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sábado, 4 de outubro de 2025

Mais uma obra sobre a dramaturgia de Moisés Monteiro de Melo Neto será lançada. Leia ENTREVISTA




Entrevista concedida por Moisés Neto a Thalita Gadêlha dia 22 de Maio de 2025

 

1. Como se dá a construção das suas personagens femininas?

 

M – A construção das minhas personagens femininas, faço-as, em acordo com o que vejo sobre o gênero feminino. Não só no diferencial em relação ao masculino, mas as possibilidades e perspectivas do empoderamento das mulheres. A alma feminina, para mim, é um mistério constante. Não acredito que uma mulher possa entender um homem e um homem possa entender uma mulher. Acredito na transição, digamos, de algumas pessoas que... se representam, se caracterizam, do sexo que antes seria oposto e você assume; o caso de uma pessoa trans, por exemplo. As minhas, mulheres, elas são todas empoderadas, digamos assim, destemidas e atrevidas. Eu não gosto de criar mulheres submissas. Eu não gosto de pessoas submissas.

 

2. Nem mocinhas nem vilãs: você vê assim também as suas personagens? Seriam Manguegirls?

M – Sim, sim, nem mocinhas nem vilãs. Manguegirls não porque o movimento mangue, ele não caracterizou muito bem as mulheres. É um movimento machista. É um movimento de homens. Você tem, por exemplo,  a Stela Campos que tem um disco excelente “Mustang Bar”, não é, que... para mim... é excelente, mas é um movimento masculino. Eu não acredito que existam mocinhos e vilões. Do mesmo modo que eu não acredito em mocinhas nem vilãs. Existem pessoas que exercitam o poder; a maior parte das pessoas. E outras que gostam de...é... receber ordens.

 

3. Qual a influência da cultura norte-americana na sua dramaturgia, na sua escrita?

M- A cultura norte-americana na minha dramaturgia se dá através da minha admiração por certos escritores.  Tem a questão do movimento ‘beatnick’; Jack Kerouac, Alen Ginsberg, Willian Burroughs, que foram do final dos anos 1950 e influenciou o movimento hippie dos anos 1960. Bob Dilan, por exemplo, é... ele se inspirou muito no ‘On the road’, ‘Na estrada’, romance do Jack Kerouac – que eu até estou lançando um cordel sobre ele. Então... é... no teatro, na dramaturgia norte-americana, você tem Eugene O’Neill, não é, que tem peças como ‘Longa jornada noite adentro”, que eu adoro, e outras peças do O’Neill; como tem Tennenssee Williams, que eu adoro, essas na dramaturgia. Na arte pop, que também é cineasta, que também é, digamos assim, filósofo, é Andy Warhol: o pai da pop art, que me influenciou bastante. Bob Dylan, é... Jim Morrison, do The Doors, essas coisas da cultura norte-americana. Agora, não suporto o imperialismo norte-americano, eu não suporto. E também é... eu quando era criança vi muito a questão dos desenhos norte-americanos – pode parecer uma bobagem isso, não é- mas, eu ficava meio impressionado com a maneira como os norte-americanos trabalhavam com as crianças. Os desenhos animados para crianças... E também as séries da Fox, por exemplo, eu gostava muito de ‘viagem ao fundo do mar’, não é, ‘túnel do tempo’, essas coisas assim me influenciaram quando eu era criança e adolescente. E, óbvio, o cinema norte-americano como um todo. Os grandes diretores, não?, norte-americanos; ou mesmo as produções de Hollywood com os estrangeiros como  Alfred Hitchcock, que é inglês. Eu sempre fui muito... um voraz leitor e... hã... isso me influenciou bastante... da cultura estadunidense e a maneira como eles produziam os roteiros de filmes... tah...

 

4. Quais textos deste livro já foram encenados e quais você gostaria que se transformasse num espetáculo?

Desses roteiros acima, muitos foram encenados...somente é... ‘Essa coisa nossa’ é que não foi. ‘Sertão’ teve uma encenação na universidade que me emocionou bastante; eu gosto muito do texto ‘Sertão’. ‘A Farsa’, é... a ideia original é... o centro, o cerne né... eu gosto muito... acho muito interessante... que beira o teatro do absurdo, que me influenciou bastante tá... o teatro do absurdo que é mais europeu... me influenciou muito: Ionesco...Pirandello... tá... Beckett...não é... que é... que são guias na minha vida também. Gostaria muito de ver ‘Sertão’ e ‘Essa coisa nossa’, dos textos meus encenados.

 

5. Qual o futuro da dramaturgia de Moisés Neto?

Agora... quanto ao que eu estou produzindo agora, que eu estou escrevendo novas peças... meus cordéis... meu cordel ele tem um tempo teatral também... tá... eu não uso heteronímia... mas é... Jomard Muniz de Britto, ele me disse uma vez assim, eu tava escrevendo o meu doutorado, né... a minha tese, que eu transformei em livro também... foi publicado pelo SESC, ele disse: Moisés, você tem uma presença muito forte nas coisas que você escreve, a gente vê... não sua vida, mas o seu estilo, não é... há uma espécie de autoficção na criação das suas peças. Como por exemplo: “Para um Amor no Recife”, tem uma projeção muito grande não é, tudo muito difícil não é, os remédios para a aids eram muito terríveis e a gente tinha visto Cazuza fazer aquilo, morrer na frente das câmeras... praticamente... nós sabíamos de Renato Russo que não se entregou diante das câmeras... então, o futuro da minha dramaturgia, eu acho que vai ser ver seres humanos como eu... Eu sou uma pessoa muito diferente desde criança; é difícil porque eu não combino muito com essa coisa de.. de panelinhas de querer agradar. Eu escrevo quase coo se fosse uma guerra!

Quando eu sento ao computador... ou mesmo quando eu tô escrevendo a mão... eu gosto muito de escrever a mão, né,  e depois transcrever... a... ao digital assim.... ao computador, ao notebook.. e digitar... eu... parece... eu ganho uma força tão grande e eu acho tão bom. Eu sei que é de mim porque a literatura me salvou muitas vezes, e eu também procuro salvar a literatura. A minha vida inteira é esse exercício delicioso e o teatro para mim é essa perspectiva linda e colocar o sim e o não. Eu acho que eu não sou tão polifônico, mas eu procuro ser. Se você perguntar a qualquer aluno de Moisés, eles vão ter uma opinião forte sobre mim: ódio, simpatia, porque eu não sou uma pessoa... como é que eu posso dizer... eu não estou querendo dizer que eu sou especial não, mas é... há a poucos homens aqui.. no Recife... como eu. Eu as vezes... quando eu era adolescente eu queria ser monge, não é... a minha família toda, muitos da minha família, tem essa coisa... de... de... meu pai trouxe aquelas coisas lá é... dos indígenas, não é... tanto é que ele pertenceu ao Vale do Amanhecer que tem uma corrente meio indígena também, de espiritismo... a minha mãe também... ela estava ligada a isso. A minha avó Diomar, os Belli, a família italiana Beli, que era muito religiosa, então eu procuro misturar essa coisa da fé... é... eu sou uma espécie de caçador solitário, não é. Eu sou, eu gosto muito das pessoas, eu gosto muito de conversar com as pessoas, mas eu sei que  a gente não pode... como é que eu posso dizer, eu nem sei... o meu teatro procura fazer isso. Eu convivo com os meus personagens com um amor tão grande, eu construo os meus personagens com um amor tão grande... Quando eles estão em cena... ontem mesmo houve uma leitura de ‘São Bernardo’, mesmo quando eu adapto, eu fico fascinado com a maneira como eu dialogo com... é... uma narrativa, um romance de Graciliano Ramos como ‘São Bernardo’ e eu transformo isso. A minha Branca de Neve, o que eu fiz... a relação da mãe com a filha, da relação  do operário... que tem um anão que é o Banana, com o poder, e essa questão... como eu misturo... o príncipe... com... ah... um Zé Ninguém... e como eu transformo. Eu desde criança, eu entendi muito bem os vilões; acho que a maior parte das pessoas gostam quando tem um antagonista, vilão, eu não sou fã de vilões mas eu acho interessante como a maldade humana se constitui. Eu busco muito isso nos meus textos. Falar e viver intensamente, que é o que eu faço. A minha vida é um jogo muito intenso... Eu faço de cada dia, das 24 horas, 24 milhões de horas. Eu sou um ser muito múltiplo. Eu não sei como eu consigo amarrar tantas personalidades em mim... eu já estudei... muito sobre teorias, principalmente as literárias é óbvio. [...] os meus textos são psicanálise selvagem! Eu faço comigo, eu procuro... eu me atrevo a dialogar comigo. Eu acho que é por isso que a solidão nunca foi uma estranha pra mim e que o amor sim sim sim sim sim, o amor sempre esteve ao meu lado. [...] Então o que será minha dramaturgia no futuro; será tudo isso sempre! [...] Eu gosto de textos fortes, eu conheço textos fortes. Quanto ao futuro, eu não sei o que é que o futuro me trará...

 


 

domingo, 28 de setembro de 2025

XV BIENAL INTERNACIONAL DO LIVRO DE PERNAMBUCO lança livros do Prof. Dr. Moisés Monteiro de Melo Neto

Dia 4 DE OUTUBRO DE 2025, NA EDIÇÃO DE 2025, XV BIENAL INTERNACIONAL DO LIVRO DE PERNAMBUCO, que celebra os 30 anos do maior evento literário do Nordeste, serão lançados, NO STAND NA EDITORA COQUEIRO, às 19h, livros do Prof. Dr. Moisés Monteiro de Melo Neto: 1) O LIVRO DOS CORDÉIS (com dezenas de cordéis da sua autoria, ver lista abaixo), 2) CONTRACULTURA: UM EXPERIMENTO PERIGOSO e também (3)o seu “CORDEL UM DEFEITO DE COR”. Este cordel trata poeticamente do romance UM DEFEITO DE COR, romance metaficcional da escritora brasileira Ana Maria Gonçalves, publicado em 2006. A obra figurou na sétima posição da lista dos 200 livros mais importantes para entender o Brasil, divulgado pela Folha de S.Paulo em 2022, no âmbito do projeto "200 anos, 200 livros". A XV Bienal Internacional do Livro de Pernambuco ocorre no período de 03 a 12 de outubro de 2025, no Centro de Convenções de Pernambuco.

 


O recifense Moisés Monteiro de Melo Neto é escritor, professor universitário (ADJUNTO NA UPE, UNIVERSIDADE DE PERNAMBUCO e na UNEAL, UNIVERSIDADE ESTADUAL DE ALAGOAS), autor de peças teatrais, artigos, já publicou dezenas de cordéis e livros, como CHICO SCIENCE E O MOVIMENTO MANGUE. O livro dos cordéis, uma do autor com dezenas de cordéis da sua autoria, como: O LIVRO DOS CORDÉIS como:

1.      Enterrado vivo: O Homem que virou Cordel

2.       Vampiro no Cordel de Pernambuco

3.      O Cordel da Estrela Janis Joplin

4.      Cordel do Dom Quixote para Jovens

5.      Cordel da Ilíada: Poemas de Homero sobre a Guerra de Tróia

6.      Cordel das Bonecas Enforcadas

7.      Cordel da História do Teatro

8.      Cordel da História da Língua Portuguesa 

9.      Cordel: Tradição, Ruptura e Proposta de Ensino

10.  Cordel da Literatura Brasileira de Autoria Indígena

11.  Cordel da Visão Indígena sobre a Literatura Portuguesa

12.  Cordel do Lobisomem na Corte de Maurício de Nassau

13.  Cordel da Compadecida II

14.  Sherlock e o Cão dos Baskervilles

15.  Cordel das Famílias Belli e Monteiro de Melo

16.  Mitologia no Cordel

17.  A Peleja de Chico Science e Ariano Suassuna

18.  Cordel do Gato Preto

19.  Cordel do Terror Acadêmico

20.  Cordel do Terror em Pernambuco

21.  Cordel do Natal de Hilda Hilst

22.  Cordel do Estrangeiro Camus

23.  Romance de Palmeira dos Índios: Lenda e Luta

24.  Quem Matou o Pai do Pop?

25.  Cordel do Artigo de Opinião

26.  Cordel de Clarice Lispector: Personagem e Aurora

27.  Cordel de São João

28.  História da Comunidade de São Pedro 

29.  Cordel de Gerald Thomas

30.  Indígenas versejam mulheres na Lit. Brasileira

31.  Três vezes teatro: Besame mucho, Aurora da minha vida, Trate-me Leão!

32.  Cordel com Lampião

33.  Cordel do Assum Preto

34.  Indígenas comentam Literatura Brasileira

35.  Cordel da Literatura Infantil e Juvenil

36.  Cordel de São Francisco

37.  Cordel de Rita Lee

38.  Cordel da estrela Madonna

39.  Hiroshima Cordel

40.  Cordel de Tolkien: Senhor dos Anéis

41.  Cordel de Caetano Veloso

42.  Cordel de os Lusíadas

43.  Cordel de Chico Buarque: menino em Roma

44.  Assombração de Vaqueiro

45.  Cordel de Florence Nightingale

46.  Cordel Lembranças Kariri-Xocó

47.  Bob Dylan Cordel

48.  Cordel Oswald de Andrade

49.  Pé na Estrada com Jack Kerouac

50.  Cordel do Pai Messias

 

 

 

 Sobre Moisés, um dos autores da sua Biografia, Prof. Dr. José Nogueira, afirma: “O escritor recifense Moisés Monteiro de Melo Neto, descendente de italianos (bisavô materno) indígenas (avô paterno) Graduado em Letras, é  Mestre e Doutor em Teoria da Literatura pela Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), atualmente é professor da Universidade Estadual de Alagoas (UNEAL) e da Universidade de Pernambuco (UPE). Em sua trajetória, além de ávido leitor, é autor de ensaios, poemas. Esta antologia contém 50 dos seus de cordéis, com destaque para o “Cordel Oswald de Andrade” e “Hiroshima Cordel”, além de conto e peças de teatro e romances, como a obra “Palimpsesto”, biografias e artigos científicos. Como intelectual, lidera o Grupo de Pesquisa em Literatura Popular (GPLITPOP) da UNEAL e o grupo de Extensão TUPI (Teatro Universitário em Palmeira dos Índios, além de ser membro permanente do NEAB (Núcleo de Estudos sobre África e Brasil). Nosso autor também atua nas áreas de dramaturgia, literatura comparada, estudos culturais, produção textual, literaturas de língua portuguesa, representações de gênero, bioficção, história e cinema, além de autor do roteiro de “Dança Paralelo 8”, espetáculo vencedor do maior prêmio de dança no Brasil, o Klaus Vianna, oferecido pela FUNARTE em 2007. Participou da equipe de “Incenso”, que venceu alguns prêmios, Dezenas das suas peças foram montadas com sucesso, por renomados diretores, das quais destacamos “Delmiro Gouveia”, pela qual recebeu o prêmio de melhor autor, conferido pelo Governo de Pernambuco, “Anjos de Fogo e Gelo” (2008), “Para um amor no Recife” (1999), “Bruno e o Circo” (2010), “Vivencial” (2025) “Quincas Borba, o musical” (2024)”, além de assinar o dramaturgismo na peça “Um minuto para dizer que te amo” (2017), sucesso em temporada que se estende por seis anos em cena. Enfim, trata-se de um autor polivalente, múltiplo e único”

 


sábado, 27 de setembro de 2025

O CORDEL DA ESTRELA JANIS JOPLIN Autor: Moisés Monteiro de Melo Neto

O CORDEL DA ESTRELA JANIS JOPLIN

Autor: Moisés Monteiro de Melo Neto

 

Havia o Lago Sabine

na cidade onde nasceu

Janis Joplin era seu nome

em Port Arthur ela cresceu

e foi tanto sofrimento

que cantou e então morreu

 

A Realidade era petróleo

a poluição no ar

violência em cada esquina

segregação até no bar

lá o garoto era ensinado

a cara do outro quebrar

 

O calor era tão grande

os mosquitos tão ferozes

assim era ali, no Texas

terra de muitos algozes

arrogância e poucos livros

eram desgraças atrozes

 

No bar só cerveja e vinho

outros só em clube social

e só com mais de vinte e um

que beber era legal

mas Janis cruzava o rio e

na Louisiana não era mal

 

Era certinho ou odiado

Quem não seguisse a tradição

mulher pra ser professora

e homem pra ser machão

trabalhar com o petróleo

era essa a lição

 

Nada lá era complexo

tudo simples de doer

que Deus salve a Casa Branca

a igreja e o poder

o pai de Janis, engenheiro

ajudou a Texaco a crescer

 

Ela é de quarenta e três

no hospital Santa Maria

Nasceu Janis de manhã

Menina normal, mãe diria

Canta em casa e na igreja

Lia tanto... optou por fantasia

 

O pai lhe deu fantoches

chupou dedo até os oito anos

era gorda, sardas no rosto

começavam os desenganos

não racista, foi xingada

Sofreu mais que imaginamos

 

Rebelde, não era bonita

assim, foi hostilizada

percebiam seu lado "homem"

não foi fácil esta parada

ela se feminizou

parecia até disfarçada

 

A mãe a amava de longe

queria filha preparada

para enfrentar a vida

que era dura a estrada

do ostracismo social

assim ela foi educada

 

O rosto tão cheio de acne

que precisou ser lixado

mais depressão e conflito

isso era anunciado

mistura a  falta de beleza

e o cenário estava armado

 

Juntou-se com cinco jovens

Quebravam muitos modelos

Liam livros diferentes

Entregou-se sem zelos

Muita cerveja rolou

Sem namorado, seguiu os apelos

 

Era o bobo da corte?

Mas queria ser aceita

com barulho e palavrões

Estudava e pintava, satisfeita

usava roupas  extravagantes

  jogavam coisas nela, a “eleita’

 

Viajou pra Nova Orleans

sem consentimento dos pais

ouviu bandas na rua Bourbon

daquilo não  esqueceu jamais

bateu com o carro da família

   boatos foram fatais

 

Isso foi aos dezesseis

                                      Tornou-se moça "falada"

                                       beirando a ingenuidade

já com sua sina marcada

inventaram mais histórias

ela estava era enrascada.

 

                                        Deslocada e barulhenta

                                        cafajestes a cercavam

                                        tímida escandalosa

  as aventuras não paravam

                                       a maioria a odiava

 mas houve os que aí a amaram

 

                                   Os professores a perseguiam

    em lanchonete e teatro trabalhou

                                   era no tempo dos Beatniks

                                   vendeu quadros que pintou

                                   começou a cantar

                                   o rio Neches a escutou.

 

                                    Foi a um psiquiatra

                                    Depois de farras homéricas

                                    crazy universitária

                                     sob as luzes feéricas

Beaumont, Houston, que fosse

crueza das Américas.

 

Estava matando aulas

Vivia atormentada

garota triste sozinha

sob sol negro estressada

dentro uns demônios mexiam

não podia ficar parada

 

Parou de pintar quadros

assim não seria a maior

morou com tia em Los Angeles

Foi telefonista, na pior

mudou para a praia, Venice

pra San Francisco, melhor

 

Se sentiu sofisticada

usou pele de carneiro

um casaco bem estranho

misturou canto e berreiro

os dezoito anos chegaram

munição, tiro certeiro

 

Sessenta e dois foi a vez

cantou em público, a moça

quem tiver olhos, que veja

quem gosta de blues, ouça

      foi num Réveillon, em Beaumont

Não sentiu ali muita força

 

Gravou reclame de banco

volta a Port Arthur, a fera

tentou ficar assim normal

mas vulcão era o que era

ia sempre a Louisiana

perdia o controle, quimera

 

Numa das farras, a moça

capotou com o carro três vezes

o ambiente Beatnik

farra de anos eram esses

mas que para Janis Joplin

foi assim por muitos meses

 

A branca topava tudo

voz de uísque, tanto beber

perdeu muito da voz assim

e daí? O que fazer...

aguentar tanto revés

é pra quem pode assim ser

 

Só pensava no momento

Farra e vulgaridade

isso ela esbanjava

qualquer que fosse a cidade

uma garota da pesada

de curta felicidade

 

Fazia com que a aturassem

fumo e peyote não deram

a ela um papo firme

as coisas, às vezes eram

comprimidos com bebida

perdoem-me se não toleram

 

Grasnava como um corvo

ria como uma louca

de fato pra tal menina

a vida parecia pouca

só gostava de cantar

cantar até ficar rouca

 

Na Universidade do Texas

veio mais humilhação

o “homem mais feio do campus”

eles lhe chamaram então

foram assim tão desumanos

com ela, preste atenção

 

Partiu para San Francisco

em busca de outra história

um Quasímodo às avessas:

viria um dia a vitória?

A cabeça latejava

sangue quente, luta inglória

 

Depois de poeira e estrada

cantou zonza num Café

ganhou catorze dólares

primeira vez, deu-se fé

podia lucrar com seu canto

boa da cabeça ao pé

 

Meia três, Beat enfraquecia

poetas, jazz, pintores

americana boemia

San Francisco e suas cores

Janis reinventava o passado

tantas alegrias e dores

 

Ela semeava desastres

foi isso que aconteceu

questionou as relações

até o ponto que doeu

em Nova York cantou

blues-folk então seu deu

 

            Meia quatro, San Francisco

ela queria ser aceita

traficou anfetaminas

não sabia ser "direita"

estava entusiasmada

era a verdade eleita

 

Lia Nietzsche, lia Hess

doida pela “verdade”

muitos livros, pá de coisas

até no hospício da cidade

disseram não era doida

era coisa da idade

 

Culpava os outros por tudo

a coisa era bem assim

contra o sinal vermelho

acelerou até o fim

jovem, segurou a onda

mas mais tarde foi... ruim

 

Seus "casos"? nenhum ficou

ela com quarenta quilos

quis para casa voltar

seus pais tão intranquilos

por não serem mais atentos

ninguém vai querer puni-los

 

Estudou Sociologia

Faculdade de Lamar

Se vestiu sobriamente

Dava até pra acreditar

que ela tomara juízo

pensou então em casar

 

Mas professores cismaram

era inquieta demais

fez vestido de noiva

mas foi embora o rapaz

nunca "Deus, perdoai-me"

disso nunca foi capaz

 

Obsessiva e insaciável

por amor ela gemia

como criança de colo

gente até se enternecia

mas se fosse tirar onda

via o que recebia

 

Veio então sessenta e seis

e o big brother apareceu

era banda pro sucesso

e foi o que sucedeu

da danada da menina

a estrela se acendeu

 

Ambição virou seu nome

quando na banda entrou

viu logo a sua chance

a ninguém mais se igualou

era o salto para o alto

e a moça se engajou

 

Quatro, junho, meia meia

o Zodíaco falou

oráculo disse seu nome

e a Joplin detonou

San Francisco, maravilha

tudo então se iluminou

 

Abaixo a política,

cobiça, autômato, inveja

viva as boas vibrações!

Flowerpower nos proteja

porque com a turma de Janis

Hell Angels que nos seja

 

Pobre, racismo, poluição

Os E.U.A se mostravam

preconceito era tamanho

Até dos que se lombravam

vem o Blues e canta tudo

Todos que não se amavam

 

O Vietnã explodiria

na Coreia houve mais

tudo era tão imoral

moral é não ser capaz

de ver que na exploração

a hora é a gente que faz

 

Janis contra o supérfluo

deste mundinho cruel

chega de mediocridade

separemos Mel e Fel

os hippies de San Francisco

queriam na terra o céu

 

Medrosa, crua, teimosa

na agenda botava tudo

não gritassem contra ela

estrela em céu de veludo

do brilhar ao fazer colares

mistério não fica mudo

 

Tudo corria pra canção

que no palco renascia

comunidade de hippies

com certa sabedoria

na união com o universo

era assim o dia a dia

 

Estilo alta voltagem

Janis assim se agigantou

Ottis Redding foi um cara

que muito a influenciou

assim como Tina Turner

tudo isso ela juntou

 

E num caldeirão quente

a mistura borbulhava

queria ser uma Star

a máquina a ajudava 

casa em Hollywood

tudo isso a aguardava

 

Um namorado disse "tchau"

ela disse “tudo OK!”

era mais um que fugia

ela disse "disso eu sei"

fazer o quê? Declarou:

"de homens e roupas mudei"

 

Colocava tudo à prova

homem, mulher coisa e tal

muitas vezes se encontrou

frente a frente com mal

corta essa, minha amiga

esse jogo é fatal

 

Humilhada tantas vezes

mas sabia triunfar

nesse jogo de sinuca

ou rodadas mil num bar

num estádio, num teatro

riso e choro de amargar

 

O bairro que ela morava

foi refúgio do “pecado”

assim diziam os "santinhos"

que o rock era atacado

Haigh-Ashbury era nome

melhor é ficar calado

 

Prostituição e drogas

tráfico a se aproveitar

eram muitas as histórias

vamos só imaginar

não era pra ficar rico

era ganhar e gastar

 

Junho de meia sete,

Monterey Pop pintou

Janis foi a grande estrela

Jimi Hendrix arrasou

Ninguém vira coisa assim

Sua fama se alastrou

 

Era o "Verão do Amor"

isso se evidenciava

a revolução de Aquarius

novas ela anunciava

litoral da Califórnia

no mapa se destacava

 

Conheceu Albert Grossman

o homem que a fez estrela

ele a respeitava muito

e gostou de conhecê-la

no meio do festival

ele fascinou-se ao vê-la

 

Foi dali até a morte

seu mais fiel defensor

o homem era poderoso

de Bob Dylan, produtor

sem nenhuma hipocrisia

em comercialismo doutor

 

Veio então o desabrochar

meia sete ela arrasou

nunca fora tão feliz

ficou grávida, abortou

isso foi bem sinistro

muito a prejudicou

 

Ela ficou rigorosa

Antes não era bem assim

Exibicionista também

a dois anos para o fim

indiscernível até aí

do show bizz o carmim

 

Verdadeiro carrossel

sua carreira a girar

alcançado o estrelato

Janis ia arrepiar

o jeito Nova Orleans

logo ia superar

 

Nos olhos dela uma dor

era fácil perceber

olho azul acinzentado

que fazia estremecer

nervos tão à flor da pele

pareciam transparecer

 

"Velha" aos vinte e cinco anos

assim ela se achou

era uma moça nova

que a vida estragou?

B.B. King abriu a noite

O Big Brother deu show

 

Era um teatro antigo

Nova York apreciou

O som daqueles meninos

a plateia empolgou

com seus berros e gemidos

a Janis incendiou

 

Tinha garra na garganta

ofegante estava

num fulgor alucinante

Janis dramatizava

fio terra em Nova York

ela assim eletrizava

 

“A banda de Janis”

(deu no New York Times)

Primeira foto dela

que entrou para os anais

a imprensa anunciava:

“essa cantora é demais!”

 

Frege espasmódico se viu

bem ali no turbilhão

a Big Apple pirou

nunca vira tal ação

Janis era o prato do dia

mais quente da estação!

 

Com preto aveludado

vestido bem curtinho

gata em teto de zinco quente

foi chegando de mansinho

a imprensa se curvou

tão heavy o seu jeitinho

 

                                              A imprensa delirou

todos queriam um pedaço

performance de Janis Joplin

foi tremendo estardalhaço

pois ela chegou completa

ocupando todo o espaço

 

Disse logo à tal imprensa:

“Já me maltrataram tanto

eu sou alma e sensação

isso é o blues que eu canto!”

ela reagiu ao sucesso

com prazer infantil, espanto

 

Parecia satisfeita

mas tocando neste fato

Já podemos deduzir

não duraria este ato

era tão insaciável

mas deu o pulo do gato

 

Tranquilizantes e álcool

pra aguentar a correria

a texana agitada

não parava, não podia

criticaram o Big Brother

mas a Janis ascendia

 

Era uma Salomé

de glamour toda enfeitada

ela só dava dentro

topava qualquer parada

a boca no microfone

parecia lambida ou dentada

 

Ela atraiu paixões

nesta jornada infernal

logo no lance mais forte

garantiu tanto jornal

as revistas a imploravam

mais de Janis não faz mal

 

Declarações absurdas

À imprensa a moça fez

gravou disco na CBS

era o segundo, essa vez

expectativa tão grande

neste jogo de xadrez

 

Vieram novas depressões

teve então que se virar

entre ela e o grupo

não reinasse o azar

brigou até com Jim Morrison

como isso ia acabar?

 

Ele puxou o cabelo dela

ela deu-lhe uma garrafada

ficou nesse um a um

Salomé, Jim Batista de nada

na capa do Cheap Thrills

Crumb a desenhou abusada

 

Mãos ao alto, rapazes!

Não curto política

dizer isso em meia oito

isso atraiu a crítica

dá uísque pros meninos

e deixa dessa titica!

 

Vendida como símbolo foi

no mercado americano

Alienação? Não sei

talvez diga o tarô cigano

claras emoções de Janis

na frente e atrás do pano

 

Sua risada demente

difícil de decifrar

seus fantasmas esquisitos

mistérios a encantar

era uma Afrodite

no Mundo Pop a rosnar

 

Homem que não a quisesse

isso era intolerável!

sua vingança terrível

“um impotente detestável !”

era o que ele espalhava

tal Morrison, não aceitável!

 

Ser sexy, ela amava

era o que fazia crer

mas de fato a texana

Buscava mesmo o prazer

mascarava a ferida

mais amor queria ter

 

Uma coisa pela outra

ela fingia confundir

não queria o compromisso

parecia até fugir

paliativo ou não

não podia reprimir

 

Ir pra casa com alguém

a faria bem melhor

o sexo como uma arena

fazia tudo pior

aumentava o desespero

dó maior ou dó menor

 

No palco fantasiava

Essa busca doida, assim

não era o que queria

a tal torre de marfim

queria ser conquistada

mas não foi até o fim

 

À tragédia libertina

impôs impulso e vigor

escondida a menina

muito triste o horror

com moça: falava baixo

com homem: sax tenor

 

Homem ela confrontava

com mulher mais à vontade

Mas no fundo nossa Janis

só queria liberdade

e cantou isso bem alto

nem tudo era vaidade

 

Desinibida estava ali

no verão de meia oito

mas "ai" do cabra safado

que se metesse a afoito

temia a homofobia

sem recheio seu biscoito?

 

Não tinha um cara fixo

Escondia o homossexo

Desse jeito a durona

ocultava um complexo

a diva tinha fraquezas

isso é meio desconexo?

 

Provocava fantasias

em muito homem e mulher

a tal da Janis Joplin

faca, garfo e colher

aproveitou sem limites

pense você o que quiser

 

Falavam de mil casos

o número era menor

era um terço que contava?

a mentira era melhor

seu talento era bem grande

A lenda ficou maior

 

Aventuras de uma noite

torturada solidão

superestrela esquisita

causava hesitação

naqueles que a viam durona

mas parte era encenação

 

A fama era o seu pretexto

pensavam era personagem

que criou pra se defender

apareceu na reportagem

no fundo era uma criança

mas isso não foi vantagem

 

As pressões da profissão

Seguiram estranho caminho

a gente quer ser perfeito

esquece que bom é carinho

técnica e carisma

outro modo? é ser sozinho

 

Melodramatismo dela

o Big Brother se desfez

uns acusaram-na: traição!

mas pro alívio teve vez

Joplin sofreu...sabemos

pouco ou muito, talvez

 

Começou na heroína

se sentia destacada

era a onda da droga

o equilíbrio da parada

por mais que almejasse tanto

queria ser controlada

 

Muitas as contradições

nela poderíamos ver

Muitos viam só bebida

o resto era esconder

ganhou casaco de lince por

uísque Southern Comfort beber

 

Propagandas deste uísque

nas fotos estão aí

é um líquido docinho

para jovens atrair?

há algo esquisito nisso

a América a ruir?

 

Em Washington: corrupção

no Vietnã, uma "guerra"

os ianques fazem isso

não em casa, noutra terra

é assim, que o capital

(a danada grana) opera

 

Calça de cetim vermelha

Marca lhe dá casaco de arrasar

E no Max´s Kansas City

Foi depois se mostrar

provar que era importante

realmente Superstar

 

Por que se conter, ali?

a envelhecer, continuar?

desse tipo de atitude

ia se distanciar

quis assim a vida a mil

sem velhice pra chegar

 

No teatro viu a peça "Hair"

musical sensacional

gostou, aplaudiu de pé

era um sucesso mundial

reviu com o Big Brother

para levantar o astral

 

O rompimento com o grupo

foi também com o amadorismo

no Show Business é assim

não permite comodismo

crítica diz: maquiagem?

pintar voz de preto é cinismo

 

Ela achava justo sofrer

castigo e rejeição

a imprensa malhou seu disco

Cheap Thrills virou fogão

A comida se queimando...

mas vendeu pra geração

 

Pensou não saber cantar

alma frágil porcelana

e a vida tripudiou

daquela tal texana

que mesmo com seus defeitos

Cantou muito a alma humana

 

Feroz animal ferido

ela assim reagia

não "cabeludos" nem "quadrados"

era outra a teoria

era parte Revolução

com a qual ela se unia

 

Seu "oi" era uma pergunta

e o sem "alô", também

cordas vocais de aço

até a hora de ir pro além

música até nos pés dançantes

Ela sabia ser "alguém"

 

Então ficou bem doente

foi ao New York Hospital

foi no tal Hotel Chelsea

ela estava muito mal

foi uma bronquite aguda

poderia lhe ser fatal

 

Foi barrada no Hotel Hilton

No hospital não tinha vaga

mas apesar disso tudo

começou a ser bem paga

vem a autodestruição

e numa sucção lhe traga

 

Como computador monstro

assim opera a imprensa

diminui e multiplica

não há muita diferença?

Então ela virou comida

de desconhecida à excelência

 

O pastiche virou robô

Ela se fez mesmo assim

era tão fosforescente

sua pele, tal marfim

e o público a devorar

tão guloso e tão chinfrim

 

Conhecida e amada

só que por gente demais

pelo frenesi e doidice

talento e muito mais

uma deusa num Olimpo

de resultados fatais

 

A garrafa de uísque

na sua jaula infernal

meia nove chegou assim

com esse jeito animal

ano do "Kozmic Blues"

novo álbum sem igual

 

      Aí ela criou “Pearl”

            personagem que adotou

   ria e topava todas

    muita gente adorou

  vieram outras turnês

    na Europa ela arrasou

 

Ela veio ao Brasil

a passeio, assim rolou

expulsa do hotel, no Rio

que o top less não aprovou

transou mil e uma aqui

até na Bahia parou

 

Queria largar o vício

mas não tinha mais maneira?

heroína por Metadona

não era coisa certeira

barrada no carnaval

pro carioca foi bobeira

 

Comprou casa nos States

enfim ela teria um “lar”

e pra completar o quadro

novo disco foi gravar

o último dessa estrela

prestes a se apagar

 

O nome do disco é “Pearl”

tão gostoso de ouvir

tem “Me and Bobby McGee”

O um no Top ia atingir

Mas veio o dia fatal

Da morte não ia fugir

 

Foi num hotelzinho barato

que o encontro fatal se deu

nem a última música gravar

a morte lhe concedeu

o blues engoliu a moça

e Janis Joplin morreu.