Pesquisar este blog

segunda-feira, 5 de outubro de 2020

RESENHA CRÍTICA – O Segundo Sexo – Simone de Beauvoir

 

 

 


Texto da professora de sociologia, Telma Virginia

 

O livro O Segundo Sexo foi publicado na França pela primeira vez em 1949 e muita gente vai se perguntar, principalmente a geração atual, porque eu deveria ler um livro tão antigo? A maioria de suas observações já foram superadas, não tenho tempo a perder. E lendo inicialmente você se interessa porque foram observações que na época e acredito mesmo hoje alguém não tenha coragem de abordar. Num mundo atual onde se questiona até a Ciência, o papel da mulher na sociedade é algo sem importância. Num Brasil em que o (des)presidente da República compara o nascimento de sua filha mulher a um momento de fraquejada na sua fábrica de fazer homens. Pensamos o que uma mulher que viveu e escreveu há tanto tempo atrás nos vai acrescentar a nossa luta por igualdade com os homens.  Digo o seguinte vocês não devem perder mais tempo e começar a ler Simone de Beauvoir.

 

Tentarei demonstrar porque devemos fazer isso. Começando por uma célebre fala dela: “Não há, para mulher, outra saída senão a de trabalhar pela sua libertação”. Assuma sua condição de indivíduo autônomo e viva seu feminino. É essa a lição principal do livro tenha a coragem de viver como uma mulher. Nossa história nosso passado foi de grande luta e sofrimento. Mas lá na pré-história vivemos em igualdade com os homens, também houve época em que as mulheres eram as grandes matriarcas nas tribos fazíamos a coisa mais importante que era produzir e fazer resistir a nossa espécie. Éramos responsáveis pela perpetuação da espécie, e isso nos tornava quase Deusas. Éramos veneradas e respeitadas na comunidade primitiva, mas aí surgiu o excesso de produção da tribo e foi necessário negociar o que fazer com o que sobrava, e vem o comércio de troca, o uso da moeda, e a mais valia. Nesses processos econômicos nossa importância foi dando lugar ao trabalho do homem, e ele passou a dominar a comunidade. O mundo então nem sempre pertenceu aos machos, mas quando eles começaram a dominar essa foi a frase repetida constantemente “ o mundo sempre pertenceu aos machos”, “Toda mulher é um útero”, e nos dizem “Sejam mulheres, permaneçam mulheres, tornem-se mulheres”. E associaram a esses dogmas a nossa submissão. Dizem que se não seguirmos isso a feminilidade estará ameaçada.  E Simone de B. e nós mulheres começamos então a questionar, de onde vem essa submissão. Se não somos minorias (hoje 56% da população no Brasil são mulheres) quando começou essa subordinação?

 

Apoiada em uma rigorosa pesquisa acadêmicas, Simone  iniciou teses inovadoras onde atacou a ordem sexual dominante, alimentou a teoria da contracepção e do aborto, abriu os olhos da época para a homossexualidade feminina, denunciou a violência contra as mulheres e colocou abaixo os mitos da maternidade perfeita e da feminilidade. Com sua pesquisa com base filosófica e interpretações históricas ela revelou que a desigualdade entre homens e mulheres foi construída histórica e ideologicamente.

 

Vem do tempo da diáspora judaica, do período da escravidão na colonização da América. Muitas lutas feministas foram iniciadas durante vários períodos da história mas a supremacia masculina diz que só conseguimos o que os homens concordaram em nos conceder. Porque é tão difícil essa libertação? Porque o laço que nos une aos nossos opressores não é comparável a nenhum outro. Para o casal a mulher é o Outro. A mulher sempre foi a vassala do homem. Homem e Mulher são duas castas e o homem sempre no comando, nos lugares de destaques e postos mais importantes. Os judeus em suas preces matinais agradeciam a Deus por não ser mulher. Platão, agradecia por não ter sido escravo e não ser mulher. As religiões em geral criadas pelos homens fortalecem a superioridade masculina. Santo Agostinho dizia: A mulher é um animal que não é nem firme nem estável. Só no final do século XVIII, Diderot afirma “ a mulher é como o homem, um ser humano”. No século XIX a mulher durante a Revolução Industrial começa a reivindicar seu lugar no mundo do trabalho. Mas a burguesia não aceitava e dizia quem vai tomar conta da casa da família das crianças? Na burguesia o mais medíocre dos homens julga-se um semideus diante das mulheres, mesmo das mais brilhantes como uma presidenta da República (impeachment da presidenta Dilma, julgada e condenada pela maioria de homens do Congresso Nacional, do Senado e dos ministros do STF). Simone de B. nessa tese brilhante mostra a realidade feminina, nossas diferenças biológicas entre os homens e demonstra em seus estudos porque chamar uma mulher de fêmea é um insulto e o homem de macho é um elogio. E analisa a vida das mulheres desde sua infância até a velhice.  Finaliza com a tese que nós mulheres devemos nos orgulhar de sermos mulheres e que só com o nosso trabalho vamos nos libertar.  A mulher não precisa se afastar dos homens nem se tornar inimiga deles mas que só com autonomia econômica, social, psicológica e intelectual nos tornaremos uma mulher livre. E que “Uma mulher independente e livre, basta-se”. E é isso que os homens temem quem será sua escrava? Quem será seu brinquedo sexual? Quem vai acreditar em tudo que ele diz? Quem vai ficar calada e obediente quando ele estiver furioso? Quem vai ficar apagada para que ele possa brilhar?

 

Portanto, queridas e queridos vocês precisam ler este livro e entender que a infelicidade feminina, sua submissão e invisibilidade foi culturalmente inventada para supremacia do homem.

 

E termino dizendo rebele-se, torne-se mulher e liberte-se.

Nenhum comentário:

Postar um comentário