundo,
Uma
aprendizagem de desaprender
E
uma sequestração na liberdade daquele convento
De
que os poetas dizem que as estrelas são as freiras eternas
E
as flores as penitentes convictas de um só dia,
Mas
onde afinal as estrelas não são senão estrelas
Nem
as flores senão flores,
Sendo
por isso que lhes chamamos estrelas e flores.
(Alberto
Caeiro, O guardador de rebanhos, em
Fernando Pessoa, Obra poética. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 1983, p.151-152.)
HETERONÍMIA em Fernando PESSOA: é um jogo de um poeta que pensa como ficcionista
/ dramaturgo? Esconde-se atrás das “personagens” para melhor se revelar (às
avessas)? Ou revela-se para despistar os leitores?
Filósofo e ao mesmo tempo, poeta, emoção penada
concepção época do mundo e da
existência a mais alta vocação poética do século XX.
Seria sua poesia ortônima (a que assina com seu próprio nome) outra heterônima? Seria Álvaro um heterônimo
– pseudônimo?
Pessoa: extrema severidade indagadora e analítica,
invulgar sensibilidade.
Submete a emoção ao exame da inteligência
transformação emoção estética em emoção pensada.
Apreende a emoção e a transmite antes que ele desapareça
(enriquecendo- as por meio do intelecto no jogo ser/ não ser, base da era
poesia).
Ajuntamento depois do desmonte, em processo
lírico-alquímico, sempre a recomeçar (demolir / reconstruir).
Fernando Pessoa:
Sol
nulo dos dias vãos,
Sol
nulo dos dias vãos,
Cheios
de lida e de calma,
Aquece
ao menos as mãos
A
quem não entras na alma!
Que
ao menos a mão, roçando
A
mão que por ela passe
Com
externo calor brando
O
frio da alma disfarce!
Senhor,
já que a dor é nossa
E
a fraqueza que ela tem,
Dá-nos
ao menos a força
De
a não mostrar a ninguém!
Fernando
Pessoa. Poesias. Lisboa: Ática, 1942 (15ª
ed. 1995)
Pessoa reduz a nada as “verdades” mobilizantes, o
comodismo intelectual. Ele é antidogmático. Também propõe a libertação do homem
pelo despojamento da mente.
Fernando Pessoa, CANCIONEIRO
Emissário de um rei desconhecido
XIII
Emissário
de um rei desconhecido
Eu
cumpro informes instruções de além,
E
as bruscas frases que aos meus lábios vêm
Soam-me
a um outro e anómalo sentido...
Inconscientemente
me divido
Entre
mim e a missão que o meu ser tem,
E
a glória do meu Rei dá-me o desdém
Por
este humano povo entre quem lido...
Não
sei se existe o Rei que me mandou
Minha
missão será eu a esquecer,
Meu
orgulho o deserto em que em mim estou...
Mas
há! Eu sinto-me altas tradições
De
antes de tempo e espaço e vida e ser...
Já
viram Deus as minhas sensações.
MÁRIO SÁ CARNEIRO
1890-1916 (25 ANOS)
Em 1914 publica livro de contos (Princípio). Depois a novela A
Confissão de Lúcio (1914, Prêmio Camilo Castelo Branco); em colaboração com
um colega escreveu Amizade (1912, Teatro). Alisson André
Avancini destaca: “quando se lê A confissão de Lúcio no curso
de Graduação em Letras, ocorre reação típica das personagens das novelas de
Mário de Sá-Carneiro (1890-1916): o estranhamento que gera atração e fascínio
pelo objeto a ser estranhado e a ser, consequentemente, lido e analisado.
Em A confissão de Lúcio, o estranhamento ocorre devido à
pluralidade temática que essa obra apresenta, a qual ocorre também na lírica de
Mário de Sá-Carneiro: o narcisismo, a influência da arte e dos artistas,
o autodesprezo, a questão do duplo, suicídio, amor por Paris,
homossexualidade, o mistério, erotismo e a presença da beleza. Temos aqui uma
pluralidade temática”.
Uniu
Vida e Arte tragicamente. Sensação de ser alheio à vida. Egocêntrico, vaidoso, num isolamento de
animal ferido, vê inutilidade: “não sinto o espaço que encerro/nem as linhas que projeto: / Se me olho a um espelho, erro - /
não me acho no que projeto”.
Sonda
os labirintos da alma em busca do eu profundo na inquietação sideral. É exemplo
da sua caótica geração: “Perdi-me dentro
de mim / porque eu era labirinto / e hoje, quando me sinto, / é com saudades de mim”.
Sua
autoanálise trágica daí tira sua poesia: da autoflagelação: “dúbio mascarado”,
“misterioso”, “falso atônito”,
“covarde perigoso”, é como se vê. Um “palhaço”, “rei de incoerência”. Na atmosfera
de louco genial. Herdeiro do decadentismo
baudelairiano, Charles Baudelaire, poeta francês do Simbolismo, deixou-se
queimar no incêndio dos sentidos, que materializar corações. Suicidou-se com
veneno.
ALMADA-NEGREIROS (1893-1970)
Escritor
e artista plástico (telas, painéis, vitrais de vanguarda (FUTURISMO, DADAÍSMO,
CUBISMO , SURREALISMO).
A Cena do Ódio
José de Almada-Negreiros. poeta Sensacionista e Narciso do Egito
(A
Álvaro de Campos a dedicação intensa de todos os meus avatares)
Sou
Narciso do Meu Ódio!
—
O Meu Ódio é Lanterna de Diógenes,
é
cegueira de Diógenes,
é
cegueira da Lanterna!
(O
Meu Ódio tem tronos de Herodes, histerismos de Cleópatra, perversões de
Catarina!)
O
Meu Ódio é Dilúvio Universal sem Arcas de Noé: só Dilúvio Universal,
e
mais Universal ainda:
Sempre
a crescer, sempre a subir...,
até
apagar o Sol!
[...}Eu
creio na transmigração das almas por isto de Eu viver aqui em Portugal.
Mas,
eu não me lembro o mal que fiz
durante
o Meu avatar de burguês.
Oh!
Se eu soubesse que o Inferno
não
era como os padres mo diziam
—
uma fornalha de nunca se morrer
—,
mas sim um Jardim da Europa à beira-mar plantado...
Eu
teria tido certamente mais juízo,
teria
sido até o mártir São Sebastião!
E.
ainda há quem faça propaganda disto:
a
pátria onde Camões morreu de fome
e
onde todos enchem a barriga de Camões!
Se
ao menos isto tudo se passasse
numa
Terra de mulheres bonitas!
Mas
as mulheres portuguesas são a minha impotência!
Quadro
que Almada pintou tendo como motivo o amigo Fernando Pessoa
Era um iconoclasta (a quebrar
modelos) de espontaneidade polêmica, lúcida, contra o que é falso, ridículo.
Seu romance Nome de Guerra tem traços
do surrealismo.
INTERVALO
Neste meio tempo tempos alguns autores que ficam
entre uma e outra. Destacamos aqui o nome da poesia FLORBELA ESPANCA.
(1894-1930):
Em 1919, estudante de Direito, livros com poema Livro de Mágoas e em 1923, Sóror Saudade, separa-se do marido,
tenta nova experiência, mas em 30 uma dose excessiva de calmante, morre. Publicam-se os seus contos. Sem sucesso em
vida, com depois morte fica famosa.
Seus textos demonstram muita sensibilidade e fortes
impulsos eróticos, como num diário íntimo, cheios de sentimentos opostos, poesia
– confissão de uma mulher conquistadora a desnudar-se por dentro sem
preconceito com suas emoções e paixões,
lembram as “cartas de amor”, de Soror
Mariano Alcoforado, cheias de culto
literário de Dor. Era fã de Antônio
Nobre (simbolista que já estudamos aqui).
e cultua o soneto (duas quadras e dois
tercetos), expõe seu drama íntimo de modo límpido,
enérgico. Eroticamente insatisfeito.
É acusada de imoral, quando buscava apenas um amor mais forte, para além das convenções burguesas “- Um homem? – quando se sonha o amor dum Deus!”.
A
grande poetisa, na sua observa capacidade de amor, envolve-se com a natureza e
se põe triste e pensa na morte.
“Deixar
entrar a morte, a iluminada, a que vem para me levar, / abri todas as
portas par em par / como asas a bater em revoada”.
A NOVA GERAÇÃO SURGIRIA EM 1927: PRESENCISMO
Mas
com o fim da Revista Orpheu, outras
revistas ocuparam-lhe o lugar, depois do movimento de Fernando Pessoa e Sá-Carneiro.
Presencismo
A geração da Revista “Presença” (1927-1940)
Destacamos
José Régio, parte de um grupo que em Coimbra lançou “Presença”, dirigida por
Branquinho de Fonseca, depois por Miguel Torga e Adolfo Casais Monteiro.
Defendiam que cada um seguira seu caminho na arte e na crítica. A revista
acaba-se no começo da 2ª Guerra Mundial, quando surge o neorrealismo.
“Literatura
viva é aquela em que o artista insuflou sua própria vida”, disse José
Régio, que tinha Pessoa e Sá-Carneiro
como mestres.
O
grupo lançou um manifesto. Apreciam APOLLINAIRE, Paul Valéry, poetas e
teóricos, e Pirandello (dramaturgo italiano famoso).
JOSÉ RÉGIO (1901-1969)
Estudou
Letras, em Coimbra. Escreveu conto,
romance, peças de teatro e crítica.
Seu
tema favorito: diálogo entre o homem e
Deus (fechado em si).
Embora
não tão declaratório, como Antero de Quental, sua poesia tem tom declamatório
Suas
peças teatrais são bem construídas (João e o Anjo – 1941), El-Rei
Sebastião (1949), A salvação do mundo (1954).
Da
poesia destacamos o livro Poemas de Deus e do Diabo (1925). Dos contos: Davam grandes passeios aos domingos (1941). Nesta novela de José Régio, destcamos aspectos
temáticos que organizam o universo da ficção presencista. Ênfase nos
aspectos temáticos que organizam o universo do segundo movimento moderno,
conhecido como "Presencismo" na ficção da literatura portuguesa.
Rosa Maria é uma personagem cativante que instintivamente gera empatia.
Afligida pela desventura de ser órfã e pobre num tempo em que a emancipação
feminina ainda era uma miragem distante, ousa sonhar com horizontes mais
longínquos do que aqueles que a sociedade lhe reservou. Acolhida por familiares
abastados, está fadada a permanecer nas sombras enquanto discreta e apagada
professora de lavores e piano da jovem estouvada da família. Mas Rosa Maria é uma
pessoa sensível, com necessidade de estímulos intelectuais e emocionais que
superam a sua posição social. Na sua ingenuidade, é levada a acreditar que a
sua realização é possível, que pode transpor as firmes e intransigentes
barreiras de uma sociedade fortemente hierarquizada para se tornar na pessoa
que sonha ser. O leitor acompanha o seu devaneio até ao inevitável desfecho, o
único possível numa sociedade que não tolera desvios.
“E o que mais a
desesperava nas noites de insónia, quando o soão quase súbito se levantava,
sacudia a repelões portas e janelas, depois se engolfava nos becos vizinhos, de
redor da cadeia, com uivos cavos morrendo ao longe, – era ver como tinha em si
grandes forças vivas, uma rara capacidade de amar, de se dar, de viver, e estupidamente
não lhe permitia a vida expandi-las”.
Da
Geração Presença (1904-1974) ainda destacamos Branquinho da Fonseca.
ADOLFO CASAIS MONTEIRO (1908-1972)
Foi bom ensaísta, formou-se em Ciências, Histórias e
Filosofia, na Faculdade de Letras do Porto. Professor Universitário desde 1954.
Conhecido por sua lírica moderna, canto libertário e com sutil tom anárquico
melancólico, choque entre o poeta que pensa e o poeta que sente. Sua crítica
foi tachada de impressionista.
Livros em destaque: Poemas do Tempo Incerto (1932).
“Pelo caminhos incertos / dum país de sonho e bruma / vou desvairado à procura / de qualquer coisa que sinto / fugir-me por entre os dedos”.
O poeta e contista
Antônio Boto
(1897-1959) foi amigo de Fernando
Pessoa, seus poemas tem clássico e
erótico, privilegiada sensibilidade. Seus
contos Para crianças e adultos (1942) lembram
La Fontaine e Esopo
em algumas partes (moralizantes).
Tomaz de Figueiredo (1902-1970) também se destacou
como dramaturgo do absurdo e do insólito.
A pedagoga e escritora
Irene Lisboa destacou-se com Voltar atrás
para quê? (novela, 1956) e em outras
prosas de ficção, romance, contos.
Prefere o povo, a massa
anônima, os humildes de Lisboa, nos seus escritos. Seu temperamento poético
bebe nesta fonte, om naturalidade.
Calca-se nos princípios estéticos da sua geração (PRESENCISMO) tratando dos
conflitos psicológicos em detrimento aos de ordem ideológicos.
O NEORREALISMO PORTUGUÊS
ROMANCE SOCIAL
1940-1974
Enquanto
nos E.U.A com John Steinbeck e Ernest
Hemingway sacudiam o mundo literário com
suas visões literossociais,
Portugal apresentava suas armas,
instigado pelos escritores do Brasil (Jorge Amado, Graciliano Ramos, José Lima do Rego, Rachel
de Queiroz, que tratam do viés socioeconômico, secas, senhores do
cacau e do açúcar.
Alves
Redol (1911-1969) publica, na linha neorrealista, tratando
da vida dos camponeses, seu romance GAIBÉUS,
iniciando oficialmente o movimento.
Cheio de lirismo realista, como Jorge Amado, em
“documentário humano”, literatura engajada (preocupada com a situação do povo explorado,
luta de classes).
De família humilde, de 1927 a 1930
trabalhou em Angola e em
1939 lançou o romance Gaibeús, inspirado pelo romance social brasileiro e
norte-americanos Gaibéus semelhantes aos retirantes do Nordeste brasileiro e os miseráveis da grande
depressão Norte-americana.
Escreveu para
teatro: Maria Emília(1945), Forja (1948).
No romance continuou com a série Port-Wine
(I, II e III), Vindina de Sangue
(1953) sempre criticando a exploração do homem pelo homem (injustiça social)
inclusive entre produtores de vinho.
TENDÊNCIAS CONTEMPORÂNEAS
VERGÍLIO FERREIRA (1916-1996)
Cursou letras na Universidade de Coimbra. Dentre outros
romances é autor de Aparição (1959), A Face sanguenta (contos, 1953), Seus
diários: Conta corrente, 5 volumes 1980 a 1987
e Conta Corrente - Nova série, de 1993 a 1994, 4 vols..
Este tipo de produção literária original diferente dos neorrealistas, na invenção romanesca: ao tratar dos problemas de ordem filosófica e existencial, mostra o homem não
só como animal gregário e injustiçado,
mas com sérios conflitos, interiores, principalmente a partir do romance Mudança (1949), analisou os problemas morais do seu
tempo, as condições humanas, em inteira
pesquisa romanesca. Existencialismo e
epifania.
O romance Aparição, de Vergílio
Ferreira, possui, além de uma complexidade estrutural e simbólica
flagrantes, um enredo bastante simples: trata- se da história da ida do
professor Alberto Soares a Évora, onde permanece por um ano, ministrando aulas
no liceu local. Vergílio Ferreira pretendeu tornar o homem visível a si mesmo.
Para o autor, o que se vê melhor é aquilo que não se vê, porque « o que está
mais perto dos olhos, são os olhos e aos olhos ninguém os vê; publicado em
1959, começa com um prenúncio de
tragédia: Alberto Soares, o personagem do romance, chega a Évora como
novo professor do liceu. Um homem de luto, sombrio e descrente ainda
a refazer-se da morte do pai, acaba de entrar numa cidade católica,
branca e luminosa, deixando adivinhar que a sua relação com a cidade
não será fácil.
Pelo caminho, vai
retratar a sociedade fechada e com várias classes sociais de uma pequena cidade
provinciana em plena ditadura fascista. Mas, fundamentalmente,
vai colocar em causa a relação do homem consigo mesmo.
O espectro desumano da
II.ª Guerra Mundial ainda estava presente em 1959. O personagem estava
completamente só, sem céu, nem inferno, nem eternidade após a morte, mas em
busca de sentido para a vida assim mesmo. Alberto, o narrador, cedo se relaciona com o Doutor
Moura, antigo colega do seu pai, e o seu círculo familiar, nomeadamente Ana,
casada com Alfredo Cerqueira, Sofia, de quem se tornará explicador de Latim, e
Cristina, a filha mais nova da família. Neste espaço familiar circulam também
as figuras de Carolino, um dos seus alunos do Liceu, e o engenheiro Chico, um
amigo da família, espécie de neorrealista militante.
O espaço urbano de Évora tem como
contraponto o espaço rural da montanha onde Alberto viveu a sua infância, e ao
qual temos acesso através de analepses que nos dão conta do crescimento dessa
personagem, designadamente a descoberta do seu próprio «eu» em face de um
espelho, o primeiro contato com o não-sentido da morte (a famosa «metáfora do
cão») e a aquisição da consciência da “morte» de Deus”. Assim, o seu passado
evolutivo vai iluminando o seu desenvolvimento no presente da ação principal: a
interação da sua verdade com aquela das outras personagens, oscilando entre os
polos da aparição e da desaparição, da revelação e da dissimulação, da
integração e da desintegração.
A professora Camila Savegnago nos esclarece: a
palavra aparição, presente inclusive
no título, é usada de modo recorrente no texto, a fim de acentuar a importância
desse constante processo de buscas e descobertas. Para o narrador-personagem
Alberto, essa aparição está diretamente ligada ao instante presente:
“[O]
tempo não existe senão no instante em que estou. Que me é todo o passado senão
o que posso ver nele do que me sinto, me sonho, me alegro ou me sucumbo? Que me
é todo o futuro senão o agora que me projeto? O meu futuro é este instante
desértico e apaziguado. Lembro-me da infância, do que me ofendeu ou sorriu:
alguma coisa veio daí e sou eu ainda agora, ofendido ou risonho: a vida do
homem é cada instante – eternidade onde tudo se reabsorve, que não cresce nem
envelhece –, centro de irradiação para o sem-fim de outrora e de amanhã. O
tempo não passa por mim: é de mim que ele parte, sou eu sendo, vibrando.”
Nesse
sentido, o instante presente constitui toda a realidade humana, a vida pulsante
e intensa, nele o passado se reabsorve e é reinventado, numa constante
necessidade de manter sempre vivos os momentos de aparição; enquanto o futuro
só pode ser entendido no agora, apenas como projeção, uma vez que nele só
existe a morte inevitável. Isso explica a insistência do narrador-protagonista
em presentificar tanto o passado quanto o futuro. (CAPTURADO EM http://w3.ufsm.br/revistaideias/arquivos%20PDF%20revista%2026/o%20jogo%20dos%20tempos%20em%20apari%E7%E3o%20de%20verg%EDlio%20ferreira.pdf).
PARTE II
.
DO
SURREALISMO A LOBO ANTUNES
SURREALISMO NA LITERATURA PORTUGUESA
1947-1974
Em 1917, Lisboa, cria-se o “Grupo Surrealista tendo como líderes, dentre outros, Alexander O’Neill
e Mário Cesariny de Vasconcelos, cujo primeira manifestação foi homenagem
ao Centenário de Gomes Leal (1948).
Cesariny
(1948) cria outro grupo (“Surrealistas
dissidentes”), ao lado de O’Neill
produzem escandalosa exposição e em
1951, nova exposição 1952 vem à luz o
“Manifesto dos Surrealistas dissidentes. Nos
anos 1960 trabalharam com a “poesia experimental” Cesariny organiza Surreal / Abjeccionismo (1963), uma coletânea com novos e antigos autores e
“grifo” (1970), ação política e social do “UNDERGROUND”. O
abjeccionismo, mau grado a singularidade da sua situação no século XX
português, visto não depender de qualquer importação, decalque ou tradução, ao
menos directa, o que não aconteceu a nenhum outro ismo, salvo o primeiro deles,
que é só excepção, o abjeccionismo parece estar hoje semi-esquecido, fora de
qualquer foco público de atenção.
Lembramos do Manifesto Surrealista de André Breton
(1924-1930) arte deveria buscar
expressão “além da realidade”, acima
dele (“Sur”) francês. Repudiava o neorrealismo, este grupo português. Expressava o “caos cósmico”, os mistérios da mente, estranhos associações a partir da onipotência
do sonho.
O grupo
surrealista e sua crítica marcou a cultura intelectual portuguesa, abrindo novos caminhos estéticos.
Surrealismo na Literatura Portuguesa
MÁRIO CESARINY DE VASCONCELOS
(1923-2006)
Do Grupo
Surrealista de Lisboa (1917) e chefiou
os Surrealistas Dissidentes.
Além de
escritor de Prosa de Ficção, ensaio e poesia, ele foi artista plástico.
Corpo
Visível (Poesia, 1950), e Primavera autônoma das estradas (1980) são destaques,
nestes textos o insólito, o disparo, o maravilhoso e a ironia (como influência
do escritor francês André Breton) transparecem.
Suas ideias e
intuições são notáveis e não se pode falar de surrealismo em Portugal sem conhecer, mencionar e vivenciar.
Dialética dinâmica entre o real e o imaginário, o mágico e o
real cotidiano uma fantasia próxima à
alucinação.
A realidade se desfigura, se desmembra, quase
caoticamente, um lirismo comovido. Real
reinventado, redescoberto. Frases
emblemática de superior efeito transfigurador, humor absurdo (nonsense)
surreal.
Habilidade, no
manejo da linguagem (alto nível) tecnológica do mundo. Como no
POEMA PODENDO SERVIR DE PREFÁCIO
ruas onde o perigo é evidente
braços verdes de práticas ocultas
cadáveres à tona de água
girassóis
e um corpo
um corpo para cortar as lâmpadas do dia
um corpo para descer uma paisagem de aves
para ir de manhã cedo e voltar muito tarde
rodeado de anões e de campos de lilases
um corpo para cobrir a tua ausência
como uma colcha
um talher
um perfume
isto ou o seu contrário, mas de certa maneira hiante
e com muita gente à volta a ver o que é
isto ou uma população de sessenta mil almas devorando almofadas escarlates a
caminho do mar
e que chegam, ao crepúsculo,
encostadas aos submarinos
isto ou um torso desalojado de um verso
e cuja morte é o orgulho de todos
ó pálida cidade construída
como uma febre entre dois patamares!
vamos distribuir ao domicílio
terra para encher candelabros
leitos de fumo para amantes erectos
tabuinhas com palavras interditas
– uma mulher para este que está quase a perder o gosto à vida – tome lá –
dois netos para essa velha aí no fim da fila – não temos mais –
saquear o museu dar um diadema ao mundo e depois obrigar a repor no mesmo sítio
e para ti e para mim, assentes num espaço útil,
veneno para entornar nos olhos do gigante
isto ou um rosto um rosto solitário como barco em demanda de vento calmo para a
noite
se nós somos areia que se filtre
a um vento débil entre arbustos pintados
se um propósito deve atingir a sua margem como as correntes da terra náufragos
e tempestade
se o homem das pensões e das hospedarias levanta a sua fronte de cratera molhada
se na rua o sol brilha como nunca
se por um minuto
vale a pena
esperar
isto ou a alegria igual à simples forma de um pulso
aceso entre a folhagem das mais altas lâmpadas
isto ou a alegria dita o avião de cartas
entrada pela janela saída pelo telhado
ah mas então a pirâmide existe?
ah mas e então a pirâmide diz coisas?
então a pirâmide é o segredo de cada um com o mundo?
sim meu amor a pirâmide existe
a pirâmide diz muitíssimas coisas
a pirâmide é a arte de bailar em silêncio
e em todo o caso
há praças onde esculpir um lírio
zonas subtis de propagação do azul
gestos sem dono barcos sob as flores
uma canção para ouvir-te chegar
( Mário Cesariny)
ALEXANDRE O’NEILL
(1924-1986)
Foi participante da instalação de surrealismo em Portugal (1947).
Em 48 publicou A ampola Miraculosa, As horas
já de números vestidas (1981) e em 2000 é lançado Poesias Completas e Anos 70 –
Poemas Dispersos (2005).
Um “romance” em forma de “poema gráfico” (12
páginas: tom de almanaques, as
imagens e colocou legendas narrando,
como fez Max Ernst foi um pintor
alemão, naturalizado norte-americano e depois francês. Também praticou a poesia
entre os surrealistas, movimento do qual fez parte. O tom é de humor, caráter,
totalmente experimental. O’Neill
também aderiu ao Neorrealismo, mesmo sendo
da estética surrealista (!) que trabalha com
linguagem automática (por
exemplo) de extração psicanalítica. O’
Neill tem traços que lembram Cesário Verde, realismo irônico, satírico.Misturando o satírico ao
sublime. Estilo conciso, epigramático (Epigrama é
uma composição poética breve que expressa um único pensamento principal,
festivo ou satírico, de forma engenhosa. O Epigrama foi criado na Grécia
Clássica e, como o significado do termo indica, era uma inscrição que se punha
sobre um objeto — uma estátua ou uma tumba, por exemplo)
Humor e ironia tem a ver com o Surrealismo. Além disso, o poeta
critica, ainda, a ideia de se criar um Portugal de heroísmos, como o que é
descrito por outros poetas portugueses. Para o sujeito poético,o que
há, na verdade, é um país cabisbaixo, visto com desgosto e remorso:
não há “papo-de-anjo” que seja o meu derriço,
galo que cante a cores na minha prateleira,
alvura arrendada para o meu devaneio,
bandarilha que possa enfeitar-me o cachaço.
Portugal: questão que eu tenho comigo mesmo,
golpe até ao osso, fome sem entretém,
perdigueiro marrado e sem narizes, sem perdizes,
rocim engraxado, feira cabisbaixa
(O’NEILL)
Nesse
poema, a imagem descrita é uma espécie de crítica à forma literária marcada
pelo “versejar bonito”, ou seja, de idolatrar o país, uma memória cultural e
coletiva construída na ficção literária, sem mostrar a realidade do cotidiano
português.
Isabel Meyrelles (1929)
Seu primeiro livro é de 1951 (Voz baixa) obra com viés surrealista,
obedecendo as regras de gramática
padrão (sinais, pontuação e não o da “linguagem
automática”, à Breton):
O signo cisne
e um cavalo a galope
montado por um minúsculo
cavaleiro em chamas
nascido de sonho febril de
Fênix
Helder Macedo
Lança em 1957,
Vesperal, poesia lírico-amorosa
abordando enigmas da intensidade Viagem
de inverno e outros poemas (2000).
Na ficção tratou de temas como a guerra colonial na África, incesto,
fundo histórico.
Destacamos ainda Luísa Neto
Borges (1939-1989). Estreia com A noite
Vertebrada (1960). “Poema é um duelo agudíssimo”, ela diz, é uma visão de mundo, focada no
mundo fora de si, para sua poesia, em meio ao
hermético triunfo das paisagens”,
“palavras sem máscaras”, tudo
contra a usura e o convencionalismo da
linguagem, em tom de rebeldia, a recusar
eufemismos de falsa moral, até no que
diz respeito ao ato amoroso ou ao suicídio / morte. Viés surrealista, como em: “o rio secou. / subi leve à nascente / que falace./ descesse, e pra o mar”.
POESIA EXPERIMENTAL (1964)
Destacamos Ernesto Manuel de
Melo e Castro (1932) que estreou
em 1962 com o livro Salmos. Também publicou textos teórico-analíticos (textos teóricos e
documentos de Literatura Portuguesa).
Lançou também seus poemas em prosa, além
de poemas concretos e visuais,
poemas-objeto, infopoesia (poesia com recursos cibernéticos, ao computador, ou
tipograficamente trabalhada), videopoesia, poesia erótica, sonetos maneiristas. Mas nunca “abandonou” o verso. Sua poesia
traz, às vezes, o jogo verbal de ressonância um tanto barroca.
A POESIA DE SOPHIA DE MELLO BREYNER ANDRESSEN
(1904-2004)
Em 1962, publicou Contos Exemplares (p/adultos e crianças), mas foi na poesia que
ela se destacou desde 1944, Mar Novo (1958) Musa (1994). Em todos eles temos a
sensibilidade feminina de fundo simbolista, como destaque num
olhar para dentro das coisas Busca a uma mágica das coisas sendo a cosmos e tem no mar sua inspiração mais lírica.
O encontro mítico com os seres naturais, a
inspiração na natureza, motivos clássicos e históricos (cita).
Uma das mais queridas pelos leitores da poesia portuguesa do século
passado.
HERBERTO HELDER
Primeiro
livro com seus poemas: “O amor em
visita” (1958). Outros: Poemalto (1961), Poemas
ameríndios (poemas moldados para português. Herberto mergulha a língua portuguesa na poesia ameríndia e o
resultado é de uma riqueza extraordinária. Faz-nos reflectir sobre a condição
humana, enquanto nos envolvemos na cultura ameríndia e nos seus antigos saberes.
A força da natureza apanha-nos desprevenidos. A sua beleza
emerge no amor, na saudade, na dor ameríndias: “És dura comigo, dura, / és dura
de coração, meu amor, dura. / És fria comigo, fria, / és fria de coração, meu
amor, fria. / Porque espero por ti e não vens, espero, / não vens e espero por
ti, e não vens nunca. / O grito com que hei-de chamar-te será diferente agora:
/ descerei ao mundo de baixo, meu amor, / e do mundo fundo e escuro gritarei o
teu nome, / meu amor, gritarei do fundo do mundo o teu nome.”. Aqui tudo é puro. Voltamos a sentir os cheiros da
natureza, a força da fé e a beleza dos cânticos ameríndios, num ritmo e
musicalidade únicos. Como se por lá estivéssemos. Conhecemos a magia dos
Astecas, dos Quíchuas, dos Araucanos, dos Guaranis, dos Guahibos, dos Yaquis,
dos Nahuas, dos Miskitos, dos Kuoguis, dos Kiowas, dos Apaches e dos Navajos.
Poesia mágica, melancólica, evocativa, que, aos queridos
alunos, recomendamos.
Contos: Os
passos em volta (1963).
AUTOBIOGRAFIA ROMANCEIRA: “Apresentação do rosto”
(1968).
Sua dicção poética é tal que seus versos parecem esculpir a animação íntima da natureza.
Lirismo elíptico, pan-erotismo, ritmo
sinfônico, recorte surrealista,
sintaxe tradicional,
limpidez (ver exemplo cita) decifração
dos enigmas órficos, metáforas
inusitadas (ver, cito), tensão poética,
metapoesia: “a poesia também pode
ser isso: / a dor com que não durmo
lavrado completamente / íngremes
laborações [...] pingo de ouro nos
recessos / do cérebro. Que fosse aparição contínua”.
“Lirismo antropofágico, visão. A poesia é
um batismo atônito, sim uma
palavra / surpreendida para cada coisa: nobreza, um supremo / etc. das vezes”. Também nos contos não deixa de ser poeta: tom espontâneo, surrealismo peculiar ao indagar o enigma das coisas,
da magia cósmica nos labirintos do ocultismo. Parece trazer
segredos antes nunca trazidos à luz.
Depois da Revolução de 25 de abril de 1974, em Portugal surgem
incertezas e estímulo na
literatura, também: uma relevante produção a encantar público e
crítica.
Uma
nova corrente chamada ABJECIONISMO, uma antologia chamada Grifo, ainda com traços
surrealistas / iconoclastos. A serviço do povo, outros à animação
cultural. Joaquim Manuel Magalhães, José Miguel Fernandes Jorge, Antônio Osório, Armando Silva Carvalho, Nuno Júdice,
Vasco Graça Moura, José Agostinho
Batista, Antônio Travaco
Alexandre, Manuel Antônio Pina.
Luiz Miguel
Nava (destaque 1957-1995): traços do
Realismo Mágico, especial visão da
realidade (“O real é um vidro pintado
sob o sol berrante, as coisas prendem-se
ao espírito”). Ele não emprega malabarismos verbais com suas metáforas e
situações imaginadas imprevistas das suas imagens sabe por as coisas em cena. Fez poemas em prosa (ver “as sombras”). Diante de beleza
oculta invoca a epifania “O sol
declina-me no espírito, do meu
mundo, anterior vêm-me as sombras
ocupando aos poucos o lugar da pele”.
É a
poesia-mistério, mística: “entre os
sabores que tocam ao meu espírito procuro então o que melhor na poesia devolver
à transparência, não dos espelhos ou dos
vidros, que a literalidade impregna, mas
a abrupta transparência dos sentidos [...]
um dia, ao acordar, deu por ter
deixado todos os seus ossos num dos
sonhos, do qual, como dum espelho, a
carne e a roupa juntas “irrompiam”.
“E mais não sou então do que um embrulho de memória,
atado por veias e lacrado pelo espírito [...] ainda por atingir a realidade”. Poesia
cintilante como um meteoro.
Outro destaque é
Ana Luísa Amaral (1956 - ): Minha
senhora de quê (poemas, 1990), Gênese
do Anos (2005). “Só eu aqui
descentrada do mundo / neurótica e distópica”.
“Sacerdotisa
/ de nada, / chegava-me fingir [...] nem de por força morrendo / arranjo musa”. (seria musa de si
própria, nas suas disseminações ou
imitações do nada?)
ALMEIDA FARIA
Licenciado
em Filosofia, revelou-se com o romance. Rumor Branco” (1962), influenciado por Vergílio Ferreira.
Teatro:
“Vozes da Paixão” (1998).
Destaque para os seus romances: de “A paixão” (1965)
e também “A reviravolta (1999).
Fluente linguagem
faz lembra James Joyce. Tem algo de dadaísta, picaresco,
quase literatura calcada no gênero fantástico” (?).
AGUSTINA BESSA LUÍS
Iniciou com o som. “Mundo fechado” (1948), ganhou
impulso com o romance “A sibila
(1953), contos “A Brusca”
(1971). No teatro “O Inseparável”
(1958). Livros de viagens. Escreveu a
biografia de Florbela Espaço (1979).
CARACTERÍSTICAS: traça uma identidade entre o ideal e o real onde a noção
de espaço e tempo – desaparece interligando pessoas, coisas e fatos fenomenologicamente,
encadeamento psicológico, personagem
movimentam-se um espaço mítico,
imperceptível a olho dos não “iniciados”. Nos mistérios
desta escritora que não aprecia
referência à realidade
convencional, preferindo a proustiana.
Trecho abaixo:passagem do romance A
Sibila, de Agustina Bessa-Luís.
A verdade é que entre o povo a noção de propriedade está
por demais arreigada para que um ladrão, por mais heróico ou altruísta, não
seja julgado como infame.Um assassino é tolerado, pode partilhar o pão dos
vizinhos, pode fazer esquecer os seus crimes. Um ladrão lega a toda a sua
descendência um ferrete indelével, porque, se o homicida as mais das vezes
obedece a uma paixão, um impulso resgatável e quase nunca repetido, o ladrão
traz no sangue, e assim o comunica, o fogo da tentação que as circunstâncias,
mais ou menos, ou velam ou expandem.
Depois de 1974, “livre” das autocensura, a ficção portuguesa moderniza-se.
José Saramago (1922-2010)
Começou como poeta: “Os poemas possíveis”
(1966). Foi cronista,
escreveu para teatro (“A noite”,
1979). Mas principalmente foi a sua ficção depois de anos que o
consagrou. Ganhou o Prêmio Nobel de Literatura em 1998. Lembrar “Memória do
Convento” (1982), O ano de morte de Ricardo Reis
O
evangelho segundo Jesus Cristo (1991), “Ensaio sobre a Cegueira
(1995). É o realismo escrito em narrativa com linguagem muito particular (sem modo de um mesmo parágrafo a o discurso direto o indivíduo e o direto / indireto livre é
bem peculiar sem engajamento é explícito
(à esq.). Vasculha o passado português, vai ao tempo de Cristo, fala da clonagem humana (onde?) uma cosmovisão
estonteante: lit. denunciante, na fama lúdica, uso subjetivo dos sinais de
pontuação. Vai às minúcias do drama finalizado.
valter hugo mãe
Com alguns textos recheados de alegoria e fantasia, valter hugo
mãe traz em suas palavras precisas a poesia e a filosofia sobre a vida,
além do bom humor ao falar sobre si mesmo. Desde garoto quis ser poeta, mas foi
surpreendido pelo dom para a prosa quando escreveu seu primeiro romance. “A
gente tem que aprender a ser o que é”, diz o escritor, em tom sereno de quem
compreendeu que suas histórias são como poemas, só que mais longos. Com seu
segundo romance, o remorso de baltazar serapião, ganhou em 2007
o Prêmio José Saramago. Em 2012, A
máquina de fazer espanhóis deu ao escritor português nascido em Angola
o Prêmio Portugal Telecom. A morte, tema presente em sua literatura, já era
onipresente desde que Valter nasceu, por causa da perda do irmão mais velho
anos antes.
LOBO ANTUNES
Psiquiatra que sua estreia substrato histórico / cultural
como romancista se dá em 1979, com o
romance “Memória de Elefante”, num
estilo que tem algo do “Ulysses” (de James Joyce: tudo se passa em um dia e temos o monólogo interior), a seguir “os cus de Judas (79) e ele se consolida “O esplendor de Portugal” (1997). Faz crítica à sociedade,
cita a guerra colonial na África, busca o contemporâneo. O hospício como metonímia comédia humana. O
faz com tom criativo com livros
poéticos, polifônico, vigoroso. (Trecho
de “Memória de Elefante”).
Seu romance “As
naus” mostra os portuguesa retornando das colônias africanas que se
libertaram deles, finalmente depois de
1974. E como ficou Portugal depois da Revolução dos Cravos. Antunes o faz de modo Antiépico.
A estrutura
em labirinto romancista Lídia Jorge também tratou da guerra descolonizante na África portuguesa,
apelou para o fantástico, o
psicológico e o poético em “A Costa dos Murmúrios (1988), com influência do “Novo Romance” francês. Suas tramas bem feitas em tom experimental
para examinar o ser humano em ação e
seus desdobramentos psicológicos do impenetrável do desconhecido / escondido no humano
(ressonância freudiana). É como se ela tentasse testemunhar o “INTESTEMUNHÁVEL”. No teatro lançou a peça “A
MAÇON”, de 1997.
Teatro moderno em Portugal: A dramaturgia portuguesa
destacamos Bernardo Santareno (1924-1980) e da sua produção, a peça “Irmã
Natividade” (1961), tráfico-lírica a
aborda o problema da religião e as
preocupações existenciais.
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