Texto da professora de
sociologia, Telma Virginia
O livro O Segundo Sexo foi publicado na França pela primeira vez em 1949 e
muita gente vai se perguntar, principalmente a geração atual, porque eu deveria
ler um livro tão antigo? A maioria de suas observações já foram superadas, não
tenho tempo a perder. E lendo inicialmente você se interessa porque foram
observações que na época e acredito mesmo hoje alguém não tenha coragem de
abordar. Num mundo atual onde se questiona até a Ciência, o papel da mulher na
sociedade é algo sem importância. Num Brasil em que o (des)presidente da
República compara o nascimento de sua filha mulher a um momento de fraquejada
na sua fábrica de fazer homens. Pensamos o que uma mulher que viveu e escreveu
há tanto tempo atrás nos vai acrescentar a nossa luta por igualdade com os
homens. Digo o seguinte vocês não devem
perder mais tempo e começar a ler Simone de Beauvoir.
Tentarei demonstrar porque
devemos fazer isso. Começando por uma célebre fala dela: “Não há, para mulher,
outra saída senão a de trabalhar pela sua libertação”. Assuma sua condição de
indivíduo autônomo e viva seu feminino. É essa a lição principal do livro tenha
a coragem de viver como uma mulher. Nossa história nosso passado foi de grande
luta e sofrimento. Mas lá na pré-história vivemos em igualdade com os homens, também
houve época em que as mulheres eram as grandes matriarcas nas tribos fazíamos a
coisa mais importante que era produzir e fazer resistir a nossa espécie. Éramos
responsáveis pela perpetuação da espécie, e isso nos tornava quase Deusas.
Éramos veneradas e respeitadas na comunidade primitiva, mas aí surgiu o excesso
de produção da tribo e foi necessário negociar o que fazer com o que sobrava, e
vem o comércio de troca, o uso da moeda, e a mais valia. Nesses processos
econômicos nossa importância foi dando lugar ao trabalho do homem, e ele passou
a dominar a comunidade. O mundo então nem sempre pertenceu aos machos, mas
quando eles começaram a dominar essa foi a frase repetida constantemente “ o
mundo sempre pertenceu aos machos”, “Toda mulher é um útero”, e nos dizem
“Sejam mulheres, permaneçam mulheres, tornem-se mulheres”. E associaram a esses
dogmas a nossa submissão. Dizem que se não seguirmos isso a feminilidade estará
ameaçada. E Simone de B. e nós mulheres
começamos então a questionar, de onde vem essa submissão. Se não somos minorias
(hoje 56% da população no Brasil são mulheres) quando começou essa
subordinação?
Apoiada em uma rigorosa pesquisa
acadêmicas, Simone iniciou teses
inovadoras onde atacou a ordem sexual dominante, alimentou a teoria da
contracepção e do aborto, abriu os olhos da época para a homossexualidade
feminina, denunciou a violência contra as mulheres e colocou abaixo os mitos da
maternidade perfeita e da feminilidade. Com sua pesquisa com base filosófica e
interpretações históricas ela revelou que a desigualdade entre homens e
mulheres foi construída histórica e ideologicamente.
Vem do tempo da diáspora judaica,
do período da escravidão na colonização da América. Muitas lutas feministas
foram iniciadas durante vários períodos da história mas a supremacia masculina
diz que só conseguimos o que os homens concordaram em nos conceder. Porque é
tão difícil essa libertação? Porque o laço que nos une aos nossos opressores
não é comparável a nenhum outro. Para o casal a mulher é o Outro. A mulher
sempre foi a vassala do homem. Homem e Mulher são duas castas e o homem sempre
no comando, nos lugares de destaques e postos mais importantes. Os judeus em
suas preces matinais agradeciam a Deus por não ser mulher. Platão, agradecia
por não ter sido escravo e não ser mulher. As religiões em geral criadas pelos
homens fortalecem a superioridade masculina. Santo Agostinho dizia: A mulher é
um animal que não é nem firme nem estável. Só no final do século XVIII, Diderot
afirma “ a mulher é como o homem, um ser humano”. No século XIX a mulher
durante a Revolução Industrial começa a reivindicar seu lugar no mundo do
trabalho. Mas a burguesia não aceitava e dizia quem vai tomar conta da casa da
família das crianças? Na burguesia o mais medíocre dos homens julga-se um
semideus diante das mulheres, mesmo das mais brilhantes como uma presidenta da
República (impeachment da presidenta Dilma, julgada e condenada pela maioria de
homens do Congresso Nacional, do Senado e dos ministros do STF). Simone de B.
nessa tese brilhante mostra a realidade feminina, nossas diferenças biológicas
entre os homens e demonstra em seus estudos porque chamar uma mulher de fêmea é
um insulto e o homem de macho é um elogio. E analisa a vida das mulheres desde
sua infância até a velhice. Finaliza com
a tese que nós mulheres devemos nos orgulhar de sermos mulheres e que só com o
nosso trabalho vamos nos libertar. A
mulher não precisa se afastar dos homens nem se tornar inimiga deles mas que só
com autonomia econômica, social, psicológica e intelectual nos tornaremos uma
mulher livre. E que “Uma mulher independente e livre, basta-se”. E é isso que
os homens temem quem será sua escrava? Quem será seu brinquedo sexual? Quem vai
acreditar em tudo que ele diz? Quem vai ficar calada e obediente quando ele
estiver furioso? Quem vai ficar apagada para que ele possa brilhar?
Portanto, queridas e queridos
vocês precisam ler este livro e entender que a infelicidade feminina, sua
submissão e invisibilidade foi culturalmente inventada para supremacia do
homem.
E termino dizendo rebele-se,
torne-se mulher e liberte-se.
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