ENTERRADO VIVO: MOISÉS MONTEIRO DE MELO NETO EA HERANÇA CULTURAL COMO ALIMENTO DA LITERATURA
POPULAR
BURIED ALIVE: CULTURAL
HERITAGE AS FOOD FOR POPULAR LITERATURE
Bárbara Maria Rodrigues de Oliveira ¹
Graduando
em Letras-Português, pela Uneal.
Profº
Dr Moisés Monteiro de Melo Neto
RESUMO
O
presente artigo propõe uma análise
crítica da obra cordelística Enterrado Vivo: O homem Que Virou Cordel,
de Moisés Monteiro de Melo Neto, adentrando a narrativa do universo fantástico
da Literatura Popular. Abordaremos os aspectos empregados na narrativa entre o
diálogo apresentado e o leitor, o uso da oralidade a importância do cordel,
herança cultural e literatura popular. Para embasar a análise, utilizaremos como
referencial teórico: Antônio Candido (1958); Raymond Cantel, Leandro Gomes de
Barros (1865); Haurélio (1974), acerca das características presentes na obra de
Melo Neto . A escolha por explorar o cordel em questão surgiu pela apresentação
do mesmo, motivada pelo seu contexto sócio – histórico de como o autor aborda,
os dilemas de sua vida por meio de sua autobiografia atrelada a narrativa do
cordel, tornando- os acessíveis e compreensíveis para os leitores deste gênero.
Seus cordéis cotidianos permitem que os públicos leitores se identifiquem por
meio da natalidade dos espaços expostos em seus enredos, adjunto da temática da
sua autobiografia sobre vida/ obra do escritor Melo Neto.
PALAVRAS-
CHAVE: Melo Neto; Literatura
Popular; Enterrado Vivo; Estudo Crítico.
ABSTRACT
This article proposes a
critical analysis of the cordelist work Buried Alive: The Man Who Became
string, Moisés Monteiro de Melo Neto, entering the narrative of the
fantastic universe of Popular Literature.We Will address the aspects used in
the narrative betweenthe dialogue present and the reader , the use of orality
the importance of string, cultural heritage
and popular literature . To support the analysis , we Will use as a theoretical
framework: Antônio Candido (1958); Raymond Cantel, Leandro Gomes de Barros
(1865); Haurélio (1974), about the characteristics present in the work of Melo
neto. The choice to explore the string in questions rose due to presentation of
the same, motivated by its socio- historical context of the author addresses,
the dolemmas of his life throung his autobiography linked to the narrative of
the string, making them accessible and understandable for readers of this
genre.Its daily threads allow readers to
identify themselves thuough the natality
of the spaces exposed in his plots, adjunt to the theme of his autobiography
about the writer’s çife/work Moisés.
KEY WORDS : Moisés; Literature
Popular; Buried Alive; Critical Study.
INTRODUÇÂO
A Literatura popular é patrimônio cultural da
humanidade, propagada além – mar de geração a geração, representada através das
heranças culturais enaltecidas pela
prosa e poesia, instrumentos literários que entrelaçam as narrativas populares,
sejam estas produções acerca da literatura popular, em obras ou produzidas
apenas por versos orais. Ao realizar a combinação entre os conjuntos de
elementos , sobre a perspectiva da estilística do entreterimento enaltecidas
através dos recursos multivariáveis da tradição oral, assim essas obras
estimulam o desenvolvimento de habilidades acerca da viabilidade da visão de
mundo, seja esta contemporânea, ou do autor sobre o fenômeno verbal por
intermédio das formas típicas das culturas populares, tais como: contos,
lendas, advinhas, quadras, anedotas, ditados, frases, trava-línguas e etc. Em
destaque evidenciaremos o objeto de estudo que será: A poesia narrativa do
gênero cordel , acerca da ótica do desenvolvimento da literatura popular. As
configurações da literatura popular, denotam o envolvimento entre os fenótipos
literários de ações e histórias narradas pelo povo e transmitida entre
gerações.
De acordo com Barros (2002), faz uma bela narração
acerca das produções da literatura popular, sobre sua manutenção e
disseminação, conforme se vê abaixo:
A
literatura popular mantém viva a memória das produções de uma sociedade e que
estas produções consistem de uma tradição. Com o tempo, foram se agregando e
definindo novos elementos, principalmente no campo da oralidade, práticas
modernas que ampliam o contingente tradicional (BARROS, 2002, p.45).
Dessa forma,
o cordel e o repente dividem a mesma origem funcional, que é a literatura oral.
A poesia popular impressa herdeira do romanceiro tradicional da literatura oral
(em especial dos contos populares, com predominância dos contos do encantamento
). O cordel é um dos galhos da árvore da poesia popular, assim como o repente.
Mas, cordel e repente não são a mesma coisa, pois, á medida que a árvore
cresce, os galhos vão se distanciando, embora estejam unidos pela origem comum
(HAURÉLIO, 2007, p.15). Assim, o cordel na forma escrita é caracterizado em
folhetos impressos, compostos por rimas e sextilhas, que ao mesmo tempo podem
se tornarem repentes se pronunciados oralmente em ritmo e sonoridade musical.
Nessa perspectiva, a literatura tem por objetivo recriar
e transmitir a realidade por intermédio da mundividência do autor, a propagação
dos sentimentos e a reprodução de técnicas narrativas, transmitem uma mensagem
com enfoque crítico – social as histórias composta por personagens, em seus
mais variados espaços e tempos, está inserido em seu processo de criação e
expansão o recurso do “fantástico”, retratando os dilemas entre o escritor e
seu alvo leitor. Desse modo, o cordel se fundamenta dos recursos listados
acima, adjunto da sátira de entreter seu público, rebelando suas funções
sociais e a caracterização da tradição literária narrada no gênero, a presença
da natalidade, nos espaços dos cordéis nordestinos . Sobretudo, no processo
demonstrativo da herança cultural e ancestralidade, por meio da prosa e poesia,
disseminadas ao leitor forma oral /escrita o cordel poderá assumir suas mais
variadas formas , seja em versos ou repentes a função social é a mesma.
Nesse contexto, o objetivo é realizar uma análise
da obra cordelistica Enterrado Vivo: O Homem Que Virou Cordel , de
Moisés Monteiro de Melo Neto, evidenciando o diálogo com o leitor, o uso da
oralidade, o emprego da narrativa, acerca do auto- retrato biográfico, descrito
sobre a configuração de seu cordel, de maneira assídua sobre sua própria viajem
cronológica de Melo Neto, entre sua vida/obra, realizando uma descrição em
prosa acerca de si mesmo sobre o processo do fazer cordelístico. Para embasar a
análise, foi recorrido aos estudos de Antônio Candido (1958), Raymond Cantel
(1905), Leandro Barros (1865) , Haurélio
(1974) acerca das características presentes na obra de Moisés.
Este estudo está dividido em três partes distintas.
A primeira seção reflete sobre a literatura popular brasileira; a segunda seção
oferece uma breve visão sobre a vida e as contribuições de Moisés Monteiro Melo
Neto para a literatura popular brasileira; e por fim a terceira seção foca na
análise dos aspectos apresentados pelo autor na narrativa. Esses temas serão
desenvolvidos nas seguintes seções .
- LITERATURA BRASILEIRA E POPULAR
Os primeiros registros em literatura no Brasil se
sucedeu ao nascimento derivada intimamente a Portugal. Visto que, a relação
colonialista que a descoberta recente mantinha com o país europeu, assim, a
literatura brasileira surgiu com o desdobramento da literatura da língua
portuguesa. Desse modo, o primeiro escrito em terras brasileiras se denomina A
Carta de Pero Vaz de Caminha, a crônica narrada pela viagem é considerada um
documento histórica, devido aos detalhes e contextos descritos, sendo
considerada como o primeiro texto literário brasileiro, a carta sendo uma
descrição de terras brasileiras em meados de 1500, possuía a função de cunho
informativo.
A sua presença universal apenas existe e pendura
pela sua contribuição no desenvolvimento de mundo. A literatura pode ser um
instrumento consciente de desmascaramento, pelo fato de focalizar as situações
de restrição dos direitos, ou de negação deles, como a miséria, a servidão, a
mutilação espiritual. Tanto num nível quando no outro ela tem muito a ver com a
luta pelos direitos humanos (CÂNDIDO, 1988). Dessa forma, quando o leitor
realizar a compreensão dos textos, de maneira decodifica o mesmo, transcende
sua interpretação além do texto, suas conclusões e percepções vão além, identificando
assim, que as interpretações da visões de mundo partem a partir da narrativa
inserida, por meio da cultura transferida.
A literatura brasileira realizou uma longa viagem
por alguns períodos, tais como: Quinhetismo, Barroco, Arcadismo e Romantismo até
se configurar ao modelo atual que temos nos dias de hoje. No entanto, apesar de
alguns textos literários serem escritos no período do Quinhetismo, essas
confecções não foram nomeadas como textos literários, devido a intencionalidade
da iniciação de seu procedimento na ação criativa, pois não possuíam a
intencionalidade artística ou estética no ápice de suas criações, antes de mais
nada a literatura, seria formada de um sistema composto por obras literárias de
características dominantes de uma escola literária.
Primordialmente, a literatura brasileira fica
evidente assim, apenas no século XIX, após o período do Romantismo, em
detrimento as produções de cunho literário de outros períodos listados acima,
apesar de não serem identificadas como obras literárias as mesmas, contribuíram
de forma significativa ao processo de formação do sistema vigente da literatura
brasileira. Desse modo, uma das faces da literatura é a literatura popular, que
é a designação da literatura oral, um conjunto de arte verbal de um povo, sobre
o processo cultural artístico, introduzida e permeada através do gêneros que
compõem este aglomerado, evidenciando seu enfoque objetivo que é a
representação cultural, em ênfase a representação do espaço/ tempo nordestino
evidenciados como tal, nas produções cordelísticas, podendo ser na perspectiva
política ou social.
A literatura popular se centraliza em rebelar suas
mensagens sociais, por meio da propagação das narrativas, por exemplo: os
cordéis sejam estes, em versos ou em repentes , utilizando a sátira do humor é
enaltecido sua função social de forma clara e objetiva, utilizando os recursos
culturais que retratam o seu contexto, e a linguagem daquele povo representado e ouvinte,
denominando assim, o ato do fazer
literário através do advento dos fenômenos artísticos culturais, por meio da
propagação e disseminação dos cordéis. Conforme os exemplos supracitados acima,
percebe-se que a literatura promove o entrelaçamento entre as manifestações
culturais e artísticas, através das junções entre escrita e oralidade.
Reymond Cantel (1914-1986), professor de literatura
portuguesa e brasileira ¹, foi um pioneiro da divulgação da poesia popular
brasileira em França, juntou ao longo das viagens e conferências que fez no
Brasil a partir dos 1950, uma rica coleção que nunca reduziu á expressão
ingênua dum folclore ”Esta literatura não contém nenhuma obra – prima no
sentido clássico do termo, mas o conjunto é impressionante e o seu poder de
fecundação notável todas as artes no Brasil se devem algo” (CANTEL, 2005, p.
83).
- SOBRE MOISÉS MONTEIRO DE MELO NETO : UM
PASSEIO SOBRE A VIDA E PRODUÇÃO DO ESCRITOR
Moisés Monteiro de Melo Neto , veio ao mundo em 27
de março Dia Mundial do Circo e do Teatro, a data de seu nascimento já marcava
sua narrativa que seria para o teatro, “uma vida artística”, nascido na Avenida
Conde da Boa Vista, na capital pernambucana. Moisés iniciou sua trajetória
descendente da Família Belli, seu bisavô materno Felici de Beli, veio de
Napóles. O nome Belli tem origem de Tyrol na Itália, o mesmo obteve
dificuldades em seu território após o Império Romano, foi ocupado sobre fortes
poderes políticos e religiosos. Os país do escritor são: Mário Monteiro Muniz e
Célia de Lourdes de Belli Peixoto Monteiro, seus irmãos são: Mário e Fátima,
tios: Osíris e João de Bell, poetas paraibanos e membros do teatro paraibano.
Sua infância foi marcada de acontecimentos, o
pequeno Melo Neto sofria de crises respiratórias fortíssimas, as madrugadas
eram difícies e dolorosas marcadas por
uso de remédio fortes e que o debilitavam, o pequeno era apelidado por “cigano”
e “bandoleiro”, por viver sempre com uma mochila pronta para ir para algum
lugar, possuí no mínimo três endereços diferentes. No entanto, neste mesmo
período, participou de um concurso de escrita e obteve a premiação em segundo
lugar, aos 11 anos de idade decidiu morar com seus avós, pois a convivência com
seu pai era difícil, seu genitor não o compreendia. Na sua adolescência curso o
Ensino Fundamental: Instituto Andrade e Colégio Santos Dummont, seu ensino
médio foi cursado no Colégio Contato e Colégio Americano Batista, possuía como
lazer Cinema Vera Cruz
A fase adulta de Moisés foi marcada pela iniciação
de sua carreira artística, em 1979 ele estava com a Trupe do Frei Caneca, sendo
que aos 18 anos participou do especial: A Cartomante na Tv Universitária,
fundou o grupo ilusionista na década de 80, em 1982 realiza sua primeira produção literária denominada
como: “A Incrível Noite”, com gênero: ficção. Dessa forma, o escritor possuí
cerca de 10 livros publicados e mais de 40 peças de teatro, com sucesso de
público e de escrita, entre suas peças teatrais premiadas está: “Sonho de
Primavera”, voltada ao público infantil a mesma permaneceu em cartaz por cerca
de sete anos, entre outras obras.
Ao realizarmos está viagem cronológica, chegamos
aos dias atuais com sua experiência profissional: na área de Letras com ênfase
em Literatura Comparada, Estudos Culturais, Produção Textual, Literatura
Portuguesa e Indígena, é professor universitário, escritor e dramaturgo, está
na Academia Palmeirense de Letras, Pesquisador do Grupo de Pesquisa (NEAB):
Identidades Culturais: Preservação e Transitoriedade na Cultura Afro-brasileira
da universidade de Pernambuco, Líder do Projeto (TUPI) Teatro Universitário
Palmeira dos Índios.
- A IMPORTÂNCIA DO CORDEL PARA A LITERATURA
POPULAR
A Literatura de Cordel é determinada por uma grande manifestação
literária da cultura popular brasileira, que especificamente retrata o espaço e
tempo nordestino, estado ao qual denota sua consolidação histórica através de
rimas e versos. O Cordel por vezes, utiliza de uma linguagem informal local,
assim, o mesmo não segue os padrões da norma culta padrão da língua portuguesa,
caracterizados por resquícios da variação lingüística e vícios de linguagens
derivados da natalidade local presentes no Nordeste/Sertão. O modelo de escrita
encontrado nos cordéis, pode estar presente em folhetos acompanhados pela capa
em xilogravura e os recursos de imagens ilustrativas associados a tal técnica.
Os cordéis chegaram ao Brasil em meados do século
XVIII, com os trovadores que remetiam o legado da cultura portuguesa. O cordel possui conceitos
múltiplos e recebe, em sua estrutura temática , peculiaridade da cultura popular,
levantando questões e raízes históricas
de modo a retratar uma poética formada por rimas. Considerando as acepções
acerca dessa temática. Haurélio (2016) assegura que:
A Literatura de Cordel é a poesia popular herdeira do romanceiro tradicional,
e, em linhas gerais, tributária da literatura oral ( em especial dos contos
populares ), desenvolvida no Nordeste e espalhada por todo Brasil pelas muitas
diásporas sertanejas. Refiro-me, evidentemente, á literatura que reaproveita
temas da tradição oral, com raízes no trovadorismo medieval lusitano,
continuadora das canções de gesta , mas, também, espelho social de seu tempo.
(HAURÈLIO, 2016, p.9-10).
Dessa forma, o gênero textual cordel abrange a
representação cultural com objetivo de transmitir e propagar aquela cultura,
abrangido no decorrer dos tempos os ciclos históricos, e a poesia tradicional
por meio das manifestações culturais e artísticas, evidenciando a poética
cordelística, assim como o lirismo
enaltecendo os processos sociais e culturais de um povo, pode- se
destacar a importância do cordel sobre a perspectiva histórica, através desta
narrativa fica evidente compreender a origem da Literatura de Cordel:
Quando a
Literatura de Cordel , ou de folhetos , estava tomando forma, viviam na Região
do Teixeira afamados cantadores como o escravo Inácio da Cantigueira e Romano
da Mãe d’ Água. Inácio, embora analfabeto, era brilhante improvisador e Romano,
seu oponente numa peleja, possuía rudimentar instrução. Leandro, por outro
lado, mesmo sendo bom glosador, decidiu – se por registrar no papel os seus
versos, possivelmente ainda no Teixeira, levando – os ao Prelo em Pernambuco. A
peleja de Inácio com Romano foi recontada em folheto por Leandro – que
reaproveitou trechos caídos na oralidade-e por Silvino Piraruá de Lima. (
HAURÈLIO, 2016, p.14)
3.1.CORDEL: ENTERRADO VIVO : O HOMEM QUE VIROU
CORDEL
Sou
enterrado vivo
Pense
você o que pensar
Tudo
começou bem cedo
Não
precisa adivinhar
Porque
vou contar tudinho
Só
Você acompanhar
Vi
peleja em Pernambuco
Do
litoral ao Sertão
Foi
assim que o cordel
Tomou
o meu coração
Eu
pensei que era brinquedo
Era
mesmo possessão
Balançando
numa rede
Comecei
a ler livrinhos
Mergulhei
como no mar
Pareciam
tão fininhos
Pensamentos
na fundura
Voltaram
á tona , mansinhos
Mas
era tarde demais
Eu
já estava destinado
A
ser poeta errante
Santo
e amaldiçoado
Às
torturas e aos gozos
De
um cabra bem letrado
Hoje
vou contar a história
Neste
folheto assim
Pra
que você não se esqueça
Uma
autor igual a mim
Perdi-me
cedo nas sendas
Deste
cordel sem fim
O
vento soprava forte
Vindo
ali do litoral
Parecia
assombração
Chamando
para o umbral
Gostava
daqueles versos
Parecia
tão natural
Na
verdade era vertigem
Da
entrada ao quintal
E
o menino que eu era
Fugia
assim do seu mal
Na
estranha solidão
Esse
encontro fatal
Eu
tinha uma doença
Que
eu não quero nem falar
Melhorei
um pouco ali
Mas
meu Deus a me olhar
Disse
: “estás assinalado”
E
não tente escapar
O
primeiro romance fiz
Daí
eu desembestei
Foram
tantos folhetos
Reparando
só eu sei
“Oropa”
, França , juazeiro
Pelas
estradas eu viajei
Até
que chegou o dia
Na
faculdade estudei
Me
formei e fui doutor
E
a muitos ajudei
Mas
vida de poeta
Só
do preço eu sei
Tive
mulheres e homens
Que
seguiram meu cantar
Como
flautista em Hamelin
Limpando
o meu lugar
Por
um preço requerido
E
não quiseram pagar
E
eu tive destino
Trabalhando
pra esquecer
Da
dor no meu coração
Mas
eu fiz isso valer
E
não sei dizer como
Àgua
virou pó , pode crer
Vi
o peso da fumaça
A
seca e a enchente
Se
feliz não fiz alguns
Mas
não deixei de estar crente
Que
Jesus me ajudaria
Se
eu caísse doente
Foram
tantos os caminhos
Nos
quais cantei por aí
Você
, nunca me pergunte
Como
foi que eu saí
Das
encrencas , desacertos
Surfei
até o Havaí
De
jovem me fiz mais velho
Vendo
tudo como um novo
Para
não perder a esperança
À
Virgem Maria eu louvo
Nessa
tal Literatura
Dentro
da qual eu me movo
Agora
eu vou lhes contar
O
que foi que sucedeu
Tocaram
fogo no circo
E
disseram que fui eu
Foi
um jogo tão perverso
E
roubaram o que era meu
Joguei
fora o casamento
Em
nome da aventura
Tudo
para mim eram as Letras
Essa
tal Literatura
Eu
fui enterrado vivo
Em
mágica sepultura
O
truque reconheci
Mas
o tempo foi passando
Eu
só vivia escrevendo
Lendo
tudo pesquisando
E
fui nos tais folhetos
Versos
aperfeiçoando
Agora
aqui eu me encontro
Resolvendo
essa questão
Foi
a fé que me salvou
Me
trouxe consolação
Não
jogo mais minha sorte
Nas
mãos de assombração
O
castelo que criei
A
minha ciência , enfim
Está
tudo espalhado
Como
se fosse um jardim
Padim
Ciço me proteja
Padrinho
cuide de mim !
Foi
banquete e homenagem
Meu
caminho teve disso
Mas
tive que cumprir tudo
Concluindo
o compromisso
Início
de um novo tempo
Dando
ás ilusões sumiço
Vou
dedicar a existência
Os
anos que me restam
A
este que é meu ofício
Dando
amor aos que me prestam
Os
outros eu vou perdoar
Assim
eles desembestam
Mas
para continuar essa parte
O acréscimo
se anuncia
Isso
não acaba aqui
È
assim que eu prometo
Salve
Deus , Jesus e Maria.
3.2. ANÁLISE DO CORDEL ENTERRADO VIVO : O HOEM QUE
VIROU CORDEL
Sou
o enterrado Vivo
Pense
você o que pensar
Tudo
começou bem cedo
Não
precisa adivinhar
Porque
vou contar tudinho
Só
você acompanhar
A produção cordelistica é composta por 24 estrofes.
Melo Neto retrata por meio de versos a sua autobiografia enquanto cordelista,
através dos elementos transitórios que derivaram o autor a seguir a escrita no
determinado gênero. Nessa perspectiva, em cada estrofe, é possível reconhecer
por meio da prosa e poesia os seus relatos contextualizando o desejo e prazer a
qual possuí pelo universo literário em especifico pela literatura de cordel é
identificada de forma clara e objetiva sua lírica, remetendo por intermédio da
escolha do título: Enterrado Vivo: O Homem Que Virou Cordel, direciona o
público leitor a uma manifestação literária construída a sua narrativa
autobiográfica, evidenciando a licença poética do público leitor em localizar e
interpretar as idéias expostas l.
O cordel intitulado acima, apresenta a sua produção
autobiográfica. No entanto, mantém os traços originários do cordel, tais como:
a rima e métrica de forma acentuada e seguindo os termos estéticos e
linguísticos e os estudos acerca da Literatura de Cordel, podendo ser utilizado
de diversas formas desde culminância literária, como objeto de estudo e
sequência didática em escolas e universidades. Dessa forma, na última estrofe
podemos encontrar um acróstico evidenciando o nome do escritor Moisés,
concluindo assim, que a obra é sua produção autobiografia, e que o mesmo
pretender transcender suas obras literárias, como se destaca abaixo:
Mas
pra continuar essa parte
O
acréscimo se anuncia
Isso
não acaba aqui
Só
noutro cordel , cantoria
È assim
que eu prometo
Salve
Deus , Jesus e Maria.
3.3. A MULTIVIDENCIA DE MOISÉS MONTEIRO DE MELO NETO
A visão de mundo de Melo Neto é configurada pelo
universo do “fantástico”, sendo possível observar e destacar este fenômeno em
suas produções, assim, como as produções de recursos dicreativos retratando o
discurso discursivo, especificamente nas produções de cordéis destaca-se: os
recursos de polifonia na escrita de cordéis, a utilização de gêneros dramáticos
com objetivo de fixar o leitor no clímax de suas narrativas, e a natalidade,
tempo e espaço atreladas as vivencias do autor constituí seu processo criativo literário. O escritor
destacado acima, é o narrador transgressor em sua escrita literária expõe os
eixos sociais da sociedade por intermédio do recursos líricos nas configurações
das narrativas.
Nesse viés, em suas obras identifica-se o recurso
da expressão “Além – mar”, a qual o escritor utiliza para transcender que
aqueles fenômenos supracitados, irão além de suas idéias centralizadas e
expostas que terão continuidade, com enfoque no
social e interpretativo, adjunto da representatividade do modelo de
escrita que é caracterizado como: atemporal
literário, é identificada assim em seus enredos os elementos de
autoficção, atrelados aos recursos de
ficcionalidade em seu modo de escrita, técnicas utilizadas para envolver seu
público leitor, para que os mesmos se identifiquem e evidencializem as
mensagens sociais ao quais o autor, retratam em suas narrativas.
CONSIDERAÇÕES
FINAIS
Por meio desta análise, fica evidente que a
narrativa da literatura popular do autor , de maneira denotativa aos recursos
da literatura popular, aborda os dilemas acerca da importância da literatura
para configuração e retratação do modelo de escrita do cordel, permitindo que o
público leitor compreendam e interpretem a narrativa em volta do cordel
supracitado. Moisés domina a arte de nos envolver em suas idiossincrasias ,
fazendo com que nossos leitores se identifiquem com as histórias no cotidiano e
em suas próprias vivências. Os recursos de imagens adjuntos da linguagem
popular, sugerem ao leitor a criação de novas imagens acerca do fazer
cordelístico e sensações, ampliando assim, o alcance de sua escrita literária.
Principalmente em sua escrita, Moisés aborda os
dilemas associados a construção do processo de escrita da sua autobiografia ,
de maneira clara e objetiva retratando por meio da narrativa do cordel,
direciona ao leitor para a idéia que Moisés, foi enterrado em um sepultamento
de cunho literário, desde o primórdio de seu nascimento e o mesmo, carrega este
processo do fazer literário, sendo a retratação por meio de cordel a uma
manifestação literária de cunho biográfico do autor, a produção cordelística
apresenta seus traços biográficos, de forma atemporal , mantendo a
originalidade do processo de escrita da estrutura de um cordel. Um dos pontos
fortes do cordel, é que mesmo sendo um retrato vivo, seguem–se o sistema de
rima e métrica estabelecidos no âmbito literário, o autor consegue envolver
todos os elementos em função da configuração do produto de seu cordel, de
domínio de escrita de representação de si mesmo , fica evidente na última
estrofe de seu cordel, pela utilização do recurso de acróstico utilizado em
ênfase de seu nome.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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CANTEL ,R.(2005), La
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HAURÉLIO , Marco. A trajetória do cordel No
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Crí-ti-ca (Revista Cultural da APROPUC-SP) N°8 .Dossiê sobre Literatura de
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