Pesquisar este blog

terça-feira, 18 de junho de 2024

ENTERRADO VIVO: A HERANÇA CULTURAL COMO ALIMENTO DA LITERATURA POPULAR

 

ENTERRADO VIVO: MOISÉS MONTEIRO DE MELO NETO EA HERANÇA CULTURAL COMO ALIMENTO DA LITERATURA POPULAR

BURIED ALIVE: CULTURAL HERITAGE AS FOOD FOR POPULAR LITERATURE

 

 

Bárbara Maria Rodrigues de Oliveira ¹

Graduando em Letras-Português, pela Uneal.

Profº Dr Moisés Monteiro de Melo Neto

 

 

RESUMO

O presente artigo propõe uma análise crítica da obra cordelística Enterrado Vivo: O homem Que Virou Cordel, de Moisés Monteiro de Melo Neto, adentrando a narrativa do universo fantástico da Literatura Popular. Abordaremos os aspectos empregados na narrativa entre o diálogo apresentado e o leitor, o uso da oralidade a importância do cordel, herança cultural e literatura popular. Para embasar a análise, utilizaremos como referencial teórico: Antônio Candido (1958); Raymond Cantel, Leandro Gomes de Barros (1865); Haurélio (1974), acerca das características presentes na obra de Melo Neto . A escolha por explorar o cordel em questão surgiu pela apresentação do mesmo, motivada pelo seu contexto sócio – histórico de como o autor aborda, os dilemas de sua vida por meio de sua autobiografia atrelada a narrativa do cordel, tornando- os acessíveis e compreensíveis para os leitores deste gênero. Seus cordéis cotidianos permitem que os públicos leitores se identifiquem por meio da natalidade dos espaços expostos em seus enredos, adjunto da temática da sua autobiografia sobre vida/ obra do escritor Melo Neto.

PALAVRAS- CHAVE: Melo Neto; Literatura Popular; Enterrado Vivo; Estudo Crítico.

 

ABSTRACT

This article proposes a critical analysis of the cordelist work Buried Alive: The Man Who Became string, Moisés Monteiro de Melo Neto, entering the narrative of the fantastic universe of Popular Literature.We Will address the aspects used in the narrative betweenthe dialogue present and the reader , the use of orality the importance of string,  cultural heritage and popular literature . To support the analysis , we Will use as a theoretical framework: Antônio Candido (1958); Raymond Cantel, Leandro Gomes de Barros (1865); Haurélio (1974), about the characteristics present in the work of Melo neto. The choice to explore the string in questions rose due to presentation of the same, motivated by its socio- historical context of the author addresses, the dolemmas of his life throung his autobiography linked to the narrative of the string, making them accessible and understandable for readers of this genre.Its daily threads allow readers  to identify themselves  thuough the natality of the spaces exposed in his plots, adjunt to the theme of his autobiography about the writer’s çife/work Moisés.

KEY WORDS : Moisés; Literature Popular; Buried Alive; Critical Study.

 

INTRODUÇÂO

 

A Literatura popular é patrimônio cultural da humanidade, propagada além – mar de geração a geração, representada através das heranças culturais  enaltecidas pela prosa e poesia, instrumentos literários que entrelaçam as narrativas populares, sejam estas produções acerca da literatura popular, em obras ou produzidas apenas por versos orais. Ao realizar a combinação entre os conjuntos de elementos , sobre a perspectiva da estilística do entreterimento enaltecidas através dos recursos multivariáveis da tradição oral, assim essas obras estimulam o desenvolvimento de habilidades acerca da viabilidade da visão de mundo, seja esta contemporânea, ou do autor sobre o fenômeno verbal por intermédio das formas típicas das culturas populares, tais como: contos, lendas, advinhas, quadras, anedotas, ditados, frases, trava-línguas e etc. Em destaque evidenciaremos o objeto de estudo que será: A poesia narrativa do gênero cordel , acerca da ótica do desenvolvimento da literatura popular. As configurações da literatura popular, denotam o envolvimento entre os fenótipos literários de ações e histórias narradas pelo povo e transmitida entre gerações.

De acordo com Barros (2002), faz uma bela narração acerca das produções da literatura popular, sobre sua manutenção e disseminação, conforme se vê abaixo:

A literatura popular mantém viva a memória das produções de uma sociedade e que estas produções consistem de uma tradição. Com o tempo, foram se agregando e definindo novos elementos, principalmente no campo da oralidade, práticas modernas que ampliam o contingente tradicional (BARROS, 2002, p.45).

 Dessa forma, o cordel e o repente dividem a mesma origem funcional, que é a literatura oral. A poesia popular impressa herdeira do romanceiro tradicional da literatura oral (em especial dos contos populares, com predominância dos contos do encantamento ). O cordel é um dos galhos da árvore da poesia popular, assim como o repente. Mas, cordel e repente não são a mesma coisa, pois, á medida que a árvore cresce, os galhos vão se distanciando, embora estejam unidos pela origem comum (HAURÉLIO, 2007, p.15). Assim, o cordel na forma escrita é caracterizado em folhetos impressos, compostos por rimas e sextilhas, que ao mesmo tempo podem se tornarem repentes se pronunciados oralmente em ritmo e sonoridade musical.

Nessa perspectiva, a literatura tem por objetivo recriar e transmitir a realidade por intermédio da mundividência do autor, a propagação dos sentimentos e a reprodução de técnicas narrativas, transmitem uma mensagem com enfoque crítico – social as histórias composta por personagens, em seus mais variados espaços e tempos, está inserido em seu processo de criação e expansão o recurso do “fantástico”, retratando os dilemas entre o escritor e seu alvo leitor. Desse modo, o cordel se fundamenta dos recursos listados acima, adjunto da sátira de entreter seu público, rebelando suas funções sociais e a caracterização da tradição literária narrada no gênero, a presença da natalidade, nos espaços dos cordéis nordestinos . Sobretudo, no processo demonstrativo da herança cultural e ancestralidade, por meio da prosa e poesia, disseminadas ao leitor forma oral /escrita o cordel poderá assumir suas mais variadas formas , seja em versos ou repentes a função social é a mesma.

Nesse contexto, o objetivo é realizar uma análise da obra cordelistica Enterrado Vivo: O Homem Que Virou Cordel , de Moisés Monteiro de Melo Neto, evidenciando o diálogo com o leitor, o uso da oralidade, o emprego da narrativa, acerca do auto- retrato biográfico, descrito sobre a configuração de seu cordel, de maneira assídua sobre sua própria viajem cronológica de Melo Neto, entre sua vida/obra, realizando uma descrição em prosa acerca de si mesmo sobre o processo do fazer cordelístico. Para embasar a análise, foi recorrido aos estudos de Antônio Candido (1958), Raymond Cantel (1905), Leandro  Barros (1865) , Haurélio (1974) acerca das características presentes na obra de Moisés.

Este estudo está dividido em três partes distintas. A primeira seção reflete sobre a literatura popular brasileira; a segunda seção oferece uma breve visão sobre a vida e as contribuições de Moisés Monteiro Melo Neto para a literatura popular brasileira; e por fim a terceira seção foca na análise dos aspectos apresentados pelo autor na narrativa. Esses temas serão desenvolvidos nas seguintes seções .

 

  1. LITERATURA BRASILEIRA E POPULAR

 

Os primeiros registros em literatura no Brasil se sucedeu ao nascimento derivada intimamente a Portugal. Visto que, a relação colonialista que a descoberta recente mantinha com o país europeu, assim, a literatura brasileira surgiu com o desdobramento da literatura da língua portuguesa. Desse modo, o primeiro escrito em terras brasileiras se denomina A Carta de Pero Vaz de Caminha, a crônica narrada pela viagem é considerada um documento histórica, devido aos detalhes e contextos descritos, sendo considerada como o primeiro texto literário brasileiro, a carta sendo uma descrição de terras brasileiras em meados de 1500, possuía a função de cunho informativo.

A sua presença universal apenas existe e pendura pela sua contribuição no desenvolvimento de mundo. A literatura pode ser um instrumento consciente de desmascaramento, pelo fato de focalizar as situações de restrição dos direitos, ou de negação deles, como a miséria, a servidão, a mutilação espiritual. Tanto num nível quando no outro ela tem muito a ver com a luta pelos direitos humanos (CÂNDIDO, 1988). Dessa forma, quando o leitor realizar a compreensão dos textos, de maneira decodifica o mesmo, transcende sua interpretação além do texto, suas conclusões e percepções vão além, identificando assim, que as interpretações da visões de mundo partem a partir da narrativa inserida, por meio da cultura transferida.

A literatura brasileira realizou uma longa viagem por alguns períodos, tais como: Quinhetismo, Barroco, Arcadismo e Romantismo até se configurar ao modelo atual que temos nos dias de hoje. No entanto, apesar de alguns textos literários serem escritos no período do Quinhetismo, essas confecções não foram nomeadas como textos literários, devido a intencionalidade da iniciação de seu procedimento na ação criativa, pois não possuíam a intencionalidade artística ou estética no ápice de suas criações, antes de mais nada a literatura, seria formada de um sistema composto por obras literárias de características dominantes de uma escola literária.

Primordialmente, a literatura brasileira fica evidente assim, apenas no século XIX, após o período do Romantismo, em detrimento as produções de cunho literário de outros períodos listados acima, apesar de não serem identificadas como obras literárias as mesmas, contribuíram de forma significativa ao processo de formação do sistema vigente da literatura brasileira. Desse modo, uma das faces da literatura é a literatura popular, que é a designação da literatura oral, um conjunto de arte verbal de um povo, sobre o processo cultural artístico, introduzida e permeada através do gêneros que compõem este aglomerado, evidenciando seu enfoque objetivo que é a representação cultural, em ênfase a representação do espaço/ tempo nordestino evidenciados como tal, nas produções cordelísticas, podendo ser na perspectiva política ou social.

A literatura popular se centraliza em rebelar suas mensagens sociais, por meio da propagação das narrativas, por exemplo: os cordéis sejam estes, em versos ou em repentes , utilizando a sátira do humor é enaltecido sua função social de forma clara e objetiva, utilizando os recursos culturais que retratam o seu contexto, e a linguagem  daquele povo representado e ouvinte, denominando assim, o ato  do fazer literário através do advento dos fenômenos artísticos culturais, por meio da propagação e disseminação dos cordéis. Conforme os exemplos supracitados acima, percebe-se que a literatura promove o entrelaçamento entre as manifestações culturais e artísticas, através das junções entre escrita e oralidade.

Reymond Cantel (1914-1986), professor de literatura portuguesa e brasileira ¹, foi um pioneiro da divulgação da poesia popular brasileira em França, juntou ao longo das viagens e conferências que fez no Brasil a partir dos 1950, uma rica coleção que nunca reduziu á expressão ingênua dum folclore ”Esta literatura não contém nenhuma obra – prima no sentido clássico do termo, mas o conjunto é impressionante e o seu poder de fecundação notável todas as artes no Brasil se devem algo” (CANTEL, 2005, p. 83).

 

  1. SOBRE MOISÉS MONTEIRO DE MELO NETO : UM PASSEIO SOBRE A VIDA E PRODUÇÃO DO ESCRITOR

 

Moisés Monteiro de Melo Neto , veio ao mundo em 27 de março Dia Mundial do Circo e do Teatro, a data de seu nascimento já marcava sua narrativa que seria para o teatro, “uma vida artística”, nascido na Avenida Conde da Boa Vista, na capital pernambucana. Moisés iniciou sua trajetória descendente da Família Belli, seu bisavô materno Felici de Beli, veio de Napóles. O nome Belli tem origem de Tyrol na Itália, o mesmo obteve dificuldades em seu território após o Império Romano, foi ocupado sobre fortes poderes políticos e religiosos. Os país do escritor são: Mário Monteiro Muniz e Célia de Lourdes de Belli Peixoto Monteiro, seus irmãos são: Mário e Fátima, tios: Osíris e João de Bell, poetas paraibanos e membros do teatro paraibano.

Sua infância foi marcada de acontecimentos, o pequeno Melo Neto sofria de crises respiratórias fortíssimas, as madrugadas eram difícies e dolorosas  marcadas por uso de remédio fortes e que o debilitavam, o pequeno era apelidado por “cigano” e “bandoleiro”, por viver sempre com uma mochila pronta para ir para algum lugar, possuí no mínimo três endereços diferentes. No entanto, neste mesmo período, participou de um concurso de escrita e obteve a premiação em segundo lugar, aos 11 anos de idade decidiu morar com seus avós, pois a convivência com seu pai era difícil, seu genitor não o compreendia. Na sua adolescência curso o Ensino Fundamental: Instituto Andrade e Colégio Santos Dummont, seu ensino médio foi cursado no Colégio Contato e Colégio Americano Batista, possuía como lazer Cinema Vera Cruz

A fase adulta de Moisés foi marcada pela iniciação de sua carreira artística, em 1979 ele estava com a Trupe do Frei Caneca, sendo que aos 18 anos participou do especial: A Cartomante na Tv Universitária, fundou o grupo ilusionista na década de 80, em 1982 realiza  sua primeira produção literária denominada como: “A Incrível Noite”, com gênero: ficção. Dessa forma, o escritor possuí cerca de 10 livros publicados e mais de 40 peças de teatro, com sucesso de público e de escrita, entre suas peças teatrais premiadas está: “Sonho de Primavera”, voltada ao público infantil a mesma permaneceu em cartaz por cerca de sete anos, entre outras obras.

Ao realizarmos está viagem cronológica, chegamos aos dias atuais com sua experiência profissional: na área de Letras com ênfase em Literatura Comparada, Estudos Culturais, Produção Textual, Literatura Portuguesa e Indígena, é professor universitário, escritor e dramaturgo, está na Academia Palmeirense de Letras, Pesquisador do Grupo de Pesquisa (NEAB): Identidades Culturais: Preservação e Transitoriedade na Cultura Afro-brasileira da universidade de Pernambuco, Líder do Projeto (TUPI) Teatro Universitário Palmeira dos Índios.

 

  1. A IMPORTÂNCIA DO CORDEL PARA A LITERATURA POPULAR

 

A Literatura de Cordel  é determinada por uma grande manifestação literária da cultura popular brasileira, que especificamente retrata o espaço e tempo nordestino, estado ao qual denota sua consolidação histórica através de rimas e versos. O Cordel por vezes, utiliza de uma linguagem informal local, assim, o mesmo não segue os padrões da norma culta padrão da língua portuguesa, caracterizados por resquícios da variação lingüística e vícios de linguagens derivados da natalidade local presentes no Nordeste/Sertão. O modelo de escrita encontrado nos cordéis, pode estar presente em folhetos acompanhados pela capa em xilogravura e os recursos de imagens ilustrativas associados a tal técnica.

Os cordéis chegaram ao Brasil em meados do século XVIII, com os trovadores que remetiam o legado da cultura  portuguesa. O cordel possui conceitos múltiplos e recebe, em sua estrutura temática , peculiaridade da cultura popular, levantando questões  e raízes históricas de modo a retratar uma poética formada por rimas. Considerando as acepções acerca dessa temática. Haurélio (2016) assegura que:                                        

A Literatura de Cordel é a poesia popular herdeira do romanceiro tradicional, e, em linhas gerais, tributária da literatura oral ( em especial dos contos populares ), desenvolvida no Nordeste e espalhada por todo Brasil pelas muitas diásporas sertanejas. Refiro-me, evidentemente, á literatura que reaproveita temas da tradição oral, com raízes no trovadorismo medieval lusitano, continuadora das canções de gesta , mas, também, espelho social de seu tempo. (HAURÈLIO, 2016, p.9-10).

Dessa forma, o gênero textual cordel abrange a representação cultural com objetivo de transmitir e propagar aquela cultura, abrangido no decorrer dos tempos os ciclos históricos, e a poesia tradicional por meio das manifestações culturais e artísticas, evidenciando a poética cordelística, assim como o lirismo  enaltecendo os processos sociais e culturais de um povo, pode- se destacar a importância do cordel sobre a perspectiva histórica, através desta narrativa fica evidente compreender a origem da Literatura de Cordel:

Quando a Literatura de Cordel , ou de folhetos , estava tomando forma, viviam na Região do Teixeira afamados cantadores como o escravo Inácio da Cantigueira e Romano da Mãe d’ Água. Inácio, embora analfabeto, era brilhante improvisador e Romano, seu oponente numa peleja, possuía rudimentar instrução. Leandro, por outro lado, mesmo sendo bom glosador, decidiu – se por registrar no papel os seus versos, possivelmente ainda no Teixeira, levando – os ao Prelo em Pernambuco. A peleja de Inácio com Romano foi recontada em folheto por Leandro – que reaproveitou trechos caídos na oralidade-e por Silvino Piraruá de Lima. ( HAURÈLIO, 2016, p.14)

 

3.1.CORDEL: ENTERRADO VIVO : O HOMEM QUE VIROU CORDEL

 

Sou enterrado vivo

Pense você o que pensar

Tudo começou bem cedo

Não precisa adivinhar

Porque vou contar tudinho

Só Você acompanhar

 

Vi peleja em Pernambuco

Do litoral ao Sertão

Foi assim que o cordel

Tomou o meu coração

Eu pensei que era brinquedo

Era mesmo possessão

 

Balançando numa rede

Comecei a ler livrinhos

Mergulhei como no mar

Pareciam tão fininhos

Pensamentos na fundura

Voltaram á tona , mansinhos

 

Mas era tarde demais

Eu já estava destinado

A ser poeta errante

Santo e amaldiçoado

Às torturas e aos gozos

De um cabra bem letrado 

 

Hoje vou contar a história

Neste folheto assim

Pra que você não se esqueça

Uma autor igual a mim

Perdi-me cedo nas sendas

Deste cordel sem fim

 

O vento soprava forte

Vindo ali do litoral

Parecia assombração

Chamando para o umbral

Gostava daqueles versos

Parecia tão natural

 

Na verdade era vertigem

Da entrada ao quintal

E o menino que eu era

Fugia assim do seu mal

Na estranha solidão

Esse encontro fatal

 

Eu tinha uma doença

Que eu não quero nem falar

Melhorei um pouco ali

Mas meu Deus a me olhar

Disse : “estás assinalado”

E não tente escapar

 

O primeiro romance fiz

Daí eu desembestei

Foram tantos folhetos

Reparando só  eu sei

“Oropa” , França , juazeiro

Pelas estradas eu viajei

 

Até que chegou o dia

Na faculdade estudei

Me formei e fui doutor

E a muitos ajudei

Mas vida de poeta

Só do preço eu sei

 

Tive mulheres e homens

Que seguiram meu cantar

Como flautista em Hamelin

Limpando o meu lugar

Por um preço requerido

E não quiseram pagar

 

E eu tive destino

Trabalhando pra esquecer

Da dor no meu coração

Mas eu fiz isso valer

E não sei dizer como

Àgua virou pó , pode crer

 

Vi o peso da fumaça

A seca e a enchente

Se feliz não fiz alguns

Mas não deixei  de estar crente

Que Jesus me ajudaria

Se eu caísse doente

 

Foram tantos os caminhos

Nos quais cantei por aí

Você , nunca me pergunte

Como foi que eu saí

Das encrencas , desacertos

Surfei até o Havaí

 

De jovem me fiz mais velho

Vendo tudo como um novo

Para não perder a esperança

À Virgem Maria eu louvo

Nessa tal Literatura

Dentro da qual eu me movo

 

Agora eu vou lhes contar

O que foi que sucedeu

Tocaram fogo no circo

E disseram que fui eu

Foi um jogo tão perverso

E roubaram o que era meu

 

Joguei fora o casamento

Em nome da aventura

Tudo para mim eram as Letras

Essa tal Literatura

Eu fui enterrado vivo

Em mágica sepultura

 

O truque reconheci

Mas o tempo foi passando

Eu só vivia escrevendo

Lendo tudo pesquisando

E fui nos tais folhetos

Versos aperfeiçoando

 

Agora aqui eu me encontro

Resolvendo essa questão

Foi a fé que me salvou

Me trouxe consolação

Não jogo mais minha sorte

Nas mãos de assombração

 

O castelo que criei

A minha ciência , enfim

Está tudo espalhado

Como se fosse um jardim

Padim Ciço me proteja

Padrinho cuide de mim !

 

Foi banquete e homenagem

Meu caminho teve disso

Mas tive que cumprir tudo

Concluindo o compromisso

Início de um novo tempo

Dando ás ilusões sumiço

 

Vou dedicar a existência

Os anos que me restam

A este que é meu ofício

Dando amor aos que me prestam

Os outros eu vou perdoar

Assim eles desembestam

 

Mas para continuar essa parte

O acréscimo se anuncia

Isso não acaba aqui

È assim que eu prometo

Salve Deus , Jesus e Maria.

 

 

3.2. ANÁLISE DO CORDEL ENTERRADO VIVO : O HOEM QUE VIROU CORDEL

 

Sou o enterrado Vivo

Pense você o que pensar

Tudo começou bem cedo

Não precisa adivinhar

Porque vou contar tudinho

Só você acompanhar

 

A produção cordelistica é composta por 24 estrofes. Melo Neto retrata por meio de versos a sua autobiografia enquanto cordelista, através dos elementos transitórios que derivaram o autor a seguir a escrita no determinado gênero. Nessa perspectiva, em cada estrofe, é possível reconhecer por meio da prosa e poesia os seus relatos contextualizando o desejo e prazer a qual possuí pelo universo literário em especifico pela literatura de cordel é identificada de forma clara e objetiva sua lírica, remetendo por intermédio da escolha do título: Enterrado Vivo: O Homem Que Virou Cordel, direciona o público leitor a uma manifestação literária construída a sua narrativa autobiográfica, evidenciando a licença poética do público leitor em localizar e interpretar as idéias expostas l.

O cordel intitulado acima, apresenta a sua produção autobiográfica. No entanto, mantém os traços originários do cordel, tais como: a rima e métrica de forma acentuada e seguindo os termos estéticos e linguísticos e os estudos acerca da Literatura de Cordel, podendo ser utilizado de diversas formas desde culminância literária, como objeto de estudo e sequência didática em escolas e universidades. Dessa forma, na última estrofe podemos encontrar um acróstico evidenciando o nome do escritor Moisés, concluindo assim, que a obra é sua produção autobiografia, e que o mesmo pretender transcender suas obras literárias, como se destaca abaixo:

Mas pra continuar essa parte

O acréscimo se anuncia

Isso não acaba aqui

Só noutro cordel , cantoria

È assim que eu prometo

Salve Deus , Jesus e Maria.

 

3.3. A MULTIVIDENCIA DE MOISÉS MONTEIRO DE MELO NETO

 

A visão de mundo de Melo Neto é configurada pelo universo do “fantástico”, sendo possível observar e destacar este fenômeno em suas produções, assim, como as produções de recursos dicreativos retratando o discurso discursivo, especificamente nas produções de cordéis destaca-se: os recursos de polifonia na escrita de cordéis, a utilização de gêneros dramáticos com objetivo de fixar o leitor no clímax de suas narrativas, e a natalidade, tempo e espaço atreladas as vivencias do autor constituí  seu processo criativo literário. O escritor destacado acima, é o narrador transgressor em sua escrita literária expõe os eixos sociais da sociedade por intermédio do recursos líricos nas configurações das narrativas.

Nesse viés, em suas obras identifica-se o recurso da expressão “Além – mar”, a qual o escritor utiliza para transcender que aqueles fenômenos supracitados, irão além de suas idéias centralizadas e expostas que terão continuidade, com enfoque no  social e interpretativo, adjunto da representatividade do modelo de escrita que é caracterizado como: atemporal  literário, é identificada assim em seus enredos os elementos de autoficção, atrelados aos  recursos de ficcionalidade em seu modo de escrita, técnicas utilizadas para envolver seu público leitor, para que os mesmos se identifiquem e evidencializem as mensagens sociais ao quais o autor, retratam em suas narrativas.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

CONSIDERAÇÕES FINAIS

 

Por meio desta análise, fica evidente que a narrativa da literatura popular do autor , de maneira denotativa aos recursos da literatura popular, aborda os dilemas acerca da importância da literatura para configuração e retratação do modelo de escrita do cordel, permitindo que o público leitor compreendam e interpretem a narrativa em volta do cordel supracitado. Moisés domina a arte de nos envolver em suas idiossincrasias , fazendo com que nossos leitores se identifiquem com as histórias no cotidiano e em suas próprias vivências. Os recursos de imagens adjuntos da linguagem popular, sugerem ao leitor a criação de novas imagens acerca do fazer cordelístico e sensações, ampliando assim, o alcance de sua escrita literária.

Principalmente em sua escrita, Moisés aborda os dilemas associados a construção do processo de escrita da sua autobiografia , de maneira clara e objetiva retratando por meio da narrativa do cordel, direciona ao leitor para a idéia que Moisés, foi enterrado em um sepultamento de cunho literário, desde o primórdio de seu nascimento e o mesmo, carrega este processo do fazer literário, sendo a retratação por meio de cordel a uma manifestação literária de cunho biográfico do autor, a produção cordelística apresenta seus traços biográficos, de forma atemporal , mantendo a originalidade do processo de escrita da estrutura de um cordel. Um dos pontos fortes do cordel, é que mesmo sendo um retrato vivo, seguem–se o sistema de rima e métrica estabelecidos no âmbito literário, o autor consegue envolver todos os elementos em função da configuração do produto de seu cordel, de domínio de escrita de representação de si mesmo , fica evidente na última estrofe de seu cordel, pela utilização do recurso de acróstico utilizado em ênfase de seu nome.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

 

CANDIDO , Antonio. O direito á literatura . In _____________.Vários Escritos . são Paulo : Duas Cidades ,1995, p.253-263.

 

CANTEL ,R.(2005), La litterature populaire brésilienne, CRLA , Poitiers.

 

MAXADO , Frankilin. O que é literatura de cordel? São Paulo: Hedra,2007.

 

HAURÉLIO , Marco. A trajetória do cordel No Brasil , em prosa e verso . In: Cultura Crí-ti-ca (Revista Cultural da APROPUC-SP) N°8 .Dossiê sobre Literatura de cordel . São Paulo, 2007.

 

sexta-feira, 7 de junho de 2024

Entrevista sobre literatura colonial no Brasil, alunos com o professor Moisés Monteiro de Melo Neto

 

1. Como a literatura brasileira aborda as razões e as origens do escravismo indígena durante o período colonial, revelando perspectivas e interpretações sobre essa fase da nossa história?

 

De 1540 até 1570 a escravidão indígena tentou se impor nos engenhos brasileiros, principalmete Pernambuco e Bahia. Os colonos tentavam escravizar os índios roubando-os de tribos que os tinham aprisionado e também, atacando as próprias tribos aliadas.

por razões óbvias — junto com os europeus, vieram as epidemias: a gripe, o sarampo e todas as febres, que dizimaram a população indígena

resistência indígena se dava pelas fugas dos aldeamentos missionários e de outros tipos de cativeiro, vilas e fazendas, havia também o suicídio quando presos.

 

2. De que maneira as obras literárias produzidas durante o período colonial refletem as relações entre colonizadores e povos indígenas, evidenciando a complexidade das dinâmicas sociais e econômicas que levaram ao surgimento do escravismo indígena no Brasil?

Dos mil e 500 temos a literatura informativa e alguns tetos do período chamado barroco, o índio é tratado de maneira terrível, nos 1700, Cláudio Manoel os inclui, de modo discreto, como construtores, ao lado dos negros e brancos, de Vila Rica (nome de um poemeto épico de Suicidado Cláudio, nosso Glauceste Saturno, chamado por Doroteu, por Tomás Antônio

Mas os pontos de maior destaque são os épicos O Uruguai (1769) e Caramuru  (1781)

 

 

3. Qual é o papel da literatura contemporânea brasileira na revisão e na problematização das narrativas tradicionais sobre o escravismo indígena, contribuindo para uma compreensão mais ampla e crítica desse aspecto da história colonial do país?

 

 

A atual literatura indígena impressa vem crescendo em qualidade e quantidade, problemas mais graves têm aparecido,

 

41  Ambígua, híbrida é local e nacional , nova escrita e deveria estar na escola, sendo ensinada no Brasil em geral; mas deixada em terceiro plano

 

4mas aNova Literatura Indígena

 Está Se espalhando no país

Munduruku, Jekupé,

Yaman, Pataxó, diz

Kithaulu, Potiguara, fala

Terena, Guará, raiz

 

43 Haki'y, Wapixana, Yaguakãg

 Makuxi, Kerexu Mirim

Não digo que não é sem preconceitos

 Mas seu conteúdo cognitivo  é fortíssimo

 Tem valor próprio de sedução

Como arte tão importante e Função simbolizadora

 Precisa de espaço próprio

 Ma

 

Para presentificar-se plenamente

E ser cada vez mais estudada

Não apenas como local de fala, que ela tem

 

Mas pelo reconhecimento das Autorias indígenas na nossa literatura brasileira

É Literatura forte

Erroneamente escondida

Era entregue à própria sorte

questões indígenas, são Letras diferenciadas

direito de expor essa  arte

sua

propriedade intelectual

 

Oral e escrita

Oratura ou impressa

saberes, fazeres e crenças

apontando saídas

sobre crise ambiental

a muitos ela interessa

 

4. Quais são alguns exemplos de manifestações culturais que têm suas raízes na experiência dos povos indígenas como escravos, e como essas influências se manifestam na cultura popular contemporânea?

 

Pouco posso dizer cobre manifestações culturais que têm suas raízes na experiência dos povos indígenas como escravos, e como essas influências se manifestam na cultura popular contemporânea. Se formos assim também tocaremos na questão afro e no subemprego dos brancos e mestiços, também. A cultura brasileira é amálgama, mas não é homogênea.

Vemos várias tendências no nosso país. Tenhamos, quanto a isso, também, Liberdade, Igualdade e fraternidade.

 

5. Qual foi o papel do teatro na representação do escravismo indígena do Brasil colônia?

 

A catequização promovida pelo teatro de Anchieta é o mais forte exemplo da demonização da cultura indígena. O índio do romantismo, em romance que virou ópera, o Guarani, e outras obras, tem todas as fronteiras que asseguravam direitos aos povos primitivos, rasuradas.