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segunda-feira, 24 de junho de 2019

Viva São João! Professor Moisés Neto conversando com um intérprete do personagem MATEUS do Cavalo Marinho, em PERNAMBUCO.

Moisés Monteiro de Melo Neto com um intérprete do personagem MATEUS do Cavalo Marinho, em PERNAMBUCO, arlequinal, 23 de junho de 2019.


Na Zona da Mata Norte de Pernambuco, nos intervalos do trabalho na lavoura de cana, inventou-se uma brincadeira. Misto de teatro, música e dança, o cavalo marinho é festa de terreiro. Versão para o boi de terreiro, o brinquedo só existe na Zona da Mata Norte de Pernambuco e na Paraíba. John Patrick Murphy, no livro Cavalo-marinho pernambucano, mostra duas hipóteses para a adoção do nome do folguedo. Ele lembra que em várias versões da brincadeira aparece a frase “Cavalo Marinho dança muito bem”, que, segundo ele, se referiria a um cavalo importado do além-mar, Portugal. Outra hipótese seria a da adoção do sobrenome de um grande Capitão da Capitania Hereditária da época colonial, na região.
A brincadeira é composta por música, dança, poesia, coreografias, loas, toadas e reúne cerca de 76 personagens, todos vestidos com máscaras, fitas, espelhos. Eles estão divididos em três categorias: animais, humanos e fantásticos. Destaques para o Capitão Marinho, Mateus, Bastião, o Soldado da Guarita, Empata Samba, Catirina e Mané do Baile, ensina-nos Costa Neto.
A partir de julho já começam as apresentações do folguedo, que se estendem até o dia seis de janeiro (Dias de Reis). As execuções sempre variam em relação às cenas. Murphy aponta que a versão de Mestre Salustiano é dividida em três partes, todas marcadas pelo humor, que é o principal elemento da brincadeira. Na primeira há um embate entre vaqueiros e o personagem do “capitão”, pela posse do engenho. O capitão vence a disputa e faz da brincadeira sua festa. Mateus e Bastião, ambos apaixonados por Catirina, são contratados para tomar conta da festa em homenagem aos Santos de Reis. Na segunda parte, há uma negociação com o capitão e na terceira chega o boi e Matheus o mata. Fazem o funeral do animal e depois o ressuscitam, salienta Daniela Nader. Os brincantes, geralmente trabalhadores do cultivo de cana fazem apresentações nos engenhos ou sítios, na rua, em festas de santos padroeiros. Na encenação, o diálogo se alterna com a música, que é o fio condutor de toda a trama, há um vocalista principal e outros de apoio, que são acompanhados pelo “banco”, cujo instrumental é formado por rabeca, pandeiro, bagé, canzá ou reco-reco e ganzá. Os passos são rasteiros, para levantar poeira, intercalados com saltos rápidos, vigorosos. As sambadas varam a noite, pois uma apresentação completa dura em torno de oito horas, sem intervalos, complementa  Roberta Guimarães.


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