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sábado, 2 de agosto de 2025

SUSPENSE, TERROR E HORROR: SUAS DIFERENÇAS, NOMES MARCANTES E O QUE SE REPETE

 

TERROR E HORROR: SUAS DIFERENÇAS, NOMES MARCANTES E O QUE SE REPETE

                               João Batista da Silva

                               Moisés Monteiro de Melo Neto





RESUMO Uma  análise dos subgêneros literários

terror e horror, De forma mais estendida, buscamos analisar suas diferenças, sua

expressão na obra de nomes marcantes, tal qual inferimos algumas repetições

constantes nos subgêneros. Para isso,a princípio, buscamos realizar um caminho,

atravessando um pouco pela conceituação dos subgêneros, voltando nosso olhar

algumas obras contemporâneas, explanando suas relações com o gótico,

apresentando um pouco da biografia dos autores escolhidos e, enfim, analisando as

repetições presentes.

Palavras-chave: Terror e horror, Diferenças, Autores.

INTRODUÇÃO

Uma vez que estamos a tratar de terror e horror, se faz necessário sabermos de

seus contextos histórico e cultural de surgimento. Uma obra que contextualiza de

forma concisa, simples e didática a origem do horror é ‘O Horror sobrenatural em

literatura’ de Howard Phillips Lovecraft, que além de ser um teórico essencial para

esta análise, também é um autor marcante, do qual falaremos e utilizaremos sua obra

como objeto de análise. Na obra, o contexto que é dado para o surgimento do horror

é descrito da seguinte maneira:

O terror cósmico aparece como ingrediente do mais remoto

folclore de todos os povos, cristalizado nas mais arcaicas baladas,

crônicas e textos sagrados. Na verdade, foi feição proeminente da

complexa magia cerimonial, com seus ritos de conjuração de trasgos e

demônios, que floresceu desde os tempos pré-históricos e alcançou seu

máximo desenvolvimento no Egito e nos países semitas. Fragmentos

como o Livro de Enoque e as Claviculae de Salomão ilustram bem o

poder do fabuloso na mentalidade oriental antiga, e sobre coisas como

essas fundaram-se sistemas e tradições duradouras cujos ecos

obscuramente estendem-se ao presente. (LOVECRAFT 1973)

Quanto ao terror, de modo específico, é tido como objeto de estudo de David

Simpson em ‘States of terror: history, theory, literature’. Na obra, o autor dedica-se a

analisar o terror em história, teoria e sua reflexão na literatura. Não deixa, de forma

alguma, de falar sobre o terror no seu aspecto político-social como vemos no

seguinte trecho:

Ao contrário do terrorismo, fruto neólogo do terror que veio ao mundo em 1794, o

terror tem sido durante séculos um atributo de vários homens e deuses ameaçadores ou

vingadores. No século XVIII, tornou-se a peça central de uma experiência estética e

altamente considerada como a essência do sublime. Depois de 1794, assumiu uma identidade

predominantemente política e foi inicialmente considerado um componente-chave do poder

do Estado e, depois, algo que os agentes não-estatais dirigiam ao próprio Estado. Tem sido o

leitmotiv dos movimentos de libertação nacional e o bicho-papão dos interesses do Estado

que procuram denegrir esses mesmos movimentos. Em todos os momentos, foi algo que vem

de fora e, ao mesmo tempo, o sentimento ou emoção interior que essas forças externas

despertam em nós. (SIMPSON 2019)

Pouquíssimo se fala acerca de terror e horror no ambiente escolar, uma vez

que se trata de um tema altamente polêmico. Durante a história da humanidade, o

medo e o pavor sempre foram segregados no mundo acadêmico, ainda que sempre

estivessem presentes, de uma forma ou de outra, no dia a dia das diversas

comunidades que formaram e ainda formam a população global. Isso se deve, de

fato, a uma série de preceitos e preconceitos perante os subgêneros literários terror e

horror, que a cada dia que se passa mostram-se como uma ampla fonte de estudos.

DESENVOLVIMENTO

Diferença entre o terror e o horror

O horror é um gênero que explora mais da violência extrema, da carnificina, do grotesco.

O horror também se aprofunda nas profundezas da psique humana, explorando medos

primordiais e desconhecidos. Além da violência extrema, ele aborda temas como o sobrenatural,

o desconhecido e a vulnerabilidade, despertando emoções intensas e reflexões sobre o lado

sombrio da existência.

O terror é o desconhecido, coisas que não podemos explicar. Isto é, o medo em sua

própria representação. É a trama sombria que se tece entre a imaginação e a realidade,

desvendando os recantos mais obscuros da mente humana e revelando os segredos enterrados na

obscuridade da existência.

Observe a citação a seguir:

“O terror é a dança das sombras, onde a mente se perde nos corredores do desconhecido, e

somente através do medo descobrimos o que verdadeiramente nos assombra”

- Edgar Allan Poe

-

Essa citação de Edgar Allan Poe destaca como o terror está ligado à exploração do

desconhecido e da mente humana. A metáfora dos "corredores do desconhecido" sugere uma

jornada assustadora, e a menção do medo revelando nossos verdadeiros temores ressalta a

natureza psicológica do horror. Poe captura a ideia de que o terror não é apenas sobre eventos

assustadores, mas também sobre confrontar os aspectos mais profundos e assombrosos de nós

mesmos.

Agora, observe o próximo texto, no qual se mostra uma citação de Stephen King:

"O terror é o eco do desconhecido, reverberando nos cantos mais escuros da imaginação,

enquanto o horror é a expressão visceral do medo que nos prende, desvendando nossos

receios mais profundos diante do inexplicável." - Stephen King

Essa citação de Stephen King evoca a ideia de que o terror reside no desconhecido,

ecoandonas profundezas da imaginação. Comparativamente, o horror é apresentado como a

manifestação concreta do medo, revelando os receios mais profundos quando confrontados

com o inexplicável. Ambos, Poe e King, exploram a interseção entre a mente, o desconhecido

e o medo, mas enquanto Poe destaca a jornada interna, King enfatiza a manifestação tangível

do terror na realidade.

O ponto de encontro entre o terror e o horror

Nas narrativas, a interseção entre terror e horror ocorre ao explorar profundamente

nossos medos. O terror instiga o medo ao sugerir m elementos assustadores, enquanto o

horror busca provocar reações intensas por meio de eventos impactantes. Juntos, esses

elementos contribuem para histórias que mergulham nas complexidades dos nossos temores,

seja de maneira psicológica ou por meio de momentos visceralmente impactantes.

Stephen King é um mestre em explorar os dois gêmeos juntos. Em obras renomadas

como “It: A Coisa” e “O Iluminado” o autor mergulha de maneira detalhada no horror e no

terrror, construindo uma trama complexa que além de provocar sustos intensos, também

desafia a psique do leitor, revelando os medos ocultos nos recantos mais sombrios da

imaginação humana.

O terror e o horror como subgêneros em expansão

É de consenso que subgêneros terror e horror estão se expandindo para novas mídias.

Para checar isso, basta olharmos para games, videoclipes, séries televisivas, filmes, músicas,

entre diversos outros. Há anos, o terror e o horror deixaram de ser puramente literários.

O terror e o horror nos games

Os jogos, sejam eles de console, mobile ou desktop, têm ampliado sua relação

com a literatura. Temos exemplos como Castlevania, que trás, em sua história um dos

mais populares vampiros da literatura: Drácula. Realizado por idealizadores japoneses,

Castlevania trás um pouco do terror e do horror. Para exemplos de games mais focados no

horror, temos games como Assistente de Necrotério, que trata sobre momentos

horrizantes na vida de uma estagiária no necrotério da fictícia River Fields, onde a

personagem jogável se depara com o sobrenatural, fora o horror físico dos embasamentos.

Já um game que se abre de forma academicamente interessante para o terror é o premiado

Little Nightmares (em tradução livre, Pequenos Pesadelos), que trata da aventura de uma

pequena garota denominada Six, em tentar fugir da Bocarra, uma embarcação misteriosa

e preenchida de criaturas bizarras, ao que o jogador sente certa imersão através dos

quebra-cabeças do game.

Figura 1 - Drácula em Castlevania

Fonte: Wikipedia, 2023

Junji Ito: o horror nos mangás

Observando o cenário atual da literatura japonesa e ocidental, é marcante o quanto

os mangás estão ocupando cada vez mais espaço, deixando de se tornar uma mídia

marginalizada, estando cada vez mais próximo ao centro literário. E os mangás de terror e

horror estão a cada dia tomando mais espaço dentro da literatura de terror e horror, como

é o caso das obras do mestre do horror japonês: Junji Ito.

Ito é conhecido por sua arte excêntrica e bizarra, baseada no horror. Através de

hachuras e linhas longínquas, Ito tece histórias que brincam com o estranho, o

amedrontador e o desconhecido. Algumas de suas obras mais populares são Tomie e

Uzumaki, conhecidas pelo visual macabro e por seu desenvolvimento do horror.

Figura 2 - Página da obra Uzumaki - A Espiral do Horror, de Junji Ito

Fonte: Uzumaki, 1999

O terror e o horror nos videoclipes musicais

Os videoclipes musicais não escaparam da influência expansiva do terror e do

horror. Michael Jackson, em seu famoso videoclipe Thriller, estabeleceu um modelo a se

seguir quando se ousa misturar o audiovisual musical e os subgêneros terror e horror.

Dirigido por John David Landis, também diretor do filme ‘Um lobisomem americano em

Londres’, Thriller embarca no terror e no horror de maneira profunda.

Figura 3 - Michael Jackson em Thriller

Fonte: A União, 2022

O terror para Stephen King

Em 1981, Stephen King lançou seu décimo livro de não ficção, dessa vez, saindo

um pouco de sua rotina monótona de narrar histórias tenebrosas. O amigo e editor do

autor sugeriu que o mesmo escrevesse uma obra que explorasse o gênero do terror em

várias formas, incluindo literatura, cinema, quadrinhos e televisão. No início, a ideia

assustou King, mas logo se tornou um desafio que ele ficou intrigado a cumprir. O livro

oferece percepções sobre o papel do medo na sociedade e examina como o horror

reflete e molda os temores coletivos.

O volume intitulado “Dança Macabra” proporciona uma análise abrangente do

gênero do horror, explorando os componentes fundamentais e as manifestações do medo

em diversas formas artísticas. Além disso, King investiga a relevância cultural e

psicológica do gênero, oferecendo insights sobre o seu papel na expressão de ansiedades

sociais e individuais, proporcionando assim uma compreensão aprofundada do impacto

do horror na cultura popular.

O horror de Clive Barker

Clive Barker, renomado no universo do horror, destaca-se como um mestre da

narrativa que transcende as fronteiras convencionais do gênero. Sua marca registrada é a

capacidade de criar mundos extraordinários e surreais, onde o sobrenatural se entrelaça

com elementos fantásticos de maneira visceral.

O horror de Barker não se limita a provocar apenas o medo, mas também a

explorar a complexidade dos desejos humanos, mergulhando nas profundezas da psique

humana. Suas histórias desafiam as expectativas, muitas vezes incorporando elementos

grotescos, eróticos e filosóficos, criando assim uma tapeçaria narrativa rica em nuances.

"Evangelho de Sangue" é uma das obras icônicas de Barker, onde ele apresenta

contos que mergulham nas sombras da imaginação, explorando territórios

desconhecidos do macabro e do surreal, frequentemente mesclando o horror visceral

com elementos de fantasia e um toque de erotismo.

Psicose e sua influência no gênero horror

"Psicose", dirigido por Alfred Hitchcock, deixou uma marca indelével no

gênero de horror, transformando as expectativas cinematográficas da audiência. Lançado

em 1960, o filme ousou desafiar convenções ao explorar a psicologia humana como uma

fonte primária de terror. A reviravolta impactante em torno do personagem Norman

Bates, com sua complexa relação com a mãe, redefiniu a narrativa de suspense,

influenciando gerações de cineastas.

Hitchcock demonstrou maestria ao criar uma atmosfera de tensão, não apenas

por meio de elementos visuais, mas também ao explorar a trilha sonora de Bernard

Herrmann como uma ferramenta essencial na construção do medo. A música marcante

tornou-se um padrão de referência para futuros filmes de horror.

Ao desafiar expectativas narrativas e explorar os recônditos da psique humana,

"Psicose" abriu caminho para uma abordagem mais psicológica e complexa no horror

cinematográfico.

Figura 4: Anthony Perkins como Norman Bates, em Psicose

Fonte: Thought Catalog, 2017

O gótico

É de suma importância tratar sobre o gótico quando se está tratando com terror

e horror, uma vez que foi este movimento que resolveu, de vez, adotar o terror e o

horror como parte integrante de sua literatura.

A gótico tem sua origem com os povos godos, povos de origem germânica,

nascidos por volta do século II a.C. A palavra gótica se referiu a primeira língua escrita

desses povos. Os godos, através das fontes históricas conseguidas através do tempo,

tiveram a imagem associada a de um povo atrelado à superstição e à guerra. Não eram

bem vistos pelos romanos, que os consideravam um povo bárbaro.

O gótico, como movimento artístico, se deu por volta do século XII, como

uma forma de definir um estilo arquitetônico marcante da época. Gárgulas, vitrais e

arcos ogivais são algumas das características mais marcantes desse estilo arquitetônico

que pode ser observado em igrejas principalmente, mas também em outros tipos de

construções. A popular Catedral de Notre-Dame de Paris é sem dúvida um dos maiores

exemplos de arquitetura gótica, sendo extremamente popular e um dos pontos turísticos

parisienses.

Figura 4 - fachada ocidental da Catedral de Notre-Dame de Paris

Fonte: Wikipedia, 2013

É importante denotar que o gótico marcou-se como um movimento artístico

importantíssimo no fim da idade média. A arte gótica passou a referir-se à arte dos

godos, que vinha em contraponto aos ideais romanos.

A literatura gótica veio surgir com o Iluminismo, na Imglaterra, mais como

uma reinvenção dos princípios neoclássicos, mais ainda como uma reação ao

racionalismo neoclássico que negava todo e qualquer tipo de manifestação do

sobrenatural. Sendo assim, na segunda metade do século XVIII, o gótico irá encontrar

seu protagonismo no romance.

Edgar Allan Poe, Arthur Conan Doyle e Howard Phillips Lovecraft: uma breve

introdução

Edgar Allan Poe nasceu nos Estados Unidos, em 1809. Conhecido por seu

poema O Corvo, que foi traduzido para o português por Fernando Pessoa e Machado de

Assis, é um dos mestres do horror, explorando a psique humana e se tornando um dos

maiores contistas da história da humanidade. Ficou popular por contos como O gato

preto, O coração delator e A máscara da morte vermelha.

Conhecido por seu detetive, Sherlock Holmes, Arthur Conan Doyle, teve seus

momentos de foco no terror e no horror, através de contos como O gato brasileiro e O

caso de Lady Sannox. Uma característica clara de Doyle é a de ter explorado o

sobrenatural numa época em que o gótico se mantinha vigente. Outra característica

marcante é o fato de sua obra ter sido muito afetada por sua fé no Espiritualismo.

Howard Phillips Lovecraft, conhecido mais apenas como H. P. Lovecraft, é um

claro mestre do horror. Muito parecido com Poe quando se refere à questão estética,

criou o Horror Cósmico, uma teoria estética baseada na monstruosidade, em criaturas

horripilantes. De grande versatilidade intelectual, Lovecraft ficou conhecido por obras

como A cor que caiu do céu.

O que se repete nas obras de terror e horror

O felino (o sobrenatural e o místico)

O felino é uma representação marcante do sobrenatural e do místico em várias

obras de terror e horror. Aqui, o termo “o felino” não veio apenas para representar o que

trás de literal, mas sim tudo aquilo envolvido com o sobrenatural e o místico, como

lobisomens vampiros, entre outros. A explicação para os felinos servirem, em muitas

obras de terror e horror, como indicação do sobrenatural como acontece em O gato preto

de Edgar Allan Poe e O gato brasileiro de Arthur Conan Doyle, é folclórica. Em

algumas partes do mundo, acreditou-se que os gatos, especialmente os pretos, eram

espíritos de bruxas presos na Terra. Até hoje, ainda há essa correlação entre bruxas e

gatos. Lovecraft fala sobre a relação entre o horror e o sobrenatural em sua obra, ‘O

Horror Sobrenatural Em Literatura’:

Bruxas, vampiros, lobisomens e duendes incubaram ominosamente na tradição oral dos

menestréis e das vovós, e não precisaram muita incitação para num passo final transporem a

fronteira que divide a ode e a cantiga da composição literária formal. No Oriente o conto místico

tendeu a assumir um colorido suntuoso e picaresco que quase o transformou em fantasia pura. No

Ocidente, onde o místico teutão descera da sua negra floresta boreal e o celta recordava sinistros

sacrifícios em bosques druídicos, ganhou uma intensidade extrema e uma atmosfera de seriedade

convincente que dobrou a força dos horrores parte expressos e parte sugeridos. LOVECRAFT

(1973)

O cientificismo

Cientificismo refere-se a uma teoria que afirma que a ciência é superior a

qualquer outro tipo de conhecimento humano. Está muito presente nas obras de Edgar

Allan Poe e H. P. Lovecraft. Um claro exemplo é A verdade sobre o caso do senhor

Valdemar de Poe.

O conhecimento enlouquecedor

Sendo uma característica marcante da obra de H. P. Lovecraft, o conhecimento

enlouquecedor se refere a uma verdade dilacerante, que enlouquece ou leva o

personagem ao suicídio.

A monstruosidade humana

Uma das maiores características do horror é a de que ele busca explorar o

pior do ser humano, o que há de mais cruel em cada um, até que ponto o ser humano

pode chegar. Essa característica é bastante presente em obras como O gato preto e O

barril de Amontillado, ambos os contos sendo da autoria de Poe.

O papel crucial da ambientação

Na maior parte das obras de terror e horror, a ambientação é essencial para

um contexto que gere maior medo, que aterrorize. Edgar Allan Poe confirma isso em

sua obra ‘Filosofia da composição’:

Determinei, então, colocar o amante em seu quarto - num quarto para

ele sagrado, pela recordação daquela que o freqüentara. O quarto é

apresentado como ricamente mobiliado, isso na simples continuação

das idéias, que eu já tinha explanado, a respeito da Beleza como a

única verdadeira tese poética. POE (1846)

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Em síntese, explorar o terror e o horror revela um panorama intrigante de emoções e

reflexões. Autores como Poe e King habilmente costuram histórias que vão além do simples

susto, adentrando os medos mais profundos da mente humana. Esses subgêneros não apenas

entretêm, mas também servem como espelhos que refletem nossos temores mais universais,

proporcionando uma experiência literária e cinematográfica que ecoa além do momento presente.

Concluímos, então, que o desenvolvimento de estudos para a área dos subgêneros de terror

e horror são essenciais para o conhecimento literário não somente atual, mas também do passado.

Explorar o horror e o terror é explorar o medo humano e, naturalmente o desconhecido. Sendo

importante sempre denotar que é no desconhecido que se encontram as novas descobertas que

mudam não só o dia a dia da humanidade, como também a humanidade de forma intrínseca.

REFERÊNCIAS

KING, Stephen. Dança Macabra. Rio de Janeiro: Objetiva, 2007.

COSTA, Leandro Carlos da. (2010). "A construção do medo: literatura de horror e cinema de

terror". Editora InterSaberes.

BESSONE, Yasmine K. (2009). "A representação do terror na literatura e no cinema". Editora

Multifoco.

POE, Edgar Allan. “A Filosofia da composição”. In: BARROSO, Ivo (org.). “O Corvo” e suas

traduções. Rio de Janeiro: Lacerda Editores, 2000 (2ª edição).

LOVECRAFT, Howard Phillips. O horror sobrenatural na literatura. Rio de Janeiro: Francisco

Alves, 1987.

PEREIRA, Rita de Cássia Mendes; LIMA, Maiane Paranhos de. Considerações sobre o gótico e

seus reflexos na sociedade: uma leitura de Drácula, de Bram Stoker. R. Letras, Curitiba, 2018.

FRANÇA, Júlio. O gótico e a presença fantasmagórica do passado. Anais eletrônicos do XV

encontro da ABRALIC 1, 2016..

KING, Stephen. O Iluminado. Editora Nova Cultural: São Paulo, 1987.

KING, Stephen. It: a coisa. Editora Suma: 1° ed. São Paulo, 2014.

BLOCH, Robert. Psicose. Editora Darkside: São Paulo, 2013.

BARKER, Clive. Evangelho de sangue. Editora Darkside: São Paulo, 2016.

sexta-feira, 20 de junho de 2025

Moisés Monteiro de Melo Neto fala sobre CONTRACULTURA



contracultura é coisa que sempre existiu? Sim, na mitologia grega temos, por exemplo, Prometeu; no Éden, Satã, mitos quase incomparáveis. Na filosofia, a gente, como Sócrates, nos leva a ver que o que não muda é a mudança. Continua a surfar no caos, que é a realidade perturbada pela revolução, como um meme que se multiplica na internet. Resumindo, contracultura é tão velha quanto a civilização. Líderes como Jesus são exemplo disto, com ele um catalisador de mudanças. A busca é mais por liberdade do que por luta, por mais que esta esteja ligada a tudo. Contracultura é coisa perigosa e sempre sofre punição. Faz parte. É como uma heresia erótica. 


Moisés Monteiro de Melo Neto, escritor brasileiro adepto da contracultura


Na psicanálise, talvez Jung seja o exemplo mais claro da contracultura. Da Grécia até chegar em 1922 com James Joyce, o escritor irlandês, temos um notável exemplo de uma linguagem alternativa que o contraculturalismo evolui. Até o pós-Hiroshima e muito além. Contracultura só existe como vivida. Eis o seu resumo enquanto possibilidades. Enquanto expressão dinâmica. O julgamento de Sócrates, por exemplo, é a essência da contracultura. As coisas que eu descobri ainda me fazem tremer. Espero que o meu legado seja minha luta pela autonomia contracultural. Os deuses são todos humanos demais, graças a Deus. Individualidade e liberdade devem andar juntas. Frustremos expectativas.

terça-feira, 10 de junho de 2025

CORDEL OSWALD DE ANDRADE Autor: Moisés Monteiro de Melo Neto

 

CORDEL OSWALD DE ANDRADE

Autor: Moisés Monteiro de Melo Neto




1

Lira Neto escreveu biografia de Oswald

Eita! que confusão!!

e tudo se viram ao avesso

incendiou literário salão

o danado do Oswald

provocou nova explosão.

 

2 Mamãe volta a dar ordens

 papai quis o prazer proibir

Mas o antropófago-mor

não demorou a tudo demolir.

Eita, defunto tão vivo!

Da penumbra a ressurgir.

 

3 Do fundo da velha São Paulo

com o Pirralho zumbi e luzir.

O bronheiro mais penetrado.

Eita! Oswald gênio a bulir

Cheio de mulheres, ele volta

Para esse chato Brasil sacudir

 

4 Lira Neto traz assim outra vez

um brasileiro danado de volta

Sobrinho de Inglês de Souza.

Redizendo extinto revolta.

Que rimas irei arrumar.

Pra esse exército sem escolta?

 

5 Surgem velhas personagens

Bilac? Lobato já se apronta

Pra ressurgir literatura Brasil.

Alberto de Oliveira, sem afronta.     

Parnasianos? Vanguarda europeia.

É fava que nem se conta!

 

6 Oia só tem  menina bulindo.

Tem  foto de bebê com pitoquinha

Mamãe não pode nem saber.

Do que ele quer com a mocinha.

Eita! que O.  Júnior é danado...

E não quer bater só a cabecinha.

 

7 Aos 26? Já duas esposas

Kamiá França e tem a Landa

O bicho tá é danado

Aqui tem grande demanda

Se cuide caro leitor.

É fogo de parente à quitanda.

 

8 E houve mulher disputada

Com os peitinho nascendo, melhor

Oswald a escrever peças em francês

Enquanto na Europa guerra é estupor

De pilhéria em pilhéria vai

Esticando de galhofa, o melhor.

 

9 Idealização da pátria, amor?

Maeterlinck se contorça

O sublime escapa das brechas

O cordel aqui se esforça

Mas não cai na esparrela

Sem mostrar a sua força

 

10 Tem algo de João do Rio

Nas primeiras peças de Oswald

escritas em francês, e aí

traz força, chuta o balde

não montadas, falam mal

Público comum? Debalde

 

11 Patriarcal formação tem.

E disso não se exime.

Nas memórias que escreveu 

A peste não se redime

Ele tenta raptar a menor Landa

Ela rejeitou, nem se abre nem reprime

 

12 Em 16: duas peças em francês

Dele Guilherme de Almeida, é

Oswald foi ao quarto de Isadora Duncan

Famosa bailarina Americana, excitada até

Entregou seus livros a ela

Que dançou pra ele, beberam, pois é...

 

13 Os mais arranjou para Landa

Carmen Lídia, sua menor, adorada

Dançar pra elite de São Paulo

Em casa de Ricos, a danada

depois dela fracassar no Rio, 

São Paulo o protegia, ela agrada

 

14 Festa chique, toda em francês

Homenagem ao Brasil, Oswald conseguiu

ainda não transou com a menor

Mamãe ainda não lhe permitiu

Mãe morta, pai doente, Oswald 

ia vendendo terras, sem dó seguiu.

 

15 Do filho com a francesa Kamiá

 ele sempre falava ela ficava em Santos

Ele na capital, mal negociante

 causando ao seu pai desencanto

 ele o chamava de infantil, ele só na Landa

 que foi a justiça contra a mãe, prantos.

 

16 Escândalo no Rio e São Paulo

Carmen Lídia, Landa, a vítima, só

Os avós abusavam dela

Queria ir pra um convento, que nó

 Oswald arquitetou isso tudo

O plano, esse trololó

 

17 Estaria Landa grávida?

Não. O  exame deu negativo.

O circo montado continuou

Nojo e ódio efetivo

Não queria mais a avó

Era esse o indicativo.

 

18 Mas Landa, casou com outro

foi professora de balé

E Oswald “arranjou” outra

A menina Deise, é 

Daisy,  é Maria de Lourdes

Estilosa, cabelo curto, né?

 

19 Que opinião tinha dos homens?

Canalhas, e as mulheres? Também!

A normalista ganhou Oswald

Ele dois sete, voltou ao direito, bem

Dayse é Miss Cyclone (filme)

A garçonnière sem nhem nhem nhem !

 

20 Ele começa a escrever Miramar

Neologismos, cortes, doidice.

Grande revolução literária

Romance seis anos, artífice

Cosmoronava paisagens e fatos

Óbvias esquisitices.

 

21 Temas viagens transatlânticas

Metrópoles, Europa, coloquial

Pouco adjetivada prosa

Lobato zombou futurismo?  Uau!

Bela velocidade? isso!

Di Cavalcanti desenha pra jornal

 

22 Mas Miramar não é Quixote

Embora cite (só no jornal), o livro

Vanguardismo novo no Brasil.

Conheceu Mário de Andrade, crivo

Em a Primeira Guerra.

Digo logo, não me privo

 

23 Mário discursa retórica cívica

Pátria amor dentro do coração

Carnaúba flamulando

À Marinetti Sertão

Oswald pega o discurso e publica

O jornal selaria esta união.

 

24 Mitografia gerava Oswald

Sobre si e amigos

Afetos e desafetos

Preste atenção (abrigos?)

Tem segurança este futuro

Prenunciam perigos?

 

25 Os dois protagonistas de 22

Uniam-se ali, em dezessete

Mário lança primeiro livro

Oswald também, se ateste

Mário era Carola, Lhes digo

Livro passou batido, que pestes.

 

26 Anita Malfatti surge

Pintora vanguardista, ela era

Foi à Itália e EUA

Moça assim, o que se espera ?

Não direita com atrofia

Expressionista austera.

 

27 Recusa ao naturalismo

Foi logo se enturmando

Quilos de tinta, formidável

Arte dos grandes, falando

Europa vanguardista

Continuou expressando

 

28 Foi a Nova York

Esteve com Duchamp, a jovem

Aqui rompe academicismo

Suntuosos esdrúxulos descobrem

50 quadros exposição

Lobato deu coice, pasmem

 

29 Daisy era o pirão do menu

Ela, pra ir ao apê de Oswald

Matava aula na escola normal

Sim,  a menor chutava o balde

Poderia ser flagrada

A  ponderação era fralde

 

30 A garçonnière era um covil

Com gramofone à manivela

Tinha muita bebida, lá

Champanhe e absinto nela

Cachaça,  rapadura, ele com 28

Um rendez-vous pra ela.

 

31 Descabeladas fantasias, ali

“O perfeito cozinheiro das almas”

Era um caderno onde a turma

Registrava tudo com as palmas

Abnegados autores

Êxtase superava as calmas

 

32 Era um livro de receitas

“Xarope de dinamite era uma

(de Oswald) Dulcineia ou Dulce nua

Zombava o Quixote na espuma

Cambalhotas com o espírito

Desenho moderno sexo, pluma

 

33 Fé, esperança, caridade e Daisy

Diziam os homens do apê, ali

Sim a quarta virtude teologal

O que Deus nos deu aqui

Tempestade clássica de Virgílio

Daisy, morango, ambrosia, caqui

 

34 Grande vício desta vida

Até Lobato dela se inebriou

Ela completou 18 anos

Casavam antes dos 20, pensou

Ela estava em outra

“Petit-Pois” do amor, Ervilha, show

 

35 A primazia era de Oswald

Guerra rolava na Europa

Alemãs bombas, Paris

Surge Miramar, Oswald topa

dialoga com primeiro romance

Mistura literária galopa

 

36 O filho dele com Kamiá

Francesa que trouxe ao Brasil

Em  Santos  quase morria, viveu

Orfeu, à virgem Maria, pediu

Ele entrevistou Ana Pavlova, russa

Bailarina até o Recife, viu

 

37Também entrevistou Nijinski

Disse que o russo estava louco

Daisy namora um japonês

Em São Paulo não era pouco

Tinha muito, pegou um

O covil enciumou-se, rouco

 

38 Como “O grito”, de Munch

Um grau acima de zero, junho

De dezoito na cidade

Moradores no gelo, testemunho

3 graus abaixo de zero

Daisy, mal venérea de cunho

 

39 Gripe espanhola atacou

30 milhões ali morreram

O mundo da guerra em igual

Chega 19,  melhor,  pensaram

No carnaval, Oswald brinca

Pai morre (oh!), Daisy e ele abortaram

 

40 Dizia filho não era dele

Tire, mate, fure o útero, envenene

Não é meu não quero

Casou com ela in extremis, perene

Mas morreu aos 19,

Vida bem vivida, se depene

 

41 Ele comprou um Cadillac verde

Mil novecentos e vinte

Alta uma cidade para Santos

Com amigos, sem acinte

Tem 30 anos, rico advogado

Alto luxo, arte, requinte

 

42 Três romances ao mesmo tempo

Miramar, Os condenados, Absinto

Vida real ficcionada

É verdade, eu não minto

Montava os livros como cinema

Acreditem no Oswald que pinto

 

43 Cenas distintas simultâneas

Paralelas, como Grifith, cineasta

Estilo bizarro, diz Del Picchia

Couto, autor de “Cabocla”, entusiasta

Escultor Brecheret, seu conhecido

Tal Rodin, alma e músculos, basta

 

44 Independência, Oswald

Pensou, moral e mental

E foi se articulando

Num plano sensacional

Semisselvagem sem clássico

Nem no início nem no final

 

45 Moderno o primitivismo

Neoprimitivismo, sim

Oswald e seu grupo: Zeus!

Dali para adiante:  assim!

São Paulo, eixo do Brasil

Arte moderna, aqui, enfim!

 

46 Rua Lopes Chaves, de Mário

Oswald seu carro parava

Mãe viúva, tia solteira, irmã caçula

Sebastiana, cozinheira, encantava

Cozinha Brasil, das terças

Pouco álcool, papo rolava.

 

47 Mário ao piano, em vinte e um

Uma dúzia de amigos, Anita, Di Cavalcanti

Lundus no teclado soavam tão bem

Mário lia tudo, Oswald, pouco (?) espante

O primeira:  mulatice risonha

Surge modernismo, adiante

 

48 “Pauliceia Desvairada”, Mário

Segundo livro modernista

Já Oswald seguia na prosa

Contraponto na vista

Montagem de nervosas ações

Elipses de cenas do artista

 

49 Revolução sem sangue

Nova expressão, diria

Mennoti no Jornal, pois

Tática de guerrilha, ia

“Matemos Peri”, diz Oswald

Convite à demolição, se lia

 

50 Porrada em tudo, assim

Estrutura social questionada

Chocante Celeuma surge

Escarcéu na “coisa” parada

Da ficção poética, até aí

Imigrantes valem mais? Tacada

 

51 Poligenético Brasil

Muitas raças em combate

Local de fala mutante

Índio de barba, lusinegra arte

Homulher talvez, novagente

Todaparte, eterno embate!

 

52 Novelha alegriador

Vamos matar o identitário

Na mistura essencial

Nada é puro no otário

Nunca o original vence

É sempre misto visionário

 

53 Galhardia lusitana

Imoralidade deslavada

Surgiu Brasil assim, pois

Não fixa, mas descarada

Zumbi sem negociata

Frenesi, indústria armada

 

54 Atual todo mundo, vai

Curemos Peri, mestre

Terra em transe, Brasil

Grossa cavaqueira rupestre

Chumbo grosso na cultura

Eixo nação, transterrestre

 

55 Sampa mulher de lamasfalto

Novela, Jesus de trancinha?

Não pode (?) Brecheret fez

Pecado mortal, diz vizinha

Fofoca nacional se espalha

É Pauliceia, Mário vinha

 

56 Poesia citadina Mariana

Atraso sarcasmo e punição

Sua luta americana

Estuporante visão

Bem sentia e pensava sim

Com Ronald de Carvalho, união

 

57 Esse outro corrigiu o

Orpheu, sem múmias do Rio

Modernista de primeira, diplomata

Acostumado, a Oswald aderiu

Também jornalista, ensaísta

Era da nata do novo Brasil.

 

58 Contra Mimese do real

Arte não é fotografia

Mário, o Papa, Oswald? Bispo

O negócio se espalhava, se via

De trem ao Rio 12 horas

Era “Frisson”, sentia

 

59 Renovar, eis o espírito

Bandeira, como um Haicai

Rio era mais rural que sampa

Nesta?  Máquina sobressai

Na industrial, ânsia do novo

Atividade que atrai

 

60 Entra em cena Graça Aranha

Lançara “Canãa”,  em  novecentos e dois

Em 21 aponta crise do mundo

Oswald fica olho, e apois?

Neoliberal americano

Di Cavalcanti se impôs

 

61 Graça se comparava a Kant

Da razão pura à sua obra

Pauliceia desvairada viu

Parecia que nada sobra

Futuristas o abraçam

Mais um que nada cobra

 

62 Sacudiriam olhar público

Faliam  coletiva louca

São Paulo sentiria bem

Aquela força que não era pouca

O academicismo de Graça, dia

Se dobraria, voz rouca

 

63 63. Graça critica os vanguardistas

Ela sabia onde pisava

Fariam painel multifacetado

Questão estética dominava

Astúcia de Oswald bate

A explosão se alastrava

 

64 Graça, seu Savoir-Faire

Com rumo previa

Não, como dissemos, ele

sabia onde se meteria

o ataque tomando forma

Com apoio da burguesia

 

65 Só precisavam de um grande salão

Com centenas de pessoas

Paulo Prado comandaria

O basfond de coisas boas

À Rabelais, faz o que queres,

E iam tecendo-se loas

 

66 Rabelaisianos a curtir e viver

Sem regras,  mas criando, foram

O bolo ia crescendo,  copos levantando

Paulo Prado, luxo em Paris (adoram)

Apoia Oswald e o grupo

É mecenas, fortunas não evaporam

 

67 Pensem de modo grande

Diz o milionário, aos futuristas

Letras e artes com importados

Muitas farturas, elitistas

Ousadia era só o início

Eram a elite dos artistas

 

68 Paulo, Mário, Di, Mennoti

De 22, núcleo duro

Passado de pobre e rico

Arte Brasil, eis teu futuro,

Estreou a semana e aí

Vaia e gritaria, seria apuro?

 

69 De sorriso mordaz nos lábios

Oswald parecia ter planejado?

Leu folhas datilografadas

Leu trechos de livro blindado

Os outros?  Obras de cada um

Segundo dia mais badalado

 

70 Pronto:  escândalo aumentava

Era mídia que queriam?

O circo pegava fogo

Plateia alucinada:  zumbiam

Ferozes, sem trégua, avançam

No poema os sapos, coaxam

 

71. Guiomar Novaes toca o piano

Ela virtuose com Europa nas veias

De currículo internacional

Carnaval das crianças Brasil, eia!

Modernismo quer mais

Um Villa-Lobos? Mão cheia

 

72 O Nariz arrebitado dela

Inspirou narizinho de Lobato

Debussy a aplaudiu, em Paris

Ali era outro o fato

A plateia a aplaudiu

Na semana, Fênix relato

 

73 Governo estadual investida

Município deu o teatro

Festival revolucionário

Analfabetos letrados a quatro

Semana contra bestas humanas

Para plateia de múmias, atro (infausto)

 

74 Rompendo o academicismo

Se firmara o novo momento

Ponto sem retorno, pois é

Muito além do pensamento

Sufocadores, rendam-se

Queremos novo entendimento

 

75 Centenário da Independência

Assim foi com ousadia

Algo que nunca aqui se viu

Isso dizemos com garantia

Erronia, ironizou Mário

Foi nossa a primazia

 

76 Não eram futuristas, assim

De Marinetti, não eram

Mas de arte moderna, sim?

Sentido amplo, esperam

E vão fazendo logo, tim tim

Porque com brinde quiseram

 

77 Não era oportunismo

Sampa: futurismo racial?

Que acontecia ali?

Coisa muita surgia no jornal

Choque, fecundas violências

Ai, ai, ai, nada mal

 

78 Matar má fé quadrúpede

Eis uma proposta, viu?

Não mais futurismo paulista

Contra cretinagem, Brasil

Imitativas academias

Monolíticas que pariu

 

 

79 “Guarani”, de Carlos Gomes

Seria tapeação, só?

Oswald por Villa-Lobos

Quer velhice virar pó

Filho comovido do tempo

Lá e lô, viril dominó

 

80 Sensibilidade da desordem

Cães ladram, caravana vai

Saltos, invasões abismais

13, 15 e 17, sai

Vida nova, minha gente !

E a repetição? Cai!

 

81 A cultura de nosso povo?

Gente de grana?  Esgana?

Plateia lotada no Municipal

Fila imensa não engana

Sim. Era um sucesso

O público da tal “Semana”

 

82 Provocação sincera ou pilhéria?

Não há fotos da Expo, pena

Senso de humor, pilhéria?

Não!  Estética, eis a cena

Dispartes que libertam

Novidade de arte plena

 

83 Foi hostilidade explícita

Mas só para alguns, certo

Villa-Lobos de sandália

Infecção nos dedos, perto

Disseram: provocação

Dormindo, o desperto

 

84 Consagração pela vaia

Resultado da semana

Ficaram célebres, eles

Poeira, hoje? Se espana

Enfim, chega Tarsila, aí

Trinta e seis anos, sem fama.

 

85 Tarsila, largou o marido

(Ele, a traía), teve filha

Era mulher requintada

Modernistas?  Maravilha

Enturmou-se logo, veem?

Encerro assim a sextilha

 

86. Ela cantava modinhas

Mário ao violão, que graça

Oswald se apaixonou, logo

Vem grupo dos cinco, massa

Pessoas incríveis

Era linda, jus se faça

 

87 Manifesto para isso?

Editorial da Klaxon, um

“Texto Programático”

Propõe “cirurgia” e zum !

Sem mais chororô, Brasil

Chaplin, Clowns, Ziriguidum!

 

88 Valia a espontaneidade

O burlesco, o excesso

Dessacralizar a estética

Tal café espresso

Xô, erudição carrancuda

Era isso. Esforços não meço

 

89 Insultados e felizes

Seguiam sem tradição

Oswald deu título à revista

Klaxon, buzina, sensação

Som estridente e lá vai!

Viva a rápida locomoção!

 

90 Seguem blagues oswaldianas

Sarabanda espernejante

Equilibristas desengonçados

O improviso é meliante

Os planos eram muito bons

O equilíbrio? Distante

 

91 Sérgio Buarque, no Rio

Representava-a, também

Moderna São Paulo, adiante

Para o futuro e além

Do real ao abstrato

Café com leite e xerém.

 

92 Tem saltos e cambalhotas

Tal circense atração

Sai romance “Os condenados

Ultrafuturismo? Não

Oswald expressionismo trágico?

Romance, qual definição?

 

93 Tarsila e Oswald? Paris!

Lugar mais sensacional da terra

Haxixe, boemia, oui!

A noite não se encerra

Dançavam Charleston e foxtrote

Box, óperas, amor se aferra

 

94 Iam ao Moulin Rouge

Metrô a poucos passos

Que ano, o vinte e três!

Paris? Festa! Em tais espaços

E a vida era mais bela

No esquema daqueles paços

 

95 Deleite, inspiração

Liberdade, lá se vivia

Foram 4 anos carnificina

Êxtase, agora se via

Moral e intelectivo

Que a muitos atendia

 

96 Não ambiência  boêmia

O que “Tarsival” desejava

(Mário chamava aos dois assim)

Menos álcool, sonho mudava

A destruição anárquica

Da língua, se anunciava

 

97 Rimbaud? Fim do romantismo

Deles veio referência, é

Nova ordem pós-guerra

Ética e estética, né?

Luso espancar, obrigava

Grosseira delicadeza, fé

 

98 Sim, Portugal, eles foram

Terra da piada, Tarsila a Servilha

Oswald à Suíça com filho Nonê

Pra colégio interno, ilha

Mãe (Kamiá) casada com outro

De Tarsila? Londres, a filha

 

99. Coletivo, não dramas individuais

Era a ordem do dia, em Paris

Oswald? Ser traduzido em francês

Mas isso não aconteceria, quem diz?

Eram tantas amizades

Oswald palestra, Sorbonne, condiz:

 

100 Do colonial ao modernismo

(Foi o seu mote), foi impressa

Elogia Lobato, “rural”

Língua Portuguesa?  Nova à bessa

Blaise Cendras, Franco-Suíço

Perdeu braço (na guerra), ora essa.

 

101 Mas fazia da vida aventura

Rodou o mundo, curtiu o Brasil

Sua prosa e poesia moderna

Dupla Tarsival tão varonil

Queria vir ao nosso país

Crêpe Suzette, pois, viu?

 

102 Bebendo os ares de Paris

O casal esbanja olhares

Oswald com calças rosa

Tarsila em alta costura pares

Oswald e suas piadas podres

O colocaria em azares

 

104 Brecheret e Di Cavalcanti

Foram vítimas disso

E muitos outros, como Mário

Uau! parecia feitiço

O bicho era carcamano

Era terrível nisso

 

105. Villa-Lobos também viu

De Oswald a ironia

Falou mal de Debussy

Pôs Erik Satie em via

A briga foi feia, aí

Agitação, ali, fervia

 

106 Tarsila também deu ferroadas

Em Anita Malfatti, rival

Acusou-a de retrocesso

Egos inflamados, afinal?

Cubismo integral, quadros sem assunto

Que acham? Nada mal

 

107 Vinte e três pintou “A negra”

Marco inicial da fase dela

Que a consagraria de vez

Folclore, étnico, apela?

Escambo intercultural

Ou colonial esparrela?

 

108 Parisiaram-se, ali?

Perguntou Mário de Andrade

Os caipiras burgueses

Na mata virgem, a verdade

Não arte negra, matavirgem

(Ele dizia?), cubista? “Nonade!”

 

109 Não imitava os europeus

Ela tinha algo novo

Oswald? Nem Byron nem Wilde

Abaixo Flaubert, viva o povo!

Brasil exporta arte, é?

Pau-Brasil, primordial ovo

 

110 Original ou o acadêmico

Contraponto: fatos diversos

Não eloquente falsa erudição

Olhos livres para versos

Neologismo coloquial

Seguir colando universos

 

111 Poesia Pau-Brasil ativa

Real preguiça solar

Sem tropical tempo ido

Que faça falta achar

Ambíguo Brasil já, antes

Opostos, João Miramar

 

112 Energia íntima usar

Surgirá assim sua nova obra

Com esse repensar nossa pátria

Que na falta tem de sobra

Pitoresca meiguice, até

Patifaria que se desdobra

 

113 Sem reminiscências, pois

Oswald, olhos verdes, cobra

Qual um César Ridente

Um país ele desdobra

Sou Miramar, diferente

Romance (“Cubista” obra?)

 

114 Colagens, cartas, diários

Bilhetes, vozes, poemas

Vários narradores, é

Lembra vários  sistemas

Como montagem de filme

Aqui e ali com problemas

 

115 Profusão de neologismos

Com originais títulos

Arte disparate? Estilo...

Pra cento e sessenta e três capítulos

Ironiza o luso falar

Revisão certos acúmulos

 

116 Telegráfica rajada

Seu texto meio freudiano

Traz do inconsciente

Bárbaro insólito plano

Um tanto comunista

Esfuziante desengano

 

117  Seus achados deliciosos

Invenções linguísticas no meio

Aí ele se indetermina

Não se incomoda, está cheio

Natural desleixo, a cara

Gênio?  Aí fogo ateio

 

118. Humor violento, novo

Brincadeira, diz Drummond, sim

De João Miramar, quem sabe?

Volta terceira vez, afim

A Paris, pra Tarsila, babe

Estava longe aquele fim

Vida curta não acabe

 

119 Pau-Brasil foi sua estreia

Na poesia, publicou em Paris

Antes fora manifesto

Em nova partes, ele quis

Faz feito Marcel Duchamp

Pega doutros, inclui, “eu fiz”

 

120 Excesso de chacota ou não

Pau-Brasil, (não “Ordem e progresso”)

Na capa de Tarsila incomodou

Bandeira ficou possesso

Escândalo feito de carne

Casou com Tarsila: sucesso (?)

 

121 Casaram  só no civil

Falaram com Papa, sim

Cerimônia, fraque e carisma

Até o Presidente, enfim

Washington Luís, foi

Maiores burgueses da Pátria, assim

 

122 Era o ano 26

Elogiavam Circo Piolin,

Como o melhor teatro do país

Teatro sob a lona, sim

O tal palhaço?  Melhor autor

Para a cena dali, enfim

 

123 Verde- Amarelismo e Pau-Brasil

Se enfrentaram no picadeiro

Oswald acusou Del Picchia

De não original, primeiro

Cassiano e Plínio Salgado

Tomar as dores, ligeiro

 

124 O movimento ainda, se erguia

Nhengatu, diziam eles

Linha indígena, valorizavam

Coisas nossas e mais deles

Uma renovação insólita

Totêmico tupi, daqueles...

 

125 Intuição  infantil: quebram

Brinquedos para por dentro vê-los?

Diziam os críticos sobre sua poesia.

Poema-pílula, como lê-los?

Livro? “Primeiro Caderno

Premido  e aceito: sê-los?

 

126 Sim, romance “Estrela de Absinto

Agradou a academia

Teve menção honrosa, foi

Contradição nele, seria?

Tarsila o pinta “Abaporu”

“Monstrengo”, Oswald diria.

 

127 Quem nomeou foi Raul Bopp

Autor de “Cobra Norato

E sugeriu um “Movimento”

Em torno do tal “retrato”

No quadro “Naif”, ele viu

O que representa de fato.

 

128 Hoje, tá na Argentina

Mas aqui tem sua raiz

É a nossa Mona Lisa

De pensar, fico feliz

Entre repulsa e fascínio

Antropofagia? Brasis

 

129 Comedor de gente, voltava

À moda com as vanguardas

Chave crítica pra pensar

Nas ideias aqui guardadas

A cultura brasileira

Não para, culturas agitadas

 

130 Mau selvagem, o devorador

Rousseau se mexa na cova

Abocanhar o opositor

Guloso e brutal?  Uma ova!

Nem vingança, também não

Ritual mágico, se aprova

 

131 Canibal é sem cerimônia

Antropófago tem ritual

Anta versus Pau-Brasil

Isso não vai fazer mal

Devoro do inimigo, o melhor

Isso não é tão fatal

 

132 Aí vão diálogos e sínteses

Tupi or not tupi, tá?

That’s  the question, my friend

E daqui a gente se dá

Eu passado, tu futuro

Mistério de Moisés, vá lá

 

133. Passado mítico, sim

Pré-cabralina, felicidade

Mário lança “Macunaíma”

Freud: Sexo é o xis humanidade

Negro, índio, branco, trans

Né? Isso é sinceridade

134 Tarsila  e Oswald erram

Deusa e diabo do modernismo

Aí apareceu pagu, pense

18 anos de erotismo

Íntima de Tarsila, foi

Rebeldes no centrismo

 

135 Surge Chateaubriand

Magnata da imprensa

Moquém:  grelha indígena

Defumava-se, se pensa

A política na intriga

Luxúria não se dispensa

 

136  Mário rompeu com Oswald

Malícia deste com o homossexual

“Miss  Macunaíma”?  era o fim

Isso lhe fez bem  mal

Foi piada abjeta, eca

O efeito foi mortal

 

137 Chamaram  Pagu: a mais bela

(do mundo?) admirações?

Oswald, Padre Cícero, Tarsila

Lampião, tantas paixões

Eram  tórridas as transas

Forçavam-se alterações

 

138 Oswald “casou” Pagu de mentira

Pegou a menina (que loucura!)

Pânico geral:  falência econômica

América em crise  todinha

Bolsa quebra em Nova York

Tarsila separa, Pagu gravidazinha

 

139 “Casaram”, na igrejinha da Penha

Vejam que coisa mais inusitada

Não houve união civil

Ele sempre infiel, coitada

Oswald não a amava

Era apenas uma “camarada”

 

140 Às vésperas de parir

Pagu foi deixada só

Ele foi tirar uma virgindade

Nasce o menino Rudá, a mãe? Dava dó

Fugir, se expandir, melhor

Que ser mãe e virar pó

 

141 Oswald  não era palhaço burguês

Ele e Pagu foram quase mortos

Falou mal da Faculdade de Direito:

Cafeicultores e alunos?  Tortos

Mas o casal comunista

Insistia:  vermelhos portos

 

142 No Jornal Homem do Povo

Pagu  e Oswald esculachavam

Atiravam para todo lado

Suas regras anunciavam

Comunismo de quem perdeu

O poder que desfrutavam

 

143  Anticlericalismo ali

“Cafetinagem” diziam

Unhas e socos nos estudantes

Pagu e Oswald desferiam

As coisas só pioravam

Ojerizas então cresciam

 

144  Os vendidos de Moscou

Assim o casal era chamado

O Jornal foi proibido

De circular,  foi censurado

“Insolente papelucho”

Assim o bicho foi tachado

 

145 Fogem pra Montevidéu

Entram  em  contato com Prestes

Líder da “Coluna Rebelde

Comunista ou ex-burguês, vestes?

Está Oswald encurralado?

Sua vida muda, hipóteses

 

146 Sacco e Vanzetti, executados

Nos E.U.A., cadeira elétrica

Erro judiciário,  oi

Comunistas perseguidos, ética(?)

Era uma coisa tétrica

 

147 Oswald e Pagu presos

Soltos, Pagu em convulsões

Traumas de infância voltam

Reiteradas depressões

Acusada de sentimentalismo burguês

Foi operária, vermelhas paixões

 

148 O partido via Oswald libertino

Não iria aceitar

Pagu foi para cortiço

Depois de tudo melhorar

O partido pediu para ela com

Homens transar/espionar

 

149 Ela fez isso, e lança livro

(romance) “Parque industrial

Sobre proletárias do Brás

Homo e aborto?  Natural

Oswald lança “Serafim”

Zé Lins do Rego diz: “Uau!”

 

150 Teatro, diários, epístolas

“Serafim ponte grande”,  sim

Livro experimental

Metatexto que, enfim

Narrador e personagem

Dialogam, coisas assim

 

151 Dizem: pornografia barata?

Ridículo alheio expõe

Em estranha sátira

A crítica ali supõe

Um Lampião da literatura

Ex-burguês põe e dispõe

 

152 Em “O Homem e o Cavalo

Uma das suas peças, Oswald

Tem imagem de Hitler na cruz

Suástica, paraíso cristão, fraude ?

Estranhamento? É pouco

 O autor chutava o seu balde

 

153 Pagu foi pra Moscou

Oswald arranjou outra mulher

Pilar, uma artista, sim

Cada um faz o que quer?

Meio anjo, meio fera

União não durou um ano sequer

 

154  Aos 45,  ele decaía

Gilberto Freyre sentenciou

“Caminhos limitadores”

Um ou outro o acompanhou

Antropofagia acabada

“Gongórico”, ele assim soou

 

155 Famoso, mas pouco lido

Em prosa e poesia, nosso autor

Livros enchiam sua casa

Não vendia bem, um horror

Ele ria de si e dos outros

Ia assim driblando com riso a dor.

 

156. Jorge Amado elogiou a peça

“O homem e o Cavalo”, publicada

Outros marxistas não curtiam seu humor

“Piada fácil”, diziam, aguada

Lob de esquerda, né?

Pra revolução? Não servia gargalhada

 

157 Seu teatro: riso picante

Pra burguês,  pobre não curtia

Zé Lins, com “Moleque Ricardo”,

Romance, mais esquerda seria

“Intriga imbecil”, diz Oswald

Suor”, de Jorge Amado, lia.

 

158  “Hermético”, diziam de Oswald

Ele: “abri caminho ao regionalismo”

Pra ele, não havia, novidade

Eles  voltavam ao naturalismo?

Zé Lins?  Sem  cultura especial

Senso comum,  continuísmo

 

159 Em  Moscou Pagu via miséria

Em trinta e cinco volta ao Brasil

Foi presa e torturada

Aí, Oswald  conheceu,  primaveril

Sua outra esposa, Julieta

Furor, ela nele imprimiu

 

160 Ela estudava na USP

Aluna de Lévi-Strauss, é

De Roger Bastide, também

Monogamia sucessiva, né?

E cheio de amantes, ele seguia

“Espírito Quente”, diziam, até

 

161 Graciliano elogiou peças

De Oswald: “pena não irem à cena”

Lê-la poderemos, mas

Poucos dirão “vale a pena”

É teatro de ruptura, isso

Temos consciência plena

 

162 Primeiro grande autor

Da nossa moderna dramaturgia

Fustigadas pela agiotagem

Oswald mistura vida e obra,  se via

O rei da vela”, mostra sacanagem

“Abelardo e Heloísa”, parodia

 

163 Experimental, sempre

Arquétipos ele  desconstruiu

Eita, Oswald danado

Nenhum tal e qual no Brasil

Na peça “A Morta” tira enredo

Marionetes de quem nem existiu

 

164 A indicação cênica, era:

“Labaredas no palco”

“Sem palmas”, “chamem bombeiros”

“Ou a polícia”, era peido de talco

Pagu fugira da cadeia

Mas recapturaram, Glauco

 

165 Oswald contra o racismo

Mas homofóbico, seguia

Futucando Mário de Andrade

Foi à Europa,  a guerra se inicia

Depois de um mês,  escapa

Provocação se reinicia

 

166 Diz que quer ser acadêmico

Fazia barulho aos cinquenta

Só recebeu um voto, o danado

Lança “Marco Zero”,  vender? Tenta

Aos cinquenta e dois, diabético

Mais um romance inventa

 

167 Bife com batatas, adora

Dentaduras duplas, usa

Pequenas cenas, patchwork

Da sua vida,  abusa

Amado elogiou visão de esquerda

Urbano, bastide, brasil conduza

 

168 Tropicalismo literário

Diz de Di Cavalcanti: “bom”

Mas os “clérigos” da USP

Acharam por bem criticar o tom

Oswald era hedonista?

Perguntaram alto som

 

169 Em quarenta e dois

Geração universitária

Se achava no direito

De ser séria e ser otária?

A verdade é inventada?

Tem silêncio na plenária?

 

170 Aí Mário teve um infarto

Quarenta e cinco foi assim

Oswald tido como piadista

O morto, cheio de glória, fim

“Marco Zero” só dois volumes

“Chão” e “Revolução Melancólica”,  sim

 

171. Dedicara-se ao jornalismo

O sex- appeal-genário

Sentia-se acabado aos sessenta

Pronto sair do cenário

Ansiedade, crise de pânico

Mas nunca foi total otário

 

172 Oswald fez concurso, USP

Queria ser professor, lá

Escreveu duas teses até

Ficou pra ali e pra cá

Chamou Sartre “Vaca cheirosa”

(A banca pensou: assim não dá)

 

173 O último filho de Oswald

E já tinha cinquenta e oito

“Vida infame!”, reclamava

O antigo homem afoito

Falou com Getúlio Vargas

Não molhou seu fino biscoito

 

174 “Mando tudo à merda”,  disse

Sai seu último livro, então

Prefácio? Antonio Candido

Um homem sem profissão:

Sob as ordens de mamãe

Era o fim do valentão

 

175  A “Um toureiro cansado”

Ele se comparou, enfim

“Querem ver se o bicho me pega?”

“Amigos do Touro” (Ruim)

“Escolhi mal minhas armas

Não tenho espada: Fim !”

 

176 – E agora,  pra encerrar

Em cinquenta e quatro, morria

O mais irreverente deles

Modernistas, Oswald partia

Seu último ato na arena

O guerreiro hoje tripudia.

 

177 Pagou com a vida, o gozo

Curtiu muito, trabalhou

Sua obra, hoje, é história

Moderna,  frutificou

A você, que tudo leu

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