Djael Martins Pedro da Silva
Orientador: Moisés Monteiro de Melo Neto
RESUMO:O presente
artigo reúne análises de cunho literário sobre a obra de Tomás Antônio Gonzaga.
Em seu conteúdo estão expostos os estudos que contemplam as áreas: histórica, pois se trata de
um contexto de transformações sociais, e literária, pois a literatura
utiliza-se desta função de registro de acontecimentos passados. Através de um
detalhamento, se analisou o governo de Fanfarrão Minésio, a partir da sátira de
Gonzaga pelo personagem Critilo.
Palavras-chave:
Cartas chilenas; Sátira; GovernanteFanfarrão;
Governo
ABSTRACT:This article brings together literary analyzes of the work of Tomás
Antônio Gonzaga. In its content are exposed the studies that contemplate the
areas: historical, because it is a context of social transformations, and
literary, because the literature uses this function to record past events.
Through detail, the government of FanfarrãoMinésio was analyzed, based on
Gonzaga's satire by the character Critilo.
Keyword: Chilean letters; Satire; Bully; Government.
- INTRODUÇÃO
Este
artigo apresenta a conclusão de estudos voltados ao campo literário referente à
obra Cartas chilenas. Esta produção
da literatura é atribuída ao escritor Tomás Antônio Gonzaga, que durante muito
tempo intrigou pesquisadores sobre quem seria o autor de tal obra, chegando-se
a um consenso através de estudos estilísticos. O contexto em que esta obra foi
produzida é composto de grandiosas transformações e de conflitos políticos e
sociais. Embora o seu conteúdo aborde episódios que aconteceram às vésperas da
Inconfidência Mineira (por volta dos anos de 1789), apenas em 1940, por meio
dos estudos promovidos por Afonso Arinos e Rodrigues Lapa, onde se fizeram
comparações com a escrita de diversos
possíveis escritores, foi descoberto que o escritor desta obra seria Tomás, o
mesmo, ocupara o cargo de Ouvidor e durante o governo em questão, sofrera com
diversas contrariedades.
A
obra Cartas chilenas é composta de 13
(treze) cartas escritas em versos decassílabos, nos quais acontece a crítica a
um (des)governo comandado por Fanfarrão Minésio (nome escolhido para a
representação do governador da época do estado de Minas Gerais, o senhor Luís
da Cunha Meneses, que governou o estado até a Inconfidência Mineira). Apenas no
ano de 1863, aconteceu a publicação das cartas através de Luís Francisco da
Veiga, que se utilizou de manuscritos de seu pai que fora contemporâneo dos
inconfidentes.
Este
trabalho se dispõe a fazer uma análise das cartas
que compõem a obra, pesquisando em cada uma delas seu conteúdo e como se dá a
representação do governo no qual as personagens estão inseridas, a satírica
descrição do Poder Público em sua medíocre administração, os desmandos dos
membros que compõem aquela gestão, a representação de Fanfarrão Minésio e a
descrição que o autor faz daquele momento histórico.
Objetivo
Analisar
a sátira na narração dos atos promovidos pelo governo, a representação das
personagens e as críticas que são levantadas contra os desmandos do governante.
Situar
a obra em um contexto de transformações mundiais e a recepção de influências de
movimentos como o iluminismo, a revolução francesa e a “necessidade” de uma
revolta separatista devido às más ações do governador.
Explicitar
e procurar entender o conteúdo narrado em cada uma das cartas e associá-lo ao
contexto em que foi produzido.
Justificativa
Colaborar
com os estudos da literatura trazendo uma (re)leitura detalhada de cada carta
com o contexto que a obra nos posiciona. Trazendo uma análise desse papel
social da literatura, que Tomás Antônio Gonzaga se utiliza para nos apresentar a
“Chile” de “Fanfarrão Minésio”.
Metodologia:
Tendo conhecimento dos objetivos que
tínhamos como meta a ser alcançados, fez-se necessário o conhecimento e a
leitura da obra em texto integral, a busca de referenciais que abordassem o
contexto histórico e professores de literatura que conhecem a obra de Gonzaga.
A leitura detalhada de cada verso acompanhada de pesquisas auxiliares e busca
de trabalhos já produzidos que giram ao redor de tal temática.
- FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
2.1 DO CONTEXTO SOCIAL, NASCE A
OBRA
A produção de uma obra literária, geralmente está relacionada e
dependente das influências do ambiente ao qual o escritor pertence. Em períodos
de grandes transformações políticas e sociais, as obras produzidas recebem influência
direta ou indiretamente do amontoado de ideias que está a borbulhar naquele
momento, e consequentemente traz em si, vestígios do posicionamento do
escritor. Sobre tais influências, Cândido afirma que“A Obra depende estritamente do artista e das condições sociais
que determinam sua posição”. (CANDIDO, 2000, p. 30)
Esta afirmação encaixa-se
perfeitamente às nossas observações sobre o conteúdo das tais “cartas”. A obra
de Tomás Antônio Gonzaga foi produzida no período compreendido como as vésperas
da inconfidência mineira. Sob os personagens Critilo e Doroteu, Tomás constrói
uma narração satírica que se objetiva a expor e criticar o governo do assim
nomeado Fanfarrão Minésio. Vivendo o contexto da inconfidência mineira, os
textos que circulavam na cidade no final do século XVIII, tinham como uma de
suas marcas a ocultação de seu autor. As personagens já mencionadas, são
pseudônimos criados para ocultar das autoridades aqueles que estavam a
satirizar o governo. Sendo assim, Critilo é um pseudônimo criado para o próprio
Tomás Antônio Gonzaga (aquele que redige as cartas que são enviadas para
Doroteu, que estaria em Madri, Espanha); Doroteu representa o escritor Cláudio
Manuel da Costa (o receptor das cartas de Critilo); e o alvo das sátiras, o
Fanfarrão Minésio representa Luís da Cunha Meneses.
O foco principal desta
obra seria apontar os casos de injustiça, corrupção, tirania, abusos de poder, administração do governo,
cobrança de altos impostos, narcisismo dos governantes e casos de nepotismo. A
obra recebe a titularidade de Cartas
Chilenas, pois aquele que as escreve (Critilo) reside em Santiago no Chile
(nomenclaturas também usadas de forma simbólica), na verdade, reside em Vila
Rica, em Minas Gerais.
2.2 – ENTRE AS INFLUÊNCIAS EXTERNAS E A ESCOLA LITERÁRIA
O
momento representado pela segunda metade do século XVIII na Europa traz uma
fase de singular importância para uma transformação cultural. Um dos principais
símbolos dessa renovação, a “Enciclopédia”
é publicada em 1751, tendo como um dos representantes, Voltaire. Esse
movimento denominado “Iluminismo” que instigou o engrandecimento das ciências,
e propôs a razão como um agente propulsor do progresso social e cultural, se
opôs radicalmente às ideias religiosas que eram propagadas na época, por serem
consideradas retrógradas. Nas “Cartas chilenas”, obra pertencente à escola
literária nomeada como “Arcadismo”, percebe-se a ruptura no estilo que se
distancia do que se convencionou como características do Barroco (escola
anterior) que prezava pelo predomínio de temas religiosos e o rebuscamento da
linguagem.
Em
meio a esse cenário de revolução cultural e elevação científica, surge o
Arcadismo, dentro da corrente neoclássica. Esse movimento literário vai reagir
contra os exageros do estilo barroco, e trazer uma literatura que seja em sua
composição mais simples e espontânea. Diante desse contexto de progresso
científico, esses novos autores não foram tão religiosos, nem expressaram
tantos problemas ligados à metafísica quantos os barrocos. Podemos perceber
através da comparação de fragmentos de obras das duas escolas literárias:
O todo sem a parte não é todo,
A parte sem o todo não é parte,
Mas se a parte o faz todo, sendo parte,
Não se diga, que é parte, sendo todo.
Em todo o sacramento está Deus todo,
E todo assiste inteiro em qualquer parte,
E feito em partes todo em toda a parte,
Em qualquer parte sempre fica o todo.
O braço de Jesus não seja parte,
Pois que feito Jesus em partes todo,
Assiste cada parte em sua parte.
Não se sabendo parte deste todo,
Um braço, que lhe acharam, sendo parte,
Nos disse as partes todas deste todo.
(Soneto de Gregório de Matos, Barroco)
|
"Acaso são estes
os sítios formosos, aonde
passava
os anos gostosos? São
estes os prados, aonde brincava,
enquanto pastava, o
manso rebanho que
Alceu me deixou?"
(Versos
de Tomás Antônio Gonzaga, Arcadismo)
|
Quadro 1
Nos
exemplos acima, é nítida uma das influências do movimento Iluminista sobre o
estilo de escrita dos autores Árcades. O arcadismo também possui outras
características, como uma visão mais sensualista da existência, um retorno à
natureza (conforme citação latina locusamoenus,
local tranquilo) e uma vida mais simples no campo. Esse bucolismo não se faz
presente em Cartas Chilenas.
Em cartas chilenas, Tomás faz da literatura um modo de combate
(influência do iluminismo, que era totalmente contra o absolutismo). A
influência iluminista francesa se apresenta de forma clara, pois, Tomás teria
se inspirado no estilo satírico de Voltaire e nas Cartas Persas,de Montesquieu, para poder nomear seu poema. Na obra
de Montesquieu, um persa visita a França e procura entender os costumes e
instituições do país, e nas comparações entre as culturas e costumes, residem
as ironias (semelhante àquilo que Tomás fará em sua obra).
2.3
– AS CARTAS 1 E 2:
ILUSÕES DE UM BOM GOVERNO
No
total, são treze cartas escritas em versos decassílabos brancos (sem rima).
Antes que se inicie a narração da primeira carta, ainda no prólogo, o autor
deixa em uma das linhas uma recomendação de finalidade da obra para os
governantes. No verso abaixo constata-se o exposto no Prólogo:“Um
D. Quixote pode desterrar do mundo as loucuras dos cavaleiros andantes; um Fanfarrão Minésio pode também corrigir a desordem de um governador despótico”.
Neste trecho, ao colocar a imagem de
Fanfarrão Minésio, o escritor lança aos governantes uma compreensão em
entrelinhas de como um bom governante não deve agir. Fanfarrão é utilizado como
um exemplo daquilo que não se deve seguir pelos responsáveis por um governo,
este pensamento se justifica nos fatos apresentados nas narrativas das cartas
que vêm em seguida.
Nos versos iniciais da primeira
carta, há a apresentação daqueles que se comunicam; Critilo, é o narrador que
escreve desde o momento da chegada de Fanfarrão para o receptor das cartas,
Doroteu. Nos primeiros sete versos, encontramos Critilo “acordando” Doroteu,
para lhe informar que lhe traz novidades importantes e que o mesmo as
classifica como “raras”. Segue um fragmento:
Versos 1 – 7 (Carta 1ª)
|
Versos 51- 55 (Carta 1ª)
|
Amigo
Doroteu, prezado amigo,
Abre
os olhos, boceja, estende os braços
E
limpa, das pestanas carregadas,
O
pegajoso humor, que o sono ajunta.
5
Critilo, o teu Critilo é quem te chama;
Ergue
a cabeça da engomada fronha
Acorda,
se ouvir queres coisas raras.
|
Escuta
a história de um moderno chefe.
Que
acaba de reger a nossa Chile,
Ilustre
imitador a Sancho Pança.
E
quem dissera, amigo, que podia
55
Gerar segundo Sancho a nossa Espanha!
|
Quadro 2
Nos
versos que se seguem após esse início que promete histórias raras e incríveis,
Critilo continua a persuadir seu amigo Doroteu, que aquilo que irá lhe contar é
até mais importante que seu descanso físico. Entre os versos 51 – 55, há um dos
primeiros momentos de crítica satírica ao governante Fanfarrão, no qual o
narrador o compara ao Sancho Pança (personagem da obra “Dom Quixote de La
Mancha), que tem como uma de suas características seus desejos de vantagens materiais.
Entre os versos 74 – 82, acontece a descrição do governante a partir da visão
do narrador.
Na carta 2ª desta narrativa,
são narrados os fingimentos que fez Fanfarrão Minésio no início de seu governo.
Também é descrito a centralização dos negócios do governo. Entre os versos 64 –
80 da segunda carta, acontecem críticas e exposição de atos promovidos pelo
governante na tentativa de uma impressão causar. Tais versos seguem anexados:
Versos
64 – 70 (Carta 2ª)
|
Versos
71 – 80 (Carta 2ª)
|
Apenas, Doroteu, o nosso chefe
65 – As rédeas manejou, do seu
governo,
Fingir-nos intentou que tinha uma
alma
Amante da virtude. Assim foi Nero.
Governou aos romanos pelas regras
Da formosa justiça, porém logo
70 – Trocou o cetro de ouro em mão
de ferro.
|
Manda, pois, aos ministros lhe
dêem listas
De quantos presos as cadeias
guardam,
Faz a muitos soltar e aos mais
alenta
De vivas, bem fundadas esperanças.
75 – Estranha ao subalterno, que
se arroga
O poder castigar ao delinqüente
Com troncos e galés; enfim ordena
Que aos presos, que em três dias
não tiverem
Assentos declarados, se abram logo
80 – Em nome dele, chefe, os seus
assentos.
|
Nos
versos acima, Critilo afirma o fingimento de Fanfarrão e lhe critica fazendo
comparações a Nero e seu governo.
|
Neste
fragmento, veem-se o início de algumas desordens, para manter boa aparência
comenda as prisões, mas, sem lei.
|
Quadro
4
No
decorrer de toda a carta 2, são mostrados variados atos promovidos pelo
governante para que em um primeiro momento se crie sobre ele, uma imagem de um
líder misericordioso e bondoso. Atos como a não punição para malfeitores e
restituição daquilo fora roubado às vítimas de próprio ouro, libertação de
presos acusados de leves crimes, bons posicionamentos públicos diante de
igrejas (para alcançar o comum populismo) e até mesmo a concessão de perdão
sobre o assassinato de uma pessoa. Anexos alguns dos citados:
Versos 85 – 94 (Carta 2ª)
|
Versos 135 – 146 (Carta 2ª)
|
85
– Mal se põe nas igrejas, de joelhos,
Abre
os braços em cruz, a terra beija,
Entorta
o seu pescoço, fecha os olhos,
Faz
que chora, suspira, fere o peito,
E
executa outras muitas macaquices
90
– Estando em parte onde o mundo as veja. Assim o nosso chefe, que procura
Mostrar-se
compassivo, não descansa
Com
estas poucas obras: passa a dar-nos
Da
sua compaixão maiores provas.
|
135
– Ao nosso grande chefe outro soldado
Por
vários crimes convencido e preso.
Lança-se
o tal soldado, de joelhos
Aos
pés do seu herói, suspira e treme,
Não
nega que ferira e que matara,
140
– Mas pede que lhe valha a mão piedosa
Que
tudo pode, que ele aperta e beija.
Pergunta-lhe
o bom chefe se os seus crimes
Divulgados
estão e o camarada,
Com
semblante já leve, lhe responde
145
– Que suas graves culpas foram feitas
Em
sítios mui distantes desta praça.
|
Quadro
5
Nos
versos acima são mostrados alguns dos atos realizados por Fanfarrão para atrair
a população para si como sendo um bom governante. Desta forma seguem as
narrações até a conclusão da segunda carta. Contudo, ainda nesta narração já
são mostrados os resultados desse fingimento:
Versos 185 – 196 (Carta 2ª)
|
Versos 263 – 268 (Carta 2ª)
|
185
– O nosso grande chefe, decisivos
Da
piedade que finge, a louca gente
De
toda a parte corre a ver se encontra
Algum
pequeno alívio à sombra dele.
Não
viste, Doroteu, quando arrebenta
190
– Ao pé de alguma ermida a fonte santa,
Que
a fama logo corre e todo o povo
Concebe
que ela cura as graves queixas.
Pois
desta sorte entende o néscio vulgo
Que
o nosso general lugar-tenente,
195
– Em todos os delitos e demandas,
Pode
de absolvição lavrar sentenças.
|
E
que queres, amigo, que suceda?
Esperavas,
acaso, um bom governo
265
– Do nosso Fanfarrão? Tu não o viste
Em
trajes de casquilho, nessa corte?
E
pode, meu amigo, de um peralta
Formar-se,
de repente, um homem sério?
|
Quadro
6
Nos
versos acima, é observado que Fanfarrão consegue com que o povo o veja como
alguém a se confiar, justamente aquilo que ele almejava. Já entre os versos 263
– 268, Critilo continua a satirizar o governo com duras críticas, categorizando
o governante como um “peralta” (malandro). Até a conclusão desta carta,
continuam as ações em busca da aprovação popular por Fanfarrão Minésio.
2.4 – CARTAS 3 E 4: O CETRO DE OURO PELA MÃO DE FERRO
Nas
cartas seguintes, Critilo para surpresa dos leitores, apresenta um governante
diferente daquele que nos primeiros momentos de sua chegada à Chile se mostrava
tão afetuoso para a população. Nas cartas 3 e 4, são narradas as injustiças e
violências que utilizou Fanfarrão, por causa de uma cadeia que deu início. A
partir do verso 62 da 3ª carta, se inicia a narrativa do desejo que se desperta
no governante em executar a construção desta obra.
Versos 62 – 72 (Carta 3ª)
|
Versos 126 – 135 (Carta 3ª)
|
No
seu contrário vicio, degenera
A
falsa compaixão do nosso chefe,
Qual
o sereno mar, que, num instante,
65
– As ondas sobre as ondas encapela.
Pretende,
Doroteu, o nosso chefe
Erguer
uma cadeia majestosa,
Que
possa escurecer a velha fama
Da
torre de Babel e mais dos grandes,
70
– Custosos edifícios que fizeram,
Para
sepulcros seus, os reis do Egito.
|
Para
haver de suprir o nosso chefe
Das
obras meditadas as despesas,
Consome
do senado os rendimentos
E
passa a maltratar ao triste povo,
130
– Com estas nunca usadas violências:
Quer
cópia de forçados que trabalhem
Sem
outro algum jornal, mais que o sustento
E
manda a um bom cabo que lhe traga
A
quantos quilombotas se apanharem
135
– Em duras gargalheiras.
|
Quadro
7
Nos
primeiros versos acima mostrados, é revelada a mudança de comportamento de
Fanfarrão, e sua vontade de construir uma cadeia majestosa, nos versos
seguintes é explicado como que esta construção seria para o governante um
símbolo de seu poder. Enquanto que entre os versos 126 ao 137, é mostrado um
ato de corrupção e até crime de Fanfarrão, no qual para financiar as despesas
de sua construção, “consome do Senado os rendimentos”. Além de começar a
maltratar o povo, dando ordens de se buscarem presos e inocentes para o
trabalho.
Versos
256 – 263 (Carta 3ª)
|
Versos
52 – 59 (Carta 4ª)
|
Já descarregam golpes desumanos,
Já soam os gemidos e respingam
Miúdas gotas de pisado sangue.
Uns gritam que são livres, outros
clamam
Que as sábias leis do rei os
julgam brancos,
Este diz que não tem algum delito
Que tal rigor mereça, aquele pede
Do justo acusador, ao céu,
vingança.
|
Mal o duro inspetor recebe os
presos
Vão todos para as obras; alguns
abrem
Os fundos alicerces, outros
quebram,
55 – Com ferros e com fogo, as
pedras grossas.
Aqui, prezado amigo, não se atende
Às forças nem aos anos. Mão
robusta
De atrevido soldado move o relho,
Que a todos, igualmente, faz
ligeiros.
|
Quadro
8
Nos
primeiros versos, são exibidas as “torturas” aplicadas àqueles que inicialmente
resistiram em trabalhar na construção da cadeia, alguns inocentes, outros
chamados “vadios” e tantos escolhidos pelos servos de Fanfarrão. Apresentados
são ao governante que os mandam serem castigados a cem açoites, em alguns se
perdem as contas, reiniciando para a infelicidade uma nova conta.
Na
carta 4ª, são narrados para Doroteu os sofrimentos que os escolhidos para a
construção da cadeia padecem. Nos versos acima, se mostra que após os acoites, são
direcionados ao trabalho que o Fanfarrão está de longe ciente e acompanha a
humilhação de seus governados. Seguindo a narração, mostra-se a indignação de
Critilo diante do “duro peito” que tem o chefe, trocando a vida de simples
pessoas em troca do erguimento de uma obra por capricho. Entre os versos 92 –
107 (carta 4ª), há a atribuição dos sofrimentos dos escravos a Fanfarrão que,
ciente do que se passa, permite a exploração do seu povo.
Versos 175 – 183 (Carta 4ª)
|
Versos 343 – 352 (Carta 4º)
|
Amarela-se
a cor, baceia a vista,
O
semblante se afila, o queixo afrouxa,
Os
gestos e os arrancos se suspendem;
Nenhum
mais bole, nenhum mais respira
Assim,
meu Doroteu, sem um remédio,
180
– Sem fazerem despesas em um só caldo,
Sem
sábio diretor, sem sacramentos,
Sem
a vela na mão, na dura terra
Estes
pobres acabam seus trabalhos.
|
Levanta
um edifício em tudo grande,
Um
soberbo edifício, que desperte
345
– A dura emulação na própria Roma.
Em
cima das janelas e das portas
Põe
sábias inscrições, põe grandes bustos,
Que
eu lhes porei, por baixo, os tristes nomes
Dos
pobres inocentes, que gemeram
350
– Ao peso dos grilhões, porei os ossos
Daqueles
que os seus dias acabaram,
Sem
Cristo e sem remédios, no trabalho.
|
Quadro
9
A
narrativa da carta 4ª é o desdobramento do conteúdo exibido na carta 3ª.
Todavia, nesta são exibidos os detalhes que apenas na conclusão da carta
anterior são introduzidos. São narradas as opressões que os cidadãos sofrem
para construírem a obra “símbolo” de poder para Minésio. Entre uma abordagem e
outra, são feitas reflexões sobre a ética do governante, entre os versos 146 e
150 chega-se a questionar até a divina piedade; são denunciados alguns
padecimentos, como está exemplificado no trecho acima.
Para
que se construísse tal obra de seu íntimo capricho, há pessoas que não
sobreviveram; em nome destes o próprio Critilo condena Fanfarrão em seus
escritos. Já nos versos finais (343 – 352), o narrador direciona uma crítica
sobre as vítimas, injustiças, corrupções, desmandos, crimes e outros atos
promovidos por Fanfarrão como sendo o culpado (junto com seus servos) por
tantas desgraças.
2.5 – CARTAS 5 E 6: ENTRE FESTIVIDADES E DESORDENS
Seguem-se
narradas as tiranias que executa Fanfarrão em seu governo. Nestas narrações,
acontecem as festividades de desposórios de D. João com a princesa da Espanha,
Carlota Joaquina.
Versos 30 – 36 (Carta 5ª)
|
Versos 99 – 105 (Carta 5ª)
|
Chegou
à nossa Chile a doce nova
De
que real infante recebera,
Bem
digna de seu leito, casta esposa.
Reveste-se
o baxá de um gênio alegre
E,
para bem fartar os seus desejos
35
– Quer que, a despesas do senado e povo,
Arda
em grandes festins a terra toda.
|
E,
enquanto entende que o senado zela
100
– Mais as leis, que o seu gosto, não descansa
Aos
tristes senadores não responde,
Mas
manda-lhes dizer que, a não fazerem
Os
pomposos festejos, se preparem
Para
serem os guardas dos forçados,
105
– Trocando as varas em chicote e relho.
|
Quadro
10
Nas
primeiras dezenas de versos da 5ª carta, Critilo pondera o fechamento dos
assuntos tristes narrados na carta anterior, e satiriza as novas narrações que
tem para Doroteu contar. No quinto verso o narrador classifica as futuras
narrações como “lindas” e afirma que seu remetente haverá de “soltar
gargalhadas descompostas”. Adiantando-se para o verso 30, como acima é exibido,
é narrada a chegada da “casta esposa” à nossa Chile para o casamento. Porém,
nesse belo contexto acompanha um ato que lhe tira o encanto: para custear os
gastos de tais festividades, o Fanfarrão ordena que o dinheiro seja extraído do
senado e do povo. O governante redige uma carta direcionada ao senado, na qual
relata todos os atos que por sua vontade, devem ser executados. Nos versos seguintes
são apresentadas as reações a tais desordens. Entre os versos 99 – 105, como
percebemos, é mostrado um ato que causa repulsa ao autor das cartas: vendo-se
contrariado, o governante ameaça aos senadores para que amedrontados recuem e
façam suas vontades. Assim acontece.
Nos
versos seguintes, são narradas as ameaças que fez Fanfarrão para que aqueles já
citados juntamente com o povo, acabem por fazer o financiamento dos festejos.
Versos 181 – 187 (Carta 5ª)
|
Versos 148 – 155 (Carta 6ª)
|
Chega
enfim o dia suspirado,
O
dia do festejo. Todos correm
Com
rostos de alegria ao santo templo.
Celebra
o velho bispo a grande missa,
185
– Porém o sábio chefe não lhe assiste Debaixo do espaldar, ao lado esquerdo:
Para
a tribuna sobe e ali se assenta.
|
Chegam-se,
enfim, as horas do festejo;
Entra
na praça a grande comitiva;
150
– Trazem os pajens as compridas lanças
De
fitas adornadas, vêm à destra
Os
formosos ginetes arreados,
Seguem-se
os cavaleiros, que cortejam
Primeiro
ao bruto chefe, logo aos outros,
155
– Dividindo as fileiras sobre os lados.
|
Quadro
11
Apenas
nos versos 181 – 187 da carta 5ª, Critilo anuncia o dia das festividades,
anunciando que todo o povo segue em direção ao templo para a missa da celebração.
Entre os versos anteriores e os acima destacados, o narrador exibe a série de
acontecimentos para que o senado e o povo aceitassem financiar tais
festividades. Ainda antes da chegada deste dia, entre os versos 106 – 109,
Critilo se mostra indignado com as ameaças proferidas àqueles que apenas seguem
as leis do rei. Após o anúncio da chegada deste importante dia, a carta 5ª se
destina a pensamentos e diálogos filosóficos de Critilo a Doroteu.
Na
carta 6ª, como o exposto acima, continuam as narrações das festividades
iniciadas na carta anterior, todavia, nesta são focadas além das comemorações,
as confusões causadas neste evento. Entre os versos 156 -162 é enfocada a falta
de postura de um chefe de grande representatividade como Fanfarrão. Entre os
versos 182 – 199 são mostrados presentes que o chefe recebe com ausência de
bons modos. Adiantando-se as narrações (que focam em outras más posturas do
chefe), chegamos nos versos 314 – 316, os quais Critilo pede uma pausa para
relatar um fato que excita afetos de ódio e raiva:
Versos 317 - 327
|
Versos 426 – 434
|
No
dia. Doroteu, em que se devem
Correr
os mansos touros, acontece
Morrer
a casta esposa de um mulato,
320
– Que a vida ganha por tocar rabeca;
Dá-se
parte do caso ao nosso chefe
Este,
prezado amigo, não ordena
Que
outro músico vá em lugar dele
A
rabeca tocar no pronto carro;
325
– Ordena que ele escolha ou a cadeia
Ou
ir tocar a doce rabequinha
Naquela
mesma tarde, pela praia.
|
Embora!
sacrifica ao próprio gosto
As
fortunas dos povos que governas;
Virá
dia em que mão robusta e santa
Depois
de castigar-nos, se condoa
430
– E lance na fogueira as varas torpes.
Então
rirão aqueles que choraram,
Então
talvez que chores, mas debalde.
Que
suspiros e prantos nada lucram
A
quem os guarda para muito tarde.
|
Quadro
12
Exatamente
como está exposto no verso acima. Ciente da morte da esposa de um mulato, no
dia da festividade, Fanfarrão despreza as dores deste servo e o obriga a ir ao
trabalho, deixando o cadáver de sua esposa para outro momento. Contudo, além da
falta de sensibilidade, ameaça-o de ir preso, caso não lhe obedeça às ordens.
Esta é uma das atrocidades mostradas durante as festividades. Nos versos
seguintes (365 – 384) encontra consolo o viúvo, pois pensa que ganhará dinheiro
para fazer o velório e enterro de sua amada, todavia, em sua frieza o
governador, engana-o e paga-lhe com um embrulho do qual se descreve o seguinte:
“Assim o bom viúvo discorria/ Quando pega no embrulho, e mal o rasga/ Encontra,
Doroteu, confeitos grandes/ Encontra manuscrito e rebuçados”.
Nos
próximos versos continua-se a narração das festividades e das judiações
promovidas. Já nos versos finais (426 – 434) há um direcionamento a Fanfarrão.
Critilo mostra uma não sensibilidade por um possível arrependimento da parte de
Fanfarrão. De tal forma, encerram-se as cartas que contam entre festejos e
desordens, as atrocidades de Fanfarrão Minésio.
2.6- CARTAS 7 E 8, NARRANDO ALGUNS ATOS E CORRUPÇÕES
Seguindo as narrações, o
conteúdo que predomina nas cartas 7ª e 8ª, são voltados para a narração de
corrupções do governador. Sendo a carta 7ª a mais curta de todas as 13 que
compõem a obra, com apenas 92 versos, inicia-se sem um subtítulo. Nesta carta
são apontadas algumas decisões do governador Fanfarrão.
Versos 20 – 24 (Carta
7ª)
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Versos 66 – 76
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Maldito, Doroteu,
maldito seja
O pai de Fanfarrão,
que deu ao mundo,
Ao mundo literário
tanta perda,
Criando ao hábil filho
numa corte,
Qual morgado, que
habita em pobre aldeia!
|
Não lucra, doce amigo, o nosso
chefe
Somente em revogar os extermínios
Que fazem os ministros: ele mesmo
Ordena se despejem os ricaços,
70 – Ainda que estes vivam sem
suspeita
Do infame contrabando. Desta sorte
Os obriga, também, a vir à tenda
Comprar, por grossas barras, seus
despachos.
Todos largam, enfim, e todos
entram
75 – No vedado
distrito, sem que importe
Haver ou não haver de
crime indicio.
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Quadro 13
Nos primeiros versos desta carta, Critilo começa por expor um dos
primeiros atos que serão acusados com mais fervor na carta seguinte, se
tratando de corrupção, na qual beneficia (financeiramente, principalmente)
aqueles que lhe apoiam em suas atitudes (versos 3-12). Em seguida, não disfarça
sua repulsa por Fanfarrão (versos 20-24). Ainda nesta carta, são abordados
alguns questionamentos para que em seguida (nos versos 66-76) seja narrados
alguns outros atos do governador.
A carta seguinte (8ª) se dedica a denunciar as corrupções do
governo de Fanfarrão. Entre as várias narrações de corrupção, algumas serão
aqui transcritas:
Versos 157 - 163
(Carta 8ª)
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Versos 178 – 186
(Carta 8ª)
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A sábia lei do reino quer e manda
Que os nossos devedores não se prendam.
Responde agora tu, por que motivo
160 – Concede o grande chefe que tu prendas
A quantos miseráveis te deverem?
Porque, meu Silverino? Porque largas,
Porque mandas presentes, mais dinheiro.
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Porque, por que razão o nosso chefe
Consente que tu faças tanto insulto,
180 – Sendo um touro, que parte ao leve aceno?
Porque, meu Silverino? Porque largas
Porque mandas presentes, mais dinheiro.
A lei do teu contrato não faculta
Que possas aplicar aos teus negócios
185 – Os públicos dinheiros. Tu, com eles,
Pagaste aos teus credores grandes somas!
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Quadro 14
No primeiro recorte acima, Silverino faz referência a um dos
servos do governante. O narrador expõe o que dita a lei do reino e em seguida
mostra um dos atos que Fanfarrão promove em troca de presente e dinheiro. Não
apenas neste episódio, mas também em outros anteriores e posteriores, Fanfarrão
se coloca acima das leis para que possa ter algum benefício desta forma.
No segundo recorte, mostra-se o mesmo funcionário. Desta vez, ele
transfere o dinheiro público para quitação de dívidas pessoais, um ato
considerado crime. Fanfarrão que disto tem conhecimento, não lhe aplica
punição, colaborando com esse ato de corrupção. Como achando nosso governante
não suficientes tais desordens, para fingir ao monarca que está administrando
bem as cobranças a ele pertencente, envia soldados aos devedores exigindo o
pagamento e quanto àqueles que não o podem fazer, manda-os à cadeia.
Versos 202 – 208
(Carta 8ª)
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Versos 246 – 257
(Carta 8ª)
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Pretende, Doroteu, o
nosso chefe
Mostrar um grande zelo
nas cobranças
Do imenso cabedal que
todo o povo,
205 – Aos cofres do
monarca, está devendo.
Envia bons soldados às
comarcas,
E manda-lhe que
cobrem, ou que metam,
A quantos não pagarem,
nas cadeias.
|
Agora, Fanfarrão,
agora falo
Contigo, e só contigo.
Por que causa
Ordenas que se faça
uma cobrança
Tão rápida e tão forte
contra aqueles
250 – Que ao erário só
devem tênues somas?
Não tens
contratadores, que ao rei devem,
De mil cruzados centos
e mais centos?
Uma só quinta parte,
que estes dessem,
Não matava, do erário,
o grande empenho?
255 – O pobre, porque
é pobre, pague tudo,
E o rico, porque é
rico, vai pagando
Sem soldados à porta,
com sossego!
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Quadro 15
O segundo recorte é um direcionamento que faz Critilo a Fanfarrão
pelo ato seletivo que o mesmo fez, enquanto ao pobre manda soldados cobrarem
com urgência e aprisionamentos para aqueles que não o podem pagar, sendo que
tais pessoas simples possuem pequenas dívidas; enquanto que os ricos que muito
devem, recebem o privilégio de sem nenhum soldado a sua porta, pague quando
puder e como o quiser. Segue-se até a conclusão desta carta, outras narrações
de desmandos e corrupções.
2.7- CARTAS 9 E 10, MAIORES DESORDENS DO SEU GOVERNO
As cartas seguintes (9ª
e 10ª) se dedicam a mostrar do governo de Fanfarrão, as maiores desordens. Na Carta
9, Critilo faz algumas considerações relacionadas às desordens no governo das
tropas. O primeiro fragmento mostra uma sátira acusatória referente a um fato,
no qual um “indigno soldado” deixa um homem quase morto a punhaladas pelas
costas, e o chefe não o pune como deveria. No segundo fragmento mostra-se a
venda de cargos, neste quesito, Fanfarrão não elege por experiência ou boa
prestação de serviço, mas, como é narrado em versos posteriores, lhe interessa
o valor pago pela vaga.
Versos 80 – 90 (Carta
9ª)
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Versos 116- 130 (Carta
9ª)
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Meu caro Doroteu, o nosso chefe
É muito compassivo, sim, bem pode
Oprimir os paisanos inocentes
Com pesadas cadeias, pode, ainda,
Ver o sangue esguichar das rotas costas
85 – À força dos zorragues, mas não pode
Consentir que se dê, nos seus soldados,
Por maiores insultos que cometam,
A pena inda mais leve: assim praticam
Os famosos guerreiros, que nasceram
90 – Para obrarem, no mundo, empresas grandes.
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Tens visto, Doroteu, o como o chefe
Os delitos castigam; agora sabe
Da sorte que reparte, aos bons, os prêmios.
Morreu um capitão, e subiu logo,
120 – Ao posto devoluto, um bom tenente.
Porque foi, Doroteu? seria, acaso,
Por ser tenente antigo? Ou porque tinha
Com honra militado? Não, amigo,
Foi só porque largou três mil cruzados!
125 – Ah! não mudes a cor de teu semblante,
Prudente Maximino! Não, não mudes.
Que importa que comprasses a patente?
Se tu a merecias, a vileza
Da compra não te infama, sim ao chefe,
130 – Que nunca faz justiça, sem que a venda.
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Quadro 16
Entre os versos 193-201,
o ato de Fanfarrão surpreende Doroteu, ao ser narrado que o governante manda
que a todos os “varões” desde aqueles que ainda se encontram crianças até os
mais velhos, se juntem aos soldados. Entre os versos 199-201, é dito que ao ir
receber o sacramento batismal, já se utiliza a curta farda (para dizer que já
possuem um destino). Nos versos iniciais
da décima carta, de se narram os maiores desmandos deste governo, Critilo
inicia fazendo um severo julgamento, caracterizando os atos do governante como
“asneiras sobre asneiras”.
Versos 193 – 201
(Carta 9ª)
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Versos 15 – 26 (Carta
10ª)
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O coronel, valente, agarra tudo
Quanto tem, de varão, a forma e traje;
195 – Nem lhe obsta, Doroteu, que os seus soldados
Meninos inda sejam; que eles crescem,
E cresce, com os corpos, igualmente,
O santo amor das armas. Muitos, muitos,
Quando vão para a igreja receberem
200 – As águas salvadoras do batismo,
Já vão vestidos com a curta farda.
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Os mares, Doroteu, jamais descansam;
Agitam sem cessar as verdes águas,
E, depois que levantam ondas nove,
Com menos fortidão, despedem outra,
Que corre mais ligeira e que se quebra
20 – Nos musgosos rochedos com mais força.
Assim o nosso chefe não descansa
De fazer, Doroteu, no seu governo,
Asneiras sobre asneiras e, entre as muitas,
Que menos violentas nos parecem,
25 – Pratica outras que excedem muito e muito
As raias dos humanos desconcertos.
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Quadro 17
Cumprindo a junta seu dever de evitar contrabandos, prende trinta
delinquentes e os envia para serem castigados. Contudo, Fanfarrão compreende
que sem ser comunicado não devia tal órgão tomar tal atitude e decide castigar
o condutor que os levou da seguinte forma: deveria manter bem e cuidar dos 30
presos, com médicos, remédios e galinhas. Acabando o dinheiro que recebera, vai
falar com Fanfarrão, que o manda procurar forma para deles cuidar apenas.
Nos versos 127 – 132, vemos a desordem na qual Fanfarrão manda
que um corpo de militares que recebera a missão de que conduzem uma carta ao
magistrado, se hospedarem na casa de moradores de uma pobre gente. Porém, além
de hospedagem, devem dar todos os dias meia oitava de ouro, milho e capim para
os cavalos entre outros fatores. Como pode uma gente pobre que mal consegue o
que comer, sustentar a tantas exigências diárias um militar?
Versos 47- 55 (Carta
10ª)
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Versos 127 – 132
(Carta 10ª)
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Entende o nosso chefe que esta Junta
Não devia mandar aos malfeitores
Sem sua autoridade e, dela, toma
50 – O mais estranho, bárbaro despique.
Manda embargar aos presos na cadeia
Do nosso Santiago, e manda ao pobre
Do condutor meirinho que os sustente,
Assistindo, também, aos que enfermarem,
55 – Com médicos, remédios e galinhas.
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Não se concede ao pobre que sustente,
Em casa, o seu soldado; manda o chefe
Que a cada um se dê, em cada um dia.
130 – Para sustento, meia oitava de ouro, Fora milho e capim
para o cavalo;
E não entrando aqui o régio soldo.
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Quadro 18
2.8- CARTAS 11, 12 E 13, ÚLTIMAS CARTAS
As cartas finais relatam
as últimas desordens desse governo. Na 11ª são narrados os métodos maliciosos
que teve Fanfarrão para poder controlar o povo em suas vontades.
Na narração da carta 12, é descrito um episódio de
injustiça grave. Acontece em tal narração que Fanfarrão lança na prisão as
vitimas e ao malfeitor nada lhe acontece. Entre os versos 191 -208, é exposto a
acusação de uma escrava contra Ribério, o mesmo a engana, prende-a por vários
dias, dela tem dois filhos entre outros atos; Fanfarrão ao saber de tal
assunto, envia soldados, porém, não em favor da vítima e de seu protetor.
A carta de conclusão, 13ª, sem título, ficou inacabada.
Em apenas 29 versos, Critilo comenta sobre o sistema e a perversidade do
governo. Porém, após a última carta, há uma epístola a Critilo, obviamente
escrita por Doroteu. Nestes escritos, entre vários assuntos há a ratificação do
conteúdo das cartas recebidas, alguns comentários sobre marcantes episódios,
reflexões, uma certa homenagem pelos escritos recebidos e entre os últimos
versos, o trechos que segue, no qual Doroteu comenta sobre o efeito de tais
versos para os futuros governantes e durante narrações anteriores, deixa-se claro
que Fanfarrão não é um exemplo a ser seguido por outros governadores.
Versos 209 – 218 / 223
– 227 (Carta 12ª)
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Versos 193 – 199
(Epístola a Critilo)
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Agora dirás tu, amigo honrado:
"Agora, agora sim, agora é tempo,
Insolente Ribério, de nós vermos,
Para exemplo dos mais, o teu castigo.
Os soldados já marcham, já te prendem,
Já vens maniatado, já te metem
215 – Na sórdida enxovia, já te encaixam,
No pescoço, a corrente, e vais marchando
Com rosto baixo, a ver Angola ou Índia.”
218 - Devagar, devagar com essas coisas:
223 - Mas não para prenderem a Ribério,
Sim para conduzirem, entre as armas,
225 – Ao pobre Ludovino e à sua serva,
Que já buscando vão à sua casa,
Que dista desta terra muitas léguas.
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Este,
ó Critilo, o precioso efeito
Dos
teus versos será, como em espelho,
195
– Que as cores tomam e que reflete a imagem,
Os
ímpios chefes de uma igual conduta
A
ele se verão, sendo arguídos
Pela face brilhante da virtude,
Que, nos defeitos de um, castiga a tantos.
|
Quadro 19
3 – CONSIDERAÇÕES FINAIS
Defronte
deste trabalho de diagnósticoconcluído, o estudo definiu como objetivo geral uma
análise detalhada das cartas que compõem a obra. Tendo seu caráterdirecionado
aos acontecimentos históricos de um momento específico, a produção de Gonzaga
se sobressai, pois carrega em si enormesatributosda escola literária do
arcadismo, juntamente com sua singular relevância para os estudos e pesquisasliterários.
REFERÊNCIAS
BERTOLINO, Ana Maria. LUZ, Guilherme Amaral. Cartas chilenas:
transformações e tensões em versos satíricos as vésperas da inconfidencia
mineira. Disponível em: http://www.se
er.ufu.br/index.php/horizontecientifico/article/view/17906. Acesso em: 23 Jun. 2020.
BOSI, Alfredo. História
concisa da Literatura Brasileira. São Paulo: Ed. Cultrix, 2009
COUTINHO, Afrânio. A literatura no
Brasil. São Paulo: Global Editora,
2004.
GONZAGA, T. A. Obras completas de Tomás
Antônio Gonzaga. V. 1. Poesias. Cartas Chilenas. Edição
crítica de M. Rodrigues Lapa. Rio de Janeiro: INL, 1957.
MELO E SOUZA, Antônio Cândido. Literatura e Sociedade: Estudos de
teoria e história literária. São Paulo: T.A. Queiroz, 2000.
NASCIMENTO, Ana Paula Gomes. Os gêneros epistolar e
satírico nas cartas chilenas, atribuídas a Tomás Antônio Gonzaga. Disponível em: http://www.periodicos.ufc.br/entrelace
s/article/view/33983/99091. Acesso em: 28 Jun. 2020
PEREIRA, Alan Ricardo
Duarte. A relação entre história e literatura: as cartas chilenas e a sociedade colonial.
Disponível em: http://periodicos.uem.br/ojs/index.php/E
spacoAcademico/article/vie w/27885. Acesso em: 28 Jun.