Pesquisar este blog

sábado, 26 de abril de 2014

Descobertas novas obras de Andy Warhol

Arquivo de Warhol achado num diquete:
Vênus de Botticelli em versão com três olhos, feita por Andy Warhol em computador



'Andy 2' Desenho feito por Andy Warhol em um computador Commodore Amiga em 1985

domingo, 20 de abril de 2014

Ainda a família Belli (da minha avó materna e bisavô)

Soneto de Giuseppe Gioachino Belli - Tradução de Alexandre O'Neill

LA VITA DELL'OMO

Nove mesi a la puzza: poi in fasciola
tra sbaciucchi, lattime e lagrimoni:
poi p'er laccio, in ner crino, e in vesticciola,
cor torcolo e l'imbraghe per carzoni.

Poi comincia er tormento de la scola,
l'abbeccé, le frustate, li geloni,
la rosalía, la cacca a la sediola,
e un po' de scarlattina e vormijoni.

Poi viè l'arte, er diggiuno, la fatica,
la piggione, le carcere, er governo,
lo spedale, li debbiti, la fica,


er zol d'istate, la neve d'inverno...
per urtimo, Iddio ce' benedica,
è la morte, e finisce co l'inferno.

A VIDA DO HOMEM

Nove meses no fedor, depois nas faixas,
por entre crostas, beijocas, lagrimonas.
Depois à trela, na andadeira, em camisinha,
pára-turras na testa, cueiros por calções.


Depois começa o tormento da escola,
o á-bê-cê, a vergasta e as frieiras,
a rubéola, a caca na cagadeira
e um pouco de escarlatina e de bexigas.

Depois o ofício, o jejum, a trabalheira,
a pensão a pagar, as prisões, o governo,
o hospital, as dívidas, a crica,

o sol no verão, a neve no inverno...
E por último- e que Deus nos abençoe!-
vem a morte, e acaba no inferno.


Estátua do nosso Giuseppe Gioachino Belli
em Roma (na frente da casa de Dante)
(foto: arquivo de João de Belli)







Família Belli - Genealogia


HISTÓRICO

Destino: Brasil

Giuseppe Antonio “Mezzano” Belli, 35 anos, carpinteiro, nascido e domiciliado em San Vito di Cadore, Itália, extraiu seu passaporte em 08/12/1896 para viajar para a Argentina.  Maria Angélica Belli, 17 anos, cabelos louro-cinza, olhos cinza, “stiratrice” (passadeira de roupas), nascida e domiciliada em San Vito di Cadore, Itália, obteve seu passaporte em 25/02/1897, para vir ao Brasil.
Ambos os passaportes foram extraídos em Pieve di Cadore, provavelmente capital da província naquela época.
Não obstante os destinos diferentes, obtiveram um documento da Igreja, ainda na Itália, onde seu casamento já estava previsto; diz a tradição oral da família que se trata da bênção papal, imprescindível para a união de primos-irmãos.  Eram certamente parentes, pois traziam o mesmo sobrenome; o grau de parentesco, entretanto, ainda não pode ser apurado.  Mas as pesquisas continuam.  E ficaríamos imensamente agradecidos a quem pudesse traduzir do latim o fragmento de documento.
Destinos Diferentes
Mas fica a pergunta: porque destinos diferentes nos passaportes?
A possibilidade, antes levantada, de que planejassem casar-se no Brasil, mas lá precisassem manter o relacionamento em segredo (extrair os passaportes com destinos diferentes seria um bom despiste) caiu por terra quando o documento da Igreja, acima citado, foi encontrado: é totalmente improvável que também esse documento fosse secreto!
Pode ser que cada um, antes do início do relacionamento amoroso, estivesse planejando sua viagem separadamente.  Ou que, a princípio, ela não tivesse planos de sair de lá.
Ou ainda, o que parece mais plausível, ela – por ser menor de idade – dependia de autorização dos pais e estes, inicialmente, talvez estivessem relutantes.  O documento da igreja, acima citado – que soa como uma promessa de casamento – poderia ter sido suficiente para acabar com essa relutância.  Adicionalmente, talvez já houvesse parentes diretos dela residindo no Brasil, o que seria mais um fator tranquilizador para seus pais e demais familiares – além de também caracterizar, por si só, uma facilitação (para dizer o mínimo) para o estabelecimento deles no novo mundo.  Isso, sem dúvida, contribuiria decisivamente para o consentimento e, certamente, constituiria argumento suficiente para fazer Giuseppe desistir da Argentina.
Mas, então, seria de se esperar que esses parentes e/ou seus descendentes fossem encontrados no Brasil.
Ariosto de Belli

De fato, sabemos da existência de Ariosto de Belli, funcionário do Banco do Brasil, já falecido, que, pelo que ouvimos de nossos pais, era sobrinho de Maria Angélica.  Conforme nos informou recentemente Lucas de Belli, neto de Ariosto, Felice de Belli migrou para o Brasil por volta de 1880-1890 (portanto pelo menos sete anos antes de Giuseppe e Maria Angélica), trazendo o filho, Nicola de Belli, ainda pequeno.  Nicola veio a casar-se com Antonia da Franca Ramiro com quem teve nove filhos, um dos quais era Ariosto de Belli (todos esses dados já constam da árvore genealógica disponível neste site).  Há também o caso da família de Francisca, Henriqueta e Diomar de Belli (avó do escritor recifense, pesquisador e professor Moisés Neto).
Infelizmente os dados que possuímos a respeito dos familiares de Maria Angélica estão ainda incompletos; não temos, por exemplo, os nomes de seus irmãos (se os havia) o que nos impossibilita – por ora – confirmar o parentesco.


Ariosto de Belli e família (em João Pessoa)


il Vappore Bearn
Mas voltemos à história: eles partiram do porto de Gênova, em 08/03/1897 (pouco mais de uma semana após a data de emissão do passaporte de Maria Angélica: 25/02/1897), a bordo do Vappore BEARN, com destino ao Porto de Santos, Brasil, o qual contava então apenas 5 anos de existência (o Porto de Santos foi inaugurado em 2/02/1892).
O BEARN era um navio de 4.134 toneladas, 121,57m de comprimento por 12,25m de largura máxima, uma chaminé, dois mastros, armação férrea, hélice única, velocidade de 14 nós. Construído pela Barrow Shipbuilding Co., Barrow, Inglaterra, foi lançado às águas em 25 de Outubro de 1881 para serviço da SGTM - Societe Generale de Transportes Maritimes de Marselha, França.  A viagem inaugural  de Marselha para portos sul-americanos começou em 15 de Maio de 1882 e o navio continuou nesse serviço até 1901 quando foi “aposentado” em Marselha. [South Atlantic Seaway por N.R.P.Bonsor, p.136].
A SGTM operava nessa época, dentre outras, as seguintes rotas: – Marselha / Gênova / Nápoles; e – Marselha / Dakar / Salvador / Rio de Janeiro / Santos / Montevidéu / Buenos Aires.
Portanto eles sairam de Gênova e foram para Marselha, de onde partiram no dia 10/03/1897 para a escalas de Dakar, Salvador e Rio de Janeiro.  Chegaram em Santos no dia 04/04/1897, conforme cópia da lista de passageiros obtida junto ao Arquivo Nacional.
O Casamento
Entretanto, em 15/05/1897, eles se encontravam no Rio de Janeiro, formalizando seu matrimônio (V. Certidão original, pág. 1, pág. 2, pág.3) na sala de audiências da Quinta Pretoria, na presença do Dr. José Ovídio dos Santos, sub-pretor da Quinta Pretoria e das testemunhas “Mansueto Fabrici, natural da Áustria, casado, industrial, morador a Rua da Ajuda numero cincoenta e trez e Sylvio Pellico Fabrici, natural da Áustria, Machinista Naval da Armada, solteiro, morador a casa acima”.
Ele, “natural de Itália, trinta e cinco annos de idade, solteiro, commerciante, morador a Rua dos Inválidos Avenida Ruy Barbosa...”.
Alto lá!  “Commerciante”!?  Teria ele já se estabelecido no Rio de Janeiro?
Ela, “natural de Itália, de Vinte e Um annos de idade, solteira, moradora a casa acima...” .
Ooops!  “Vinte e Um annos”?  Provavelmente uma mentirinha (una piccola bugia) para contornar a ausência do responsável legal.  Pois ainda que estivesse acompanhada de algum irmão mais velho ou outro parente, este poderia ser responsável na prática mas não legalmente.
De qualquer forma, o mais importante é que já moravam juntos na mesma casa.
E juntos viveram até o fim de seus dias.
Família Belli - Genealogia






HISTÓRICO
A História da Família
O livro “San Vito di Cadore con il diario della invasione austro-tedesca del 1917-1918 del Maestro Matteo Del Favero Goluto”, de autoria de Mario Ferruccio Belli, tem um capítulo só para contar a história dos Belli.  Infelizmente, não conseguimos encontrar o livro nas livrarias onde procuramos, mas eu tive oportunidade de ler parte daquele capítulo (e fazer algumas anotações) en la casa de Flávio Belli, el hermano del autor.   O próprio Mário tem apenas um exemplar remanescente.
Portanto, ressalvados eventuais erros de anotação e as inevitáveis falhas da memória – carregada de fortíssimas emoções – eis, a seguir, o que pudemos apurar.
Os Sobrenomes
O primeiro tabelião a utilizar o sobrenome nos livros de registros de San Vito di Cadore foi Giovanni Antonio Belli (09/03/1769 – 17/08/1850).   Entretanto, havia tantos Giuseppe, Giovanni, Maria, etc. - todos Belli - que se fez necessário adotar alguma forma adicional de identificar a qual Giuseppe, Giovanni ou Maria se estava referindo. 
Como é de hábito também en algunas regiões brasileiras, as pessoas referiam-se ao Giuseppe “el Celeste”, ao Giovanni “do Fulano”, ao Antonio “da casa grande”, etc., associando a pessoa referida ao nome ou apelido del padre ou da mãe ou do lugar onde nasceu ou ao nome da casa, etc.
Os registros da Igreja, em contrapartida, já utilizavam sobrenome desde muito antes e sua forma de organização, apesar de simples, era – e ainda é – capaz de identificar cada indivíduo de forma bastante eficiente.   No mesmo livro onde é registrado o nascimento de uma pessoa são também feitos os assentos de casamento e óbito.
E o próprio nome do livro também ajuda a identificar cada pessoa.  Existe um livro para o bairro – ou fração (frazione) – de Serdes (reduto dos Belli em San Vito di Cadore); um livro específico para a casa Mezzana (casa do meio), ainda que também localizada em Serdes; um livro específico para “il Vecchio”, com o registro dos descendentes de Giovanni Battista Belli, chamado “il Vecchio”; un libro para os nascidos na casa chamada “il Palazzo”; e assim por diante.
Desta forma, por exemplo, poderiam haver vários Giuseppe Belli: um da casa Mezzana, outro “Del Vecchio”, outro “de chi de Palazze”; e por aí vai.
Esse complemento identificador em alguns casos passou a ser adotado como sobrenome e é também o nome do ramo ou sub-ramo dos Belli ao qual cada um pertence, sendo todos, provavelmente, ligados a um mesmo tronco.
O Ramo Celeste
Consta do livro de Mario F. Belli, acima citado, que o ramo do Celeste está praticamente extinto uma vez que em San Vito remanesce apenas uma senhorajá idosa e que, portanto, não deixará filhos – e “los que emigraron para a América do Sul devem estar todos mortos pois deixaram de dar notícias durante casi un siglo”!
É de se imaginar a sensação quando lá cheguei, em 1990, com cópia dos documentos originais.
Foi um rebuliço!
Foram imediatamente chamados vários Belli da vizinhança (aliás, quase toda a vizinhança é Belli), os documentos eram lidos e relidos eo Mário Ferruccio Belli, que estava de férias em alguma cidade praiana (no verão italiano os que moram nas montanhas vão passar férias en la playa y os que moram en la playa, vão passar férias nas montanhas) foi contatado por telefone. 
Iniciou-se então, ao telefone, uma conversa que eu ouvia mas não podia compreender.  Algo mais ou menos assim: “– mas é verdade, Mário, estou dizendo, estou com o documento aqui nas minhas mãos.  Ele está aqui do meu lado, en carne e osso! Você quer falar com ele, para ter certeza que não é alucinação minha?   Eu sei que tem quase cem anos, mas é verdade!”  – e aí por diante.
Mas eu só entendi o que estava acontecendo quando alguém me trouxe o livro (prova documental de que eu não podia estar ali) e me explicou que yo era um ser extinto!
O Mário, ainda ao telefone, não queria que eu saísse de lá: no dia seguinte partiria de volta e em 1 ou 2 dias estaria em S. Vito.   Infelizmente, naquela ocasião não pude esperá-lo, mas tive o prazer e a honra de conhecê-lo en otra ocasión, quando lá voltei.   Prometi escrever-lhe contando a história do ramo “extinto”, de forma que ele pudesse, en una nueva edición do livro, atualizar as informações.   Espero cumprir a promessa tão logo conclua a tradução, para o italiano, destes textos.
Giuseppe Antonio “Mezzano” Belli, nosso avô, pertencia ao ramo “Celeste”, sub-ramo da casa “Mezzana”.  Nossa avó, Maria Angélica Belli, era do ramo “Del Vecchio”.
 Na mesma medida em que as coisas iam se esclarecendo a emoção ia impregnando o ambiente e logo todos os presentes estavam chorando.   Inclusive – e principalmente – eu, claro.
Sentia-me, finalmente, em casa. 
Junto aos meus.
Família Belli - Genealogia
HISTÓRICO
As Viagens a San Vito di Cadore
Estivemos outras vezes em San Vito di Cadore, mas este relato contempla apenas as duas primeiras viagens.
Primeira visita a San Vito di Cadore
 Da primeira vez resolvemos parar para dormir em Pieve di Cadore, poucos quilômetros antes de San Vito.  No hotel, peguei a lista telefônica de S. Vito para ver se achava algum Belli.
Achei: metade da lista é Belli!
No dia seguinte pela manhã seguimos para S. Vito.  Lá chegando estacionei bem no centro do vilarejo exatamente em frente a uma tabacaria onde já aproveitamos para comprar alguns postais.
Enquanto minha esposa escolhia os postais, reparei que havia uma igreja a poucos metros; resolvemos aproveitar a proximidade e olhar logo a igreja, onde normalmente as antiguidades estão bem conservadas.  A primeira coisa que vi quando entrei na igreja, foi o busto do Padre Pio Belli; já fiquei todo arrepiado.  Sobre uma mesinha peguei o programa religioso da semana: outros Belli.  Fiquei mais arrepiado.
No monumento ao lado da prefeitura, erigido aos herois de San Vito, mais um Belli (Enrico, nome de guerra “Luchetta”).
A emoção ia aumentando cada vez mais.
O lugar é muito bonito; as casas, quase todas com varandas e sacadas plenas de flores; o dia radiante, o ar puro, as cores nítidas; a montanha, imensa, onipresente, ao invés de me amedrontar mais me parecia uma asa protetora.
Formou-se um nó na garganta.
Contra-senso
Entretanto a sensação, ilógica, paradoxal, era de uma imensa alegria. Mais tarde entendi: era a alegria de retornar – retornar a um lugar onde jamais havia estado!
Não aguentei: entrei no carro e, sob os protestos de minha esposa, fui embora!  Na saída da cidade, uma madeireira, de Vido & Belli.  Por insistência dela, parei.  Lembro-me de detalhes: por detrás do portão aberto, lá no fundo, uma nuvem de serragem; o cheiro gostoso da madeira chegava até mim.
 “-Vamos lá, vamos perguntar para alguém!”, dizia ela.
Enrolei: para ganhar tempo atravessei a estrada para fotografar a placa com o nome da madeireira. Enquanto isso pensava: – perguntar? perguntar o quê? (e com que voz?) E qual poderá ser a resposta?  E, afinal de contas, o que eu vim fazer aqui?
E, de repente, me deu o estalo.  Eu já cumpri a missão: eu retornei!
Mas na segunda curva da estrada já estava com saudades de novo.
Segunda visita a San Vito di Cadore
Da segunda vez eu estava mais preparado psicologicamente (ou, pelo menos, era o que eu achava).
Chegamos em San Vito já no final da tarde.  Hospedamo-nos no Hotel Nevada, ao que pude perceber, uma empresa familiar.  O dono do hotel, que nos recepcionou, quando viu o nome no passaporte já começou a fazer perguntas.  Respondi às que pude.  Uma não consegui: “-de qual ramo?”.  Não entendi.  Ele repetiu.
Fiquei achando que “ramo” em italiano não era o mesmo ramo do português.
Ele encontrou uma solução para o problema de comunicação: mandou chamar um velho que já havia morado na Argentina e, portanto, poderia me explicar tudo.  O velho não estava em casa no momento, mas iria chegar logo e, imediatamente, viria ao hotel.  Dava tempo de subirmos aos quartos, tomar um banho, trocar de roupa, etc; foi o que fizemos.
Mal havíamos descido chegou o velho Sr. Menegús, que havia morado na Argentina.
Consegui entender tudo o que ele falava em italiano e nadinha do que dizia em castelhano.  Quem conseguiu conversar com ele foi minha esposa: mas teve que ouvir toda a história dele, de como foi parar na Argentina, como retornou, até o momento presente.  Eu fazia perguntas em italiano e ele respondia em “espanhol”.  Ficamos sabendo que em frente ao hotel seria construído um shopping.  Conhecemos, em detalhes, como seria o referido shopping.  Por fim, combinamos de nos encontrar novamente no dia seguinte, quando, então, ele nos levaria a fazer contatos que nos esclareceriam, afinal, a que ramo eu pertencia.
Fosse lá isso o que fosse.
“per il naso”
O dia seguinte começou com a decisão de trocar de hotel.  Lembrei-me de que na entrada da cidade havia uma placa com várias setas indicando hoteis.  Voltei lá: em cada seta, ao lado do nome do hotel, havia a classificação.  O primeiro, lá em cima, cheio de estrelas (e, provavelmente, bem caro).  Baixei os olhos para o último: Vila Belli!  E nenhuma estrela.
Seguindo as placas, encontrei: tratava-se de uma pensão, localizada num lugar muito aprazível, no outro lado do pátio fronteiro à antiga e formosa estaçãozinha de trem de S. Vito.  A pensão, porém, só funciona na alta temporada e já estava fechada; estava lá apenas uma empregada que não soube nos dar outras informações.
Voltei à placa na entrada da cidade.  De baixo para cima (ou seja, do menor para o maior preço), a segunda seta indicava uma Pensione Cadore.  Comecei a seguir as placas, mas, lá pelas tantas, havia um desvio em função de obras na estrada; dali em diante não vi outras placas indicativas da pensão.  Continuei subindo por um tempo e, como ainda não achasse outras indicações, resolvi voltar.
Manobrei, coloquei o carro de frente para onde vínhamos e estacionei à beira da calçada: a vista era lindíssima e merecia ser fotografada.  Após as fotos, voltamos ao carro e, num impulso, manobrei de novo e voltei a subir. Logo adiante a estrada bifurcava.  Nenhuma placa indicativa.
Num segundo impulso, tomei a rua da esquerda; uns cem metros adiante, com mais um movimento brusco do volante, entrei em um pequeno estacionamento no lado esquerdo da rua e parei.
– O que houve? – perguntou minha esposa.  Eu já ia responder que não sabia porque tinha feito aquilo mas, pelo espelho retrovisor, percebi: em frente ao estacionamento, do outro lado da rua (e, portanto, atrás de mim), estava a Pensione Cadore.
Como sempre, fui na frente, com os passaportes na mão.  A jovem senhora que nos recebeu, muito simpática, pegou os passaportes para fazer o registro; o primeiro era o meu.
Quando ela leu o meu nome perguntou:
-          Quem é Belli?
Respondi:
-          Belli sono io.
Ela retrucou:
-          Io sono Belli.
Não entendi: porque ela fica repetindo o que digo? Será que ela não compreendeu a resposta ou eu não entendi a pergunta?  Ah, talvez ela esteja me corrigindo, me falando a maneira certa de responder à pergunta.  Tudo bem, não seja por isso:
-          Io sono Belli, falei.
-          E eu também! - respondeu ela.
E aí desandamos a conversar: ela é casada com Flavio Belli (irmão de Mario Ferruccio Belli), descendente direto.  Fiquei sabendo que o bairro (Serdes) é o reduto dos Belli, a casa onde nosso avô morava é bem próxima dali e a Pensione Cadore funciona ao lado da casa que foi do tabelião Giovanni Antonio Belli.
Ou seja, como não havia placas de trânsito indicando, os genes se manifestaram e me levaram ao lugar certo.  Ou, como disse alguém, “per il naso!”.


Petrarca de Belli (em João Pessoa)


Saudades
Quando o Flavio chegou, mostrei-lhe os documentos de nossos avós e foi assim que logo depois, já rodeado de vários Belli e com o Mario Ferruccio ao telefone, vim a descobrir – já aos prantos – que eu deveria estar extinto! [V. A História da Família].
Mas, para alegria geral – manifestada sinceramente nas lágrimas de quase todos os presentes – eu estava ali – desafogando as saudades de ambos os lados.
De um lado, preenchendo para os presentes a ausência de tantos que partiram em busca de uma vida melhor. “– Não se preocupem, nós sobrevivemos.  Estamos lá no Brasil, na América do Sul, muitos de nós, descendentes.  Estamos bem e não esquecemos de nossas origens!”
De outro, representando (ainda que não expressamente autorizado) todos os descendentes que, como eu, parecem sofrer dessa saudade hereditária ou determinação genética de, um dia, retornar às raízes e ao seio da família.
No dia seguinte fomos ciceroneados por Gianni Belli, também ele descendente de Celeste Belli.  E aqui vale a pena uma pequena interrupção para o relato de uma passagem pitoresca.
Sangue Azul
Quando eu era ainda menino meus pais e meus tios diziam, em tom divertido, que tínhamos sangue azul.  Mas eu sabia que eles estavam me enganando, pois eu já havia me cortado várias vezes e sabia muito bem que meu sangue era vermelho.
Um pouco mais tarde, porém, quando entendi o significado da expressão “sangue azul”, fiquei intrigado.  Mas como não conseguisse descobrir porque eles diziam aquilo acabei deixando pra lá e esqueci completamente.
Até que, décadas depois, nessa ocasião em San Vito di Cadore, ouço o Gianni dizer – também em tom divertido – que dentre todos os Belli ali reunidos apenas eu e ele tínhamos sangue azul!
A frase soou em minha memória como um estampido.
Mas dessa vez a frase foi dita em italiano e, então, segundos depois, “caiu a ficha”.  Claro: azul em italiano é CELESTE!
A coisa toda não passava de um trocadilho.
Serdes
Voltando ao assunto, Gianni nos levou a conhecer o bairro de Serdes e as casas dos nossos antepassados.
Mostrou-nos a casa Mezzana, a casa dos Vecchio, a casa do tabelião Giovanni Antonio e a igrejinha de São Roque (Chiesa di San Rocco), construída em 1640 pelos próprios habitantes de Serdes em agradecimento ao Santo por preservar, da peste que assolou a Europa, todos os moradores do bairro (foi quando compreendi, também, porque minha avó, Maria Angélica, era devota de São Roque).
Em frente à igrejinha uma árvore muito antiga e frondosa em cujo enorme tronco, explicou-nos Gianni, antiga tradição infantil determina que cada criança, quando tiver habilidade para tal, fixe um prego!
Pois bem, dentre todos aqueles pregos estão lá, com absoluta certeza, dois que sabemos quem pregou...
San Vito di Cadore – A Cidade
Localização
San Vito di Cadore está situada nos Alpes Dolomíticos, norte da Itália, a mais de 1200 metros de altitude, no vale do Cadore, e é circundada por altíssimas montanhas, que nos fazem meditar sobre a nossa insignificância.
A cidade mais conhecida nas proximidades é (ao norte de S. Vito) Cortina D´Ampezzo, na fronteira com a Áustria.  Cento e poucos quilômetros ao sul, está Vittorio Veneto; outro tanto mais para baixo, Treviso, que fica logo acima de Veneza.
A Geografia
A geografia é impressionante e acidentada, com inúmeras montanhas, lagos, picos, rios, córregos, chamados “torrenti”, vales e pequenas mas surpreendentes planícies que tiram o fôlego pela sua beleza, ao se descortinarem de forma repentina no final das curvas acentuadas entre as muralhas das montanhas.
O confronto fotográfico entre San Vito de hoje e de 30 anos atrás causa surpresa pela grande quantidade de casas surgidas nos prados; se o confronto se faz com os outros trinta ou cinquenta anos precedentes, não se notam praticamente diferenças.  Na verdade, se confrontamos S. Vito dos anos da primeira guerra mundial com o que aparece nos mapas napoleônicos de 1815, isto é, um século antes, não vemos variações urbanísticas.
Acerca do tempo do nascimento das principais frações ou bairros, nada se sabe.  Serdes, acredita-se, graças ao riacho de água potável, sepultado não faz muitos anos; Resinego porque circundado pelos mais belos campos cultiváveis; o centro pela presença das igrejas.  Aliás, a propósito das igrejas devemos supor que foram construídas depois do surgimento do povoado, não antes.
O tabelião Giovanni Antonio Belli construiu sua casa no bairro de Serdes.  É uma grande casa, de pedra, em torno à qual seus filhos construíram suas próprias moradias; os netos construíram as suas em torno às dos pais e assim por diante.  Esta “geografia” que lá se vê e a posição privilegiada da primeira casa leva a supor que o tabelião tenha sido um dos pioneiros no bairro.
A casa de habitação
Cada uma das casas apresentava, em seu interior, um mesmo idêntico módulo, com a repartição de casa-depósito de feno(feneiro): pequena aquela, grande este.  A parte da casa destinada à habitação era, normalmente, em pedra e o depósito de feno em madeira.
Na verdade, a parte de madeira não era só depósito de feno, o qual ocupava apenas a parte de cima; o térreo servia de estábulo.  Essa arquitetura aparentemente estranha mostrava-se bastante apropriada durante os rigorosíssimos invernos.
A população vivia de maneira deveras pouco confortável, para não dizer apinhada, em pequenos cômodos em uma promiscuidade que dificilmente podemos imaginar.  Entre as casas havia estreitos caminhos ou picadas; cada espaço era ocupado ou pelas hortas ou pelas esterqueiras.  A entrada das habitações fazia frente indiferentemente a um feneiro ou um estábulo.
No interior, as casas continham esta série de cômodos: no térreo, a “stua” (espécie de sala de estar) com um fogãozinho (ou lareira) redondo para o aquecimento, coligado através da parede divisória, à cozinha.  A cozinha era um local escuro, com o grande fogão ao canto, ao lado do qual estava o (considerável) depósito de lenha.  O pavimento era calcetado de pedra ou mesmo de terra nua, nunca de madeira, para evitar o perigo de incêndio.
Na parede uma prateleira, sobre a qual -ou pendurados sob ela - descansavam os baldes de água e de leite.  O queijo, a manteiga, o pão e os poucos outros víveres eram guardados em bancos-baú ou sob a escada.
O “Conforto”
A “stua”, local habitual de reunião da família, era frequentemente revestida no interior por pranchetas de madeira; um banco ocupava praticamente todo o perímetro; em um canto ficava um móvel “em cantoneira” no qual se guardava os livros da casa, as lâmpadas a óleo, a garrafinha de aguardente, as poucas preciosidades (corais, relógio, broches...).
No pavimento superior, os quartos de dormir, alcançáveis antigamente através de escadas externas, ao relento, como se vê em algumas velhíssimas fotos; em épocas mais recentes com escadas internas.
Os quartos tinham janelas minúsculas para evitar o frio; eram despojados de mobília, salvo a cama com o colchão de palha de milho ou de crina - nunca de lã - e um baú para as poucas vestimentas e para a roupa de cama.  O pavimento era de pedras irregulares; assim como o teto que, frequentemente, servia de divisória entre a casa e o feneiro.  Somente as casas dos abastados tinham tetos verdadeiros, isolados por tábuas e uma espécie de argamassa misturada com palha para proteger do ruído e do frio.  Próximo à porta dos quartos de dormir havia sempre a pia de água benta, de cerâmica, enquanto sobre a cabeceira da cama eram sempre penduradas imagens santas e o crucifixo.
Os serviços higiênicos eram de dois tipos.  Os abastados tinham um “quartinho” em comunicação com os quartos de dormir, que podia acomodar 2 ou 3 ao mesmo tempo.  Em dialeto era chamado precisamente de “comodo”.  Os menos favorecidos tinham o “quartinho” (“cesso”), feito de poucas pedras irregulares e bem arejado, no fundo do quintal, separado da casa.  Os ainda mais pobres, não tendo o comodo nem o cesso no quintal, serviam-se do estábulo juntamente com seus animais.  Não obstante a matéria pareça hostil, pertence à história da cidade e ajuda a entender como eram poucas as comodidades e quão escassa a higiene.
Nas casas não havia água corrente, mas somente baldes de cobre, pendurados em ganchos sob a prateleira da cozinha, e uma concha para servir.
Água Corrente
E a água, onde se encontrava?  Em Serdes, no riacho entre as casas – e no riacho as mulheres pegavam água, lavavam roupa e os animais bebiam.  Perto do ano de 1700 foram cavados poços, aproveitando os veios subterrâneos; em Serdes chegou-se a ter treze poços, que ainda existem, mas foram cobertos por razões de segurança.
Nas outras frações era necessário buscar a água fora do bairro.  Recorde-se, entretanto, que por breves trechos do percurso, alguns grupos de casas construíam seus aquedutos, em madeira, com tubos de pinho escavados no interior.
Quando, no final do século passado, a tecnologia forneceu os primeiros tubos de ferro, foram, finalmente, construídos aquedutos completos.  A possibilidade de haver água nos bairros favoreceu, finalmente, também o turismo, com o surgimento das primeiras pensões e dos hoteis.
Às casas, a água corrente só chegou em torno de 1930, enquanto os serviços higiênicos começaram a ser construídos, de modo geral, somente neste pós-guerra.
As Emigrações
Em menos de cem anos, S. Vito di Cadore perdeu mais do que o dobro de sua população através da emigração.
Sazonais
Nos tempos em que o Cadore fazia parte da República Sereníssima, isto é, até 1797, de San Vito se emigrava unicamente para Veneza, com fluxos invernais constantes.
Em Veneza os homens encontravam ocupação principalmente no comércio, como garçons e ajudantes, ou nas serrarias, onde se preparava a lenha; as mulheres buscavam trabalho nas casas dos nobres.  Alguma, de vez em quando, se casava, não retornando mais.
A maioria, entretanto, retornava com a primavera, para o início dos trabalhos campestres.
Quando o Vêneto passou para a Áustria (Lombardo-Veneto), os fluxos migratórios pegaram também a via do Norte.  Naqueles anos, com o surgimento das ferrovias, e além disso, explodindo a primeira industrialização (risorgimento), tanto esta como aquelas requeriam grandes massas de trabalhadores.
De San Vito iniciaram-se as partidas para os canteiros das ferrovias.  Partiam grupos inteiros, com chefes e hierarcas, e se tratava, em geral, de carpinteiros especializados em trabalhos de madeira e ferro.
Os sanvitenses trabalharam na ferrovia do Brennero (Brenner), sobre a transversal de Klagenfurt a Fortezza, ferrovia de Semmering e no trecho Viena-Trieste e por fim, na Hungria e Romênia.
Quase épicos foram os trabalhos para a ponte de ligação entre Buda e Pest, sobre o Danúbio, onde os sanvitenses construíram por inteiro os altíssimos guindastes de madeira, inventando artifícios e máquinas engenhosas que lhes valeram elogios e prêmios.
Daquela época vale recordar que, da Romênia e Hungria, muitos sanvitenses importaram não somente economias, mas também vícios e doenças até então desconhecidas no lugar: sejam estas ou aqueles propiciados pela afirmada liberdade de costumes por lá imperante.  Nas pias casas sanvitenses se murmurava com desaprovação sobre este estado de coisas que fascinava, como é óbvio, especialmente os jovens.
Quando em 1866 o Veneto foi anexado à Itália e a Áustria se tornou inimiga, as correntes migratórias para o Império cessaram quase de todo.  A emigração procurou então outros alvos; e assim foi “descoberta” a América.
Definitivas
Os sanvitenses não tinham nunca sido marinheiros.  Inicialmente não ficou claro onde se localizava a América e nem menos quanto fosse distante.
A América se configurou como a Áustria e a Hungria, e por algum tempo, se continuou a emigrar sazonalmente, partindo no outono, ao término dos trabalhos da forragem, para retornar na primavera.  Entretanto eis que logo se deram conta que a viagem não durava três ou quatro dias, mas sim semanas.
Então a emigração para a América torna-se definitiva. Os primeiros que atravessaram o oceano a bordo dos veleiros empregaram mais de 5 semanas; mais tarde, com o advento dos vapores o tempo se reduziu para cerca de 3 semanas, e depois até para duas ou menos.
Os embarques ocorriam predominantemente nos portos do Norte da Europa; Cherbourg, Le Havre, Anversa, Amburgo, alcançados com o trem do Brennero.
No final do século XIX e no século XX partia-se também de Gênova.  Nunca porém de Veneza ou Trieste, já que alcançar Gênova de trem era mais econômico que com o navio que contornava toda a Itália.
As Descoberta da América
Não se sabe quem foi o primeiro a descobrir a rota americana.
Sabemos, por outro lado, que no final do século XIX, havia já sanvitenses que, conhecendo a língua e havendo realizado mais de uma travessia, serviam de guia a grupos de compatriotas, acompanhando-les até Nova Iorque. 
Um destes guias que ficou famoso foi Antonio Belli Mus´cio, de Serdes, cujo vulto sério aparece en numerosas fotos de grupos de emigrantes.
O idioma
Um problema angustiante de enfrentar foi o de inglês, uma língua então desconhecida no Cadore, onde, por outro lado, muitos falavam o alemão; e esta foi, com frequência, a escapatória usada. 
Na América já se eram criados os estereótipos sobre italianos que não gostavam de trabalhar, que eram porcos, que se marginalizavam en las pandillas criminosos, etc..   Se isto era em parte verdade para certas correntes de emigrantes, não o era para os nossos.
Assim, frequentemente falando alemão, eventualmente de cabelos louros, ou castanhos, provenientes enfim de lugares que se não pertenciam mais à Áustria, de qualquer modo a confinavam, tais sanvitenses se qualificavam por tiroleses, encontrando com isso mais facilmente oportunidades de trabalho.
Mas um problema restava.
Não podendo frequentar a escola, ou pela idade, ou pelo custo, ou pela falta de tempo, os emigrantes costumavam escribir en sus agendinhas (algumas conservadas religiosamente!) as frases idiomáticas de maior uso, os nomes próprios, as medidas, com grafia igual à falada. 
Por exemplo a pergunta: “Você tem trabajo para mí” era escrita “ev iu uorc for mi!” ou ““venho do Tirol e me chamo Giovanni” tornava-se “ai cam from tairol finales de mayo neim is gian!”   Assim, “pés” eram “fute”, etc..
O êxodo
Desde mais ou menos 1870 até 1932, ano em que cessou a emigrar a os EUA, deixaram San Vito talvez mais de 2 mil pessoas, reduzindo à metade a população local.
A primeira guerra mundial interrompeu o êxodo; aliás, houve vários retornos.  Alguns sanvitenses retornaram exatamente para combater ao lado da Itália.  Recorda-se, dentre muitos, Amedeo Palatini Zotelo, Piero Pampanin, Vito de Vido, ferido sobre o Tofane, Ercole de Martin, que morreu sobre as rochas do Sonpauses.
Algum outro retornou à Europa, mas envergando o uniforme americano; cita-se Gregorio Belli Paneto que desembarcou en Francia.
Ao fim da guerra ocorreu a última grande onda de partidas; acentuada pelas desastrosas condições em que se encontrava a região, dominada por más de un año pelos alemães e, logo após, dilacerada pelas desavenças políticas.
Os últimos a partirem para a América zarparam en 1930; pouco depois, por notórias razões, o fascismo fechou as fronteiras.
Nos anos 1945/1955 a emigração pareceu se retomar para a América, mas desta vez para o Canadá ou América do Sul.
Mas mesmo nos tempos heroicos houve la emigración a o Brasil e Argentina, provavelmente, em alguns casos, por causa da ignorância em geografia.   Os navios zarpavam, é verdade, para a América, mas quem sabia aonde era Buenos Aires ou o Rio de Janeiro?  E depois, uma vez na América, pensavam, seria mais fácil alcançar Nova Iorque... 
Da primeira emigração não resta mais ninguém, algum ainda sobrevive da segunda, e de vez em quando volta a S. Vito maravilhando-se com as mudanças que encontra. 
Os filhos e netos todos - perfeitamente integrados e frequentemente en niveles elevados nos EUA, estão redescobrindo as suas raízes e se fazem ver, como turistas, na cidade. 
Nada os liga a San Vito, salvo uma vaga lembrança...
Mais Um Pouco de História
Quando nasceu a cidade de San Vito di Cadore ninguém sabe.
Alguns estudiosos de arquivos acreditam que S. Vito não remonta ao Império Romano mas, muito provavelmente, ao tempo das invasões bárbaras, época de alguns séculos posteriores, quando em sequência à fuga frente aos invasores surgiram Veneza, Grado e outras cidades marítimas. 
É porém, por outro lado, provável que naqueles vales, ao tempo de Roma, existissem já habitantes, ainda que não organizados em comunidades.  A chegada dos fugitivos falando latim e portadores de indubitáveis qualidades cívicas foi, talvez, a centelha que fez surgir los povoados do Vale do Cadore, San Vito entre los primeros.
De certo, o nome Cadore aparece sobre uma lápide romana do século I depois de Cristo, descoberta em Belluno (mas, para ser exato, cita-se os “cadorinos” ditos “ catubrinorum”).
O nome só reaparece em 923, em um ato escrito em Verona, no qual o imperador Berengario I concede ao bispo Aimone as décimas de Agordo e do Cadore.  Significa que, naqueles anos, existia já uma sociedade organizada em condições de pagar impostos; portanto, haviam povoados e habitantes estavelmente residentes.
Depois deste documento, precisamos saltar outros trezentos anos para volver a descubrir o nome Cadore, em um testamento, no qual Alberto, conde de Collalto, deixa Guecello, de Camino, herdeiro, dentre outros, de uma “corte em Cadore”.   É 30 de janeiro de 1138.
Agora a história corre mais depressa.
Menos de vinte anos depois encontramos gente que compra e vende; eo respectivo registro aparece nos arquivos de San Vito, que, porém, ainda não consigna sobrenomes.
1156
em 18 de outubro é contratada a compra e venda de um terreno situado “in Ampicio” (Ampezzo).  O pergaminho se encontra no arquivo municipal de San Vito.
1203
em 15 de junho, festa patronal de S. Vito, se compra um terreno fazendo referência: “actum Cadubrii sub porticu ecclesie Sancti Viti”.  Finalmente aparece, pela primeira vez, o nome da cidade.
1239
a Regola de Festornigo (Valesella Resinego e Serdes) regulamenta as atividades agrícolas e de pastoreio.
1331
É redigida a primeira sentença de fronteira entre Mondeval (Chiapuzza e Costa) e Ambrizzola d’Ampezzo.  É favorável aos sanvitenses e esse documento será desde então usado como referência.
1338
em Pieve, capital do Cadore, se vota o Estatuto, lei fundamental para os cadorinos.  Permanecerá em vigor até Napoleão.
1420
neste ano Veneza já dominava Treviso, Udine, Belluno e Feltre, isolando quase o Cadore, região de montanheses pobres, é verdade, pero el territorio estrategicamente importante para as comunicações com a Alemanha. O Cadore delibera a união com Veneza; entre os embaixadores está também Bartolomeo Sala, deputado de San Vito no Conselho.   Os cadorinos propõem a própria subordinação ao Doge, mediante inúmeras condições, entre as quais a manutenção de seu Estatuto, isenção de impostos, etc..   Com a adesão, graciosamente aceita pelo Doge, o Cadore começa um período de quatro séculos sob as asas do “leão”.
1490
nasce a igreja da Defesa (“Madonna della Defesa” ou Nossa Senhora da Defesa).  Os trabalhos, logo interrompidos, serão retomados em 1512 para cumprir uma promessa à Virgem durante uma invasão austríaca.
1508
depois de infinitos alarmes, o exército de Maximiliano I, imperador da Áustria e do Império Sacro Romano, ataca Veneza, invadindo o Cadore.  Dizem as crônicas que S. Vito foi poupada de ser saqueada e queimada, por uma aparição da Virgem.
1511
Maximiliano bate em retirada, deixando o Cadore, mas mantendo Cortina D´Ampezzo em seu poder.  San Vito passa a ser limite da República de Veneza com o Império da Áustria.  Os ampezzanos, que até agora tinham sido irmãos en una só comunidade, ora em diante tornam-se estrangeiros e até inimigos, com todas as incalculáveis consequências que se seguiram nos séculos posteriores.
1640
O bairro de Serdes constroi sua própria igrejinha, dedicada a São Roque (ninguém em Serdes foi atingido pela peste que assolou a Europa).
1730
Avalanche do pico Marcora sobre Chiapuzza; são sepultadas 57 pessoas e a igreja.
1743
O Marigo e os Laudatori, de Festornigo, de acordo com o pároco Nicolò Pellegrinetti, cedem a Borca di Cadore o bosque de Valsandolera, obtener a precedência nas procissões.
1752
Em Rovereto, a Comissão Veneto-Austríaca para as Fronteiras, estuda o assunto do Giau.  Defende San Vito o tabelião Lorenzo Ossi da Costa.
1753
Em noventa dias os sanvitenses constroem o muro do Giau.
1758
Nasce nosso tataravô, Pietro “Mezzana” Belli, trisavô de Giuseppe Antonio Mezzano Belli.
1760
Se dá início aos trabalhos de construção da nova igreja paroquial, sob desenho do arquiteto Schiavi, demolindo uma igreja pré-existente.  A nova igreja será inaugurada em 1764 por Mons. Bartolomeo Gradenigo.
1769
em 9 de março nasce Giovanni Antonio Belli, futuro tabelião e prefeito de San Vito di Cadore.
1783
Nasce nosso trisavô, Giovanni Battista Belli, avô de Giuseppe Antonio “Mezzano” Belli.
1792
Nasce Giovanni Battista Belli, avô de Maria Angélica Belli, que será chamado “il Vecchio”.
1794
Nasce Domenica Ossi, di Natale, futura esposa de Giovanni Battista Belli e mãe de Celeste Belli.
Nasce Lucia Palatini, avó de Maria Angélica Belli, que irá casar-se com “il Vecchio”.
1809
Invasão dos franceses: o tabelião Giovanni A. Belli, de Serdes, é prefeito e defende como pode os sanvitenses dos maus tratos e da opressão.
1814
Avalanche repentina do Antelao (21 de abril) sobre os bairros de Taulén e Marceana: 257 mortos.
1818
Abre-se a primeira escola pública, chamada Elementar Inferior.  São admitidos somente alunos do sexo masculino.  Assim quer a ÁUSTRIA.
1820
Nasce Celeste Belli, nosso bisavô, pai do vô Giuseppe.
1822
Borca, Caucia e Villanova são separadas de S. Vito para formar a nova comuna de Borca de Cadore.  O tabelião Giovanni Antonio Belli lavra os atos de separação.
1823
Nasce Giovanni Baptista Belli, pai de Maria Angélica Belli.
1830
Em 10 de maio nasce Maria Rachele Belli, futura esposa de Celeste Belli e mãe de nosso avô.
1833
Morre Giovanni Battista Belli, nosso trisavô, pai de Celeste Belli.
1842
Morre Pietro “Mezzana” Belli, nosso tataravô, pai de Giovanni Battista Belli.
1846
O papa bellunense Gregório XVI separa o Cadore da diocese de Udine agregando-o à diocese de Belluno.  Fim de uma época.
1848
Em Chiapuzza (2 de maio) batalha entre austríacos e os voluntários de Pier Fortunato Calvi.  Morre um sanvitense: Bortolo De Sandre.
1849
Morre Lucia Palatini, avó de Maria Angélica Belli.
1850
em 17 de agosto morre o tabelião Giovanni Antonio Belli.
1859
Morre Domenica Ossi, di Natale, nossa bisavó.
1861
em 23 de janeiro nasce nosso avô, Antonio Giuseppe “Mezzano” Belli, filho de Celeste e de Maria Rachele.
1863
Matteo Ossi Polonia sobe sozinho, pela primeira vez, o Antelao.
1866
Vai-se a Áustria.  Chegam os Savoia, os Carabineiros Reais, a Guarda Alfandegária e a Aduana “Velha”. Nosso avô está com 5 anos de idade.
1870
é aberta a primeira escola elementar feminina.
1880
em 5 de janeiro nasce Maria Angélica Belli, nossa avó, registrada no “Registro dos Atos de Nascimento” de San Vito di Cadore sob Número 1, Parte I, Série U. Pelo número do registro, deduzo que tenha sido o primeiro nascimento do ano.   Nosso avô está com 19 anos de idade.
morre Giovanni Battista Belli, “il Vecchio”.
1882
no outono uma enxurrada tremenda leva embora todas as pontes sobre o rio Boite; quatro serrarias e três moinhos desaparecem, um deles da família Belli de “chi de Andel”.   Nosso avô está com 21 anos de idade; nossa avó nem tomou conhecimento: estava com 2 anos.
1886
morre Celeste Belli, di Giobatta, nosso bisavô.
1887
é fundada a Sociedade dos Bombeiros Voluntários, com fanfarra, agregada à Federação dos Bombeiros Cadorinos.  Nosso avô tem 26 anos e a avó, com sete, deve ter ficado maravilhada com a festa.
1889
198 criadores, proprietários de 1036 bovinos entre os quais 436 vacas leiteiras; 2500 ovelhas; e 70 cabras, fundam a Leiteria Social, que inicia as atividades en un edificio comunitário em Valesella.   No pavimento superior estão as escolas.  Nosso avô, com 28 anos, talvez fosse um dos 198 criadores; nossa avó, com 9 anos, não deve ter entendido nada.
1894
é fundada a Sociedade Operária Cooperativa de Consumo da Defesa (até hoje existente).  O avô estava com 33 anos e a avó com 14.
1896
em 8 de dezembro nosso avô, com 35 anos, obtém o passaporte:  “O Ministro para os Negócios Exteriores solicita às Autoridades Civis e Militares de Sua Majestade e das Potências amigas e aliadas de deixar passar livremente Belli Giuseppe Mezzano, filho de Celeste, que vai à América do Sul (República Argentina)”.   Sua Majestade era Humberto I, “pela graça de Deus e pela vontade da nação”, rei da Itália.
1897
em 25 de fevereiro nossa avó, com 17 anos de idade, filha de “Gió Batta” (João Batista), obtém passaporte para viajar à América do Sul (Brasil).
em 08 de março, do porto de Gênova, nossos avós partem em busca da felicidade e da terra prometida.
em 15 de maio casam-se, no Rio de Janeiro, perante as testemunhas Monsueto Tabuci e Silvio Pelico Fabricci.  Na certidão de casamento consta que ela tinha 21 anos; provavelmente uma “mentirinha”, pois se dizesse que era menor de idade (17), com certeza seria exigido algum tipo de autorização dos pais!
1905
Resinego, Serdes e Chiapuzza constróem um aqueduto em ferro.  Antes as poucas fontes públicas eram servidas por tubos de madeira.
em 16 de outubro morre Maria Rachele Belli, mãe de Giuseppe Antonio “Mezzano” Belli.
1906
o Banco Cadorino abre uma pequena agência em S. Vito.  Que após a Primeira Guerra Mundial será absorvida pelo Banco Católico.
1908
Inaugura-se a “nova” Prefeitura, para onde são transferidas as escolas elementares e a agência dos correios.

morre Giovanni Baptista Belli, pai de Maria Angélica Belli.

sexta-feira, 18 de abril de 2014

Gabriel García Márquez está morto!


Falar de  realismo mágico ou realismo fantástico em Gabriel García Márquez remete-nos a  "Cem Anos de Solidão","A Incrível e Triste História de Cândida Erêndira e Sua Avó Desalmada e personagens como os Buendía, Melquíades dentre outros carregados de poesia e crítica, sem perder a ternura e, às vezes, o humor.


Ele disse que  dizia que sua grande influência foi uma avó materna, e dali partiu a arquitetura que resultaria em Macondo – a América Latina de "Cem Anos de Solidão".
No Brasil, seus títulos, venderam mais de 2,6 milhões de cópias. Ele foi traduzido para mais de 30 idiomas (mais de 40 milhões de exemplares vendidos. "Cem Anos de Solidão", de 1967, no Brasil teve mais ou menos meio milhão de exemplares comercializados. Ao lado de  Jorge Luis Borges, Mario Vargas Llosa e Carlos Fuentes, cada um ao seu modo, são ícones latino-americanos.
Agora ele é lembrança e vive pela sua obra.
 O presidente da Colômbia, Juan Manuel Santos, escreveu algo que algo interessante:”Mil anos de solidão e tristeza pela morte do maior colombiano de todos os tempos! Solidariedade e condolências à família”.

Gabo escritor completou 87 anos no dia 6 de março e sofria de demência, há anos não escrevia mais livros.
Agora ele é lembrança e vive pela sua obra.


Ouça Gabriel García Márquez ler trechos de "Cem Anos de Solidão":


http://www.bbc.co.uk/portuguese/noticias/2014/04/140418_audio_gabo.shtml








quarta-feira, 16 de abril de 2014

Introdução à História do Teatro

sábado, 14 de setembro de 2013


Parte I: Introdução às história do teatro

 Sobre a   História do Teatro



                                 
por Moisés Neto 

https://profmoisesneto.blogspot.com.br


Teatro é encenação, espetáculo, encontro rápido entre atores e platéia e sobram fotos, roupas quem sabe alguns objetos e... um texto.

Um espetáculo teatral é um ritual onde atores, diretor, produtor, cenógrafos, figurinistas e técnicos esperam aplausos ou mudança social.

O início deu-se em Atenas, Grécia VI a.C quando um homem chamado TÉSPIS ousou imitar os deuses e outros homens. Algo similar já fora feito na Índia, no Egito e em outros lugares milênios antes. Mas desta vez, vestindo uma túnica, usando uma máscara e sobre uma carroça, este ator apitou: “Eu sou Dioniso”. Era o nascimento do teatro. No século seguinte, a Grécia presenciaria o aperfeiçoamento desta arte. No ano 400 A.C, havia concursos para escolher os melhores autores teatrais (comédia, tragédia), turnês patrocinadas pelo governo e teatros com capacidade para milhares de espectadores. O povo queria distração.

Em vez da carroça, veio o palco fixo e escritores como Esquilo, Sófocles e Eurípedes que deram início a esta ilusão mágica chamada Teatro.

E tudo começou como uma homenagem ao deus do vinho e da paixão selvagem: DIONISO.

Se nos rituais a Dioniso (chamados Ditirambo) os gregos embriagavam-se e brincavam, agora permaneciam sóbrios na platéia para assistir às peças, em silêncio e assim purificar suas almas das paixões sufocantes. Pois o teatro, ao falar das emoções alucinantes ou doentias, ao inspirar piedade ou terror, nos liberta de tudo isso.

O teatro sempre fala aos sentimentos dos homens.

Nas tragédias gregas, vemos o herói em luta contra o seu destino e os deuses aparecem para recompensar a coragem e punir a rebeldia. Aí os autores se posicionam diante dos valores sociais.

Havia regras para se escrever peças teatrais na Grécia.

Se as tragédias estudavam o sublime, as comédias baixavam-se ao ridículo para denunciar a incompetência dos governantes, alertar contra os maus costumes ou denunciar aqueles que queriam corromper as instituições.

O teatro imitava a vida: uma trama expunha acontecimentos, havia um clímax e uma solução para o problema inicial. Os gregos sistematizaram essa história de herói (protagonista) e vilão (antagonista).

E tudo deveria acontecer no limite do possível, do verossímil (Eurípedes perdeu um concurso por colocar a sua Medeia fugindo no carro do sol no final da peça: imperdoável deus ex machina).

A coisa mais importante no teatro é a ação! E antigamente a música também auxiliava os espetáculos. O que os espectadores assistiam era a linguagem encenada e o texto escrito era literatura, por isso podemos ler estas obras escritas há 2.500 anos, mas o texto teatral não é para se ler e só “vive” no palco. No livro ele é um fantasma, mas foi assim que foram preservados.

O cenário, figurino, a luz, os gestos, a voz e tudo que faz o público vibrar, dão ao texto plenitude física e espiritual. O ato emociona o público, mas, como profissional, ele precisa estudar muito, ter técnica.

Quando os romanos entraram em contato com os gregos, ficaram encantados com o teatro deles e levaram para Roma esta arte: Plauto e Terêncio, nos anos 200 e 100 A.C, fizeram muito sucesso, mas as comédias eram as preferidas dos romanos: os disfarces, travestimentos, truques, obscenidades, cores e intrigas. Mesmo na decadência de Roma havia público para encher os teatros. Mas no século V D.C, a igreja proibiu as peças.

Vem a idade média e os espetáculos mais apimentados são confinados aos feudos (grades propriedades de ricos), aos castelos e se afastam do povão.

Nos castelos surgem poetas, cantores, músicos, dançarinos, dramaturgos, atores, palhaços, acrobatas, isso tudo muitas vezes recebia um nome só: MENESTREL. Durou até o século IX, quando os artistas foram procurar os pobres novamente e caíram na estrada, sendo até chamados de vagabundos!

A igreja os usou nas festas religiosas empeças chamadas “moralidades” onde personagens chamados “gula” e “luxúria”, por exemplo, surgiram fantasiados de demônios terríveis. Principalmente lá pelo ano 1000 quando se anunciava o fim do mundo.

Essas peças religiosas fizeram muito sucesso na Espanha nos século XII e XIII, eram os autos, que pregavam a salvação da alma. Encenavam-se inclusive dramas como “A PAIXÃO DE CRISTO”. Eram representados dentro ou no pátio das igrejas e depois em praça pública, o que atraía o povo mais pobre. Aí as peças eram montadas em cima de carroças, havia cenários e máquina para encenar os “milagres” e “aparições” dos santos e diabos.

Havia muito maniqueísmo. Mas veio a Renascença (os 1500) e os atores dependeram menos dos ricos e tiveram que buscar sustento de outro modo. Em Florença, Londres, Madri e Paris surgem as companhias regulares de teatro. Em Portugal e Espanha, alguns autores como Gil Vicente e Calderon de la Barca ainda insistiam com temas religiosos, no Brasil, José de Anchieta (1534-1597) escreveu peças mostrando as conseqüências da heresia e da maldade.

Já na Itália surge a commedia dell’arte, uma forma de teatro popular que rompe com os clássicos e apresenta personagens engraçados como o arlequim, que consolam mocinhas apaixonadas como a colombina, na base de improviso cômico.

Na Inglaterra, o teatro estava no auge e a rainha Elizabeth I dava a maior força a Shakespeare que escreveu tragédias, comédias e peças históricas. Havia vários teatros em Londres e todo dia quase tinha espetáculo. Só que mulher não podia trabalhar como atriz e na platéia tinha mais rico do que pobre.

Na França dos 1600 surge um grande autor teatral: Molière (1622-1673) que, com suas comédias, criticou a sociedade ao descrever impostores, falsos devotos e maus cristãos. Mostrou também como os pobres podiam ser vulgares.

Já em 1700, os franceses espalham a moda intelectual e discutem filosofia no teatro, afastando novamente o povo da platéia; nos 1800 surgem várias tendências na Europa: Principalmente a briga entre naturalistas e simbolistas. Era a época do Realismo social também e até na América do Norte surgem grandes dramaturgos na primeira metade do século XX: Eugene O´Neil, Tennessee Williams e outros.

Emerge na Europa a figura do Encenador, do diretor de teatro: na Alemanha, Bertold Brecht; da Rússia, vem Stanislavski.

Com a energia elétrica, o som e a luz ganham novas dimensões. O existencialismo discute as relações sociais do homem e prega a revolta. Já o teatro do absurdo diz que a vida não faz sentido.

O século XX vai chegando ao fim e o homem se depara com a solidão capitalista.
Resta a Broadway e similares, o teatro musical comercial. A peça “Hair” nos anos 60 ou “O Fantasma Da Ópera” e “Cats”.

No Brasil o teatro surgiu nos 1800, em forma das comédias de Martins Pena. Na primeira fase do modernismo, só Oswald de Andrade escreveu peças relevantes.

Na década de 1950 e 60, surgem muitos grupos teatrais. Nomes como o pernambucano Nelson Rodrigues ou ainda Millor Fernandes, Plínio Marcos, Oduvaldo Viana, Guarnieri e encenadores como Ziembiski, Antunes Filho e Augusto Boal. No Recife surgem o TAP e diretores /dramaturgos como Hermilo Borba Filho, Luiz Marinho, Ariano Suassuna (paraibano radicado no Recife), Isaac Gondim e Valdemar de Oliveira.


MONTAGEM DE A PEDRA DO REINO, TRAZIDA A RECIFE PELA ILUSIONISTAS:
http://www.moisesneto.com.br/pedradoreino.html
A Veneza Brasileira no final dos anos 70 vê surgir grupos como o TUBA, com o espetáculo “Guarani com coca-cola” e o talentoso João Falcão, com suas comédias, chega a lotar teatros e a fazer turnês pelo Brasil. Destacamos também a escrita e direção vertiginosas do dramaturgo Henrique Amaral. Nos anos 90, vem o besteirol da Cinderela, seguindo e deturpando um filão aberto por Mauro Rasi e Miguel Falabela.

O teatro recifense sobrevive em busca de um perfil. Há diretores como José Francisco Filho, Samuel Santos,  Moreira, Antonio Cadengue e Carlos Bartolomeu que são “clássicos". Quanto aos grupos destacamos o Magilluth, o Coletivo Angu, Fiandeiros, dentre outros, como os veteranos da Seraphim.


ILUSIONISTAS CORPORAÇÃO ARTÍSTICA, 2003:Musical A ILHA DO TESOURO,  de Moisés Neto e Ricardo Valença, direção Carlos Bartolomeu, produção Simone Figueiredo, figurinos e cenário: Marcondes Lima e Herique Celibi


Há que se destacar os nomes de hoje Adriano Marcena, Felipe Botelho, este da minha geração e com quem já compartilhei algumas discussões sobre nossos textos,  Augusta Ferraz, e João Denys. Há também um festival nacional por aqui.


Ensaio da peça A NOITE DOS ASSASSINOS,
LEVADA À CENA EM RECIFE, ANOS 80

Mas a chama que os gregos acenderam permanece como um farol e todos nós estamos seguindo viagem.

ASSISTA AO DOCUMENTÁRIO PRODUZIDO PELA ILUSIONISTAS, SOBRE OS 80 ANOS DE ANTUNES FILHO:
http://www.youtube.com/watch?v=LVxTpsv_nCs