Um minuto para dizer que te amo emociona
Parte da equipe do espetáculo teatral pernambucano Um Minuto pra dizer que te amo
Há muitas formas de abraçar o espetáculo Um minuto para dizer que te amo, produção do pernambucano Matraca Grupo de Teatro, do Sesc Piedade. E analisar. A montagem vem de uma trajetória notável de reconhecimento do público e de seus pares. Carrega no currículo seis prêmios do Janeiro de Grandes Espetáculos deste ano (Melhor Diretor: Rudimar Constâncio; Melhor Atriz: Célia Regina Rodrigues Siqueira; Melhor Atriz Coadjuvante Vanise Souza; Melhor Sonoplastia ou Trilha Sonora: Samuel Lira; Melhor Iluminação: João Guilherme de Paula e Melhor Maquiagem: Vinicius Vieira.
Bem, o Prêmio Apacepe é a principal premiação na área do teatro pernambucano (outro dia me sugeriram que o Yolanda criasse uma premiação) e parece-me ser importante para a classe como instância de distinção. Não vou me ater aos procedimentos específicos de escolhas do Prêmio Apacepe que, talvez, mereçam uma outra reflexão.
A recepção dos pares ao espetáculo Um minuto para dizer que te amo é recheada de adjetivos, que tentarei evitar. A peça tematiza uma doença incurável, o Alzheimer, que atinge 15 milhões de pessoas em todo mundo. Quando ela chega muda a vida. Mas mesmo quem não tem um parente ou amigo que sofra do Mal de Alzheimer pode ser tocado pela encenação, que foi trabalhada na direção de emocionar o público.
Em cenas alternadas acompanhamos a relação de um homem velho com o seu filho e de uma mulher e sua cuidadora, separados pela doença. Amélia tenta resgatar os fios das lembranças da mãe de Lúcio.
A montagem de Rudimar Constâncio chama para camadas do real na interpretação. Mas busca outras expressões para alardear fantasmas e materializar labirintos de seres deslocados de sua memória.
A peça amplifica as fragilidades humanas. E isso é explorado com maestria pela encenação. Os canais de comunicação trazem sentimentalismo caro a todos nós. Ninguém é pleno de sua existência. Até os mais poderosos não podem prever com certeza o que irá ocorrer com seu corpo ou seu futuro.
Esse sentimento, meio esquecido, de finitude, é convocado na construção da peça e isso causa efeitos na plateia. Ver o declínio das funções cognitivas dos personagens e o impacto disso na cena pode atinge os nervos da plateia.
Um minuto para dizer que te amo merece uma análise mais detalhada – e espero que a encenação tenha uma vida longa – mas por ora digo algumas palavras sobre o elenco.
A composição de Célia Regina Siqueira para a personagem da velha é convincente e comovente. Nos gestos e andar, na fala, nos gritos, nas atitudes pueris ou nas vontades cheias de si. É uma interpretação para se aplaudir de pé. Existe possibilidade de identificação do espectador com aquela figura.
Carlos Lira também se supera no personagem do pai deslocado de sua própria história de vida. É um grande ator pernambucano e tem uma atuação tocante, com nuances de leveza e olhares perdidos. Seus deslocamentos falam com todos os sentidos da ameaçadora solidão. Vanise Souza faz uma cuidadora entre amorosa e enérgica. Também estão na peça Edes di Oliveira, Douglas Duan e Lucas Ferr.
O texto de Luiz Navarro com dramaturgismo de Moisés Monteiro de Melo Neto compõe esse mosaico afetivo. Mas tem falas que atritam o ouvido (ou a minha sensibilidade) quando fazem uso de frases feitas depois da exibição de uma potente malha poética. A música ao vivo é executada e cantada pelos atores. O cenário de Séphora Silva trabalha com uma simbologia de esconder e descortinar, que dá margem para uma viagem lúdica pelo tempo da memória. A maquiagem/ caracterização de Vinicius Vieira ganha uma importância grande nessa peça, já que se torna pele e alma dos atores.
Nenhum comentário:
Postar um comentário