ANTUNES FILHO & o Recife
Trazido ao Recife pela ILUSIONISTAS CORPORAÇÃO ARTÍSTICA.
Produção executiva Simone Figueiredo
O
Recife recebe Antunes Filho em seus 80 anos: um homem cuja trajetória se
confunde com a do Teatro Brasileiro: palmas para ele. (por Moisés Neto)
Apreciar
uma obra de Antunes é uma experiência com sabor de tradição e ruptura. Das suas
videiras sai um vinho usado para o ritual artístico da mais sublime qualidade.
Uma breve olhada no seu currículo nos faz respirar fundo. Ouvi-lo é um aprendizado,
assisti-lo, uma atitude. Quando Simone
Figueiredo me disse que ele voltaria a Recife e que com muito carinho disse a
ela que gostaria de estrear aqui a sua nova montagem (A Falecida) isso me
transmitiu muita ternura. A vida desse homem vale por um manual de Teatro: em 1952 ingressou, como assistente de direção, no TBC, ao
lado de Ziembinski, Adolfo Celi, Luciano Salce e Ruggero
Jacobbi estreou como diretor com Week-end,
(Noel Coward). Em 1958 aprentou O Diário de Anne Frank e levou o prêmio de
melhor diretor pela Associação Paulista de Críticos de Artes e pela Associação
Carioca de Críticos Teatrais). Explorando
as fronteiras estéticas do realismo.. Sua peça Plantão 21
: levou à cena trinta atores (estréia de Laura Cardoso) seu ritmo era
impressionante, afirmam os registros.. Em 60 ele foi para a Itália (um estágio
no Piccolo Teatro). De volta ao
Brasil dirigiu As Feiticeiras de Salém, numa abordagem épica que
impactou crítica e público. Dirigiu Eva
Wilma um texto sobre a vida proletária (enfoque marxista) e declarou: "Se
massacrar é obrigar o ator a estudar, a assumir responsabilidade do momento em
que vive, é fazer do ator o senhor dentro do palco e dentro da história em que
ele participa, então, nesse sentido, massacro o ator. Eu o quero independente,
eu o quero senhor absoluto do palco (...) o ator terá que ser ao mesmo tempo
cientista, artista, físico, matemático, professor de literatura, político e
sociólogo. Pode ser meio utópico o que vou dizer, mas o ator será a grande
síntese do conhecimento humano. (...) Se mostrar tudo isso ao ator é massacrar,
então eu o massacro". Em Vereda da Salvação ofereceu ao elenco
laboratórios físicos e psíquicos. A Falecida, A Megera Domada,
Júlio César, Black-Out, Peer Gynt, Bonitinha, mas Ordinária,
Ricardo III. foram algumas peças que marcaram sua carreira de diretor.
No cinema o temos no filme Compasso de Espera, que trata das questões
raciais e na TV dirigiu a série de teleteatro que incluiu Vestido de Noiva.
Após ter conduzido grandes atores, em interpretações inesquecíveis,
Antunes volta-se para os jovens e surge Macunaíma a partir de uma
oficina teatral, em torno da obra de Mário de Andrade. Antunes Filho sempre
procurou novas formas de expressão teatral. Detentor de forte
personalidade, seu método de trabalho busca do maior conhecimento possível
sobre o universo da peça. No final da década de 70 sua montagem de Macunaíma,
teve consagração internacional, percorrendo cerca de 20 países. Antunes aprimorou seu método de tornar os atores criadores de um
processo e de uma linguagem. Era a construção de uma dramaturgia a partir de um
texto literário. Ao criar em 1982 o Centro de Pesquisas Teatrais (CPT), viabilizado pelo Sesc SP, montou peças como: A Hora e a Vez de Augusto Matraga, Paraíso Zona Norte, Novas e Velhas Estórias, Macbeth
– O Trono de Sangue, Gilgamesh e Drácula
e outros Vampiros, A Pedra do Reino (trazida à nossa cidade em 2007 (por
Simone Figueiredo) com impressionante sucesso que comoveu o próprio Suassuna
que aplaudiu de pé o espetáculo). Ele dedica-se exclusivamente ao CPT. Na série Prêt-à-Porter, ele leva adiante a metodologia que desenvolve ao longo sua vida
artística. É ou não é uma honra ter este profissional estreando uma obra sua no
Recife?
“Um
Turbilhão de Imagens”
Assim
como os textos de Nelson Rodrigues quebram com o entendimento comum da
realidade, contendo uma diferente noção de tempo, espaço, causa e efeito e
buscando o homem no macro, na sua essência, a encenação de Antunes Filho para a
peça “A Falecida” não poderia ser diferente. Ele coloca a vida caótica e
entrecortada como o fulcro da estética da peça, que vem como inovação de todos
os seus trabalhos já realizados. A proposta traz misturas de tempos e espaços,
fazendo com que aos olhos do público se transforme em um verdadeiro holograma,
como se fossem folhas de transparências sobrepostas umas nas outras. Personagens dividem o palco sem interagirem:
se cruzam e não se olham, falam ao mesmo tempo e não se escutam, uma cena
imbrica na outra e como pano de fundo, um bar , assim como um visto nas ruas,
cheio de clientes, especialmente em um dia de calor, é mantido em cena durante
toda a peça indicando uma teia temporal e espacial. Cada integrante deste bar
traz consigo uma história e um caráter não desenvolvido e devidamente exposto,
mas que está, de alguma maneira, presente o tempo todo e apenas a indicação
destes seres já proporciona à peça um universo de realidades múltiplas
convivendo juntas num mesmo espaço, o palco. Em meio a este bar, surgem os ambientes
da peça demarcados somente pelas ações das personagens que transitam se
destacando do mesmo modo que uma estampa colorida em um tecido preto e branco,
podendo ser elas, desta forma, uma representação de todos que nele estão, como
se Zulmira, Tuninho, Timbira, fossem uma daquelas pessoas sentadas naquele e em
tantos outros bares. Diante de tantas informações sonoras e visuais, o público
como expectador, ou até como parte integrante de todo o cenário, terá sua
atenção “sacudida” e será levado de um acontecimento ao outro sem que perceba e
sem que tenha tempo de análises.
Ao
mesmo tempo em que aparentemente tudo se coloca de forma simples e corriqueira,
feito apenas com algumas mesas, cadeiras e atores, um turbilhão de imagens,
sensações e movimentações ocorre na encenação que aparece como imagem da vida
cotidiana onde somos bombardeados por tanta informação: seja na rua, quando
estamos andando e milhares de coisas estão acontecendo a nossa volta como um
assalto, uma pessoa gargalhando, carros passando, criança chorando; ou, seja em
ambientes fechados, onde temos a televisão que é uma fonte de informações
rápidas que podem mudar com um simples toque no controle remoto ou por um corte
de comercial. Somos rodeados por tantas coisas que não temos tempo de aprender
e olhar para nenhuma delas, quando focamos em algo logo somos interrompidos,
cortados. Vivemos viciados em um dia-a-dia frenético, percebemos tudo e nada ao
mesmo tempo, não se tem mais caminhos a percorrer, não se tem mais tempo nem
distância, tudo acontece ao mesmo tempo, tudo está pronto e ao nosso alcance em
um “piscar de olhos”. Participamos muitas vezes de ações que não são de vontade
própria, que não são nossas, mas sim de interferências que acabam sendo
incorporadas e que dão a ilusão de uma autenticidade. Comemos à frente da
televisão, falando ao telefone e anotando algo sem perceber que estamos
picotando nossa vivência de sensações. A completude de cada momento não existe
mais, até mesmo nossos sonhos, nosso poema, são entrecortados e viciados pelo
que vivemos, não temos mais espaço para criar e voar em nossa imaginação e nem
sentir o que está tão próximo de nós.
Natalie
M. Pascoal
“Vapt-Vupt: A Falecida” de Nelson Rodrigues
Não consigo ficar imune
a devaneios com as palavras de David Bohm em seu livro “A Totalidade e a Ordem
Implicada – Uma nova percepção da realidade” :“ a ordem implicada é particularmente adequada para o entendimento
dessa totalidade ininterrupta no movimento fluente, pois na ordem implicada a
totalidade da existência está dobrada dentro de cada região do espaço (e do
tempo). Portanto, qualquer que seja a parte, o elemento ou o aspecto que
possamos abstrair no pensamento, ele ainda envolve o todo dobrado em si e, por
conseguinte, está intrinsecamente relacionado à totalidade (totality) de onde
foi abstraído. Assim, a totalidade (wholeness) permeia tudo o que está sendo
discutido, desde o começo.”E conclui logo adiante:“ Num organismo vivo cada parte cresce no contexto do todo, de modo que
não existe independentemente, nem pode dizer que meramente “interage” com
outras, sem que ela própria seja essencialmente afetada nessa relação.”
Instintivamente, em
escala bastante reduzida, mas de maneira, creio, não inadequada, sou levado por
extensão ao dobrado, às sobreposições que o cinema desde Méliès e a televisão
depois (novelas, publicidades nos intervalos, etc...) exploram há muito tempo.
Isso sem falar das notáveis imagens paralelas realizadas pela vídeo arte,
manifestação que é considerada hoje em dia a mais importante e contemporânea
das artes. Como se isolar ou isolar qualquer coisa na situação que vivemos,
bombardeados por todos os flancos com acontecimentos e informações hiper-reais?
Os esbarrões e cotoveladas que se leva numa cidade tão populosa como São Paulo,
o ônibus que passa bloqueando a visão, placas e outdoors coloridos com mil
ofertas, alguém sendo assaltado que mal avistamos, as interrupções comerciais
em meio à dramática novela da TV: o carro último tipo subindo no topo do
Everest, o helicóptero que com seu vôo fantástico resvala uma antiguíssima
caravela pirata e num estupendo corte vemos a bordo caixas de um tradicional
rum, a criança chorando na cozinha, a velha que sorri num cartaz na traseira do
ônibus, satisfeita com seu novo cartão de crédito.A nossa atenção, portanto a
nossa consciência, é bombardeada por todos os lados e percebam que não
citei os trilhões de celulares com seus
torpedos e suas musiquinhas personalizadas
que tocam aqui, ali, por todos os lados, o fax, a internet com seus
sites e blogs, etc, etc.Não se consegue mais ter uma imagem isolada, pura,
cristalina, sem todas essas interferências. O enamorado não consegue pensar em
sua amada se não tiver um carro, um refrigerante em sobreposição. Vivemos
absolutamente carregados de imagens e informações.
Sobre a porta de
entrada na sala de ensaios do CPT há uma inscrição com as seguintes palavras de
Kazuo Ohno: De maneira nenhuma, pode-se
dizer que não haja nada num palco vazio, num palco que se pise de improviso.
Pelo contrário, existe ali, um mundo transbordante de coisas. Ou melhor, é como
se do nada surgisse uma infinidade de coisas e de acontecimentos, sem que se
saiba como e quando.
“Vapt-vupt: A FALECIDA”
de Nelson Rodrigues é um espetáculo que pretende experimentar alguns ângulos
dessa nova percepção e tornar aquilo que parece improvisado, uma interferência
sem sentido, feio, anti-estético, numa componente fixa e significativa. Estar
aberto a insólitas relações. Quando
com dificuldade não conseguimos entender ou ver claramente um acontecimento,
seja em lugar público, entre ombros e cabeças, ou num espetáculo teatral, a
nossa imaginação vem sempre nos socorrer preenchendo os vazios.(A F)
22/03/2009 - 14h54min
ANTUNES FILHO
O Universo de Antunes Filho
Com incentivo do Funcultura, a
Ilusionistas Corporação Artística apresenta no Recife a imperdível mostra “O
Universo de Antunes Filho”, sobre o trabalho de um dos encenadores mais
instigantes da cena teatral brasileira (Macunaíma, Vereda da Salvação, Paraíso
Zona Norte e Nova Velha Estória, entre outros clássicos), que comemora 60 anos
de carreira e 80 anos de vida, com várias atividades. Agende-se:
Espetáculos:
“Foi Carmem” (foto), sábado e domingo, 21 e 22 de março, às 20h, no
Teatro de Santa Isabel (Ingresso: R$ 20 e R$ 10). Uma obra poética concebida
sobre o imaginário popular a respeito de Carmem Miranda. Sem uma base textual,
a peça pretende estimular uma reflexão sobre o fetichismo e os estereótipos. O
espetáculo foi realizado para comemorar o 100º aniversário de Kazuo Ohno, no
Japão, em 2005.
“Coletânea Prét-à-Porter”, de terça a sexta, 24 a 27 de março, às 20h,
no Teatro Hermilo Borba Filho (ingresso: R$ 10 e R$ 5). A montagem resgata
muitas significações já quase esquecidas nos seres humanos de hoje: a
sensibilidade, o sentimento, o paciente fazer do homem, o gesto perdido, a
palavra esquecida, o encontro fortuito, tudo o que trazemos dentro de si. É o
grande exemplo do método teatral Antunes Filho.
“A Falecida: Vapt-Vupt”, em estréia nacional, sábado e domingo, 28 e 29
de março, às 20h, no Teatro Armazém (ingresso: R$ 10 e R$ 5). O texto de Nelson
Rodrigues ganhou um novo título que remete à rapidez da vida. A peça trata do
subúrbio carioca e traz à cena o cotidiano comum de muitos brasileiros: falta
de dinheiro e assistência médica, além da paixão pelo futebol. A
personagem-título, Zulmira, sonha com um enterro glorioso, numa trama que
mescla drama, farsa e comédia.
Ciclo de palestras (com a presença de importantes artistas e pensadores
do teatro brasileiro, como Sebastião Milaré e J. C. Serroni), de segunda a
sexta, 24 a 28 de março, a partir das 14h, no Teatro Apolo, gratuito.
Maiores informações: 2138 0678 / 0691.
foto: (Emídio Luisi/divulgação)
" A função
da crítica teatral no novo século" por Sebastião Milaré
A cultura
dramática o capacita à análise e discussão do fenómeno estético. Ao jornalista
ao cabe ater-se ao fato e não interpreta-lo; deve ser tão imparcial quanto
possível. O crítico é também objectivo, mas interpreta o facto (no caso, a obra
colocada em cena) Nada impede que uma pessoa exerça ambas as funções com muita
competência.
“Já ouvi
vários críticos - e dos bons - colocarem-se como espectadores privilegiados. Permito-me discordar deles.”, diz
Milaré. “Na verdade, o bom crítico
domina um instrumental teórico que pouco espectador possui, e tem o olho
treinado para ver sutilezas, movimentos e gestos cénicos, conseguindo
imediatamente relacioná-los à obra ou ao pensamento poético que os inspira ou
que se pretende materializar cenicamente. Dessa relação é que nasce o ponto de
vista crítico. Assim, o crítico é um especialista e não um "espectador
privilegiado".
A leitura
constante de boas críticas ajudará o leitor a educar a sensibilidade, a
desenvolver capacidade analítica, habilitando-se à perfeita fruição do produto
estético - deixa de ser mero "consumidor".
O crítico
tem ligação orgânica com o trabalho criativo, na medida em que busca junto dos
criadores cénicos estabelecer perspectivas para a interpretação da obra e ele faz
ponte entre a criação estética e o público, buscando captar a dinâmica da
produção teatral e organizando sua mostra em determinados locais.
“Creio
que a função da crítica teatral neste novo século continua essencialmente a
mesma, porém dinamizada e difundida por novos espaços, afirma Milaré.
“Justamente esses novos espaços é que devem ser avaliados, otimizados, de modo
que a crítica possa readquirir seu sentido didático, provocador e criativo.”
Ao longo
do século 20 a encenação foi adquirindo autonomia, separando-se da literatura,
da qual tradicionalmente era entendida como subproduto. As revoluções dos
conceitos cénicos protagonizadas por diretores, como Antunes, abriram
horizontes incidindo em novos paradigmas, novas linguagens, conferindo à
encenação peculiaridades que a tornam um tipo de expressão singular, único,
provido de dinamismo próprio.
Não faz
mais sentido fechar-se numa interpretação teórica do original e não admitir que
possa haver diferentes leituras da obra, considerando "um erro"
qualquer interpretação diferente da sua.
Antunes Filho desabafou certa
vez, frente a confusão de conceitos de alguns críticos em comentários sobre
montagens suas: "Não se pode ver os novos paradigmas com o olhar
velho". E essa é uma grande verdade.
Sobre a análise
de Milaré sobre o encenador Antunes Filho, anota o crítico e editor Jacó Guinsburg: "Trata-se de um percurso que, na
realidade, se entrelaça intimamente com o do moderno teatro paulista e, por
extensão, brasileiro, de modo que o panorama traçado extrapola, por todos os
títulos, a experiência particular do diretor do CPT. Intimamente relacionada
com todo o movimento teatral da segunda metade do século XX, o painel
resultante, cujo foco é a carreira de Antunes Filho, acaba invocando e expondo
histórica e criticamente os caminhos da arte dramática contemporânea. Na
verdade, neste lançamento da coleção Estudos da Editora Perspectiva, Sebastião
Milaré proporciona a quem estuda e faz teatro no Brasil um livro de conhecimento
indispensável".
O ator em
primeiro plano
Publicado
no JC em 24.03.2009
Fabiana
Moraes [EMAIL]fmoraes@jc.com.br [/EMAIL]Considerado o maior pesquisador da obra
antuniana no País, o crítico Sebastião Milaré abre hoje, às 14h, o Ciclo de
Palestras (com exibição audiovisual) do evento Universo Antunes Filho no Teatro
Apolo. Aqui, ele fala sobre as rupturas provocadas pelo encenador no teatro
nacional, além de analisar sua produção em relação ao trabalho de Nelson
Rodrigues, autor do texto A falecida, que será encenado no próximo fim de
semana no Teatro Armazém.
JC – Você é uma referência no País na análise da obra antuniana. A partir desse
olhar apurado, quais os trabalhos realizados pelo autor que demarcaram uma nova
fronteira no cenário teatral do País, além de Macunaíma?
MILARÉ –
Vários espetáculos de Antunes Filho, ao longo da sua carreira, representaram
avanços do nosso teatro. A montagem de Vereda da salvação, de Jorge Andrade, no
histórico TBC – Teatro Brasileiro de Comédia, em 1964, por exemplo, constituiu
profunda subversão dos códigos teatrais e abertura para processos renovadores.
Assim como Peer Gynt, de Ibsen, em 1971, noqual o processo de “criação
coletiva” era, ao mesmo tempo, manifesto político e artístico como poucas vezes
se viu na cena brasileira. Depois veio Macunaíma, em 1978, cujos valores
estéticos foram festejados em duas dezenas de países dos cinco continentes. Mas
o fato é que essas obras representavam momentos importantes de uma pesquisa
ininterrupta. Em espetáculos como Plantão 21 (1959), Yerma (1962), A falecida
(sua primeira versão para a peça de Nelson Rodrigues, realizada com alunos da
EAD – Escola de Arte Dramática de São Paulo, em 1965), A megera domada (1965),
A cozinha (1969), atestavam sua contínua evolução e surgiam, à época, como
paradigmas para o teatro vigente. Com Nelson Rodrigues, o eterno retorno
(1981), não só desvelou o aspecto mítico da obra de Nelson Rodrigues, como
abriu uma fase de criação cênica à luz da psicologia analítica, desembocando
logo depois em elementos da mecânica quântica, que oxigenou o teatro brasileiro
e se desdobrou em contínua investigação estética, que desde então vem
beneficiando toda a produção teatral brasileira.
JC –
Antunes cobra de seus atores – e de todos os profissionais que com ele
trabalham – um engajamento intelectual, um interesse por uma cultura para além
do teatro, um compromisso ético e social. Como tais posturas, na sua opinião,
são recebidas e digeridas pelo público que vê as peças do CPT?
MILARÉ –
Creio que o público não percebe claramente tais posturas, mas recebe muito bem
seu resultado prático: a excelência interpretativa do elenco e a beleza dos
espetáculos em todos os aspectos de sua constituição. Nas últimas décadas,
inúmeros jovens revelaram-se atores e atrizes de nível surpreendente nos
espetáculos de Antunes Filho, justamente pelo rigor com que são preparados.
Isto vale tanto para a preparação intelectual, apoiada em extensa bibliografia,
que abrange várias áreas do conhecimento, quanto pela disciplina, que envolve
intensos exercícios físicos e permanente reflexão crítica sobre comportamento e
atitude do indivíduo frente à sociedade. Tudo isso, na verdade, implica a
formação do intérprete teatral, na concepção de Antunes Filho. O ator deve ser,
antes de tudo, cidadão consciente da sua função social, cultivar
permanentemente sua cultura, e ter absoluto domínio da sua arte. Tais conceitos
se estendem a outras áreas da criação cênica, como à dramaturgia, à cenografia,
à iluminação, ao designer sonoro etc.
JC – Onde
Antunes e Nelson Rodrigues se integram (esteticamente, ideologicamente) e onde
eles se afastam (nos mesmos termos)?
MILARÉ –
Não há como separar estética de ideologia, já que é o sistema de idéias que
produz o resultado estético, para o bem ou para o mal. Nesse sentido, Antunes
Filho e Nelson Rodrigues acham-se inexoravelmente unidos e integrados. A
ideologia de ambos é o homem brasileiro, consistindo a permanente reflexão
sobre a condição humana nestas paragens tropicais.
JC – Num
momento onde os coletivos teatrais se popularizaram, diminuindo um cenário
povoado pelos grandes diretores (panorama muito forte nos anos 80), como a
figura de Antunes se mantém e se renova?
MILARÉ –
Os processos criativos de Antunes Filho sempre contemplaram e dependeram do
coletivo. O próprio Macunaíma foi uma criação coletiva, com decisiva
participação dos atores e demais criadores cênicos, na adaptação da obra e na
elaboração do espetáculo, sob comando de Antunes Filho. O Grupo Pau-Brasil,
depois renomeado Grupo de Teatro Macunaíma, foi uma das primeiras cooperativas
criadas no teatro brasileiro, fornecendo modelo importante para a constituição
dos “coletivos” que hoje dominam a produção cênica nacional. Embora tenha sido
desde o início grande, festejado e debatido encenador, Antunes Filho sempre
colocou em primeiro plano o ator. Nomes consagrados, muito antes do impacto de
Macunaíma, como Raul Cortez, Stênio Garcia, Laura Cardoso, Eva Wilma, o tiveram
e o têm como mestre. De modo que o trabalho de Antunes, em todos os momentos,
favoreceu o surgimento de coletivos teatrais. Essa atitude e seu inestimável
talento, sua genialidade, são fatores que o mantém atual e em contínua
renovação (atualização).
JC – Como
surgiu seu interesse pela obra antuniana? Quais as principais contribuições do
autor e de que maneira ele instituiu uma nova maneira de pensar o teatro no
País?
MILARÉ –
Meu interesse pela obra antuniana surgiu quando era ainda garoto e tive o
privilégio de ver sua versão cênica para a Yerma, de Federico García Lorca. Foi
então que o teatro, como alta expressão artística, contaminou-me inteiramente.
Desde esse momento acompanho o trabalho de Antunes Filho. Tive a felicidade de,
mais tarde, tornar-me seu amigo. E nesse meio tempo, deixei as veleidades
adolescentes de ser “artista”, graças ao imenso interesse que me foi dominando
pela área teórica. E também nesse sentido, o desejo de melhor compreender os
processos criativos desse grande encenador teve importância na escolha do caminho.
Suas contribuições para o teatro brasileiro são inestimáveis. Ele não instituiu
uma “nova” maneira de pensar o teatro, mas estimulou a necessidade de atualizar
constantemente o pensamento, o conhecimento, não só do teatro, mas de todas as
coisas que constituem o nosso dia-a-dia. E essa atualização constante de todas
as coisas, fatalmente nos traz novas maneiras de pensar o teatro, ou o fazer
artístico e a fruição das artes.
» Ciclo
de Palestras e Exibição Audiovisual. Hoje, às 14h, “Territórios Poéticos de
Antunes Filho” com o palestrante Sebastião Milaré. Local: Teatro Apolo,
Conteúdo: abordagem teórica aos processos estéticos desenvolvidos por Antunes
Filho no CPT – Centro de Pesquisa Teatral. Às 16h30, exibição do vídeo
Macunaíma.
“Teatro tem que incomodar”
Publicado
no JC em 18.03.2009
O diretor
Antunes Filho chega hoje ao Recife para iniciar uma verdadeira maratona de
peças, oficinas e palestras que compõem o evento Universo Antunes Filho, no
qual estreia nacionalmente a peça A falecida. Com quase oito décadas de vida e
comemorando 60 anos de teatro, ele mostra que, apesar de ter se estabelecido
como um dos principais encenadores do País, não se acomodou na confortável
condição de medalhão: além de experimentar uma nova linguagem em sua nova
versão do texto de Nelson Rodrigues, ele cobra uma postura mais profissional e
combativa dos grupos e diretores de teatro do País. “É preciso fazer por
merecer, não dá para bancar quem fica na comediazinha”, diz ele, que promete
cutucar tanto o espectador quanto quem faz teatro em seu novo trabalho. A
seguir, Antunes fala sobre seus piores momentos no palco (“inesquecíveis”),
critica o texto denúncia e os autores que dão preferência aos produtos
estrangeiros. A entrevista foi concedida a repórter Fabiana Moraes.
JORNAL DO COMMERCIO – O gênero que, de maneira contínua, mais lota peças na
cidade - e mesmo em outras capitais com forte produção teatral, como Curitiba -
é aquele que explora o “humor pancadão”, que muitas vezes naturaliza a pobreza
e denigre a platéia. O que essa realidade tem a nos dizer?
ANTUNES
FILHO – É preciso criar um processo, tem que se discutir teatro, para o bem,
para o mal. Em nosso encontro aí vamos falar de teatro, aliás acho os
intelectuais dessa área aí em Recife uma coisa extraordinária, acho superiores
aos de São Paulo, inclusive. Agora, também precisa ver os bens públicos, né?
(risos), tem que ajudar, colaborar... me parece que aí estão até ajudando
(refere-se ao incentivo de pouco mais de R$ 115 mil que o Funcultura concedeu
ao projeto Universo Antunes Filho), não é?
JC – No
sentido de políticas públicas, você acredita que São Paulo deu um passo à
frente em relação ao resto do País?
ANTUNES –
São Paulo, Brasília, Rio... têm certos privilégios, eu acho. Se fazem coisas,
se procura arrancar um pouco as coisas, fazendo. Se ficar quieto, se não fizer
teatro pra valer... Você precisa do estímulo para ralar – e para estimular o
poder econômico público a ajudar. Agora, ficar só fazendo comediazinha pancada,
aí não vai ajudar, vão dar dinheiro pra quê? Acho que o pessoal de teatro deve
fazer por merecer, tem que puxar obras, obras importantes, espetáculos
importantes, incomodar, estar por dentro, entendeu?
JC - A
impressão é de que existe às vezes um certo cansaço nesse sentido, então é
melhor ir por uma via mais fácil...
ANTUNES –
Tem que formar grupos fortes, um grupo forte, dois grupos fortes, três.. aí
sai. Se ficar só um não dá certo, um sozinho enfraquece, é preciso criar um
certo antagonismo para poder caminhar.
JC – Aí
em SP, temos exemplos de vários dramaturgos, diretores (Cibele Forjaz, Newton
Moreno, Sérgio Roveri, o Grupo 19 de Teatro) que vêm fazendo um contraponto a
uma produção Blockbuster...
ANTUNES –
Ah, sim, e não só aqui, não somente eles, mas uma porção de outras pessoas
também fazem frente, não gostam dessa coisa... e se ficar naquilo (refere-se
ainda ao “pancadão”), não tem ajuda mesmo...
JC –
Recentemente surgiu uma discussão que acusava o teatro nacional de ensimesmado,
autoreferente, falando de si próprio? Você concorda?
ANTUNES –
Acho que é o contrário. Aqui em São Paulo, no Brasil, tá muito pouco. A gente
vê comédia de costumes, dramas internacionais e muito pouco na verdade que fala
da mãe pátria (rios), do Brasil, entendeu? Por exemplo, nós do CPT, aqui do
Macunaíma, de certa maneira só fazemos autores nacionais, novos e não novos. E
quando não tem o que fazer, põe tragédia grega ou Shakespeare, aí eu ponho os
clássicos, compreende? Nós temos uma veia assim, Brasil, Brasil. Acho que não
tá se discutindo muito o Brasil, isso eu acho que tá faltando na dramaturgia
brasileira. Estão fazendo assim, denúncias aqui, acolá, mas denúncia em si não
é nada, o que tem que se discutir é a estrutura para que se dê tal denúncia. A
dramaturgia tem que discutir estruturas. Agora, ficar falando “isso tá errado,
não tá”... o jornal fala isso todo dia. Não vejo os autores preocupados em
discutir a estrutura, o porquê do errado.
JC –
Sobre isso: você tem uma postura bastante conhecida, na qual exige de seus
atores um compromisso ético, social, intelectual com o teatro. Como você acha
que esse engajamento é percebido pelo público?
ANTUNES –
Ah, eles percebem, percebem... é diferente, você vê, dá uma outra dimensão ao
ator, existem outros chamarizes, ele tem técnica. Agora, o que adianta, se o
ator não tem técnica, não pode fazer nada... tem que ficar mesmo no pancadão,
não é verdade? Se o ator não tem técnica, não tem conhecimento vocal, físico, o
que ele pode fazer? Narrar? Agora o hábito é falar narração, não é? Narrar é
isso, você não sabe fazer o papel e aí você narra. Não sabe dirigir? Fala “é um
épico”.
JC – Essa
pergunta tem relação aos seus 80 anos. Alguma obra sua deveria ser esquecida?
ANTUNES –
Ah, sim. Xica da Silva. Não realizei bem, foi mal, uma porcaria. Você quer
outra? Júlio César, de Shakespeare, uma vergonha nacional. Fiz em 20 dias, um
elenco enorme, grandes atores, mas não consegui. Pensei que pudesse, como
acertava em tudo, pensei, “ah, essa eu faço com um pé nas costas”. Enterrei o
time. Nem me lembro em que ano foi, esquece, acabou. Julio César e Xica da
Silva, dois espetáculos assim, inesquecíveis, no negativo.
JC – Que
última peça você viu além dos espetáculos do CPT?
ANTUNES –
Foi o espetáculo... é... (demora um pouco a lembrar)... Rainhas. Gostei.
JC – E a
experiência de montar novamente A falecida? como foi se reapropriar do texto?
ANTUNES –
Vou explicar uma coisa: eu precisava de um texto que eu já conhecesse para
poder fazer uma experiência de linguagem teatral. Estou propondo uma discussão
para ver o que vai dar. É para mudar o olho do espectador e de quem faz teatro
também.
A arte do
cavalheiro zen
Publicado
no JC em 20.03.2009
Começa a
série de homenagens ao diretor Antunes Filho e ator Stênio Garcia relembra o
processo do mestre
Fabiana Moraes
fmoraes@jc.com.br
“Fazer 80
anos é horrível. Quem diz que é bom tá mentindo. Bom é fazer 18”. Bem humorado
e claramente feliz por estar estreando uma peça (Vapt-vupt – A falecida) na capital
pernambucana, Antunes Filho concedeu uma emocionada entrevista ontem para
atores, produtores e imprensa local. A emoção tinha um motivo: a presença do
ator Stênio Garcia, que veio ao Recife para a abertura do evento Universo de
Antunes Filho, que comemora, entre outras efemérides, o aniversário e os 60
anos de teatro do encenador.
O
diretor, que, além de ministrar um workshop com atores da cidade ainda vai
apresentar dois espetáculos além de Vapt-vupt: a falecida (Foi Carmen e Prêt-à
porter), disse que Stênio foi o responsável por orientá-lo naquela que se
tornaria uma de suas marcas mais distintas: o método específico e rigoroso de
formação de atores. “Foi ele quem me ensinou maluquices como levar o pessoal
para a floresta à noite... Adotei muitos de seus métodos e os amplifiquei”,
disse Antunes, que, generoso, transformou o encontro em uma homenagem ao amigo
nascido em 1932 no Espírito Santo.
Antunes
Filho e Stênio Garcia trabalharam juntos na montagem que, para o encenador,
representa um corte profundo em sua dramaturgia, Vereda da salvação (1964), de
Jorge de Andrade. “Falam que Macunaíma foi a minha melhor peça, mas Vereda é a
mais importante em termos de ruptura”, disse. De fato, a montagem realizada no
Teatro Brasileiro de Comédia dividiu opiniões com seu realismo levado às
últimas conseqüências: sem fazer concessões ao público ou aos atores, Antunes
Filho colocou o elenco pelo avesso, fazendo a platéia observar saliva e choro a
partir de uma já não tão confortável poltrona. No palco, atores como Raul
Cortez, Cleide Yáconis, Araci Balabanian, Lélia Abramo e Ruth de Souza, além de
Stênio. “Em Vereda da salvação, nós buscávamos o anti-gesto”, comentou o ator.
Atualmente
no ar no folhetim global Caminho das Índias (Globo), ele ainda faria, também ao
lado de Antunes, Peer Gynt (1971, de Ibsen), papel pelo qual ele levaria o
prêmio Molière de melhor ator. “Eu chamei Stênio para fazer Macunaíma, mas ele
disse que não podia. Não te perdôo, Stênio”, brincou o encenador, referindo-se
ao espetáculo mundialmente premiado, montado em 1978.
O carinho
do diretor foi retribuído pelo ator, que contou, para quase agonia de um
reservado Antunes, algumas peripécias dos dois na São Paulo dos anos 70. “Íamos
ao cinema de mãos dadas ver Kurosawa. Não era coisa de bicha, mas também se
fosse não tinha problema”, contou o ator, arrancando gargalhadas do encenador.
Garcia ressaltou o humanismo de Antunes em dois momentos: primeiro, ao falar de
seu hábito de indicar livros reveladores e essenciais na formação dos atores (citou
A arte cavalheiresca do cavaleiro zen), depois, ao contar uma história
particular entre os dois.
“Cheguei
para Antunes e pedi dinheiro emprestado. Disse ‘Minha mulher está grávida.
Vamos fazer um aborto’. Ele me puxou para um canto e passou duas horas
conversando comigo, falando sobre a importância da vida. Eu devo a vida da
minha filha a ele. Por isso a batizei de Cássia”, disse Stênio, que homenageou
o encenador através no nome do seu filho, Cássio. Antunes, calado, estava
visivelmente emocionado. Outra história contada pelo ator, desta vez
engraçadíssima, foi quando o produção do apresentador Faustão o chamou para ser
homenageado no quadro Arquivo confidencial. Antunes foi uma das pessoas
indicadas por Stênio para falar sobre sua carreira. “Achei que eles não iriam
conseguir, mas quando vejo está Antunes naquele telão. Aí ele diz: Ô, Stênio!
tá fazendo o que aí? Vai pro teatro! saí daí!’”.
TURBILHÃO
A nova
peça antuniana, a primeira que ele estreia fora dos limites do Centro de
Pesquisa Teatral (CPT)e que segue daqui a três meses para Portugal, instiga o
encenador, que experimenta na montagem uma linguagem diferente. Assumidamente
clássico, ele foi na vídeo-arte para confeccionar as cenas. Essa influência, no
entanto, vai além da citação literal ao suporte: as sobreposições de imagens
são realizadas sem a ajuda da eletrônica, somente com atores no palco. Sobre o
próximo espetáculo (após Policarpo Quaresma, que está sendo “enxugado”), ele
faz suspense: “Está na minha cabeça, mas se eu falar alguém corre e faz”.
Antunes
Filho por...
Publicado
em 20.03.2009
Mário
Viana, dramaturgo, autor de Carro de paulista. Desde o final dos anos 70, não
dá mais para falar de teatro brasileiro sem passar pelo nome de Antunes
Filho. Os trabalhos que ele desenvolveu junto ao CPT foram fundamentais –
tanto na qualidade dos autores escolhidos, na maneira de levá-los à cena, na
revelação de grandes intérpretes e até na excessiva adoração do seu método.
Antunes acabou gerando involuntariamente uma série de ‘filhotes’, que pensam
ter o mesmo talento do original. Não têm. Antunes é diretor obrigatório: a
gente assiste, mesmo que saia decepcionado. Porque mesmo nestes casos, há o
que discutir. Ele não acerta todas, mas até quando erra tem bons argumentos.
Newton
Moreno, dramaturgo, autor de Assombrações do Recife Velho. Antunes é um pesquisador
incansável da cena. Temos que festejar um cenário teatral como o nosso que
pode contar com artistas inquietos e trabalhadores, como ele. Assisti a
vários espetáculos seus e me impressionaram Nova velha estória e Paraíso Zona
Norte. Sua gramática cênica tem uma curiosidade invejável de expandir e
testar os limites do teatro. Há que se louvar o fato dele conseguir manter um
centro de formação de artistas que atrai jovens atores de todo o paíse também
dedicado à formação de novos dramaturgos.”
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Carmen
Miranda falada em “fonemol”
Publicado
no JC em 20.03.2009
Foi
Carmen, com apenas duas apresentações na cidade, homenageia o mestre do butô
Kazuo Ohno priorizando o silêncio, só quebrado pela língua criada por Antunes
Filho
» Continuação da página 1
“Leiam
Drummond e Fernando Pessoa para ver a peça. Ela exige um comportamento não
comercial, fora desse mundo em que estamos vivendo”. A recomendação do
encenador Antunes Filho faz sentido: Foi Carmen, espetáculo que será visto
amanhã e domingo, às 20h, no teatro Santa Isabel, bebe no silêncio e na
delicadeza para contar a história de um malandro que imagina ter visto Carmem
Miranda pelas ruas e passa a segui-la. Mas, como foi dito na coletiva realizada
ontem, ninguém deve ir ao teatro imaginando ver uma peça sobre a portuguesa que
tornou-se ícone de brasilidade. O espetáculo, antes de tudo, presta reverência
aos cem anos (completados em 2005) de Kazuo Ohno, inventor do butô (bu = dança,
toh = passo) ao lado de Tatsumi Hijikata.
Feita em
apenas 25 dias, Foi Carmen foi realizada de maneira totalmente despretensiosa
por Antunes, que, surpreso, viu o teatro do Sesc lotar às terças-feiras.
“Começou meio capenga e depois começou a ser procurado. Alguns críticos de São
Paulo disseram que este é o meu melhor espetáculo, melhor até do que Macunaíma.
Vai entender”, comentou.
Esse
tempo dilatado presente no espetáculo, que é realizado sem o uso de palavras,
só é entrecortado com algumas falas em “fonemol” (ou russo, na piada interna
dos atores do CPT). O gestual, assim, torna-se no grande “narrador” da
encenação, que vai na outra direção trabalhada no na nova Vapt-vupt – a
falecida, que vai na linha do tudo-ao-mesmo-tempo-agora. “Em Foi Carmen há
sempre espaço, portas de silêncio, onde o público começa a interpretar e
imaginar, trabalha o consciente e o inconsciente da platéia”, diz Antunes que
revela ter dirigido montagens de Kazuo Ohno a partir desses silêncios e portas,
sempre sentado na sua cadeira de espectador. “Em Foi Carmen eu queria essa
delicadeza”, continua.
Além de
Carmen Miranda, há também referência a Antonia Mercé y Luque (1890-1936), a La
Argentina, bailarina que Kazuo encarnou magistralmente (aliás, sua
transformação está lindamente documentada em um livro da editora CosacNaif). O
elenco traz atores reverenciados nas últimas peças do CPT: Paula Arruda (a
Menina), Emily Sugai (a que foi Carmem Miranda), Patrícia Carvalho (a Passista)
e Lee Thalor (o Malandro). O último defendeu um dificílimo Quaderna em A Pedra
do Reino, que esteve no Santa Isabel em 2007.
Aqui, os
atores do grupo Macunaíma afastam-se totalmente da correria do texto de
Suassuna para misturar bananas com roupas colegiais típicas das garotas
japonesas, butô com samba, malandro com mitos. Enquanto pede certa contemplação
da platéia para ver Foi Carmem, Antunes Filho comenta: “Outro dia, vi o
espetáculo novamente. É bom, viu, gente? É bonito”.
»
UNIVERSO DE ANTUNES FILHO
A poética Carmen em versão butô
Publicado
no jornal d0 Commercio m 23.03.2009
Fabiana Moraes
fmoraes@jc.com.br
Como
superar a imagem construída de um über clichê, daqueles que, pela simples
menção do nome, já evocam uma série de representações cristalizadas, difíceis
de serem percebidas senão por um olhar não condicionado? É preciso uma nova
perspectiva, um novo paradigma, e foi justamente através da apropriação de um
novo recorte que Antunes Filho conseguiu levar para o palco do Santa Isabel,
sábado, uma Carmen Miranda diáfana além de sacolejante, misteriosa e incômoda
além de sorridente. Foi Carmen, espetáculo que abriu a série de eventos que
compõem o Universo Antunes Filho, não é exatamente teatro ou dança, tem um
enredo mínimo e é falada numa língua que parece mesclar russo, italiano,
francês e português (o famoso fonemol). É antes de tudo uma experiência
estética, fato que Antunes cifrou antes do início da apresentação.
“Entreguem-se. Deixe-sem levar. Não fiquem pensando ‘o que será que ele fez
desta vez?’”, pediu. Talvez justamente por entender que o espetáculo não siga a
linearidade cênica comum, mesmo em relação a produção do Grupo Macunaíma, o
encenador tenha justificado com tanta ênfase sua singular empresa em Foi
Carmen.
A
platéia, que preencheu apenas a platéia e a primeira frisa do Santa Isabel,
recebeu a peça (peça?) com carinho, mas percebia-se entre uma inquietação, uma
espera por um “o que será que vai acontecer?”. É interessante observar que a
mesma ansiedade controlada foi percebida em Shi-Zen – 7 cuias, que o Lume
trouxe ano passado para o Festival Recife do Teatro Nacional. As duas
montagens, e é esse o ponto curioso, são baseadas no butô, a dança-teatro
difundida por Kazuo Ohno, homenageado do espetáculo antuniano.
O
butô, o teatro nô e o kabuki servem como instrumentos para “quebrar” a Carmen
Miranda que trazemos no imaginário: ela surge como assombração, sem rosto, como
uma representação de si mesma, assustando o malandro interpretado por Lee
Thalor (aliás, excelente, muito à vontade falando a língua do país CPT). Vai
sendo desconstruída em cena: espalham-se no chão seus panos moles de cor
alvoroçada, seus balagadãs, suas bananas e tamancos espetaculares. Essa “Carmen
oriental”, sem face, é interpretada pela bailarina e coreógrafa Emilie Sugai,
da Cia. Tamanduá de Dança-Teatro, fundada por Takao Kusuno, o falecido artista
que introduziu o butô no País. É bonito o momento em que ela entra pela
primeira vez em cena, toda de preto, com passos curtos que a fazem “flutuar”.
Paula
Arruda fez a plateia interagir com a montagem enquanto vive a garota fã da
cantora luso-brasileira, muito engraçada com roupa de colegial e frutas na
cabeça, dançando enquanto espera alguma reação das sisudas mulheres de preto
que repousam ao seu lado. Batia palmas para si – e a platéia acompanhava. A
garotinha só surge no início e no fim do espetáculo, quando um malandro
entristecido se depara com suas musas – a Carmen sacolejante e a Carmen sem
rosto - ambas, apesar do confete e das bananas, mortas, localizadas num passado
que se torna ainda mais melancólico com sua voz da cantora em mono, amplificada
no palco.
Foi
Carmen é quase uma poesia encenada e, de fato, não é espetáculo para grandes
platéias. Em tempo: talvez o Santa Isabel não tenha sido o melhor local para o
desfrute do silêncio que Antunes Filho tanto citou. A acústica do teatro é boa
demais, o que faz qualquer passo ser um estrondo incômodo para uma peça repleta
de silêncios. O acesso de tosse da ex-diretora da casa, Leda Alves, que saiu na
frisa para tossir lá fora e ainda assim realizou uma espécie de trilha
involuntária a Foi Carmen, só evidenciou essa peculiaridade.
Um
Antunes Filho em versão franciscana
Publicado
no JC em 24.03.2009
Schneider
Carpeggiani
E no
princípio foi o excesso. Em 1996, Antunes Filho estava em cartaz com Drácula
e outros vampiros, espetáculo grandiloquente, com troca de cenários, telões e
mais de 30 atores em cena se movendo como numa longa coreografia. A presença
humana parecia um recurso a mais e não o foco da encenação (um paradoxo,
tendo em vista o caráter humanista da obra de Antunes). Com o fim da temporada,
o diretor resolveu que era o momento de retornar ao básico e colocar a figura
do ator no centro. No começo de 1998, nascia o projeto Prêt-à-porter, já em
seu nono volume.
Prêt-à-porter
traz um Antunes Filho “franciscano” e funciona a partir de certas regras:
três histórias, cada uma no máximo com meia hora e apenas duas pessoas em
cena. Desta vez, os atores arregimentam tudo – texto, direção, escolha de
cenários e temática com total liberdade. Eles são agente e elemento do
espetáculo. É a interpretação como algo que se estende da pré-produção até o
momento em que as cortinas se abrem. “No processo dos ensaios, apresentamos
nossas idéias e Antunes sugere mudanças, novas leituras e formas de
aperfeiçoar o texto”, explica o ator Emerson Danesi, que participa da
Coletânea Prêt-à-porter 2, que entra em cartaz hoje, no Teatro Hermilo Borba
Filho e segue até quinta.
O
Prêt-à-porter que chega ao Recife reúne momentos dos volumes 6, 9 e 5. Em
comum, os três textos trazem Emerson vivendo algum personagem em momento
extremo e, como em todo drama agudo, a essência patética e o absurdo do homem
emergem. É o caso da primeira das três histórias, Estrela da manhã, sobre a
relação entre um transexual e um cirurgião plástico evangélico.
“O
cirurgião não pode negar o atendimento ao transexual, apesar de todo seu
preconceito, por causa do juramento médico”, explica Emerson. A repulsa faz
com que a trama seja marcada por uma contínua tensão sexual.
Em
Bibelô da estrada, a relação conturbada de uma ex-prostituta com um cafetão.
Esse foi um dos momentos de Prêt-à-porter mais elogiados pela crítica. Para
encerrar, Poente do sol nascente detalha o embate afetivo que surge durante o
encontro de uma garota de programa e um executivo.
Emerson
ressalta que o perfil contraditório dos personagens das três histórias é
proposital: “Eles são tão opostos, que acabam se completando”.
»
Coletânea Prêt-à-porter 2: De hoje à quinta-feira, no Teatro Hermilo Borba
Filho (Av. Cais do Apolo, S/N, Bairro do Recife), às 20h. Ingressos: R$ 10 e
R$ 5 (estudante)
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Sobre a cenografia em Antunes:
Cenografia
não é adereço
Publicado
no JC em 26.03.2009
JC
Serroni é um dos principais cenógrafos do Pais. Durante quase 11 anos, ele
trabalhou com Antunes Filho no CPT, em peças como Matraga, Xica da Silva,
Paraíso Zona Norte, Gilgamesh, Drácula e outros vampiros e Nelson 2 Rodrigues.
Sua contribuição para esta última montagem foi elogiada pelo New York Times,
durante a encenação nos Estados Unidos. JC Serroni participa hoje do ciclo de
palestras do projeto Universo Antunes Filho, falando sobre A poética do espaço,
na qual abordará o tema O Núcleo de Cenografia do CPT – história, processos
estéticos, dinâmica, realizações, a partir das 15h, no Teatro Apolo, no Bairro
do Recife.
JC – É possível dizer que há uma cenografia específica do CPT, no sentido de
uma linguagem própria?
SERRONI –
Do ponto de vista formal, visual, do resultado que se vê no palco, talvez não.
Já são 25 anos e nesse período já passaram por lá 6 ou 7 cenógrafos. Há
variações. São fases diferentes, inclusive porque o Antunes passa por elas. O
que existe sim, e que dá à encenação uma linguagem própria é a “mise-en-scène”
do Antunes. Ele sim tem muito forte o desenho das suas marcações em cena, e dos
grupos que se movimentam no palco. Isso fica muito claro nos espetáculos da
Caixa Preta: Macunaíma, Eterno retorno, Nelson 2 Rodrigues, Matraga, Foi Carmem
e Senhora dos Afogados. Nesses casos a cenografia é feita com os próprios
atores. Eles, com figurinos, adereços e movimentos que também criam os espaços.
Nos casos que existe uma cenografia “física”, há um reforço visual à encenação,
mas que sempre se traduz num espaço que continua dando à encenação a liberdade
de movimento num palco livre, nu. Essas cenografias foram sempre de contorno,
como Xica da Silva que abrigava o espetáculo numa caixa de fios cinza, neutro.
Existiam aí a rotunda e pernas penetráveis, eliminando-se o limite entre o
“dentro” e o “fora”. Paraíso Zona Norte criava um grande espaço com paredes
transparentes cheio de portas. Você tinha o palco sempre livre e a
transparência também eliminava também o limite dentro e fora. Em Nova Velha
Estória a cenografia era aérea. Os atores circulavam livremente sob um universo
de esferas de cristal. Em Gilgamesh reformou-se a caixa preta, mas desta vez,
vitrines de vitro eram trazidas para a cena localizando o espaço dos
personagens. Em muito dos momentos o palco continuava vazio. Drácula tinha um
piso e um grande telão de fundo. Algumas lápides no proscênio e um anjo de 6
metros complementavam o espaço. Nesse espetáculo, especialmente, a luz entrou
como elemento fundamental na construção do espaço. O mesmo formato repetiu-se
em Fragmentos troianos e Antígona. Apenas um fundo dava ao espaço os
significados do lugar. A cenografia mais implantada que tivemos foi Vereda da
Salvação. Embora o palco estivesse também livre, dezenas de troncos de
eucaliptos criavam no palco os caminhos a percorrer. Medéia e Gregório, embora
construído em espaços alternativos, fora do palco italiano, também foram muito
econômicos em seus elementos. Agora, se pensarmos em termos de processo a
linguagem é a mesma sempre. O centro do processo é o ato, tudo é feito em
conjunto, com muita pesquisa sempre com um tempo diferenciado no Teatro (as
vezes anos) e também sempre indo além das primeiras idéias. Antunes Filho é
incansável, instigante, e só define a “cenografia” depois de muitos
experimentos.
JC – Você
acredita que, de maneira geral, abriu uma nova perspectiva sobre o trabalho do
cenógrafo no País?
SERRONI –
Sem falsa modéstia, acredito que sim. Não só eu, mas outros cenógrafos,
preocupados com uma reflexão cenográfica também contribuem. São poucos. E não
foi só o CPT. Existe todo um trabalho paralelo estudando-se os teatros do
Brasil, ministrando work-shops por várias cidades brasileiras, escrevendo
textos para revistas, promovendo fóruns internacionais de cenografia e
arquitetura teatral, a relação com a Quadrienal de Praga, a internacionalização
de nossa cenografia, etc. Existe também agora o Espaço Cenográfico: um
laboratório permanente de investigação cenográfica que há mais de 10 anos vem
trabalhando em prol do desenvolvimento de nossa cenografia. Mas eu diria que o
CPT abriu as portas para tudo isso.
JC – Você
sabe quantas cenografias realizou para Antunes no período em que lá esteve?
SERRONI –
Trabalhei com Antunes antes do CPT na TV Cultura fazendo diversos Teatro 2. No
CPT entrei em tempos de Matraga, depois fiz Xica da Silva, Paraíso Zona Norte,
Nova velha Estória, Trono de Sangue, Gilgamesh, Drácula e outros vampiros e
Nelson 2 Rodrigues, essa uma realizada em Nova Iorque no Teatro de Repertório
Espanhol. Lá no CPT, criei o núcleo de cenografia que funcionou sob minha
direção por 11 anos, e formei lá inúmeros cenógrafos, hoje muito atuantes.
Organizamos pelo CPT diversas exposições, e levamos para a Quadrienal de Praga
de 1991 os projetos ali realizados para representar o Brasil naquela mostra.
JC – Você
foi responsável pela cenografia de Nelson 2 Rodrigues e Paraíso Zona Norte, as
duas, especialmente a última, consideradas antológicas. Que lembranças tem das
duas, no sentido da produção dos cenários?
SERRONI –
Participei só da remontagem de Nelson 2. A montagem de Nova Iorque me deixou
muitas boas lembranças. Meu primeiro trabalho internacional, menção no NY
Times, ter morado lá por quase 4 meses com o Antunes, e ter desfrutado muito de
perto, muito do seu conhecimento, além de ter conhecido aquela que mais de 20
anos depois seria minha segunda esposa, atriz no espetáculo naquela ocasião,
Ana Paula.
JC – A
obra rodrigueana, que é constantemente trabalhada pelos grupos de todo o
Brasil, é motivo para um sem-número de interpretações, das mais ousadas até as
mais clichês. O que ela especificamente lhe evoca enquanto artista?
SERRONI –
Nelson Rodrigues quando trabalhado de forma não realista, é inspirador. Aprendi
isso com o Antunes. Foi ele quem deu uma leitura mais aprofundada à esse
dramaturgo sempre que trabalhado dessa forma, qualquer obra de Nelson pode ser
genial para um cenógrafo. Fiz vários com o Antunes, mas experimentei outros
diretores, entre eles Gabriel Villela e Eid Ribeiro, com esse uma instigante
montagem em Caracas de Toda nudez será castigada.
JC – Você
fundou o bem-sucedido Espaço Cenográfico há mais de 10 anos. Durante esse
período, realizou outros trabalhos com o CPT?
SERRONI –
Fiquei no CPT por quase 11 anos, de 1987 a 2007. No último ano dessa fase,
cheguei a participar por quase um ano do início do Prêt-à-porter. Depois me
afastei por uns 3 anos, quando criei o Espaço Cenográfico, e voltei para
desenhar o Espaço do CPT – 7° andar, um pequeno teatro, móvel, que é usado
durante o dia para os ensaios e realizei também outros 3 trabalhos: Antígona,
Gregório e Carmem (ainda em cartaz).
JC – Que
cenógrafos do teatro brasileiro atual você destaca?
SERRONI –
Eu sempre gosto de destacar cenógrafos que se preocupam com a cenografia
enquanto conceito, enquanto formação, enquanto discussão. Que estão preocupados
também com a infra-instrutura cenográfica. São os casos do: Luís Carlos Mendes Ripper,
do Hélio Eichbauer, do Raul Belém, de José Dias, mas não posso deixar de
mencionar outros que desenvolvem um trabalho de criação muito importante: como:
Daniela Thomas e Márcio Medina, entre outros.
Folha de Pernambuco-27/03/09. A Falecida encerra
projeto.
O
espetáculo “A Falecida Vapt Vupt” estreia hoje, no teatro Armazém 14, sua
curtíssima temporada de três apresentações . A peça encerra a programação de
eventos da mostra “O Universo de Antunes Filho” e celebra também o dia mundial
do teatro e do circo. Baseada no texto do renomado dramaturgo, Nelson
Rodrigues, ‘A Falecida’ fará seu ‘début’ nacional no Recife, com a honra de ser
a primeira vez que Antunes Filho estreia um trabalho longe dos palcos de São
Paulo. A nova montagem alterou o título para ‘A Falecida Vapt Vupt’, em menção
à rapidez da vida e a objetividade do texto de Rodrigues.
Com um
cenário minimalista de um bairro do subúrbio carioca, Antunes conta a história
de um cotidiano comum a muitos brasileiros, que faz menção a falta de dinheiro,
assistência médica e ao futebol entre outras coisas. Como novidade, o diretor
se reinventa, mais uma vez, e busca a experimentação através de linguagens de
sobreposição, interferências e paralelismos bastante comuns na vídeoarte. Tudo
isso permeado pessimismo e o humor cruel tão característico do texto de Nelson
Rodrigues, e que Antunes consegue equilibrar misturando o grotesco e o cômico
com maestria.
Além dos
27 atores que fazem do CPT, o elenco terá a participação dos atores
pernambucanos: Alfredo Borba, Rogério Costa, Manuel Carlos e Jamysson Marques e
Hilda Torres, única mulher no grupo. O espetáculo fica em cartaz até o
próximo domingo. A mostra “O Universo de Antunes Filho” trouxe para o
público recifense um pouco da vida e da obra do renomado diretor, que é hoje um
dos principais ícones dos palcos brasileiros.
PROGRAMAÇÃO
Uma data tão importante não poderia passar sem ser festejada. Para
comemorar o Dia Mundial do Teatro e do Circo vários espetáculos estão
programados para acontecer. A Associação de Realizadores de Teatro de
Pernambuco (Artepe) realiza uma ação comemorativa a partir das 9h no
Pátio de São Pedro, e, a partir das 18h30 na Praça de Eventos de Camaragibe,
presta uma homenagem aos grandes nomes do teatro
local.
O Projeto “Um Março de Teatro” também marca as comemorações com uma caminhada
cultural saindo do teatro do Parque em direção ao Pátio do Carmo a partir das
14:30h. Encerrando as festividades da data o Sesc promove uma vasta programação
de oficinas, palestras e debates nas de Santa Rita, Casa amarela e Santo Amaro.
Serviço
“A Falecida Vapt Vupt”
Onde: Teatro Armazém 14
Rua Alfredo Lisboa, Cais do Porto, Bairro do Recife
Quando: 27, 28 e 29 de Março, às 20h
Ingressos: R$20 (inteira) e R$10 (meia)
Informações: 81 3424-5613
Diversão /
pe360graus.globo.com/diversao/diversao/teatro/2009/03/27
Sexta - 27/03/09 08h05,
atualizado em 27/03/09 16h29
No Dia
Internacional do Teatro, “Vapt Vupt: A Falecida” estreia no Recife
Peça com texto de Nelson
Rodrigues e direção de Antunes Filho será apresentada em três sessões no Teatro
Armazém 14, às 20h
Nesta sexta-feira (26) é comemorado o Dia do Circo
e o Dia Internacional do Teatro. Para comemorar a data, no Recife, haverá a
estreia nacional da peça "Vapt Vupt: A Falecida”, de Nelson Rodrigues,
dirigida por Antunes filho, um dos nomes mais importantes do teatro nacional.
O espetáculo faz parte do projeto Universo de Antunes Filho, que homenageia os
80 anos de um dos mais importantes diretores de teatro do país e seus 60 anos
de carreira.
Antunes Filho já dirigiu uma montagem de "A Falecida" em 1965. Desta
vez, porém, a peça ganhou um olhar mais moderno e ágil: é a versão “vapt-vupt”.
“A diferença que existe entre a primeira montagem e esta é que na primeira o
enfoque era o inconsciente coletivo”, explica o diretor.
“Desta vez, mudo completamente o enfoque e passo para uma experimentação
visual, assumo a comédia de costumes para fazer uma experiência de linguagem
teatral”.
"A Falecida" conta a história de Zulmira, uma mulher de classe média
baixa, personagem típica de Nelson Rodrigues. Tuberculosa, ela pensa que está
perto morte e começa a planejar os detalhes do próprio funeral, com obsessão.
“Tudo para ela é muito intenso e muito forte, então ela pode adoecer de verdade
por uma paranóia louca da cabeça dela”, diz a atriz Bruna Anauate, que
interpreta a protagonista. “Ele pega essa coisa comum ao ser humano e eleva à
décima potência em um personagem arquetípico”.
Só que nem tudo acontece como Zulmira planejou. O funeral luxuoso fica para
trás quando o marido descobre que foi traído. “Todos os personagens transitam
entre o drama e a ‘pateticidade’ humana”, comenta o ator Lee Thalor, que
interpreta o esposo de Zulmira.
O espetáculo mostra também problemas comuns de muitos brasileiros, como falta
de dinheiro e a paixão pelo futebol. A peça "Vapt Vupt: A Falecida"
fica em cartaz de sexta (27) a domingo (29), às 20h, no Teatro Armazém 14, no
Bairro do Recife. Haverá ainda uma sessão extra no sábado (28), às 18h.
Os ingressos estão à venda no local e custam R$ 20 (estudantes pagam R$ 10).
Já as comemorações pelo dia mundial do circo começam às 14h, com uma caminhada
de artistas circenses e do Movimento de Teatro Popular, no centro do Recife. Confira a
programação.
SERVIÇO:
"Vapt Vupt: A Falecida" (Nelson Rodrigues), com direção de Antunes
Filho
Onde: Teatro Armazém 14 - Bairro do Recife
Quando: de sexta (27) a domingo (29), às 20h; sessão extra no sábado (28), às
18h
Classificação: 18 anos
Domingo - 22/03/09 15h34
Torre
Malakoff recebe mostra em homenagem ao diretor teatral Antunes Filho
A exposição faz uma retrospectiva
da trajetória de Antunes Filho e sua atividade à frente do Centro de Pesquisa
Teatral (CPT)
Da Redação do pe360graus.com
A Torre Malakoff abre, nesta segunda-feira
(23), às 19h, a exposição ‘O universo de Antunes Filho’, que integra a
programação do projeto homônimo em homenagem aos 80 anos do diretor de teatro e
coordenador do Centro de Pesquisa Teatral (CPT). A entrada é gratuita.
A mostra segue até o dia 5 de abril e conta com textos, fotos, vídeos e
materiais de áudio relacionados ao diretor paulista.
O material, que ocupa quatros salas no primeiro andar do prédio, faz uma
retrospectiva da trajetória de Antunes Filho e sua atividade à frente do CPT,
criado há 25 anos na cidade de São Paulo.
A curadoria é de Séphora Silva.
Espaços
Na primeira sala, o público confere um esquema sobre a história do CPT através
de fotografias de espetáculos, textos e imagens de maquetes das peças.
Na segunda sala, exclusiva para projeções, será exibido o documentário ‘O
teatro segundo Antunes Filho’, produzido pelo SESC Consolação de São Paulo,
além de um pequeno portfólio sobre os espetáculos já dirigidos pelo autor.
Haverá também a projeção de uma obra de Antunes produzida para a extinta TV
Tupi.
A terceira sala traz informações de ‘Macunaíma’, peça baseada na obra do
escritor Mário de Andrade e dirigida por Antunes Filho em 1978. Ficam
expostos cartazes do espetáculo, além de relações de atores e da equipe técnica
que participaram da peça.
A quarta e última sala é dedicada ao projeto Pret-à-Porter, encabeçado por
Antunes Filho. Fotos de peças nesse modelo ‘pronta entrega’ e registros em
áudio de trechos da obra de Antunes compõem a sala.
A peça Pret-à-Porter tem como característica o pouco tempo de duração, cerca de
30 minutos, e o aparente improviso da encenação, que lembra um ensaio geral’,
possibilitando ao público adentrar no universo dos atores.
SERVIÇO
Exposição ‘O universo de Antunes Filho’
Quando: de 23 de março a 5 de abril
Local: Torre Malakoff
A falecida,
de Antunes Filho, tem sessão extra neste sábado
Publicado em 28.03.2009, às 12h13
JC Online
O sucesso do espetáculo A falecida: vapt vupt levou
a produção da peça a realizar uma sessão extra neste sábado (28), às 18h, no no
Teatro Armazém 14. Os ingressos estão à venda no local e custam R$ 20 (inteira)
e R$ 10 (meia).
A peça faz parte do projeto Universo de Antunes
Filho, que homenageia os 80 anos de um dos mais importantes diretores de teatro
do País e seus 60 anos de carreira.
A falecida é um dos textos mais conhecidos de
Nelson Rodrigues, com algumas de suas maiores frases de efeito. Estão lá:
“Tudo, menos beijo! Beijo, não! Eu admito tudo em amor. Mas esse negócio de
misturar saliva com saliva, não! Não topo! Nunca!”, “A solução do Brasil é o
jogo do bicho! E, minha palavra de honra, eu, se fosse presidente da República,
punha o Anacleto (bicheiro) como ministro da Fazenda”.
O espetáculo fica em cartaz até domingo. Além da
sessão extra, que acontece no sábado às 18h, estão marcadas apresentações para
o sábado e domingo, às 20h.
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formulário
» TEATRO
Peça prova maestria de Antunes Filho
Publicado
em 30.03.2009
José
Teles
teles@jc.com.br
Desde
Macunaíma, de 1978, as encenações de Antunes Filho geram expectativas. O
diretor paulista passou a partir daquela peça a fazer um teatro personalizado.
Independente do texto o que conta é sua assinatura pessoal. A encenação de A
falecida vapt vupt, de Nelson Rodrigues, em estreia nacional, que fechou a
mostra O Universo de Antunes Filho, no Armazém 14, pode ser resumida numa frase
de John Lennon: “Vida é o que acontece enquanto você está fazendo outras
coisas”.
O cenário
é um bar, no qual as pessoas divagam em torno de um copo de cerveja, baralhos,
enquanto o mundo gira e a lusitana roda. Um dos fregueses, elegantemente
vestido, com jeito de executivo bem sucedido, passa a peça inteira fazendo
anotações e fumando. Um casal conversa sem parar. Uma mulher olha para o
infinito. Enquanto isso as coisas acontecem. Mas é aí é preciso que o
espectador embarque na viagem do diretor, e aprenda a ver as entrelinhas do
texto e da encenação. A trama desenrola-se em meio às mesas e aos os fregueses
do bar, mas é como se fosse bem longe ali, num subúrbio carioca, cujos
personagens pequeno-burgueses são uma fixação de Nelson Rodrigues, tanto quanto
sexo e morte.
A
falecida é uma peça sobre os temas preferidos do autor, com as exacerbações
características de Nelson Rodrigues que amplifica coisas aparentemente
triviais, dando-lhe importância que normalmente não se percebe na vida real,
com as devidas frases de efeito. O destaque entre os atores que em cena são
Bruna Anaute, que personifica Zulmira, e Lee Thalor, que faz seu marido
Tuninho, fanático pelo Vasco, e traído pela mulher com um bicheiro. A esposa
infiel, tuberculosa, pretende se redimir com um enterro de primeira classe, que
seria pago pelo amante. Bruna Anaute é uma Zulmira perfeita, histriônica,
exagerada, como exige o texto.
O que
diferença esta A falecida vapt vupt (o “vapt vupt” pela velocidade da
encenação, apenas 58 minutos) é a direção de Antunes Filho. Não há um único
momento dispensável na peça, tudo é devidamente amarrado, até o silêncio dos
figurantes. À medida que a plateia vai se ligando na trama é como se estes e o
próprio bar se tornassem invisíveis.
Entre os
presentes estava o teatrólogo Ariano Suassuna, que confessou não ser um grande
fã do teatro de Nelson Rodrigues, mas que admira o diretor Antunes Filho. Este,
depois da peça, perguntado o que achou da estreia respondeu que seu papel
terminara ali: “Agora é com o público, os críticos”. Se é pela crítica, esta
aqui, de quem não costuma escrever sobre teatro, é totalmente favorável. Quando
se sai à rua depois de ver A falecida vapt vupt presta-se mais atenção nas
trivialidades que estão acontecendo ao nosso redor.