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sábado, 4 de outubro de 2025

Mias uma obra sobre a dramaturgia de Moisés Monteiro de Melo Neto será lançada. Leia ENTREVISTA




Entrevista concedida por Moisés Neto a Thalita Gadêlha dia 22 de Maio de 2025

 

1. Como se dá a construção das suas personagens femininas?

 

M – A construção das minhas personagens femininas, faço-as, em acordo com o que vejo sobre o gênero feminino. Não só no diferencial em relação ao masculino, mas as possibilidades e perspectivas do empoderamento das mulheres. A alma feminina, para mim, é um mistério constante. Não acredito que uma mulher possa entender um homem e um homem possa entender uma mulher. Acredito na transição, digamos, de algumas pessoas que... se representam, se caracterizam, do sexo que antes seria oposto e você assume; o caso de um trans, por exemplo. As minhas, mulheres, elas são todas empoderadas, digamos assim, destemidas e atrevidas. Eu não gosto de criar mulheres submissas. Eu não gosto de pessoas submissas.

 

2. Nem mocinhas nem vilãs: você vê assim também as suas personagens? Seriam Manguegirls?

M – Sim, sim, nem mocinhas nem vilãs. Manguegirls não porque o movimento mangue, ele não caracterizou muito bem as mulheres. É um movimento machista. É um movimento de homens. Você tem, por exemplo,  a Stela Campos que tem um disco excelente “Mustang Bar”, não é, que... para mim... é excelente mas, é um movimento masculino. Eu não acredito que existam mocinhos e vilões. Do mesmo modo que eu não acredito em mocinhas nem vilãs. Existem pessoas que exercitam o poder; a maior parte das pessoas. E outras que gostam de...é... receber ordens.

 

3. Qual a influência da cultura norte-americana na sua dramaturgia, na sua escrita?

M- A cultura norte-americana na minha dramaturgia se dá através da minha admiração por certos escritores.  Tem a questão do movimento ‘beatnick’; Jack Kerouac, Alen Ginsberg, Willian Burroughs, que foram do final dos anos 1950 e influenciou o movimento hippie dos anos 1960. Bob Dilan, por exemplo, é... ele se inspirou muito no ‘On the road’, ‘Na estrada’, romance do Jack Kerouac – que eu até estou lançando um cordel sobre ele. Então... é... no teatro, na dramaturgia norte-americana, você tem Eugene O’Neill, não é, que tem peças como ‘Longa jornada noite adentro”, que eu adoro, e outras peças do O’Neill; como tem Tennenssee Williams, que eu adoro, essas na dramaturgia. Na arte pop, que também é cineasta, que também é, digamos assim, filósofo, é Andy Warhol: o pai da pop art, que me influenciou bastante. Bob Dilan, é... Jim Morrison, do The Doors, essas coisas da cultura norte-americana. Agora, não suporto o imperialismo norte-americano, eu não suporto. E também é... eu quando era criança vi muito a questão dos desenhos norte-americanos – pode parecer uma bobagem isso, não é- mas, eu ficava meio impressionado com a maneira como os norte-americanos trabalhavam com as crianças. Os desenhos animados para crianças... E também as séries da Fox, por exemplo, eu gostava muito de ‘viagem ao fundo do mar’, não é, ‘túnel do tempo’, essas coisas assim me influenciaram quando eu era criança e adolescente. E, óbvio, o cinema norte-americano como um todo. Os grandes diretores, não?, norte-americanos; ou mesmo as produções de Hollywood com os estrangeiros como  Alfred Hitchcock, que é inglês. Eu sempre fui muito... um voraz leitor e... hã... isso me influenciou bastante... da cultura estadunidense e a maneira como eles produziam os roteiros de filmes... tah...

 

4. Quais textos deste livro já foram encenados e quais você gostaria que se transformasse num espetáculo?

Desses roteiros acima, muitos foram encenados...somente é... ‘Essa coisa nossa’ é que não foi. ‘Sertão’ teve uma encenação na universidade que me emocionou bastante; eu gosto muito do texto ‘Sertão’. ‘A Farsa’, é... a ideia original é... o centro, o cerne né... eu gosto muito... acho muito interessante... que beira o teatro do absurdo, que me influenciou bastante tá... o teatro do absurdo que é mais europeu... me influenciou muito: Ionesco...Pirandello... tá... Beckett...não é... que é... que são guias na minha vida também. Gostaria muito de ver ‘Sertão’ e ‘Essa coisa nossa’, dos textos meus encenados.

 

5. Qual o futuro da dramaturgia de Moisés Neto?

Agora... quanto ao que eu estou produzindo agora, que eu tô escrevendo novas peças... meus cordéis... meu cordel ele tem um tempo teatral também... tá... eu não uso heteronímia... mas é... Jomard Muniz de Brito, ele me disse uma vez assim, eu tava escrevendo o meu doutorado, né... a minha tese, que eu transformei em livro também... foi publicado pelo SESC, ele disse: Moisés, você tem uma presença muito forte nas coisas que você escreve, a gente vê... não sua vida, mas o seu estilo, não é... há uma espécie de autoficção na criação das suas peças. Como por exemplo: “Para um Amor no Recife”, tem uma projeção muito grande não é, tudo muito difícil não é, os remédios para a aids eram muito terríveis e a gente tinha visto Cazuza fazer aquilo, morrer na frente das câmeras... praticamente... nós sabíamos de Renato Russo que não se entregou diante das câmeras... então, o futuro da minha dramaturgia, eu acho que vai ser ver seres humanos como eu... Eu sou uma pessoa muito diferente desde criança; é difícil porque eu não combino muito com essa coisa de.. de panelinhas de querer agradar. Eu escrevo quase coo se fosse uma guerra!

Quando eu sento ao computador... ou mesmo quando eu tô escrevendo a mão... eu gosto muito de escrever a mão, né,  e depois transcrever... a... ao digital assim.... ao computador, ao notenook.. e digitar... eu... parece... eu ganho uma força tão grande e eu acho tão bom. Eu sei que é de mim porque a literatura me salvou muitas vezes, e eu também procuro salvar a literatura. A minha vida inteira é esse exercício delicioso e o teatro para mim é essa perspectiva linda e colocar o sim e o não. Eu acho que eu não sou tão polifônico, mas eu procuro ser. Se você perguntar a qualquer aluno de Moisés, eles vão ter uma opnião forte sobre mim: ódio, simpatia, porque eu não sou uma pessoa... como é que eu posso dizer... eu não tou querendo dizer que eu sou especial não, mas é... há a poucos homens aqui.. no Recife... como eu. Eu as vezes... quando eu era adolescente eu queria ser monge, não é... a minha família toda, muitos da minha família, tem essa coisa... de... de... meu pai trouxe aquelas coisas lá é... dos indígenas, não é... tanto é que ele pertenceu ao Vale do Amanhecer que tem uma corrente meio indígena também, de espiritismo... a minha mãe também... ela estava ligada a isso. A minha avó Diomar, os Beli, a família italiana Beli, que era muito religiosa, então eu procuro misturar essa coisa da fé... é... eu sou uma espécie de caçador solitário, não é. Eu sou, eu gosto muito das pessoas, eu gosto muito de conversar com as pessoas, mas eu sei que  a gente não pode... como é que eu posso dizer, eu nem sei... o meu teatro procura fazer isso. Eu convivo com os meus personagens com um amor tão grande, eu construo os meus personagens com um amor tão grande... Quando eles estão em cena... ontem mesmo houve uma leitura de ‘São Bernardo’, mesmo quando eu adapto, eu fico fascinado com a maneira como eu dialogo com... é... uma narrativa, um romance de Graciliano Ramos como ‘São Bernardo’ e eu transformo isso. A minha Branca de Neve, o que eu fiz... a relação da mãe com a filha, da relação  do operário... que tem um anão que é o Banana, com o poder, e essa questão... como eu misturo... o príncipe... com... ah... um Zé Ninguém... e como eu transformo. Eu desde criança, eu entendi muito bem os vilões; acho que a maior parte das pessoas gostam quando tem um antagonista, vilão, eu não sou fã de vilões mas eu acho interessante como a maldade humana se constitui. Eu busco muito isso nos meus textos. Falar e viver intensamente, que é o que eu faço. A minha vida é um jogo muito intenso... Eu faço de cada dia, das 24 horas, 24 milhões de horas. Eu sou um ser muito múltiplo. Eu não sei como eu consigo amarrar tantas personalidades em mim... eu já estudei... muito sobre teorias, principalmente as literárias é óbvio. [...] os meus textos são psicanálise selvagem! Eu faço comigo, eu procuro... eu me atrevo a dialogar comigo. Eu acho que é por isso que a solidão nunca foi uma estranha pra mim e que o amor sim sim sim sim sim, o amor sempre esteve ao meu lado. [...] Então o que será minha dramaturgia no futuro; será tudo isso sempre! [...] Eu gosto de textos fortes, eu conheço textos fortes. Quanto ao futuro, eu não sei o que é que o futuro me trará...